sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

365 dias com 2010


Dos muitos momentos de 500 Days Of Summer que me marcaram profundamente, um deles me veio na lembrança nesse fim de ano. Em uma cena a irmã do Tom fala que para que ele esqueça a Summer, ele deveria começar a se lembrar dos momentos ruins que eles passaram, das vezes que a conduta dela desviou da perfeição da qual ela era feito escravo, para que ele enxergasse que a relação deles não era perfeita e ideal como ele imaginava ao manter na memória só os momentos felizes.

Tenho comigo hoje a sensação de que 2010 foi um ano ok. Por ok vocês entendam: passou longe de ser ótimo, mas também não ouso dizer que foi péssimo. Entretanto, se paro para pensar no por que de tamanha falta de graça, vejo na minha retrospectiva mental apenas os momentos felizes, as risadas, os shows, as conquistas, as boas notas, as festas e saídas e outras coisas que documentei fartamente aqui ao longo dos meses; daí eu ponho a mão na cintura e vos pergunto onde está o ok nessa história, a falta de graça e o mais ou menos? Dito isto, compartilho com vocês uma das grandes descobertas desse ano, feita por mim em relação a mim mesma: eu sou uma pessoa otimista.

Muitas vezes as pessoas confundiam - e até eu me julguei de forma equivocada - a minha mania de sofrer e agonizar por um leite que nem derramou com pessimismo. Porém, só quem já me viu em momentos de crise sabe que quando a coisa aperta eu tenho um troço muito forte em mim que me faz crer com unhas e dentes que as coisas vão dar certo, porque elas simplesmente tem que dar certo. Eu só não percebia isso porque perco muito tempo sofrendo pra valer com coisas que nem aconteceram, com a prova que eu ainda nem fiz mas sei que vou tirar zero, com a coisa que eu nem disse mas sei que vai dar em briga, e isso é um saco. Só que quando me lembro das coisas que passaram me esqueço das desventuras rapidinho e ponho a mão no queixo e reflito: por que estou reclamando, já que tive um ano tão bom?

Viram só? Otimista, half full, bright and shiny.

Sendo assim, a principal coisa que desejo pra 2011 é me lembrar é disso mais vezes, com frequência, de forma obsessiva se for preciso, e não perceber que o copo tava meio cheio só depois que bebi de guti-guti.

Feliz ano novo!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

2010 em músicas: quase uma retrospectiva

Ando com tanto bode desse final de ano, numa vontade tão enorme de simplesmente apagar todas essas festas do calendário e acordar dia 02 de janeiro com uma agenda nova e linda ,que tinha decidido ignorar as tradições festivas ao menos por aqui. Só que eu mesma não me respeito e já estava pensando numa retrospectiva. Queria fazer por fotos, como fez a Analu, mas aí lembrei que quase não tirei fotos esse ano, e a maioria das poucas que tirei foram as do celular do Matheus durante as aulas e vocês realmente não precisam me ver de uniforme, descabelada e sem maquiagem. Sendo assim, uma vez que resolvi me mexer e fazer mixtapes pro blog, a ideia de relembrar 2010 por músicas me pareceu brilhante.

A proposta, a priori, deveria ser simples: uma música por mês; confesso, porém, que estava bastante confusa e perdida tentando lembrar qual música mais tinha me marcado em cada mês do ano, de modo que com a ajuda do Google descobri um esquema supimpa pra resolver o imbróglio: um site que mostra as músicas mais ouvidas em casa mês a partir dos scrobbles do LastFm. Perfeito! Admito que mudei uma ou outra, para ficar mais coerente com a proposta e tentar deixar a lista um pouco menos heterogênea (apesar de que esse também é um dos trunfos da proposta, já que pelas músicas dá pra sacar bem quais foram os altos e baixos do ano, embora eu tenha uma quedinha natural por músicas melancólicas ainda que em dias ensolarados).

Outro adendo é a respeito das faixas bônus: coisas que definitivamente não fazem parte da minha vida - tanto que ouvi com o scrobble desligado - mas que sempre que forem ouvidas vão me lembrar desse ano que passou. Era meu dever fazer essa menção, pouco honrosa, mas de coração.

P.S.: Acho que mais aleatória que essa seleção, só essa capa. Como a temática é bem abrangente, me dei ao direito de vasculhar coisas bonitas por aí e foi isso que saiu. Tem até um pouquinho a ver com esse papo de retrospectiva, já que passei o ano sonhando com sapatos Miu Miu e esses passarinhos no vestido da mocinha da contracapa, além de lembrarem os sapatos, lembram muito a capa de dois discos que ouvi demais esse ano, "Sky Blue Sky", do Wilco, e "Hello Hurricane", do Switchfoot.

P.S².: A imagem de capa foi encontrada no We Heart It e a ilustração da contracapa é da mui talentosa Cécile Mancion.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A maldição da manicure traída

Estava enfiada numa salinha minúscula, suando em bicas, quando meu celular tocou. "Oi Anna, é a Paula. Você vai fazer a unha hoje?" "Então Paula, vou te dar o bolo hoje. É. Só minha mãe vai fazer. Uai, tenho uma festinha de Natal pra ir hoje, sabe como é, revelação de amigo secreto, bem na nossa hora... vou ter que te dispensar por hoje. Tá bom? Aí a gente se vê antes do Ano Novo, tá? Beijo, feliz Natal!"

Eu não estava mentindo. Eu realmente tinha essa festa pra ir, bem na minha tradicional hora de fazer as unhas e tive que dispensar minha manicure naquela semana. Eu só não mencionei que naquele momento eu estava dentro de um salão, com os pés numa bacia de água quente, e as mãos nas mãos de uma outra mulher, que acabava de me perguntar se eu gostava das minhas unhas lixadas de forma quadrada ou redonda. Paula está na minha vida desde 2006 e nesses quatro anos foram poucas as vezes que eu, digamos assim, pulei a cerca e fiz a unha com outras pessoas. E juro que só o fiz quando não havia outra opção. Ainda assim, paguei caro.

Naquela quarta-feira de manhã eu estava num salão minúsculo que abriu a pouco tempo na esquina de casa. Eram 10 horas da manhã e eu suava como nunca, ainda mais depois de colocar os pés naquela bacia quente. Uma moça lixava as unhas da minha mão enquanto tagarelava sem parar com uma outra, que folheava uma Contigo antiga. Não me importo com manicure tagarela, até porque a minha conversa mais que a língua, mas sabe Deus por que a falação daquelas duas estava me dando nos nervos. Nos pouco mais de 60 minutos que fiquei lá dentro soube da vida amorosa completa de uma delas. Porque o Netinho, ex-namorado de muitos anos, estava querendo voltar e falava isso pra todo mundo menos pra própria, porque o irmão mais novo dele, o Alexandre, não parava de dar em cima e ficar todo assanhadinho e ela, coitada, não conseguia dizer pra ele se afastar. Aí a alternativa foi jogar a Isabela, amiga dela, pra cima do tal do Alexandre pra ver se ele largava do pé, mas não funcionou muito, porque na outra noite mesmo ele apareceu na hora do jantar e disse que a fulana era burra porque tinha escolhido o irmão errado desde o começo. Um drama só. E nesse falatório eu devo ter perdido quase um quilo de pele, tamanha a destreza da Maria Regina com o alicate.

Outra tristeza foi descobrir que lá não tinha muito esmalte, só os basicões. Vermelhos, rosados e clarinhos. E eu tinha esquecido de levar um vidrinho com mais emoção de casa. Que seja vermelho. Na semana do Natal. Igual a todo mundo.

Quando saí de lá elas falavam sobre Fernanda, filha da que estava fazendo minhas unhas. Porque se ela fosse homem ia chamar João Victor, e se ela não tivesse nascido a mãe poderia estar morando com umas amigas que acabaram de montar uma república. Só que a Fernanda estava doente e não parava de tossir, e o falatório frenético das duas ficava atrapalhando minhas ideias ainda embaralhadas de quem está de férias e qualquer hora antes das 11h é cedo demais. Assim que ela acabou saí de lá quase correndo e pimba, estraguei a unha do dedão na hora de tirar o dinheiro do bolso. "Não, não precisa consertar", disse automaticamente, só de pensar no horror de ter que ficar lá mais cinco minutos ouvindo do Netinho que deu pra ficar de papo com a Ciele agora que eles estão trabalhando juntos. Dedos cortados, checked, unha do dedão estragada com esmalte vermelho, checked.

Já na hora do almoço olhei minhas unhas e com um olhar cheio de pânico constatei que haviam ali bolinhas. Muitas. Em todos os dedos. Não bastasse isso o esmalte ameaçava ficar embaçado em alguns dedos, tendência que terminou de dominar toda a mão ao longo da semana. A unha do pé lascou com um dia de sapato fechado e três unhas da mão quebraram só hoje. Fiz as unhas na quarta e parece que tem três semanas que não vejo um alicate, e sim, os cortes ainda doem.

Paula, nunca mais te troco por ninguém.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Chocotone

Não nego que sou meio Grinch. Em outubro (e cada vez mais cedo) quando o shopping começa a se decorar pro Natal e as lojas de departamento fazem seus jingles ridículos sinto um arrepio me percorrer a espinha, suspiro e penso que vai começar tudo de novo. As lojas cada vez mais lotadas, o centro da cidade movimentado a qualquer hora do dia, os especiais de Natal deprimentes da Globo e os panetones entrando em profusão aqui em casa. Mamãe é tão viciada neles que começa a comprar assim que eles aparecem na loja, e nos nossos cafés da tarde eu como minha tradicional fatia de pão integral com requeijão sozinha, ela trocou nossa tradição pelos panetones.

Esse ano ela me prometeu um chocotone de trufa, aquela da Cacau Show que passa na propaganda e eu quase choro de vontade. A gente tinha se prometido um Natal calmo, tranquilo e pequeno igual foi ano passado. Eu, ela, meus avós, um cd antigo da Gal Costa no som, jogo de tabuleiro e conversa jogada fora. Muito peru, porque é tradição ir dormir se sentindo meio mal. Só que os planos mudaram e vamos passar o dia 24 na casa de um tio, numa festa grande. Festa estranha com gente esquisita. Vou passar o Natal respondendo que não tenho namorado e acho que vou prestar Jornalismo. "Mas eu ouvi dizer que não precisa mais de diploma" "É, mas eu acho importante". Vou chegar lá já morrendo de vontade de voltar pra casa, tirar o vestido e os sapatos lindos comprados pra essa ocasião, botar o pijama e me sentar na mesa com mamãe e meus avós queridos, abrir o chocotone de trufa, deixar o Chico lamber meus dedos depois e jogar conversa fora até dormir. Isso pra mim é Natal.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amigo secreto blogueiro!

Nunca fui fã de amigos secretos, nunca. Sempre saí com aquela pessoa que eu nunca conversei na vida, com aquele garoto estranho do fundo da classe que come cola e rosna, com aquela menina que aos 14 anos brinca de pique-esconde na escola e usa bolsa em forma de poodle. Sempre. Era até sem graça tirar o papelzinho, porque eu sabia que não era ninguém legal. E quando era, pode apostar, alguma coisa sairia errado e o sorteio teria de ser refeito. E também nunca me dava bem na hora de ganhar presente, só ganhava coisas totalmente aleatórias de quem provavelmente não sabia nada sobre mim. No episódio de Natal da quarta temporada de House, ele diz que o melhor jeito de se criar uma tensão entre duas pessoas é numa troca de presentes porque, segundo ele, presentear alguém é demonstrar o quanto você não a conhece, na maioria dos casos.

Ano passado no Amigo Secreto de fim de ano da minha sala eu saí com uma pessoa legal pela primeira vez na vida. E também alguém legal saiu comigo. Isso porque eu e meus amigos, bem... nós sabotamos o Amigo Secreto. Não me julguem por isso, aliás, a ideia suja foi toda dos meus amigos e eu só não me opus. Foi divertido, vai.

Esse ano minha sorte com amigos secretos começou a mudar e ainda sem qualquer interferência ou marmelada. Na brincadeira que fiz com um grupo de amigos saí com uma pessoa muito querida e tenho certeza que quem saiu comigo também é bem bacana, porque né. A revelação ainda não foi feita. Além desse, me dei extremamente bem num Amigo Secreto bem diferente, organizado pela linda da Amandoca, entre blogueiros e pessoinhas da internet. Estava bem ansiosa para o sorteio, para descobrir quem afinal eu deveria presentear, e qual foi minha surpresa quando vi a fotinha da... Kamilla!

Não sei quando comecei a acompanhar a Kamilla no Mundo Efêmero, mas o blog dela logo me conquistou pelas opiniões e gostos semelhantes que partilhamos, principalmente a nossa paixão por Chico Buarque, Tiago Leifert e Guaraná Mineiro! Ela mora em Patos de Minas, que é aqui pertinho de Uberlândia e costuma dar um pulo aqui vez ou outra, mas ainda não tive a chance de conhecê-la pessoalmente e já a intimei pra algum encontrinho nessas férias. Comprar seu presente foi uma novela. Eu sou muito chata e exigente com praticamente tudo, e com presentes não seria diferente, ainda mais quando é presente pra uma pessoa querida. Conhecendo minha enrolação típica, com bastante antecedência já fui vasculhar sua wishlist para escolher algo bem especial. E eis que me bateu uma indecisão tremenda. Tinha decidido que daria um livro, porque sei que ela adora ler e além de tudo colocou como sugestão uma variedade enorme de títulos., mas qual? Desespero. E agora, José?

Me decidi inicialmente por dar-lhe O Morro dos Ventos Uivantes, que além de fantástico ainda é um dos meus favoritos e conhecendo um pouco de suas predileções literárias eu sabia que era uma coisa praticamente sem erro. Já o outro foi o mais difícil. Ela colocou como sugestão dezenas de títulos do John Grisham e eu resolvi que lhe daria também um daqueles, já que ela passou o ano ralando pra prestar vestibular pra Direito, nada mais coerente. O problema é que eu nunca li nada dele, e não fazia ideia de qual comprar. Completamente perdida e quase ao ponto de abortar o plano e mandar junto de Heathcliff e Cathy um dvd do Woody Allen para apaziguar os ânimos, resolvi ligar pra minha avó e pedir um norte. Ela, que já leu quase todos os livros do autor, me deu uns dois ou três títulos e eu acabei por escolher O Júri, porque eu sei que tem um filme baseado nele que na verdade eu nem sei se é bom, mas é com o John Cusack.

Agora, felicidade maior foi receber o meu presente! Na minha última tarde de quinta-feira de aulas cheguei em casa e tinha um pacotinho do Submarino me esperando. Ah, a glória do saquinho azul! Abri feito criança, rasgando tudo vorazmente a ponto de deixar o Chico constrangido, e imaginem minha alegria ao ver lá um exemplar de Helena, do meu querido Machado de Assis, e um DVD de... tchãn tchãn tchãn tchããããn... Psicose! Sou fã de suspense mas me iniciei no Hitchcock só esse ano. Podem me julgar. Não sei como passei 16 anos e muitos meses da minha vida sem assistir a esse filme, que o clássico dos clássicos do gênero. Já sabia do roteiro e conhecia várias cenas (e a trilha, lógico), mas nunca tinha de fato assistido ao filme. Adorei! Qualquer outro dia falo melhor dele, só quero dizer que a escolha foi muito bem feita. Sobre Helena, ainda não li, mas o farei em breve; entretanto, não tenho dúvidas de que vou gostar muito.

(O sorriso psycho é pra disfarçar a cara de sono)

E melhor que ganhar foi saber quem me deu... a própria Amanda! Eu e ela nos acompanhamos nessa blogosfera há séculos e ela já passou de colega de comentários para amiga ultra querida. Quando vejo no meu celular o prefixo 81 corro pra atender só pra bater papo com essa arretada, fofocar e rir muito! Não desconfiava que era ela, só pensei que fosse alguém mais próximo por causa da escolha do Helena, que não estava na wishlist, portanto só poderia ter vindo de alguém que conhece meus gostos, e conhece muito bem!

Foi ótimo ter participado desse amigo secreto inusitado e fiquei mais do que feliz tanto com a pessoa que presenteei como com aquela que me presentou! Definitivamente, valeu a pena!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

V-au-sinha

Ele era ranzinza, rabugento e preguiçoso. Em compensação, tinha uns olhos doces de fazer derreter o coração de qualquer um que se aventurasse a prestar uma atenção mais demorada naquela imensidão cor de âmbar adornadas com manchas feitas pelo tempo e a infância sofrida. Não era mau, sem sombra de dúvidas, quem bem o conhecia sabia que era dono de um coração puro e sincero, apenas não era muito chegado a estranhos. Passava a maior parte dos dias na sacada do apartamento, observando o movimento externo. Para ser um James Stewart em A Janela Indiscreta só lhe faltava mesmo a pequena luneta e a perna quebrada, apesar de que suas pernas eram tão brancas que poderiam até fazer as vezes de gesso.

Gostava particularmente de se colocar em seu observatório no final do dia. O sol já não estava mais tão quente, e seus raios na atmosfera proporcionavam àquela hora específica um espetáculo primoroso de cores e nunces variadas por todo céu, brincando também com as nuvens. Tudo parecia mais bonito naquela hora do dia, o brilho do sol nas folhas, a sombra delas no paralelepípedo das ruas, as senhorinhas varrendo a porta de casa, o cheiro de noite, o cantar dos pássaros mesclado com um silêncio quase celestial: no fundo, bem no fundo, ele era um sentimental. A única coisa que interrompia e azedava sua contemplação do entardecer era uma certa presença que tinha o hábito de passear por ali diariamente, a essa mesma e fatídica hora.

Nunca gostara dela. O semblante altivo, o nariz empinado, o porte de inabalável... bastavam essas características para que uma antipatia ímpar lhe brotasse, ao ponto de fazê-lo abandonar seu posto e ir para dentro da casa, se instalar no quarto escuro, murmurando e maldizendo-a. Ela lhe lembrava seu irmão falecido, com quem ele nunca se dera bem. Tinham os mesmos olhos curiosos, astutos e falsamente complecentes. Era dona de um traseiro peculiar, magro mas detentor de uma ginga inabalável. Odiava o rebolado daquela magrela. Odiava as roupas que usava. E, principalmente, odiava a maneira como ela passava reto por seu prédio e fingia não ouvir os imprópérios que ele lhe proferia, quando a cólera era muita e não havia ninguém próximo para repreendê-lo.

Ela nunca entendera o por que de tanta raiva. Ele chegava a fazer pena ali o dia todo, dependurado naquela maldita sacada, resmungando pro mundo. Primeiro pensou que fosse louco e só, mas depois viu que era pessoal. O problema era ela. Chegou a lhe responder vez ou outra, mas quando descobriu o jogo dele percebeu que melhor do que insultá-lo era deixá-lo brigar sozinho. Quanto mais alheia e tranquila ela cruzava a rua maiores eram as ofensas dele, feito bobo preso no segundo andar. Se ao menos fosse macho para descer e ir resolver - o quê? - seus desentendimentos com ela, mas nem a isso se prestava. O pessoal da rua, outros fuxiqueiros que costumavam sair a essa hora diziam que ele nunca punha os pés nos paralelepípedos enquanto por ali houvesse gente. E se havia, espantava todos com seus brados e jeito bêbado-maníaco-depressivo.

Numa terça-feira sem graça, em que o tempo estava cinza, num chove e não molha tedioso, ele resolveu sair para uma caminhada mais cedo, pensando que a ameaça de chuva iria espantar os outros transeuntes das ruas. Andava de forma calma, caminhando sobre o meio fio, até que um cheiro peculiar fê-lo virar seu rosto. Era ela. Quis fingir que não a vira, mas algo mais forte prendeu seu corpo na direção dela, que caminhava decidida ao encontro dele. Ele também passou a andar na direção dela, os olhos grudados um no outro, em chamas. Nos poucos segundos que o trajeto durou ele pensava em mil coisas, se deveria xingá-la, passar reto, esbofetear-lhe a face, cuspir... e quando os dois finalmente se cruzaram, ficou estático. Ela também. Giraram, trocando de lado, mas sem desgrudar os olhos um do outro, até que ela sorriu. Não sabia bem porque havia feito isso, mas a figura dele frente a frente parecia tão menos ameaçadora, quase frágil e amigável que quis simplesmente sorrir, baixar a guarda.

Ele esperava tudo dela. Que gritasse, tirando satisfação; que corresse, de medo; e até mesmo que mordesse, como vingança por todos os últimos meses em que ele a havia ofendido sem motivo aparente. Aliás, o motivo primeiro das implicâncias agora lhe parecia distante e infantil. Era só porque ela tinha os mesmos olhos que o irmão, que o importunara muito, é verdade, mas que agora nem ali estava mais. Poderia até dizer que sentia falta dele, vez ou outra. A verdade é que no fundo gostava do irmão e se arrependia dos dias turbulentos que viveram juntos, e agora que ele se fora o que sentia era uma enorme culpa e um vazio sem precedentes. E os olhos dela lhe lembravam disso a todo momento e sentia tanta raiva de si mesmo que chegou a pensar que sentia raiva dela. Coitada. Nunca reparara como era engraçadinha, era a primeira vez que a via de perto.

O que aconteceu depois foi tão rápido que até hoje os dois não conseguiram entender. Lá estavam eles, um em frente ao outro, sentindo uma mistura de medo, confusão e súbita simpatia mútua. No segundo seguinte estavam agarrados. Foi ele que lhe envolveu o pescoço com os braços um tanto curtos mas firmes, e ela retribuía com intensos carinhos e beijos e lambidas e até leves mordidas que poderiam constranger o resto da rua que os assistia, mas era uma reconciliação tão urgente e doce que não havia espaço para repressão puritana. E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou. E foram tantos beijos loucos, tantos ganidoss roucos como não se ouvia mais.

Separaram-se tão rápido como haviam se unido. Nos dias que se seguiam ele continuou a observá-la passar, mas dessa vez em silêncio. Ela também não dizia nada ao passar por sua rua, apenas virava o rosto em sua direção, olhando-o fixamente. Ele se levantava e ia andando ao longo da sacada até que não mais pudesse vê-la, e depois voltava ao seu posto. Decidiu que não iria encontrá-la mais, a cumplicidade no olhar era o máximo e o melhor que poderia se esperar de uma relação entre um poodle e uma pug. Sentia por vezes uma vontade imensa de repetir o feito do primeiro encontro, e chorava baixinho ao vê-la passar, de saudades do toque de sua pele cor de abricot na sua muito branca. Um dia ouviu alguém chamá-la e descobriu depois de meses seu nome, Meg, que ele achou lindo e muito parecido com ela. Até que combinava um pouco com o seu, que era Chico. Sonhava em ver os dois escritos com caligrafia rebuscada e dourada numa espécie bizarra de convite de casamento.

Entretanto, se contentava em olhá-la, e ela o olhava de volta. E o mundo compreendia, e o resto das noites caíram em paz.
(Baseado em fatos reais)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Baby, you're a rich man

Quinta-feira passada eu deveria estar estudando, mas estava no telefone com a Naná stalkeando um garoto gracinha da nossa turma de revisão. Com poucos cliques descobrimos praticamente toda a vida do garoto e nossas curiosidades foram satisfeitas quase que por completo. Tudo tão prático, fácil e automático. Você conhece alguém, se interessa, dá uns cliques no Facebook ou no Orkut e se não for igual eu que só se interessa por garotos que praticamente não tem vida virtual, descobre informações e referências valiosas rapidinho. E quando não existia essa parafernália toda? E quando para descobrir algo sobre alguém você deveria, sei lá, sentar e conversar e tentar descobrir algo? Era nesse tipo de coisa que eu não parava de pensar enquanto assistia A Rede Social.

Para quem não sabe esse é o filme que conta a história da criação do Facebook, de como Mark Zuckerburg se tornou bilionário em poucos meses construindo uma rede social que fez parte da via de mais quinhentas milhões de pessoas, e tudo começou com uma dor de cotovelo e uma noite de tédio, bastante cerveja e algorítimos no seu dormitório em Harvard.

Em uma cena do filme, Sean Parker, criador do Napster que entra na barca da rede que nasceu como The Facebook - e ele deu a ideia de tirar o 'the' -, diz que na sociedade que vivemos hoje viver virou uma coisa secundária, um objetivo intermediário: mais importante é mostrar pros outros aquilo que você acabou de viver. Mesmo se a festa de ontem foi meio miada o negócio é postar aquele monte de fotos e dizer pra todo mundo que foi incrível. E se você não consegue manter uma conversa com uma pessoa real por mais de cinco minutos sem gaguejar ou ter um tique no olho não tem problema, contanto que socialize online com mais pessoas do que já conheceu em toda sua vida. Sem contar com aquele velho e pertinente papo que ninguém quer te conhecer de verdade, eles querem a sua ideia, a imagem que você constrói de você mesmo. Quantas vezes você já não percebeu que ela pessoa que online parecia super legal na verdade era um mala, ou então desencanou de alguém só porque o perfil da pessoa era meio queima-filme? É a desilusão orkutico-facebookica amorosa que a gente passa em vários momentos da vida, quase sem perceber sua real dimensão.

E sobre Mark Zuckerberg: ele é um personagem tão interessante que me deixou com vontade de rever o filme e até mesmo de ler o livro no qual ele foi inspirado, Bilionários Por Acaso. Você nunca sabe qual é a dele realmente: se é um gênio, se é incompreendido, se é um babaca egocêntrico, se tem um complexo de deus, se é inseguro e solitário, se é tudo isso ao mesmo tempo ou alguma coisa que não consegui captar. Se a história dele com o Saverin foi uma coisa de recalque, se ele ficou cego com o crescimento rápido, se foi de tanto o Sean Parker falar na cabeça dele, ou se ele simplesmente não se importava, quem poderá dizer? Sobre Erica, sua ex-namorada, foi tudo por orgulho e auto-afirmação ou ele realmente se importava com ela? Sujeitinho difícil de "ser lido", e foi interpretado muito bem pelo jovem e fofo Jesse Eisenberg.

Antes de assistir o filme li algumas colunas em jornais e revistas sobre ele, colunistas e críticos que eu respeito se rasgando com o filme, dizendo que era espetacular, sensacional, genial e tudo isso e eu pensava com os meus botões que, apesar de ser uma história interessante e extremamente contemporânea, não tinha muito motivo pra todo esse hype. Não tinha muito lado pra essa estupefação toda. Mero engano, o filme é mesmo animal.

Gosto bastante dos filmes do David Fincher, e até agora todos que assisti me passaram uma sensação de grandiosidade. Clube da Luta é um de seus mais famosos e adorados por aí e sendo um filme tão ótimo e cheio de momentos memoráveis, insisto em me manter firme na minha escolha de cena preferida, que é a final. O desfecho do filme é incrível e o que dá o toque final é Where Is My Mind? do Pixies começando tímida e tomando conta da cena. Com The Social Network a cena final também me paralisou e é bem por causa da trilha sonora que não poderia ser mais apropriada. Beatles, vejam só!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Alforriada

Passei o sábado me revezando entre a piscina e uma espreguiçadeira em frente ao rio, entre risadas e açaís, e foi só lá pelas dez horas da noite que me caiu a ficha que na manhã seguinte eu faria a prova que tem me feito estudar feito uma camela nas últimas semanas. Cheguei em casa e comecei a desinfectar o apartamento de todo e qualquer vestígio de escola, e percebi que haviam apostilas em todos, exatamente todos, os cômodos. Nos quartos, no meu banheiro, na mesa da sala, na sala de tv, no banco de trás do carro da minha mãe, na área de serviço... Tenho até vergonha de dizer que tem um mês mais ou menos que durmo no quarto de hóspedes porque minha cama havia sido tomada por apostilas, cadernos, papéis aleatórios e quase um mês de roupas passadas que eu não guardei porque simplesmente não deu tempo. A mala que fiz pra ir pra São Paulo ver o Paul foi desfeita nesse fim de semana, e juro que não foi preguiça.

Um dia minha mãe disse que eu estava achando que aqui em casa era pensão, já que só passava aqui pra dormir. E não é que era mesmo? Saía 7h e voltava às 20h, morta demais pra fazer qualquer coisa que não comer qualquer coisa e ir direto e flutuando para minha cama. Quando chegava mais cedo aproveitava para desopilar assistindo... Ti-Ti-Ti (que é realmente uma novela muito engraçada)! A midiateca da escola se tornou minha segunda casa, já tinha minha cadeira cativa, meus livros favoritos, o canto preferido para sentar na área externa e tomar o açaí de todas as tardes. Pensei que minha bolsa não ia dar conta do tranco já que eu tinha carregar minha vida toda nela, desde cadernos e livros até guarda-chuva, garrafa d'água, roupa de ginástica, lanchinhos aleatórios (até cogitei a ter uma lancheira novamente)...

Aí nessa semana final comecei a pifar. Cabelos caindo, estômago desarranjado e minha cabeça mais ou menos assim: giberelina-auxina-vê-é-igual-a-lambda-vezes-éfe-1850-lei-eusébio-de-queirós-eu-sou-uma-bactéria-e-eu-sou-procrarionte-protalo-monoico-sou-o-gametófito-fato-social-geral-exterior-e-coercitivo-tem-gente-amando-tem-gente-beijando-seno-a-cosseno-b-seno-b-cosseno-a... Eu estava a ponto de implodir. Sabe em desenho animado quando acontece um BUM e aí o personagem infla e estoura? Tipo isso.

Fiz a prova ontem e nem sei se fui bem ou se fui mal, se estava difícil ou fácil, se as pessoas foram bem ou não. Não vou corrigir, me dou esse direito. Escola agora só em fevereiro de 2011. Saí da prova e fui ao cinema, sozinha mesmo, comecei a reler O Diabo Veste Prada e a perspectiva de pensar nos dias que virão serem uma folha completamente em branco, tendo a liberdade de fazer o que eu quiser ainda que seja fazer nada e passar o dia encarando o teto do meu quarto, é realmente maravilhosa.

Férias, suas lindas, me abracem com força.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Realmente aleatório: uma mixtape

Eu sou obcecada por mixtapes. Adoro ouvir as que as pessoas fazem (principalmente se vem na forma de presente), adoro fazer pra perder tempo, adoro fazer para presentear os outros. Aliás, nessa última categoria, minha obsessão vai tão longe que eu costumo demorar muito pra conseguir terminar, pensando nas melhores sequências e sempre lembrando de uma música que não pode faltar de jeito algum (isso é uma justificativa cara de pau por eu estar devendo uma pra Mel há meses!). E quase desde que esse blog existe eu tenho vontade de fazer algumas para publicar aqui, não que já não existam por aí centilhões de blogs que façam isso (bem melhor que eu), mas como a Irena disse, e eu vou parafrasear porque não saberia dizer melhor, passo tanto tempo pensando em mixtapes que é melhor fazer de uma vez e colocar aqui.

Essa ideia era uma resolução de ano novo e como o ano ainda não acabou, nunca é tarde, não é mesmo? E em todo esse tempo eu vim criando uns temas até que legais, mas todos necessitariam de um tempo maior para que eu pudesse fazer a seleção direito e tempo nesses últimos dias é uma coisa que se você tem pra vender me manda uma DM porque estou pagando bem. Aí que no domingo, depois da massacrante 2ª etapa do PAS, resolvi reunir as músicas que estou ouvindo recentemente e fazer uma gracinha, como presente pelos 3 anos de blog. A verdade é que ultimamente tenho escutado coisas tão, tão aleatórias que até fazer uma seleção coerente ficou complicado. Até me esforcei para montar uma sequência digna de respeito e confesso que lá pela música 4 a coisa já desanda. Mas olha, é de coração. Juro. Vocês vão se divertir.

E essa capinha porca eu fiz na pressa e num programa de edição online... porque estava com preguiça de abrir o Photoshop. Escolhi os personagens do filme O Clube dos Cinco para ilustrar porque, bem, ando obcecada por esse filme recentemente. Nada como unir obsessões.

Download

Essas músicas que não estão dando pra ler direito e eu fiquei com preguiça de colocar uma borda são: "João e Maria", do Chico Buarque, e "Evaporar", do Little Joy.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Aquele dos peitos

Estávamos no metrô, meu primo Pedro e eu, indo encontrar meus tios para jantarmos logo após assistirmos Harry Potter. Eu ainda estava em êxtase com o filme e falava sobre isso e comentava com ele cada detalhe, matracando em 33 rotações, como diria Vinícius, só que até o ponto de ficar chata. Estava na inglória missão de explicar pra ele toda a história de As Relíquias da Morte, o que é coisa complicada já que mesmo tendo lido o livro mais de uma vez, é complicado explicar todo o rolo pra uma pessoa que não leu nem o sexto nem o sétimo livro. Estavam no trem uns gatos pingados, e um garotinho bem novinho que provavelmente estava na mesma sessão que a nossa, já que também falava do filme sem parar.

Descemos na estação Sumaré. Eu estava com uma roupa toda simpática, fingindo que era Alexa Chung, com uma camisa cor-de-rosa (se Blake usa nós usamos também), short de tachinhas e minhas botas de combate favoritas, meu cabelo estava de bom humor até que de repente OH MEU DEUS EU ESTAVA QUASE SEM ROUPA. Ponto de exclamação.

O que ocorreu foi que no intervalo entre um passo e outro,todos, t-o-d-o-s os botões da minha camisa se abriram. De uma vez. E não foi como se eles simplesmente tivessem se desabotoado mas permanecido no lugar, pacificamente. Não: eles se abriram e escancararam minha camisa, me deixando com o umbigo, o sutiã e tudo mais pro mundo ver. A sorte foi que eu percebi. Quem me conhece sabe que é a minha cara não reparar, porque eu sou muito distraída. É a minha cara olhar pra trás pra procurar a menina quase sem roupa que uma pessoa apontou, riu e comentou com a outra.

Segurei a roupa e fui correndo pra um cantinho entre duas paredes pra me recompor. Eu pensava que esse tipo de coisa só acontecia em Friends. Não é muito o tipo de coisa que aconteceria com a Rachel? Consigo até imaginar ela saindo da Bloomingdale's de roupa nova, se achando, e então a blusa se abre inteira no meio da rua sem que ela perceba. Rachel então vai andando e todas as pessoas fazem gracinhas, assobiam, e ela pensa que isso é por causa que ela está mesmo arrasando. Até que ela chega no trabalho, entra no elevador com o Ralph Lauren e ele então a alerta de sua seminudez. É a cara da Rachel, é a cara de Friends.

Passado o susto continuei andando, fingindo-me inabalável. E podia ter acabado por aí que já seria vergonha e pânico suficiente pra semana inteira. Mas não. Enquanto subia as interminavéis escadas da estação Sumaré aconteceu de novo. Sim. Todos eles, de novo, em conjunto. Se houvesse algum tipo de Olimpíadas dos Botões os da minha blusa ganhariam medalha de ouro na modalidade Debandada em Sincronia. Só que dessa vez não tinha cantinho pra eu me enfiar e poder abotoá-los de novo. Tive que segurar firme a camisa, como se fosse um quimono, até o patamar da escadaria para me encolher (garantindo que caso acontecesse algo a Avenida Sumaré inteira não me veria desnuda) e me ajeitar. Sabe quando a gente sonha que foi sem roupa pra escola? A sensação é essa, ainda que por 10 segundos.

Ficamos esperando minha tia no viaduto Dr. Arnaldo e eu olhando pra blusa a cada 10 segundos para garantir que nenhum desastre ocorreria. Pior seria saber que passaria todo o jantar nessa aflição, já dali iríamos pro restaurante. Eu podia ouvir, no zum-zum-zum dos carros um cantarolar sádico do mundo, "Os botões da blusa que você usava... iam pouco a pouco me deixando ver no meio de tudo um pouco de você...". Entrei no carro e aconteceu de novo. Mas dessa vez foram só três botões, até porque no banco de trás não tinha jeito mesmo de ninguém ver, para quê o esforço?

Ao fundo, além de Roberto Carlos, ouvia nitidamente o som das claques, as risadas automáticas das comédias americanas. Só faltava aquilo, e eu ser a Jennifer Aniston, pr'aquilo virar um episódio de Friends.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Trois

O cronista se separa da esposa (ou do marido, no caso da cronista ou do cronista gay) e não liga tanto para a partilha. No mesmo dia, depois que ela sai com as melhores malas, ele começa a se preocupar com a crônica que aquele evento vai gerar. Se for texto ruim, a separação não valeu a pena. É esperar pela reconciliação para ver se ocorrem umas trovas melhorezinhas. O cronista não dá vexame sem calcular o rendimento dos parágrafos de humor. O cronista não se restringe às narrativas com começo, meio e fim. O cronista participa da vida dos textos.

Um cronista não se mete a romancista. A veia inventiva do cronista não é tão forte. O cronista depende muito mais das pequenas sortes do cotidiano. O romancista cria demais. O cronista recria.”

Caçar em campo alheio ou como escrever crônicas – Ana Elisa Ribeiro

Difícil escrever um post de aniversário, principalmente o terceiro. Apesar do momento ser sempre outro, porque um ano muda muita coisa, o sentimento é praticamente igual. Aquela velha história de que eu realmente não imaginava que chegaria até aqui, ou que mesmo com os trancos e barrancos, falta de tempo e inspiração, eu tenho um apego tão forte por esse blog que seria complicado pensar em mim sem isso aqui. E isso vai muito mais e além do que aquela coisa que as pessoas adoram dizer que escrevem pra registrar os momentos, para botar pra fora aquilo que angustia por dentro, usar como válvula de escape. Talvez até seja um pouco, e já foi bastante tudo isso, mas hoje é mais. É mais porque se eu nunca tivesse montado esse blog, não teria descoberto minha paixão nessa vida, que é escrever. Que brincar com palavras, contar histórias minhas e inventar outras é um troço que eu gosto tanto que até me deixa meio pinel vez ou outra, porque a todo momento eu ando pensando em novos textos. A maioria, vale dizer, nem chega a ir pro papel ou pro documento no Docs.

Sem esse exercício disfarçado de distração eu nunca teria descoberto aquela coisa que eu faço com paixão e olhos brilhando. E tem tantos aí melhores que eu, e há tanto ainda pra ser aprendido, mas a questão no momento não é essa. Porque eu posso resolver seguir meu lado Izzie Stevens e ser médica, posso seguir com meus planos de Jornalismo, posso flertar com a diplomacia e ir fazer Direito e independente disso, vou ter descoberto, digamos assim, a minha praia. Porque mais do que querer ser Audrey Hepburn ou Meryl Streep, eu quero ser escritora quando eu crescer. Ainda que não oficialmente, ainda que pra ninguém ler.

A única coisa que não posso deixar de repetir é meu agradecimento a vocês, que estão aí do outro lado. Escrever para si é muito legal, e eu tenho coisas aqui que ninguém leu e nem vai, mas compartilhar também é muito bom. Poder ler o que me escrevem só não é melhor que escrever: os comentários engraçados, os pitacos que de vez em quando vocês dão, as histórias que me contam, até mesmo quando discordam dizendo que aquele filme que me fez sair de órbita não foi nada demais, eu gosto. Porque eu acho isso tudo tão legal! Portanto, obrigada à você, que chegou aqui agora, e também a quem está aqui desde a época que eu falava horrores de shopping e escola – beijo, Jana!

E no mais, parabéns pra mim, pro blog, e também pro Woody Allen que hoje é aniversário dele.