sábado, 28 de abril de 2012

Duas ou três coisas que sei sobre fé

Nunca prometeram que as coisas iriam ser sempre boas. Que tudo ia dar certo. Que a nossa vida seria um mar de rosas. Nunca prometeram também que a gente teria todas as respostas. Que a gente sempre entenderia e não ficaria confuso. Quem acha que acreditar numa força maior tem a ver com as coisas que eu disse acima vai passar a vida acreditando numa mentira das grandes. 

A gente ouve muito, principalmente na igreja, que fé é mais ou menos quando você fecha os olhos e pula sabendo que alguém ali embaixo vai te pegar. Concordo com a metáfora, mas enxergo também que fé é quando as coisas param de fazer sentindo e a gente fica firme do mesmo jeito, pois tem fé (!) que não existe uma folha que cai da árvore sem motivo, sem que alguém lá em cima diga amém. Tem muitas coisas que eu não entendo, como o dia de ontem, mas acho também que é muita pretensão minha, e de qualquer outra pessoa, achar que um dia vai saber de tudo. E é por isso que eu dobro os meus joelhos, reconhecendo que eu não sei de nada, que provavelmente vou morrer sem saber de muitas coisas, mas pedindo pra que eu nunca pare de acreditar. 

Me pediram, no formulário abaixo, que eu elucidasse melhor uma coisa que escrevi há uns tempos citando o Pondé, sobre o que tinha entendido de seu dito: "É melhor ser infeliz sendo gente do que ser feliz sendo uma pedra burra". Ou algo do tipo. Pois bem. Por muito tempo eu pensei que ter uma atitude positiva, sempre, em relação à vida fosse uma afirmação de fé. Eu pensava que só estando sempre bem e sempre feliz eu poderia demonstrar que eu acredito em algo que me redime de todos os males do mundo. O problema é que nem sempre a gente está bem ou feliz com algo, e eu acabava pensando pouco em certas coisas porque bem, minhas primeiras concepções sobre o assunto não eram muito sólidas.

Que bom, meu Deus, que o tempo passa. De uns tempos pra cá, coloquei a mão na consciência, abaixei minha bola e vi que o caos estava escrito, assim como a dúvida, a incerteza e a injustiça do momento. Não tem como a gente escapar disso, nem eu, com minhas filosofias polianescas, nem ninguém. Porque é essa melancolia eterna que nos faz humanos, e essa mesma condição me comove e encanta de uma maneira tão louca que acho que é um dos nossos traços mais fantásticos. Foi aí que eu entendi que não tinha que ser forte sempre e ter certeza de todas as coisas e estar sempre bem, contanto que eu nunca parasse de acreditar que mesmo andando em círculos eu estava indo pra algum lugar. Que mesmo que não faça o menor sentindo, no fundo sempre faz. Qual é ele nem sempre poderei saber e compartilhar, mas eu sei que ele existe, assim como a pessoa que sempre segura quem pula de olhos fechados.

* Vim pensando em todas essas coisas hoje de manhã enquanto andava pelas ruas desertas da faculdade, tentando entender o que eu estava sentindo e pensando se conseguiria escrever a respeito. Foi aí que numa mensagem, sem saber, a Carol me ajudou a colocar tudo em palavras e eu queria agradecê-la por isso. Às vezes a gente precisa de um clique. <3

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pode vir, quero de novo

Há quase dois anos criei um formulário simpático no intuito de saber um pouco mais sobre os queridos leitores aí do outro lado da tela. Fiz isso porque não me canso de dizer como acho maluca essa relação entre eu de um lado, sozinha, e vocês aí do outro, sabe Deus quantos são, o que pensam e o que ainda fazem aqui. A impressão que tenho é que os únicos leitores são aqueles que trocam ideias comigo nos comentários e pronto. Vira e mexe me aparece alguém que diz que lê desde sempre mas nunca deu as caras e que sentiu necessidade de dizer algo especificamente naquele post, ou então acordou com vontade de me dar oi, foi lá e o fez e eu fico torcendo para que aquele pessoa volte e continue dando ois, continue sentindo necessidade de compartilhar algo. Não é para ver o número dos comentários ficar maior ou pela vaidade de me saber lida, mas pela troca que isso proporciona. Porque eu acho legal demais ler o que as pessoas pensaram sobre o que eu escrevi, conhecer outras histórias relacionadas, saber que existe muita gente no mundo tão maluca quanto eu. Busco sempre responder o que me perguntam diretamente, às vezes recebo e-mails, mas algumas pessoas dizem coisas tão legais e não deixam nem ao menos um nome pra que eu possa ter referência. Aí vocês ficam aí, sei lá quantos são, com suas conjecturas e impressões, e eu aqui, sozinha de novo, pensando no por que de um post que escrevi na brincadeira, comparando Velozes e Furiosos com The OC, esteja em 3º lugar nos mais acessados desde sempre, e por que diabos ainda hoje recebo comentários naquele outro sobre a nova namorada do Chico Buarque.

O próposito do So Contagious nunca teve o foco em outra pessoa que não eu. Criei para guardar lembranças e dividir o que pensava simplesmente porque não tinha ninguém com quem compartilhar certas coisas. Meus amigos não estavam muito interessados na minha opinião sobre o disco novo do Strokes e eu queria dizer aquilo pra alguém. Tanto é verdade que por meses escrevi para uns poucos gatos pingados que só apareciam por aqui porque eu implorava. No entanto, mesmo se eles não aparecessem eu estaria aqui, porque isso é pra mim e só desde o começo. Apesar disso, se agora existe eu-com-vocês, fico feliz em saber que posso fazer algo que divirta ou faça pensar quem está do outro lado. Não é minha motivação principal, mas me dá vontade de fazer mais e melhor, e isso me motiva. Tentei escrever isso de um jeito que não soasse piegas ou pretencioso, mas acho que só quem está/esteve no meu lugar sabe como funciona. 

Criei o formulário e pra variar me enrolei com ele. Tive respostas muito legais e muitas coisas que acabei incorporando ao blog foram inspiradas pelo retorno que obtive, como as mixtapes. Queria, no entanto, repetir a experiência para que possa fazer algo mais legal e cuidadoso com os resultados, e também porque, como disse, a primeira tentativa foi há quase dois anos, e sei que de lá até hoje muita gente foi e outro tanto chegou. Parafraseando o Ira!: leitores ciganos, sigamos então!

Sei que ando muito auto-reflexiva ultimamente, os incomodados favor registrar a queixa no espaço destinado a isso no formulário.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Achei Virginia Woolf

Costumo mudar meu corte de cabelo todo início de ano. Não faço isso numa esperança patética de que um novo visual possa de fato me trazer mudanças, mas sempre que chegamos em janeiro sinto uma necessidade enorme de estar diferente, de me renovar, e mudar o cabelo é um reflexo disso. Por isso pensei que mudar os ares aqui do blog seria uma opção interessante para esta minha recente falta de vontade. Não sei quanto a vocês, mas eu já sinto um ar diferente por aqui.

Eu era apaixonada pelo modelo antigo. Apaixonada. Quando meu amigo Filipe me enviou aquela tirinha do topo pensei que era coincidência demais encontrar algo tão absurdamente parecido comigo, só poderia ser destino! Tendo algo tão feito para mim aqui no blog, cheguei a pensar que jamais conseguiria me desvencilhar do modelo antigo. Convenhamos, o que poderia ser melhor que aquilo?

Navegando de bobeira por um Tumblr de backgrounds maravilhosos que a Taryne me indicou, encontrei essa imagem que agora vocês veem ao fundo e me apaixonei perdidamente. Amei a cor, amei o efeito e amei demais a forma como me faz pensar em Virginia Woolf. Não, eu nunca li um livro dela, muito menos As Ondas, ao qual este fundo me remete especificamente, mas se eu fosse chutar, diria que é um bom livro. Me deixem quieta com minha carência literária, por favor. 

Abri o Photoshop, que não visitava há mais de um ano, bisbilhotei milhares de páginas no We Heart It, fiz e refiz a paleta de cores umas 18 vezes e folheei todos os meus livros em busca de citações marotas para substituir as antigas, há muito desgastadas, nas esquinas do blog. Independente do resultado, é mister dizer que fiz tudo com o maior amor do mundo, porque amo espaço de um jeito que nem sei dizer, e espero que vocês se apaixonem e curtam tanto quanto eu. 

O dia em que eu ler alguma coisa da Virginia Woolf eu prometo que venho contar o que achei. 


domingo, 22 de abril de 2012

Sobre quando eu era interessante

2012 trouxe consigo uma penosa temporada de falta de vontade de tudo. Ou melhor, de impossibilidade de fazer as coisas que eu gosto. E não, não há nada nem ninguém que esteja me impedindo senão eu mesma, mas eu tenha essa capacidade de fazer as coisas difíceis tão difíceis pra mim que até parece que existe alguma força interna que não me deixa ler, ver filmes, e fazer todas as coisinhas que eu tanto gosto e que tanto me divertem. Pus na cabeça aquela ideia de que ia parar de tratar o lazer como uma obrigação a ser cumprida e o resultado disso foi que não via um filme inédito desde o feriado e hoje fui ao cinema assistir American Pie. Sintam o drama. 

Se eu disser que a faculdade está me consumindo estarei dizendo uma mentira das grandes. Há uma carga de leitura enorme, sim, e eu tenho trabalhinhos para entregar quase todos os dias, mas não é algo que tome tanto assim do meu tempo e o desespero vem mesmo porque até hoje não aprendi a agir de outra forma que não fazendo tudo só quando a água atinge de forma implicante minha retaguarda. De qualquer forma, faço o que gosto, reclamo mas divirto, e os textos, por mais enormes e complicados que sejam, também muito me interessam. Só sinto o cansaço na hora que pego um livro "normal" ou tento escrever aqui no blog. É como se eu gastasse tudo que tenho para fazer as coisas bonitinhas pro curso, e na hora de engrenar aquele On The Road que meu tio, que odeia emprestar as coisas, me emprestou porque queria muito, muito mesmo, que eu lesse, tenho a sensação de que um macaco bate pratos na minha cabeça. Quero ficar olhando pro teto ou no máximo tentando reformular o lide da minha primeira matéria. 

Já aqui no blog me falta inspiração. Tenho postado, mas não sinto a fluidez que tinha antes, quando bastava sentar com a página do Blogger aberta que as palavras vinham de sopetão. Tenho uma lista enorme de assuntos que queria muito falar aqui, mas as palavras me fogem e não consigo escapar da sensação de que tudo que escrevo é uma porcaria forçada. Já comecei esse post mimimi, por exemplo, de três maneiras diferentes, e não sinto como se fosse algo natural. Querido caboclo postador, sou legal, limpinha e fofa, por que você não quer me visitar?

Quanto aos filmes, bem, ando com preguiça. Os últimos quatro filmes que vi foram no cinema. Desaprendi a ver filme em casa. Canso, durmo no meio, tenho preguiça de baixar novidades. Na sexta-feira à noite senti uma vontade enorme de assistir Harry Potter. Coloquei O Enigma do Príncipe no dvd e dormi antes mesmo do primeiro jogo do Ron como goleiro. Acordei babando no sofá às 5h15 da manhã. Ontem aluguei dois filmes e estava gostando bastante de Ilha do Medo, mas, novamente, peguei no sono e sei que não vou continuar a vê-lo hoje, porque domingo é dia de Dexter. 

Ando meio de saco cheio, meio borocochô e meio com uma preguiça antecipada enorme das coisas. Acho que vou começar a tratar tudo como obrigação novamente, porque eu lembro da época que conseguia ver quatro filmes num fim de semana com uma saudade que a gente sente de um amigo querido que foi morar longe. Seja lá o que for que tenha me transformado nessa pessoa que dorme antes da primeira hora dos filmes e boceja só de pensar em abrir um livro, sinta-se avisado. Declaro, desde já, uma guerra contra minha falta de interessância.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pensei num título legal mas esqueci

(Tary, amiga, me dê a mão porque esse post é nosso)

Uma das sensações mais desesperadoras pela qual uma garota de então 17 anos pode passar, que não desejo nem para meu pior inimigo, é a de não fazer ideia se tomou um remédio ou não. Estava eu com uma deliciosa infecção de garganta e ouvido, sobrevivendo a base de antibiótico e ibuprofeno. Dada a hora de engolir o comprimido do dia, retirei-o da embalagem, que estava no meu quarto, e fui até a cozinha pegar um copo d'água. O que aconteceu entre o trajeto do meu quarto até a cozinha e o momento que eu me peguei fazendo uma outra coisa completamente aleatória sem fazer ideia se eu tinha tomado o remédio ou não, juro que não sei. Sei que de repente eu pensei: gente, e o remédio? Tomei? Não tomei? Esquadrinhei a casa toda atrás do comprimido, sem sucesso, e não conseguia me dar uma certeza concreta se já o tinha ingerido. Minha reação imediata: estou tendo lapsos, socorro, é Alzheimer adolescente, morri. 

O que acontece é que minha falta de memória me assusta bastante. Assusta porque a vida toda fui dessas que a família toda considerava como a pessoa de melhor cabeça do clã. "Anna, você que sabe de tudo que acontece, me responda isso..." "Ah, pergunta isso pra Anna porque ela lembra tudo!". Já ouvi essas frases incontáveis vezes. Por um lado, sou mesmo uma elefanta. Lembro da primeira vez que usei salto alto, da roupa que eu usava, o lugar que eu fui com eles, e o filme que fui ver no cinema. Lembro de mínimos detalhes sobre todas as pessoas ao meu redor, o que cada um falou em cada conversa, o nome dos pais e irmãos da minha melhor amiga do maternal, o que eu fiz em todos os dias da viagem X. Lembro de nomes de filme, elencos, diretor, ano de lançamento e até possíveis prêmios. A capa da primeira Capricho que comprei. Detalhes de fatos muito triviais da minha vida. Diálogos inteiros de filmes. Se você me falar uma situação aleatória de Friends, Gossip Girl ou The OC, consigo te dizer a temporada e o nome do episódio em que aquilo acontece. ... Tudo, eu lembro de tudo. Minha memória a longo prazo é invejável. Duro é lembrar se tomei ou não o remédio e da atividade que a professora passou pra próxima aula. Ou seja, as coisas que realmente me são úteis no dia-a-dia.

Com questões do cotidiano, as informações entram por um ouvido e saem pelo outro. Não é por falta de atenção, juro. As pessoas, principalmente meus pais, julgam de forma muito cruel os meus lapsos de memória, achando que só esqueço das coisas porque não me importo o suficiente com elas. Claro. Até porque pra mim não faz a menor diferença eu lembrar onde guardei as chaves ou meu carregador de celular. Os cabos USB eu nem tiro mais do computador, porque já cansei de perder quase meia-hora dos meus dias atrás deles. Já passei quase seis meses sem iPod porque era incapaz de me lembrar onde o tinha colocado. Passei a maior vergonha da vida essa semana porque percebi que estava com um livro atrasado na biblioteca há cinco dias porque eu poderia jurar pela vida dos meus pais, avós e cachorro que a data de entrega era outra. Esqueci que a biblioteca da faculdade não funciona da mesma forma que a municipal. Já cheguei ao ponto de estar fazendo café e de repente não saber se tinha posto açúcar na água ou não.

Me autodiagnostiquei como dona de um foco muito volátil. Tem um episódio de Modern Family com uma cena genial em que a gente ouve a Claire contar que o maior problema do Phil é que ele não consegue se concentrar numa coisa por mais de um minuto, enquanto vemos o próprio ir determinado a fazer uma atividade e, quando encontra qualquer outra coisa no seu caminho, muda completamente seus planos, deixando a outra ideia pra trás. Sou dessas. Quando estou à toa, call me Phil Dunphy. Já passaram pela situação de andar rumo a cozinha, com o telefone na mão, para tomar uma água antes de ligar para um amigo, e de repente você se vê diante da geladeira aberta, sem fazer ideia do que foi buscar, tirar dali um Toddynho, voltar pra sala, lembrar que você tinha uma ligação a fazer, não encontrar o telefone, andar a casa inteira atrás dele, até encontrar o mesmo dentro da geladeira, no lugar onde ficava o Toddynho? Pois é, eu já. Quando disse que não me surpreendi ao ver que tinha esquecido meu celular dentro da máquina de lavar é porque isso é uma coisa muito típica da minha pessoa. Aconteceria cedo ou tarde. Já aconteceu também de eu passar o dia me lembrando de fazer algo, como, por exemplo, pegar um livro para levar pro meu pai, deixar o livro na mesa, junto das minhas coisas, e na hora de sair eu passar os olhos por ele, não ter nada na lembrança, e só me recordar que tinha que levá-lo comigo quando já fosse tarde demais pra voltar.

Agenda? Tenho, anoto tudo que preciso me lembrar. Pena que ainda não tenho uma agenda para me lembrar de olhar minha agenda. Estou há semanas testando aplicativos de listas para o celular e chegando a conclusão que nenhum se adapta bem à mim. O único problema é que é difícil demais uma lista me ajudar se nunca me lembro de tudo que tenho que fazer, e quando faço as coisas, nunca marco se cumpri ou não. Aí fico ali me perguntando se comentei naquele blog, se já tirei o xerox daquele texto. Fico com medo de começar a usar post-its pra me lembrar das coisas, porque é tanto espaço ocupado no meu HD mental pra eu saber de cor, involuntariamente, os diálogos de Pulp Fiction, que tenho medo de um dia acordar e me ver soterrada de papeizinhos coloridos. Tenho adotado a patética tática de anotar as coisas na mão. Vira e mexe alguém me pergunta porque está escrito IMPRIMIR TEXTO 11 ou algo igualmente ridículo no meu pulso.

Agora querem mesmo saber qual o cúmulo da falta de memória? Estava eu conversando com a Analu e a Tary no Skype. Analu, como boa fiscal da blogosfera que é, mandou Taryne vir comentar no meu blog. Ela concordou. Uns dois dias depois, Tary, pessoa igualmente desmemoriada, me disse: Anninha, acho que esqueci de ir te mimar aquele dia, acredita? Ao que eu respondi: Mas Tary, você comentou no meu blog! E ela ficou meio incrédula, porque não se lembrava de ter vindo aqui, mas relevou o caso porque é muito esquecida. Eu, entendida da causa, achei super normal ela não se lembrar, porque também nunca tenho certeza se comentei nos blogs. Eis que um belo dia entro aqui no blog e vejo um comentário da Tary. Ela não tinha comentado antes. Resumo da ópera: Analu mandou ela vir me mimar e ela esqueceu. E eu, de tanto ouvir a Analu falar nisso, esqueci que ela tinha se esquecido de comentar aqui. Juntas nós duas vamos longe.

Ah, e a história do remédio? Pois é, encontrei o comprimido mais tarde, naquele mesmo dia, em cima da minha cama. Não tinha tomado. Como ele foi parar lá? Tô tentando me lembrar até agora.

Lucy curtiria este post caso se lembrasse dele

domingo, 15 de abril de 2012

Era uma tarde de quinta

Gianoukas Papoulas é o nome da banda. Eu sei, eu sei. De comer ou de passar no cabelo? é a primeira pergunta que surge na cabeça de quem quer que leia ou escute esse nome pela primeira vez. Também pensei isso e talvez jamais tivesse ouvido qualquer coisa que viesse deles não fosse pelo mero detalhe de que meu tio foi vocalista da banda por alguns anos. Quando saiu o primeiro cd eu era bem nova e achei a coisa mais estranha do mundo ouví-lo cantando, a voz que me era tão familiar saindo mais grossa e séria no alto falante do som, cantando coisas que eu não entendia direito. 

Por ser eu muito nova e o som deles algo bem maduro, não me interessei pelos Gianoukas logo de cara. Apenas alguns anos depois que os redescobri no cd Panorâmica, pelo qual me apaixonei e ouvi de forma enlouquecida, até que os deixei de lado novamente. Aí que por esses dias estava naquelas de ouvir músicas no modo aleatório quando ouço uma melodiazinha muito bonita e amor e me surpreendi ouvindo aquela voz tão conhecida que há muito não cantava pra mim. Meu tio saiu da banda há alguns anos e agora eu nem sei se ela ainda exist, pra ser sincera, mas sei que fiquei ouvindo a música repetidamente, o que não é muito do meu feitio, simplesmente porque quando ela acabava a única coisa que eu queria fazer era ouví-la de novo.

O nome da referida linda canção é Na Sala da Justiça e não sei se isso acontece com vocês, mas mesmo quando a música é em português, se eu não prestar atenção, não sei direito o que diz. Com essa foi assim. Eu só sabia que falava de uma tarde de quinta-feira com um inimigo que queria um pouco de barulho. Fui perceber que não fazia ideia do conteúdo da letra quando um dia me peguei cantarolando enquanto lavava a louça e não conhecia aquelas palavras que saiam da minha boca. Sabia a letra por osmose e só então fui parar pra pensar no que ela dizia.

E aí que logo eu, que não uma pessoa tão conectada às palavras, (não tão) quente e letrista, me peguei apaixonada por uma música cuja letra me dizia pouco ou quase nada. Um dia ainda vou perguntar pro meu tio qual foi a ideia que originou aquela letra, a interpretação correta por trás dela, porque ao menos ouvindo superficialmente, sem nunca ter anotado ou parado pra pensar, a letra me diz pouca coisa. O título remete a quadrinhos de herois e a letra versa sobre um inimigo que aparece querendo barulho e que voltou para a casa a pé, mas quando eu a escuto a única vontade que tenho é de sair saltitando nas calçadas de alguma rua bonita no fim de tarde cheio de sol de uma quinta-feira.

Licença poética, posso?


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quatro polêmicas

A Rafinha inventou de postar sobre quatro coisas que todo mundo gosta, menos ela, e lançou uma proposta de meme. Tive uma certa dificuldade pra pensar sobre esses ítens, porque vocês sabem que eu adoro ser do contra e já explorei vários dessas temas todo-mundo-gosta-e-eu-não por aqui (como fotografia, Florence Welch, Angelina Jolie...). No entanto, quem gosta de causar tem um saco sem fundo de polêmicas escondidas na manga, e aqui estão as que eu consegui retirar por agora:

Chaves


Esses dias a Cih estava contando um caso e usou o trocadilho "não priemos cânico" e eu levei horas até entender o que ela havia dito. Comentei isso, pensando que as outras pessoas também tiveram dificuldade, e a resposta que obtive de volta foi mais ou menos assim: o que você fazia na sua infância que não assistir Chaves? Entre quase todas as pessoas que eu conheço, Chaves é uma unanimidade. Todo mundo assistia todos os dias e se divertia horrores, todo mundo cultua, todo mundo ama até hoje e todo mundo entra em pânico quando sai um boato que Roberto Bolaños morreu. Acontece que eu nunca tive o hábito de ver Chaves e quando eu assistia, não achava tanta graça. Curtia o Seu Madruga e só (por que será?). Achava o Quico e a Chiquinha insuportáveis, odiáveis e não via graça alguma. E sempre fiquei com muita dó do Chaves, morando no barril e dizendo que ninguém tem paciência com ele. Eu ficava mal assistindo aquilo. Então eu nunca via, e sigo não assistindo e acho bizarríssimo que meu avô ainda assista, quase todos os dias. Lembro que no ano novo assisti um episódio e até me diverti, mas foi muito mais pela doença do troço do que pela série em si.

Feijoada


Me sinto traindo o movimento do mineirismo, do roceirismo, do rochismo e do chicobuarquismo quando penso em feijoada. Não é que eu odeie tipo azeitona, que não como de jeito algum, mas como muito amargurada porque não tenho outra opção (arroz com laranja, quem curte?). Pra começar, eu não gosto de feijão preto. Acho indigesto e forte. Também tenho muita resistência com carne de porco, porque tenho um certo nojinho. Como só costela e bacon. Aí somando isso ao fato da feijoada que se faz em casa ser uma feijoada roots, com tudo que se tem direito, pé, orelha e afins, e eu ainda ser obrigada a assistir meu avô quase saindo no tapa por conta de uma orelha gordurosa e pronto, tá feito o estrago. E ainda vai folha de louro naquele troço. É nojento, apenas. Os acompanhamentos também não ajudam. Laranja? Couve? Sério mesmo que isso funciona? Quando meus tios de São Paulo vem pra cá, já encomendam a feijoada da minha avó antes de chegar e ela é ansiosamente aguardada pela família toda, que se farta e quase morre de tanto comer, enquanto eu passo a base de arroz e linguiças aleatórias pra não ofender muito a minha avó.

Fantasia


Essa constatação me veio a pouco tempo, quando reparei que eu não me interessava por nenhuma das sinopses desses livros famosos que contam histórias de vampiros, anjos, lobisomens, pessoas mágicas, elfos, coisas místicas no geral, e as invencionices requentadas que volta e meia são vendidas como novidades. Talvez porque eu não consiga imaginá-los direito que não me sinto atraída de forma alguma. Acho que a única história fantástica (além dos contos de fada) que eu tenho um vínculo emocional verdadeiro é Harry Potter, porque, de resto, não me interesso por nada. Eu curto o realismo fantástico dos livros do Gabriel García Márquez, gosto de Matilda e Drácula, mas essas obras são construídas em cima de algo que vai muito além da questão mágica. É só um detalhe. Não me sinto atraída por livros ou filmes que a tem como mote - ok, eu amo filmes de super-herois - e nem é porque sou dessas que não se interessa pelo que não é real (já ouvi isso, amigos), mas é simplesmente porque... acho bobo. Não me enxergo ali. Eu gosto de pessoas, de gente, de histórias, de draaaaaaaaama, amor e risada. Por exemplo, no Oscar desse ano todo mundo se derreteu por Hugo, que é um filme lindíssimo mas que não me tocou nem um terço da forma como Os Descendentes mexeu comigo. No primeiro, saí do cinema e pronto, c'est finite, enquanto no último eu só fui parar de chorar e pensar naquilo uns dois dias depois.

Cupcakes


Espero mesmo que um dia vocês confessem que só compram cupcake pra tirar foto e postar no Instagram. Espero mesmo. Porque, na minha concepção, não dá pra alguém de COMER aquilo. Recentemente abriu uma cupcakeria (posso dizer que tenho ódio dessa mania de "eria"? Brigaderia, temakeria, daqui uns dias criarão frangarias) aqui em Ubercity e foi o maior furor. Todo mundo queria gastar seu rico dinheirinho num daqueles troços que mais parecem enfeite de cenário de filme da Sofia Coppola. É muito bonitinho e fofo, de fato, mas não dá vontade de comer. E quando a gente come, na boa? Que bosta. A maioria deles tem aquele glacê pronto, com gosto muito artificial, e o recheio também é industrializado, com gosto de remédio. Sou dessas que tira a cobertura e come só a massa, mas às vezes nem esta consigo engolir. É muito doce. E olha que eu GOSTO de doce. Não dá. Me sinto mastigando um ursinho carinhoso fora da data de validade e a sensação não é nada boa. 

sábado, 7 de abril de 2012

Desastres, dietas e sutiãs

Aos onze anos meu maior objetivo de vida era crescer e ser Adolescente. Assim, com letra maiúscula, porque na minha cabecinha de bagre a condição de Adolescente me traria algo infinitamente mais incrível e superior que tudo aquilo que minha  infância feliz havia humildemente me oferecido até então. Não sabia quando minha promoção iria acontecer, só tinha certeza que estava demorando demais. Se um dia eu me trancasse no armário e pedisse três vezes por alguma coisa, igual a Jenna, diria que queria ter 16 anos, a minha idade do sucesso. Queria ter 16 anos, ser popular e ter peitos.

Isso tudo porque tinha uma amiga que certamente me lobotomizou para que eu pensasse e me sentisse dessa forma Não sei qual foi a artimanha maligna utilizada por ela pra me convencer que esse papo de ser grande realmente era uma coisa que a gente deveria almejar. A gente assistia a todas as comédias adolescentes que encontrávamos na locadora e líamos Capricho, que nos revelavam um mundo que nós ainda desconhecíamos mas que queríamos desesperadamente fazer parte. Assistíamos Malhação e dançávamos junto com a Britney Spears na tv. Comprávamos livros também, como mães de primeira viagem que gostam de saber o que esperar enquanto estão esperando, tínhamos estantes cheias de De Menina A Mulher, Coisas Que Toda Garota Deve Saber e afins, que se propunham a explicar tudo sobre o misterioso universo que era o das ~mocinhas~ - o primeiro capítulo de De Menina A Mulher chama-se "Como é ser adolescente" -, contando com manual de etiqueta, lições de auto-estima (li praticamente todos os livros do gênero e todos, absolutamente todos, dedicavam um parágrafo especial àquela velha lição que a gente tem que saber valorizar o que tem de bom e ser feliz como é) e até instruções meticulosas sobre como funcionava um beijo de língua. E foi nesse bolo de bobagens que surgiu a Angel.

Eu e aquela amiga do início do post adorávamos ler (sim, líamos muita besteira, mas foi lendo besteira que comecei a ter curiosidade com livros mais sérios) e sempre trocávamos livros. A derradeira troca que fizemos foi quando ela me emprestou 'Angel: desastres, dietas e sutiãs' e eu levei pra ela o De Menina A Mulher 2 - Tudo o Que Você Precisa Saber para Trilhar os Caminhos da Moda e Arrasar Sempre (ufa!). O problema é que nesse meio tempo nossa amizade entrou em crise brigamos e desbrigamos diversas vezes, até que ela mudou de escola, a vida aconteceu e nunca mais destrocamos os livros. Continuei vendo ela nas aulas de inglês, e por meses fiquei ressentida da falta do meu livro - eu era a louca das modas na época e sentia falta dele -, com vergonha de pedí-lo de volta e nutrindo a esperança de um dia ir na casa dela e lembrá-la da troca. Nunca mais voltei lá e desde os 11 anos não punha as mãos no Angel, que fui reencontrar só hoje.

É um livro simpático de capa verde e ilustrações divertidas, fininho até - tanto que o reli numa sentada só. Nessa redescoberta, vi que saí no lucro com a troca permanente involuntária que fizemos. O livro é mais um ou menos um Diário de Bridget Jones adolescente, com uma protagonista alta, rechonchuda e com peitos enormes que só queria ser magra e esbelta como suas melhores amigas fabulosas, e ainda mortalmente apaixonada por um cara musculoso, bonito e meio babaca que nem sabia quem ela era. É um livro bobinho para meninas, mas é inegavelmente divertido e espirituoso, que me fez perceber como certas leituras que passam aparentemente incólumes pelas nossas vidas acabam ficando marcadas de alguma forma. Um exemplo? O carinha pelo qual Angel é apaixonada chama-se Adam, e ela só se refere a ele como Adorável Adam, alcunha que acabou virando título de um post antigo aqui do blog, cujo conteúdo nada tem a ver com o livro, mas que ilustra como certas coisas acabam ficando na nossa cabeça - e que os títulos dos posts daqui, que a Analu tanto ama, não passam de referências a tudo que já assisti, li ou ouvi na vida. 

Reler as coisas que a gente amava e se identificava quando mais novos é um exercício que todo mundo deveria fazer ao menos uma vez na vida. Rende ótimas risadas e um suspiro de alívio ao ver que superamos aquilo. Eu me identificava bastante com a Angel, me achava gorda e gigante perto das minhas amigas mignon e só queria que meus traumas com a escola fossem finalizados com um desfile de moda produzido por mim, e ainda me faria a garota mais popular dali. Hoje, graças, posso dizer que sou feliz como sou e com meu corpo, daquela forma que os livros de menininha aconselhavam (com peitos, humildes porém honestos), e da turma dos populares aprendi que na maior parte das vezes a gente tem que querer só uma coisa: distância.  O que resta da Angel em mim é só o humor e o amor profundo pela comida.

Pesquisando sobre o livro para escrever esse post, descobri que outros dois foram escritos com a mesma personagem, e confesso que se encontrasse na livraria seria capaz de comprar só para matar a saudade. Apesar de dar graças a Deus pelo tempo que passou, não posso negar que fiquei com uma nostalgia gostosa, porque a gente só tem 11 anos e nada na cabeça uma vez na vida.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O cromossomo da pobreza

A gente aprende em Sociologia que as revoluções burguesa e industrial juntamente com a reforma protestante mudaram coisas que iam muito além do sistema político e econômico, mas também aspectos do âmbito social, sendo o principal deles a forma como o trabalho era visto. Até o fim da Idade Média, o trabalho era visto como um castigo. Se você era nobre, era porque deus estava do seu lado e você deveria usufruir do ócio. Se você era servo era porque deus te achava um podre e para, recompensar por seus pecados, você tinha que trabalhar. As revoluções supracitadas mudaram isso. O trabalho passou a ser visto como algo que enobrecia o homem, e o ócio ganhou um caráter meio feio aos olhos das pessoas. Até hoje.

Claro que concordo que o trabalho é algo positivo e não sei como sobrevivem essas pessoas que passam a vida sentadas em casa assistindo tv o dia todo. Eu apoio o trabalho, mas não acho que o ócio seja uma coisa errada, se utilizado com moderação. Ainda carregamos esse ranço da modernidade antiga de pensar que ficar de pernas pro ar é algo reprovável. Se for, posso me considerar como uma alma aristocrática. Sou favorável ao trabalho mas também apaixonada pelo ócio. As pessoas seriam mais felizes se conseguissem se desligar um pouquinho e simplesmente ficar à toa. Sentar e esperar a vontade de agir com a vida passar. Percebo isso no comportamento dos meus avós e tias mais velhas, que até hoje acham que acordar tarde, por exemplo, é algo condenável. Elas nunca param quietas. Nunca sentam no sofá e ficam de bobeira. Sempre estão fazendo algo, às segundas e nos dias santos. 

E aí temos minha mãe. Minha mãe sabe ser amiga do ócio, mas suas diversões são um tanto quanto curiosas. Minha mãe gosta de fazer faxina. Ela diz que ela se acalma, se diverte, que gosta de cuidar da casa. Que coisa linda, né? O único problema é que essa diversão alternativa da minha mãe sempre sobra pra mim. Hoje, por exemplo. Quinta, véspera de feriado, eu e ela em casa, de folga, felizes. Mamãe decide que é um dia perfeito pra faxina. E por faxina, queridos leitores, vocês entendam: FAXINA. Descongelar geladeira, limpar armários, esfregar azulejos, podar as plantas. Só coisas divertidíssimas. Isso me deixa incomodada, porque enquanto tudo que eu queria era ficar jogada no sofá assistindo GNT, minha mãe está lá virando a casa do avesso e se eu não estiver prestando atenção ela começa a me esfregar também. Existe coisa pior do que você só querer fazer e pensar em nada e uma pessoa fica passando correndo por você o tempo todo, as cadeiras da sala de pernas pro ar, a sala toda molhada e a cozinha aquele caos? 

Existe. Sempre existe. Eu reclamo do espírito faxineiro e minha mãe diz que eu não preciso fazer nada, posso ficar quieta, mas ela não se contém. Logo ela me chama e me manda fazer algo. De levar o lixo lá fora a limpar os armários, ela não me deixa em paz. "Filha, troca as roupas de cama pra mim!" "Anna, estende as roupas no varal, por favor!". Preciso dizer que sou uma filha muito boa, que sempre ajuda nas tarefas de casa, mas quando elas precisam ser feitas e não quando minha mãe quer evitar a fadiga. 

Agora ela está lá brincando de jogar água na cozinha toda e eu aqui, escondida no quarto, porque não aguento mais ouvir meu nome. Já arrumei meu banheiro - que estava arrumado -, já levei o lixo lá fora umas 18 vezes, já ajudei ela a podar as plantas, já fui no mercado, já coloquei roupa na máquina e agora estou esperando ela se entreter em alguma atividade para sair de fininho antes que ela resolva que é um ótimo dia para arrumar os guarda-roupas. Esse sim anda precisando de uma arrumação, mas não. Não hoje. Não até segunda.

Monica Geller curte minha mãe

segunda-feira, 2 de abril de 2012

BRINKS

Vocês já imaginaram como seria escrever um texto se passando por outra pessoa? E já pensaram em como seria maluco se alguém escrevesse algo se passando por você? Essa foi a ideia que a Mari teve e compartilhou na Máfia há uns meses, e esse mote ghostwriter acabou inspirando um meme de primeiro de abril para enganar vocês, queridos leitores.

O inusitado foi que, naquele oba-oba da empolgação com a nova ideia, ninguém parou pra pensar em como isso iria mexer com todas nós. Pelo menos eu nunca tinha parado pra pensar que escrever como alguém e ler um texto escrito como se fosse meu seria tão estranho. Confesso que escrever, para mim, nem foi tão difícil assim, mas juro que tive uma sensação um pouco estranha na hora de postar algo que não foi feito por mim aqui no blog.

Como a Deyse bem disse na Máfia, se tem uma coisa que é totalmente minha nessa vida, é o blog. Não vou mentir que estou inteira nesses mais de quatro anos de arquivo, porque sim, tem muita coisa que não posto e não sou a maior fã do mundo de textos estritamente pessoais, mas isso não anula o fato de que todas essas centenas de posts tem a minha pessoa como cerne, sem exceção. Ler esses arquivos é ler a minha história, ainda que apenas um viés dela. Eu criei esse blog com uma motivação inicial de escrever lembranças para que eu nunca me esquecesse delas. É por isso que por mais que alguns posts lá de trás me deixem meio envergonhada, não tenho coragem de deletá-los. Por mais bregas, mal escritos e bobos que alguns sejam, se estão lá é porque um dia eu fui brega, boba e escrevi mal. E talvez eu ainda seja brega, boba e escreva mal, e irei descobrir isso daqui há uns anos, quando estiver um cadiquinho melhor.

Foi por isso, portanto, que tomei a liberdade de fazer algumas pequenas alterações no texto que recebi. O original, por exemplo, falava sobre imparcialidade num texto jornalístico, coisa que veementemente não acredito e, portanto, tive que mudar. Outro toque meu que dei foi mencionar o filme do Woody Allen, para que ficasse mais com a minha cara. De resto, acho que o único aspecto que uma pessoa poderia se apegar para afirmar que o texto do post passado não foi escrito por mim é o do tamanho. Dá pra contar nos dedos de uma mão a quantidade de posts tão sucintos aqui no blog. Ainda não sei quem o escreveu, mas gostaria de dizer que fiquei feliz por ela ter escolhido um tema que me é tão caro e usado como base o texto do Forastieri, que compartilhei no Facebook há uns dias. 

Já eu, pra acabar logo com esse mistério, escrevi um texto pro blog da Cih, do Frases Mais Azuis, "Medo de Ser Jane". Antes mesmo de saber que era ela minha amiga secreta de primeiro de abril, tomei a decisão de abandonar a pretensão de achar que iria escrever como uma outra pessoa, mas sim buscar algo que tivesse em comum com ela para que eu construísse algo que poderia tanto ser meu como dela. O resultado do sorteio me ajudou bastante, já que me identifico muito com o lado da Cih de ser apaixonada por comédias românticas e gostar de filosofar sobre elas. Adoro quando ela faz posts no estilo e a ideia me veio assim que abri o e-mail com o resultado. Espero que ela tenha curtido e me perdoado pela licença poética ao dizer que ela se afligia por ter medo de ser uma heroína frustrada. Se não tiver, desconsidere. Eu, pelo menos, tenho.

domingo, 1 de abril de 2012

Sobre jornalismo crítico


Assistindo televisão, lendo um jornal ou revista, quando falamos de um jornalismo cultural, procuramos por um jornalismo imparcial e crítico. Ok, imparcialidade não existe, mas que seja crítico. Exatamente isso. Como disse o André Forastieri disse, num texto que eu queria muito ter escrito: “Fã é fã, jornalista é jornalista. Fã perdoa tudo. Jornalista não perdoa nada, ou não deveria”. É assim. Mesmo que você adore qualquer ator, cantor ou diretor, você deve resenhar aquela obra e dizer a verdade. Concordo que isso é difícil, eu, por exemplo, custei a admitir em voz alta que Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, do Woody Allen, é uma bosta, mas é dessa forma que deve ser. 

Agora vamos sonhar um pouco:  eu adoro a Britney e estou em uma grande veículo e falo sobre a parte cultural. Ela faz um álbum horrível, com músicas péssimas e sem melodias. Eu, como fã, iria falar que ela estava em uma má fase, que isso iria passar. Mas como jornalista, devia me perguntar se isso realmente é bom e se teria algum objetivo. Se eu poderia assinar embaixo daquele trabalho. Esse é o intuito do jornalismo crítico. E não precisa ser só com música, poderia ser com um diretor famoso ou um ator que não atuou bem em tal filme. O que eu quero é apenas um jornalismo que saia daquele clichê “eu gosto de tirar foto” ou “eu gosto de escrever, por isso vim fazer Jornalismo”.Não é suficiente. Tem que ter senso, bagagem, opinião e não ter medo de colocar o dedo na ferida.

Ser crítico é a base para tudo e é apenas isso que eu desejo. Falar o que a assessoria de imprensa do ator/cantor/empresa/afins falou não é ser jornalista, é ser uma cópia barata e clichê. Por um jornalismo que saiba expor opiniões, não sendo tendencioso ou "amigo", tendo consistência no que fala e critica. É só o que eu quero.