terça-feira, 12 de maio de 2015

Um dia depois dos outros

(20122013, 2014)

À meia-noite do dia quatro de maio de 2015, eu estava entrando em casa. Com uma mala de rodinha e uma bolsa pesada, tentando fazer pouco barulho, quatro dias depois de ter saído para visitar o grande amor da minha vida, a cidade do Rio de Janeiro. 

Era lá que eu estava há um ano, nesse mesmo dia, e quando me dei conta da coincidência só conseguia pensar em uma coisa: não posso perder esse voo de novo. Em 2014, na minha primeira viagem ao Rio, perdi o voo de volta pra casa no dia 3 de maio, e ganhei o dia 4 de presente - um dos dias mais mágicos da minha vida. Em 2015, infelizmente, perder o voo do dia 3 não era uma opção, e ainda que isso fosse resultar numa história maravilhosa, uma prova incontestável de que destino existe e esse projeto é mágico, às vezes a gente precisa fazer o que é certo em detrimento de um bom caso. Eu não podia perder aquele voo. 

Eu não perdi aquele voo. 




































Tão logo entrei em casa, fui logo me atirando no chão para ser recebida por Francisco, o poodle. Ele pulou em mim, me cheirou toda, e ficamos ali rolando juntos no chão por um bom tempo. Era só nesse momento que eu pensava algumas horas antes, no aeroporto gelado de Belo Horizonte, enquanto esperava o horário da minha conexão. Aprendi com o tempo que na viagem de ida todo santo ajuda e qualquer espera é uma festa, mas na volta todo minuto é insuportável e a solidão de um aeroporto é bizarramente opressora. Só pensava em chegar, abraçar meu cachorro e deitar na minha cama.

Minha mãe não aguentou me esperar acordada, então só passei no seu quarto, dei um beijo e deixei ela dormir em paz, não sem antes ouvir as palavras mágicas: "tem janta pra você em cima do fogão". Mães. Tomei banho, vesti meu pijama, e, antes de comer, precisei encarar minha mala. Ai, a mala. Eu costumo evitar a mala de viagem por pelo menos uma semana, pois esse é meu jeitinho de negar a realidade, mas ela estava cheia de coisas muito molhadas e sujas e eu precisava lidar pelo menos com isso antes de esquecer o resto no canto do quarto, até minha mãe ameaçar colocar fogo em tudo. 

Primeiro saiu a roupa da praia, toalha, biquíni e minha canga de bolinhas, que há pouco mais de doze horas estavam estiradas nas areias de Copacabana, curtindo um banho de mar de um incrível domingo carioca. Eu tinha acordado às oito da manhã mesmo tendo ido dormir às quatro, primeiro pra me despedir de Iralinha, e depois porque eu tinha prometido para Tary e Lilica. Queria estar bem morta até a hora que coloquei os pés na areia, mas bastou a primeira onda batendo na barriga - primeiro gelada, depois sensacional - pra todo o esforço ter valido a pena. 


Depois, tirei de lá meus tênis vermelhos, sujos de areia e balada, meus Vans guerreiros que dançaram comigo a noite inteira, e que pularam Sandy & Junior, Britney Spears, e Claudinho e Buchecha, que pisaram muito nos pés de um carioca lindo, que correram na Avenida Atlântica no fim da noite e que viram o sol nascer da areia, de frente pro mar. Eu ia ter que lavar meus tênis em algum momento, mas não naquele dia. 

Jantei arroz com frango assado e assisti meio episódio de Modern Family antes de dormir na minha cama muito vazia, na minha casa muito silenciosa.

Acordei pouco depois das onze da manhã sentindo todos os músculos do meu corpo doerem. Pra completar, o dia estava cinza, chuvoso e frio. Na maior parte dos dias, essa é minha configuração climática ideal. Sou do tipo de gente que abre a janela cantando para receber uma manhã nublada. No entanto, not today, Satan, not today. Até ontem eu estava no Rio, caramba, e aquele dia feio era uma evidência jogada na minha cara de que o sonho tinha acabado. Meu plano era sair de vestidinho e Havaianas, reforçando meu processo de carioquização, mas o máximo que consegui foram sapatilhas, jaqueta jeans e um vestido longo - porque calça jeans já era pedir demais. 

Almoço com meus avós algumas vezes na semana, já que nem meu pai nem minha mãe tem tempo de ir em casa almoçar. Na segunda foi assim, e depois do almoço mostrei pra eles todas as fotos da viagem e ouvi de novo todas as histórias do tempo que minha bisavó morava num apartamento em Copacabana. 

Uma coisa engraçada que noto depois de toda aventura especial que vivo é que as pessoas ao meu redor estão sempre perguntando como foi, e eu queria muito poder sentar e contar todos os detalhes, mas nunca consigo. Algumas vezes eu nem sei se quero - primeiro porque eu acho que relato nenhum vai fazer justiça a tudo que foi, e segundo porque certas coisas são tão especiais que gosto de guardar só comigo. 

A história da gente, da Máfia, sempre foi algo muito difícil pras outras pessoas entenderem, entre família e até meus melhores amigos, porque não é algo que se vê todo dia, não é algo normal. Eu também não acreditaria muito se só ouvisse falar das amigas da internet da minha filha, e minha avó ainda acha que essas viagens que fazemos são "congressos de blog". Então, por mais que eu mostre as fotos e diga: olha nossa casa, como era linda, e aqui a decoração que fizemos pra festa, as coroas que usamos, o dia amanhecendo, a Urca, os livros e essa noite foi foda... Eles não vão saber. E, algumas coisas, se for pra entender pela metade, entender torto, achar besteira ou exagero, eu prefiro que nem saibam. As fotos da festa ficaram ótimas. Foi incrível, sim. O Rio é lindo. Me passa o arroz?















































Fui pra faculdade, mas minha aula acabou bem mais cedo do que o esperado, o que me deu algumas horas livres que eu poderia ter usado para lavar os tênis e a roupa suja de praia, pra adiantar o trabalho daquela semana, que seria puxada, pra arrumar meu quarto e transcrever uma entrevista, mas decidi que não era obrigada a ser útil naquela segunda-feira e fui logo pro sofá, assistir aos capítulos que perdi da novela das seis. Antes da metade do primeiro eu já estava dormindo, pra acordar de novo às oito da noite. Conversei um pouco com a minha mãe, depois fui pro Skype com o Matheus, pra depois voltar pra novela e dormir em poucos minutos, encerrando o dia. 

Lembro que, no primeiro Encontrão, a Analu disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeça: "fodeu, agora a gente vai saber o que é saudade". Estar com minhas amigas é incrível demais, e dói na mesma medida quando nos separamos, como uma ressaca emocional. Numa conversa que tivemos logo quando cheguei, disse pra ela que usamos esses nossos momentos juntas e todas as modas que inventamos pra fazer tudo aquilo que temos vontade, mas sempre achamos impossível. É como passar alguns dias num mundo paralelo em que a vida sorri pra você e tudo é permitido. Na teoria, a gente também era impossível. Por isso é tão difícil voltar e a realidade parece tão mais sem graça no começo.

O que a gente esquece quando volta pra casa é que a gente continua sendo a gente, mesmo separadas. Juntas, nós vimos que as coisas, elas acontecem, mas só porque em grande parte das vezes nós que fizemos elas acontecerem. Não precisa acabar quando termina, e às vezes tudo que a gente precisa fazer pra conseguir o que quer é ir lá e... fazer. Cantar na rua num dia qualquer. Aguentar mais meia hora pra ver o sol nascer. Sair de coroa por aí. Não entrar naquele avião. Largar tudo e entrar de todo jeito. Ser tão feliz quanto a gente acha que tem direito, não só um dia, mas todos os dias. As coisas sempre acontecem.



























Até ano que vem.

9 comentários:

  1. Que relato bonito. Deu vontade de ir no rio. <3

    Bjos moça,

    ResponderExcluir
  2. Eu não tinha visto esse texto, né. Já era quase meia noite quando Mimi perguntou no whats se eu tinha chorado e eu fiquei ????. Aí ela me falou do texto e eu vim correndo ler e obviamente meu coração ficou apertadinho mas eu não ia mimar pelo celular, modisque aqui estou, algumas horas depois, tendo lido de novo e com o coração apertadinho de novo. Posso ser sua amiga há 50 anos e nunca me acostumarei com o tanto que você escreve lindo, haahaha.
    "E, algumas coisas, se for pra entender pela metade, entender torto, achar besteira ou exagero, eu prefiro que nem saibam. As fotos da festa ficaram ótimas. Foi incrível, sim. O Rio é lindo." EXATAMENTE. Por isso que fico com dó sempre que minha mãe vai me buscar no ponto de ônibus quando estou voltando de viagem. Ela cheia de perguntas e eu quieta, concordando, olhando reto, querendo voltar. Não tem o que dizer. Nunca tem.
    A Gente <3 Que presente da vida!
    Te amo!

    ResponderExcluir
  3. Acho tão bonita a amizade de vocês. Sigo várias no Instagram e aqui na ~blogosfera~, e acabei dando like feito louca nas fotos lindas de todas.

    Sempre torço o nariz pra gente que desmerece amizade "criada/começada/idk" na internet, porque não vejo motivo pra desmerecer.

    Espero que vocês consigam fazer várias dessas viagens, pra eu poder ler todos os relatos munitos depois.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  4. Eu acho tão legal quando isso acontece, de sair desse mundo que é a internet e ir para o real, de virar amizade de verdade, e a maioria das pessoas não entendem isso, ou acham meio louco.
    Quando eu falei com minha mãe que ia encontrar vocês, ela já ficou desconfiada haha, pena que não aconteceu!
    Que essa amizade de vocês dure muito e tenha muita história pra contar, tanto para vocês, quanto para os blogs.
    Ps.: as_fotos_da_viagem_ficaram_lymdas_.rar

    Beijo

    ResponderExcluir
  5. Muito legal seu post. Amizades verdadeiras são raras hoje em dia, cultive-as com muito carinho e dedicação.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  6. Ai, migalha. Ainda preciso escrever meu quatro de maio, mas a perspectiva de escrever "meu quatro de maio esse ano foi a treva e regado a ressaca moral" não é muito animadora. Então curti demais o que você fez, porque lembrar dos nossos momentos e postar fotos nossas no ig foi tudo o que teve nesse dia.

    Te amo, estou morrendo de saudades. Tô sensível e tô chorando no escritório. Te amo, de novo <3

    ResponderExcluir
  7. Ingênua que sou, achei que ia conseguir escrever sobre o 4 de maio no próprio 4 de maio porque nossa, só assim eu ia ser bem honestona e tal. Que dó. Meu 4 de maio foi bem treva assim, minha primeira ressaca pós encontrão foi um troço bem mais pesado do que eu achei que fosse ser (e vocês ainda achando que eu não tava amando tudo, que absurdo). Cê escreve lindo e ,obviamente, dei uma choradinha lendo e lembrando de cada coisinha (não resisto). Tô com saudades desde a hora que me despedi de você no aeroporto, te amo, mal posso esperar pra te ver de novo e ficar meio bobona com o tanto que cê é bonita #hetera

    <3

    ResponderExcluir
  8. que post linds viu. e nostálgico. lembrei demais das minhas viagens de infância que só aconteciam nas férias de fim de ano. amizade faz coisas né ♥

    ResponderExcluir
  9. Ah que delícia de texto! Muita saudade do nosso feriado, dA Gente, de tudo. Embora voltar a realidade seja duro, sempre teremos nossas lembranças dentro do nosso coração. E issonos dá força para já começa ra planejar o próximo Encontrão! Eu que fui marinheira de primeira viagem no Rio, já quero outro!!! E fala aí, valeu muito a pena a nossa praia né não? Até agora sinto o cheirinho daquele mar, daquela areia, daquele domingo maravilhoso de sol na companhia de vocês!! <3

    Te amo e saudades!

    Beijos

    ResponderExcluir