Eu juro que eu acreditei que veria um filme por dia nas minhas férias. Não consigo nem sentir raiva da minha ingenuidade, porque acreditar nisso mostra que, apesar dos pesares, eu ainda acredito em mim e não tô podendo dispensar isso nos últimos dias. É claro que eu não só não vi um filme diferente todos os dias como não vi quase filme nenhum. A culpa eu garanto que é de Parks and Recreation e dos YAs que li nas últimas semanas, e dito isso não vou chorar mais o leite derramado e as férias desperdiçadas. Vou colocar aqui o que consegui assistir e o que andei vendo nos últimos dias.
Reality Bites (Ben Stiller, 1994): Pois é, eu também não sabia que o Ben Stiller já tinha dirigido um filme - e olha que esse não é o único. Ando vendo muitos filmes sobre jovens de vinte e poucos anos que não sabem o que fazer da vida meio que já me preparando para quando chegar minha vez de enfrentar essa barra, e esse filme é um exemplo do sub-gênero. Quer dizer, em partes. Gosto imensamente da primeira metade do filme, que mostra a turminha da Winona Rider tentando virar gente depois da faculdade enquanto a personagem dela registra tudo em filme para fazer um documentário sobre sua geração, mas não entendo como ele termina sendo uma comédia romântica, ignorando completamente alguns personagens, como a genial Vickie, interpretada pela Jeneane Garofalo. Mas no fim das contas eu jamais vou conseguir desgostar de um filme coming of age dos anos 90 com a Winona Rider no elenco.

Serra Pelada (Heitor Dhalia, 2013): Acho que gostei tanto de Serra Pelada porque não esperava nada dele e por isso fui surpreendida, e também porque a vibe me lembra, e muito, filmes de gângster, coisa que eu adoro - em específico Scarface. O roteiro gira em torno da história de dois amigos que vão para o garimpo de Serra Pelada tentar a sorte, e o mote tem a ver com ambição desmedida e delírios de poder. Muita gente disse que o filme tinha ares de western, mas acho que a lama na qual os personagens chafurdam tem mais a ver com o império da cocaína em Miami de Scarface. Claro que o Juliano Cazarré jamais será um Tony Montana da vida, mas também não faz feio. Outra coisa que adorei foi a trilha sonora, só com músicas bregas, e a estética meio kitsch do filme, o que é bem legal. Senti que alguns personagens, como o do Wagner Moura, foram pouco explorados, mas no geral Serra Pelada me agradou bastante.
Gravidade (Alfonso Cuarón, 2013): Umas duas semanas antes
desse filme estrear, saí com meus amigos e nós passamos quase a noite toda falando sobre ele e nossas expectativas de que seria um filme fantástico que mudaria nossas vidas e percepções. Quando isso acontece, a realidade tem tudo para dar uma avacalhada nos nossos sonhos, mas Gravidade entregou exatamente aquilo que eu estava esperando: um filme como eu nunca tinha visto antes. Acho que o Cuarón foi extremamente feliz e esperto ao apostar em um roteiro tão simples mas, ao mesmo tempo, profundo e tão próximo do espectador. Ele não cedeu aos impulsos de fazer um filme absurdo de ficção científica cheio de explosões e fez todo mundo prender a respiração por uma hora e meia só retratando como somos pequenos diante da imensidão do universo. Foi uma experiência sensorial e cinematográfica incrível e fico triste por todas as pessoas que não tiveram a chance de vê-lo no cinema, não acho que a televisão conseguirá passar a mesma impressão. Escrevi uma resenha mais completa para a Revista 21.
Kick-Ass 2 (Jeff Wadlow, 2013): Se Gravidade conseguiu ser mais incrível que as minhas mais altas expectativas, Kick-Ass me fez ver que quanto maior o salto, maior a queda. Eu adoro o primeiro filme porque ele é cheio de quebra de expectativas, com um herói magrelo e nerd que de fato só apanha. Tem toda aquela ultraviolência e o humor nonsense que fazem de Kick-Ass um filme fantástico. O problema do segundo é que ele se parece menos com a brincadeira do primeiro, e aí a violência incomoda e muito do humor parece mais constrangedor do que qualquer outra coisa. Não sei vocês, mas eu passei o filme inteiro me sentindo mal por todos os personagens e acho que essa não era a proposta. Os pontos altos são o Jim Carrey (!), McLovin' e Chloe Moretz, pra variar, mas é sempre bom ver o menino Aaron Taylor-Johnson que cresceu pra caramba desde o último filme. Risos.
O lugar onde tudo termina (Derek Cianfrance, 2012): Se esse filme tivesse uns 40 minutos a menos de duração, é bem provável que eu amaria sinceramente. Ele tem tudo que eu mais gosto: personagens ferrados, sinas shakespearianas e mágoas de família, mas é tão grande e enrolado que fica difícil manter a boa vontade, e o final clichê não ajuda - saudades tragédia. Acho que o Cianfrance ficou meio culpado depois da porrada que deu em todo mundo em Blue Valentine, e aí resolveu fazer um filme onde coisas ruins acontecem, mas há esperança no final. Gosto bem mais dele mostrando que o suicidas tinham razão. Nota de rodapé: embora com uma participação pequena, sempre maravilhoso ver Ryan Gosling com cabelo descolorido e um monte de tatuagens misteriosas.
Os suspeitos (Dennis Villeneuve, 2013): Esse filme nos faz ver que o problema nunca é a duração do filme, mas sim um roteiro que não nos prende até o fim. Porque, assim como o filme do Cianfrance, Os Suspeitos tem duas horas meia - horas essas que eu não vi passar porque estava muito ocupada encolhida de tensão na poltrona do cinema. O thriller gira em torno do desaparecimento de duas garotinhas e é bem amarrado, executado e tem personagens muito intrigantes. Saí do cinema me sentindo mal, tensa e até com dor de cabeça, mas acho isso incrível porque mostra que o filme realmente permite que a gente se entregue à história, e isso não tem preço. Acho que o único thriller que me deixou com mais medo (sim, medo!) e apreensão foi O Silêncio dos Inocentes. Ou seja! Nota de rodapé: Jake Gyllenhaal com suas camisas de gola claustrofóbica e tatuagens misteriosas me deixou absolutamente hipnotizada.
Jogos Vorazes: em chamas (Frances Lawrence, 2013): Que. filme. foda. Juro que não esperava que ele
fosse me empolgar tanto, tendo em vista minha relação conturbada com a trilogia, mas a verdade é que saí do cinema querendo aplaudir, gritar, ir pra guerra com a Katniss e assistir tudo de novo na sequência. Me arrisco a dizer que gostei mais do filme do que do livro - embora o segundo seja o queridinho de todo mundo, não lembro de ter ficado tão empolgada assim. Adorei o fato de ele ser um entretenimento incrível, com sequências espetáculo e tudo que as superproduções de Hollywood dão direito, mas ao mesmo tempo desenvolve direitinho os personagens e aborda todas as questões pertinentes da história cheia de críticas sociais. Todo meu amor à Jena Malone, uma deusa maravilhosa no papel de uma das minhas personagens favoritas Johanna Mason. Queria muito que o cinema americano desse mais valor pra ela. No mais, já sofrendo de ansiedade pro próximo filme.
fosse me empolgar tanto, tendo em vista minha relação conturbada com a trilogia, mas a verdade é que saí do cinema querendo aplaudir, gritar, ir pra guerra com a Katniss e assistir tudo de novo na sequência. Me arrisco a dizer que gostei mais do filme do que do livro - embora o segundo seja o queridinho de todo mundo, não lembro de ter ficado tão empolgada assim. Adorei o fato de ele ser um entretenimento incrível, com sequências espetáculo e tudo que as superproduções de Hollywood dão direito, mas ao mesmo tempo desenvolve direitinho os personagens e aborda todas as questões pertinentes da história cheia de críticas sociais. Todo meu amor à Jena Malone, uma deusa maravilhosa no papel de uma das minhas personagens favoritas Johanna Mason. Queria muito que o cinema americano desse mais valor pra ela. No mais, já sofrendo de ansiedade pro próximo filme.
Frances Ha (Noah Baumbach, 2012): Mais novo filminho do coração. Frances Ha é Girls com uma garota só e uma dose a mais de açúcar, porque a gente também precisa sonhar e nem sempre tá com saco para o realismo da Lena Dunham. Mais um do sub-gênero jovens-perdidos-nesse-mundão, ele conta a história de Frances, uma dançarina tentando virar adulta em Nova York, levando um monte de rasteiras da vida e estourando o cartão para passar um fim de semana em Paris. A protagonista é tudo que a mocinha de Bridesmaids queria ser e falhou miseravelmente e é cheio de coadjuvantes queridos - inclusive Adam Driver, que interpreta o asno do Adam em Girls. É um filme lindo (filmado em PB, a cara de Manhattan), real e inspirador, que mostra que você pode estar na lama e mesmo assim não ter surtos psicóticos ao ver as pessoas ao seu redor conseguindo alguma coisa da vida. Quero ser melhor amiga da Frances, correr com ela pelas ruas de NY, usando vestidos com legging pro resto da vida, ao som de David Bowie. Quero apenas correr de mãos dadas por NY junto com Frances, usando vestidos com legging pro resto da vida e ouvindo David Bowie.