quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Melhor pior aniversário de todos

Fazer dezenove anos foi mais ou menos o que eu imaginava que seria: aquele espaço meio em branco entre o marco da independência dos dezoito e o sei-lá-o-que-de-poético (ou desesperador) que a entrada nos vinte parece guardar. Aceitei de bom grado o aniversário caído numa terça-feira, no meio de uma semana acadêmica tensa, como se fosse uma ilustração da vida a me dizer: então você queria fazer 18 pra tudo mudar, agora aguenta, queridona. E eu estava aguentando muito bem. Minha mãe passou uns três dias se lamentando que era muito triste eu não poder nem ao menos sair com meus amigos naquela noite, ou no mínimo jantar com ela e o meu pai, à guisa de comemoração, e eu numa resignação quase beática. Fazer o que, é a vida. 

No entanto, a prática foi mais difícil do que eu pensava. Estava acostumada com uma vida em que dia de aniversário era uma carta fortíssima da qual eu poderia lançar mão para mandar um grande 'hoje não, Rodrigo' pro mundo. Dormir até mais tarde e pensar se eu queria ou não ir pra aula - e se fosse, seria com o único intuito de agitar errado, conversar a aula inteira e comprar o que tivesse de mais caro e doce na cantina. Porque hoje é meu aniversário, seria o bordão usado para justificar todos os meus atos irresponsáveis, a ser repetido mais exaustivamente que o "Porque hoje é sábado" no poema do Vinícius. Mas terça-feira foi meu aniversário e eu não cancelei a aula de direção por saber que precisava dela, e não voltei a dormir quando cheguei em casa porque precisava estudar, e não matei aula porque precisava da presença e não agitei errado porque precisava terminar aquela atividade que valia ponto, e não faltei na aula de  francês porque preciso começar a entender o que meu professor diz quando fala rápido demais. 

Meu pai me abraçou e disse dix-neuf, hein?, e eu pensei que a maior vantagem de fazer dezenove anos  - um número que quando escrevo por extenso ainda parece grande demais - era poder dizer em francês que j'ai dix-neuf ans, um número legal de se pronunciar. Diz-nãf. Grande coisa. 

Só que ao longo de todo esse dia miseravelmente ordinário - com exceção do almoço gostoso da minha avó e do parabéns que meus amigos cantaram no bloco mais movimentado, na hora de pico - meu celular vibrava em intervalos de poucos minutos e eu acompanhava coisas lindas chegando pra mim por meio de recadinhos, mensagens, ligações, textos, vídeos e desenhos, e precisei fazer uma força enorme pra não começar a chorar diante de todas elas, porque a gente vive dezenove anos pra descobrir que é uma pessoa que chora com demonstrações de afeto. E assim, depois que eu cheguei em casa descabelada, com a testa brilhando e louca pra tirar o sapato - como qualquer outro dia - fui ler tudo com calma, retornar ligações, e ler tudo de novo pra guardar pra sempre, percebi que melhor do que matar aula, fazer festa ou não fazer nada porque sim é ter seu dia mudado porque todas as pessoas que você mais ama no mundo guardaram dois, cinco, trinta minutos do dia delas, miseravelmente ordinário também, pra mostrar que se importam com você, e eu não poderia pedir presente melhor. 

Sempre achei que esses marcos de idade pouco significavam e o que importava era o processo da experiência, mas no dia 26 de fevereiro eu fiz dezenove anos e aprendi que a vida bate um tiquinho, mas que Deus mima a gente que é uma coisa linda de se ver. Grandessíssima coisa, e como!

(Obrigada a todo mundo que deixou recado e se fez presente de alguma forma e principalmente, obrigada Analu, por me incluir nas histórias que você vai contar pros seus netos polaquinhos, Tary, pela delicadeza de olhar os detalhes e pela forma linda de tratar deles, , por me amar pelas minhas esquisitices e trapalhadas, Dedê e Milenoca, pelas músicas favoritas e o amor cantado, Couth pelo desenho que eu amei demais e nem precisei pedir - que agora ilustra a fanpage do blog - Mayrinha pela explosão multicolorida de carinho e a carta mais bicha de toda a minha vida)

10 comentários:

  1. Anna,
    ler esse texto me deixou com um pouco de medo. Meu aniversário de 18 foi mais ou menos como o seu de 19. Não deu pra curtir, porque era uma quinta-feira de terceiro ano. Nem comprar o lanche mais caro na cantina eu pude. Mas deu pra levar um bolo e cantar parabéns com os colegas de classe, quando o que eu queria mesmo era sair pra balada ou qualquer outra coisa que os 18 permitem. Amanhã será minha primeira balada com 18 oficialmente marcado, acredita?
    Acho que é assim mesmo, a gente vai se acostumando aos poucos com a vida de "gente grande".

    Fico feliz porque os textos das meninas te deixaram um pouco mais contente - essas coisas fazem a vida valer a pena, apesar de tudo.
    Parabéns, mais uma vez, Anna!

    Beijos! <3

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  2. Anna, que bom saber que fizemos o seu dia mais feliz! Li e dei risada, pensando nessas regalias de aniversário. Eu também só ia pra aula marotar, ganhar parabéns de todo mundo e me sentir a última bolacha do pacote. Adoro fazer aniversário e andar pela rua sentindo uma bola em volta de mim. Desfilo com uma alegria egoísta de pensar que eu sou a mais importante do dia e as pessoas comuns da rua não sabem. Adoro andar pelos corredores e dar de cara com pessoas falando feliz aniversário e me dando abraços apertados. Mas odeio, absolutamente odeio a hora do parabéns.
    Amo você e quero que você tenha muitos "melhor melhor aniversário de todos!"
    E um dia ainda te darei abraço de aniversário pessoalmente! :)
    <3 <3 <3

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  3. Ai meus 19 anos :D
    Anna, quando estiver mais velha olhará pra trás com orgulho pois chegou aos 29 por tudo que construiu, aprendeu ou simplesmente ficou alí no seu canto observando o erro e acerto desse mundo (acá pessoas!).

    Beijocas <3

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  4. Antes de tudo, um parabéns atrasado ainda é válido, né? :)

    Eu nem te conheço direito, mas desejo tudo de bom e de melhor nessa vida pra você. Que o sucesso esteja sempre presente em todas as coisas que você faz e a saúde e as amizades. :)

    Agora mãos à massa:
    Meus 19 anos foi o aniversário menos esperado da história dos aniversários. Eu não quis me dar luxos porque ele caiu numa sexta-feira e, bem, ano passado a sexta-feira era sinônimo de mofar na cama de tanto cansaço. Pois é, sexta-feira. Porém pessoas tem um poder incrível de fazer tudo ficar perfeito com pequenas coisas. Pequenas e inesperadas coisas. Tive almoço com as amigas da minha mãe e meu namorado e à noite fui para pizzaria com meus amigos que, diga-se de passagem, foi melhor bom demais pra ser verdade. Além disso, meu namorado - que ODEIA escrever - escreveu uma cartinha pra mim e só faltei cair de amores, né?!
    Pelo jeito o seu foi assim também. Essa coisa de maioridade mudou totalmente minha visão de aniversário, mas ainda assim, como você disse, Deus arranja um jeito de nos mimar.

    Os posts das meninas foram as coisas mais lindas do mundo. Ai quem dera ser assim também!

    Beijos :)

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  5. Parabéns por essa nova fase de vida!

    jj-jovemjornalista.com

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  6. Eu ainda brilho que nem o Edward Cullen toda vez que você escreve meu nome por aqui. E, bem, caso você não saiba, eu adoro aniversários. Tipo, muito. Eu passo o ano todo esperando pelo meu e meu aniversário absolutamente nunca pode ser desastroso porque se for eu vou passar metade do ano deprimida e a outra metade planejando algo para fazer com que ele seja extraordinário. Aniversário pra mim é a coisa mais importante do ano, é como se o universo parasse para você andar e todo mundo tivesse o dever de dizer as coisas mais maravilhosas possíveis para você, mesmo sem você merecer ou ter feito nada, simplesmente pelo fato de você existir. É tão lindo e poético essa coisa de aniversário que eu me sinto na obrigaçõa de tentar passar minha empolgação para com a data para as pessoas que eu mais gosto.
    E, bem, esperava que o relato deste seu aniversário fosse chato, mas no fim das contas, foi um aniversário diferente, mas bom e realmente dix-neuf é lindo de ser dito! Mas, confesso que não quero que o meu dia chegue porque estou com medo de completar 20 anos sem ter feito nada de útil na vida. HAHAHAHAHA
    Enfim, odeio o fato de eu sempre comentar gigantemente aqui. Aff.
    <3

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  7. Tem coisa melhor do que receber o carinho - nem sempre esperado na proporção que é - dos amigos? Isso é muito querido, gente. Também fiz 19 esse ano e confesso que estou me sentindo meio velha - a maior parte dos meus amigos são bem mais novos do que eu e os outros são BEM mais velhos, ninguém regula comigo em idade - mas é algo bom, é o intermediário mesmo.
    Parabéns moça, e que suas responsabilidades e a vida adulta batendo à sua porta não venham lhe desanimar, afinal você sabe que terá amigos em quem confiar, não é? Entonces isso é o que importa ao final do dia - ao menos para mim funciona assim.
    Kissu ;*

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