terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tudo por um sanduíche.

Ou: Quando Murphy mostra as garras.

Na última sexta recebi uma ligação de papai no meio da aula, que eu fugi para o banheiro para retornar, e ele não atendeu de volta. Como era o último horário, assim que a aula acabou, liguei pra ele.

"Você vai almoçar por aí hoje, né?" (quase toda sexta eu não almoço em casa, por causa do teatro, mas eu sempre aviso meu pai antes e nesse semestre, além da semana de provas, não fiquei direto nenhum dia)
"Uai, pai, nããããão"
"Filha, tô enrolado aqui hoje, almoça por aí mesmo que mais tarde eu te busco" (Meu pai odeia que eu almoce fora, ele não confia na minha capacidade de me alimentar bem fora da vista de adultos. Ele gosta tanto de se certificar que eu tô bem alimentada, que mesmo depois de pedirmos pizza ele pergunta se eu quero jantar)
"Mas pai, eu não tenho dinheiro!!!"
"Como não tem dinheiro, Anna Vitória? Quantas vezes papai já te falou que você já tem 15 anos e precisa ter certas responsabilidades, onde já se viu uma moça da sua idade sair sem dinheiro na carteira? Vai que acontece uma emergência, e aí? Isso é uma emergência. Mas, ok. Me espera na esquina que eu tô passando!"

Eu estava especialmente azul de fome naquele dia, não tinha comido nada durante a manhã, só uns pedaços de chocolate roubados do Matheus. Fui para a esquininha da escola, liguei o iPod e esperei. Esperei. Esperei. Calor. Sol do meio dia e meio. Fome, fome, fome. Uma e pouco meu pai enfim chega, pediu mil desculpas pelo atraso, mas eu já estava feliz o suficiente pelo ar condicionado.

"Filha, papai está muito enrolado hoje. Vou te deixar em casa direto, ok? Você dá um jeito no almoço, né? Quer que eu passe em algum lugar pra comprar comida?"
"Não, eu dou um jeito"
(Não sei por que não aceitei, acho que o coitado estava tão amarfanhado e desesperado que eu achei melhor chegar em casa direto).

Cheguei em casa e Deise, o bichinho que mora no meu estômago (metaforicamente, não tenho lombrigas, aquele vermífogo horrível que mamãe me faz tomar todo ano tem algum efeito), clamava por um prato de peão mesmo, tipo arroz, feijão, bife e ovo frito. Vendo que na geladeira não tinha comida pronta pra esquentar, resolvi ligar para mamãe, para que quando ela viesse pra casa, passasse em algum lugar e me trouxesse algo.

"Vixe, filha, eu tô muito enrolada hoje também. Vim não-sei-aonde resolver umas coisas e pelo visto não tenho hora pra sair, me espere lá pelas 16h! Vai naquele self-service aí perto e pega uma marmita!"
"Mas mãããããe, eu não tenho dinheiro e a comida lá já esfriou faz anos!"
"A Elis deixou o troco do açougue em cima do microondas, vê aí o que você resolve."

Fui na despensa e vi que não tinha nada facilmente fazível (?), só miojo. Olhei para aquele pacote, ele olhou pra mim, e eu decidi que eu merecia coisa melhor nessa vida, me recuso a comer miojo. Deise e eu tivemos um papo sério e eu decidi que eu queria muito um hambúrguer e iria conseguí-lo, no matter what. Catei em todos os bolsos de calças, revirei todas as minhas bolsas, catei minhas moedas graúdas na carteira e somei aos míseros R$4 do troco do açougue. Eu tinha R$11 ao todo, mais as moedas. Resolvi ligar no Habbib's, porque é bem pertinho de casa e eu jurava que eles iam me poupar da taxa de entrega. Liguei lá e necas, a taxa era de R$5,90, ou seja, não dava. Ia tentar a sorte no McDonalds, mas não conseguia falar lá por nada no mundo. Peguei a lista telefônica e fui ligando em todos os lugares que vendiam hambúrgueres (?) que eu lembrava, mas a maioria esmagadora não fazia entrega antes das 18h.

Eu estava tão desesperada e com tanta fome, aquela vontade de sanduíche louca, que resolvi andar 5 quarteirões e uma praça no sol da uma e cinquenta da tarde, para comprar um hambúrguer no Habbibs (é, no Habbib's, olha o desespero). Enquanto esperava meu dream-lunch ficar pronto, sentei e fiquei assistindo Video Show na tv do lugar e secando quase descaradamente o milkshake de baunilha de um cara sentado em frente. Peguei meu pacotinho, lindo e quentinho, e foi quase feliz que eu subi aquela ladeira pra chegar em casa. Passei em frente a uma construção e um pedreiro cantou com uma voz a la Cauby Peixoto: "você é lindaaaaaaa, mais que demaaaaaaaais", o que me fez ir gargalhando até a porta de casa.

Cheguei, peguei um copo gigantesco de Coca-Cola, oi celulite, oi gordura trans, olá hambúrguer lindo, Deise, estamos salvas!

* Estou meio ausente, pessoas, minha internet resolveu subir no salto e só funciona quando quer, me deixou na mão semana passada e ontem também. Além de tudo, provas semana que vem, e na outra viajo, ou seja, correria louca!

Nenhum comentário:

Postar um comentário