Então eu li o livro da Amy Poehler, e já vou avisando que adorei. Foi exatamente dessa forma que eu, quase um ano atrás, comecei um post falando sobre o livro da Lena Dunham - a diferença é que eu não gostei do livro dela.
É inevitável traçar um paralelo entre Not That Kind Of Girl e Yes Please: ambos são livros de memórias de duas mulheres com bastante visibilidade na televisão, algum envolvimento com comédia e feminismo, relativamente jovens (Amy tinha 43 quando escreveu o livro), e que nunca fizeram nada de efetivamente grandioso para publicar um livro sobre suas vidas antes dos cinquenta. Aliás, ultimamente existe um verdadeiro filão desse tipo de autobiografia no mercado e a impressão que eu tenho é que todo mundo (menos eu, risos) está publicando livros sobre sua própria vida e seus vinte centavos a respeito do universo e tudo mais. Reconheço aí um oportunismo das editoras, mas não consigo ser contra e acho válido - só que não é sobre a Kéfera que eu vim falar.
Meu ponto é que apesar de enxergar esses pontos citados acima, eu sempre defendi aqui as pessoas e suas histórias. A vida é uma experiência tão maluca e única para cada um que, de verdade, cada vida tem potencial para um livro. O negócio é que nem todo mundo pode, sabe, ou quer contar sua história, e aqueles que podem não são necessariamente aqueles que sabem fazer isso. E assim é a vida.
De qualquer modo, minha opinião sobre livros-de-memórias-de-mulheres-ilustres-mas-não-tanto é que eles podem ser bons e interessantes de acordo com o quão boa e interessante é a autora para você. Todos os livros desse tipo que li tinham em comum o fato da voz da autora ser muito forte e presente e eu tenho certeza que muitas pessoas adoraram a autobiografia da Lena Dunham porque gostam e se identificam com a sua voz. Good for them, not for me. Na maior parte do tempo eu acho a Lena Dunham um saco, então eu achei a maior parte do seu livro um saco.
Por outro lado, eu amo a Amy Poehler.
E quando eu digo que eu amo a Amy Poehler não é desse jeito banal como a gente ama tudo na internet, um guarda-chuva de simpatia que cobre desde os shibas do Vine até o Lídio Mateus. Eu amo a Amy Poehler de verdade, um amor que mistura identificação e aspiração, um amor que começou antes mesmo de eu saber quem ela era, há mais de dez anos, quando assisti Meninas Malvadas pela primeira vez.
![]() |
como que não ama essa pessoa??? |
Com o tempo fui montando um mosaico de referências que me revelavam quem era essa mulher, mas nosso relacionamento teve início mesmo quando eu comecei a assistir Parks and Recreation (assistam Parks and Recreation) e sua personagem, Leslie Knope, se transformou na minha Personagem Feminina Favorita da Televisão (olha a responsabilidade), nesse mesmo misto de identificação e aspiração. Depois de alguns anos acompanhando a série e conhecendo outras facetas da Amy, tipo seu maravilhoso projeto voltado para empoderar garotas adolescentes, o Amy Poehler's Smart Girls (o site foi um dos responsáveis por alavancar a hashtag #askhermore no Oscar do ano passado, chamando atenção da imprensa para a necessidade de se fazer perguntas mais elaboradas para as mulheres no tapete vermelho, que fossem além do que elas estavam vestindo, e o movimento só cresce), eu estava convencida de que ela e a Leslie eram a mesma pessoa, o que só me fez amá-la ao quadrado.
Assim, fica fácil entender que eu leria uma lista de compras qualquer que ela escrevesse, e a ideia de ter um livro inteiro em que ela conta sua vida e tudo que aprendeu no meio do caminho foi pra mim como a realização de um sonho (apesar da série Ask Amy ser de grande ajuda). Não sei vocês, mas sempre que admiro muito uma pessoa, seu trabalho e suas ideias, eu automaticamente começo a sonhar com o dia em que ela vai escrever um livro contando só pra mim (e para outras milhões de pessoas) tudo que ela sabe e pensa, porque isso na maioria das vezes é o mais próximo que eu vou chegar de ser amiga dela, e eu queria ser amiga de muita gente que nem sabe que eu existo. Taylor Swift, quando vai vir o seu?
Infelizmente é provável que eu nunca tenha a oportunidade de sair para tomar uma cerveja (eu ia escrever café, mas a Amy Poehler não me parece uma pessoa que sai pra tomar café) (eu sou uma pessoa que sai pra tomar café, mas eu tomaria uma cerveja com a Amy Poehler) com a Amy, de modo que me agarrei a esse livro como uma oportunidade preciosa de tê-la comigo e ouvir tudo a respeito de quem ela é, o que ela fez, e o que ela pensa. #amor #verdadeiro
So here we go, you and me. Because what else are we going to do? Say no? Say no to an opportunity that may be slightly out of our comfort zone? Quiet our voice because we are worried it is not perfect? I believe great poeple do things before they are ready. This is America and I am allowed to have healthy self-esteem.
No livro, ela conta sua história de forma mais ou menos linear, valendo-se de anedotas, fofocas de bastidores, e pitacos sobre temas que vão de sexo e hábitos de sono a maternidade e drogas. Descobrimos então que Amy Poehler cresceu numa família de classe média amorosa e aparentemente normal, que sempre a apoiou em suas aspirações de atriz e comediante - e acho importante a forma como ela reconhece o privilégio disso. Conhecemos a trajetória que a levou dos teatros de improvisação de Chicago para os palcos de Nova York, depois para o Saturday Night Live até chegarmos em quem ela é hoje, atriz premiada com um o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia, grande amor das nossas vidas, melhor pessoa do mundo, etc.
E ela ralou muito para chegar onde está agora. Nisso, Amy e Leslie são exatamente a mesma pessoa: as duas estão tentando chegar lá, às vezes com um empenho excessivo, de um jeito equivocado, mas elas estão tentando com força e não têm vergonha de mostrar isso. De repente ficou cafona ser a pessoa que tries too hard, mas gosto muito mais de gente que se importa e se esforça do que daquelas pessoas que fingem que tudo que conseguiram veio porque elas são mesmo muito especiais e merecem toda aquela atenção (desculpa, estou falado da Lena de novo). Eu sou uma garota que tenta. Às vezes demais. Eu me importo. E se fosse atriz, por exemplo, eu com certeza iria dizer que prêmios nem importam tanto assim e que ser indicada já é honra o suficiente, mas ia ficar muito chateada por não ganhar, jamais esqueceria quem ganhou no meu lugar, e teria na gaveta uma coleção de discursos prontos para quando meu nome fosse finalmente chamado.
No livro, a Amy fala sobre todos os prêmios que perdeu (foram muitos) (as pessoas não sabem de nada), compartilha os discursos que ela escreveu e nunca recitou, fala sobre como é sentar no colo do George Clooney durante uma premiação, e no final diz que prêmios são como pudim, e todo mundo ama pudim. Viu? Se importar é legal. A Amy se importa.
Muita gente disse que esse livro é uma ótima leitura para pessoas que não tem a vida toda no lugar, porque a Amy supostamente é uma pessoa que não teve a vida no lugar por muito tempo e só foi chegar lá depois de mais velha. Discordo, e acho que ela também: é bem verdade que Amy Poehler só ficou realmente famosa depois dos trinta e muitos, mas isso não significa que ela era um fracasso antes - e talvez a gente também não seja. Uma das coisas que mais me marcou nesse livro é a parte em que ela escreve que as pessoas gostam de histórias de sucesso, mas ninguém quer ouvir sobre os anos em que ela foi garçonete para se sustentar, todo o tempo em que ela trabalhou em shows pequenos com seus amigos até que alguém se destacasse um pouquinho mais e tivesse a oportunidade de conhecer pessoas, que conhecem pessoas, que conhece alguém que concorda que ela seria perfeita para tal papel.
A gente não é um floco de neve, a gente não é especial demais, a gente não deve esperar que as portas se abram diante de nós porque a gente é tão legal que o mundo nos deve esse reconhecimento. Só que isso não é sinônimo de fracasso. A gente pode muito bem fazer o nosso melhor, trabalhar duro, dar conta da nossa parte até conseguir abrir a porra da porta. No entanto, um adendo: aprendi com a Amy de que carreira, trabalho e criatividade são coisas diferentes. Ela fala que a carreira é sempre como um péssimo namorado que não se importa com nossos sentimentos, não quer nos apresentar para a família e nunca perde a oportunidade de flertar com outras pessoas. Já a criatividade é como uma senhorinha de risada gostosa que adora abraçar, e é a ela que devemos servir. Porque a criatividade nos guia, nos dá alegria e nos preenche. A criatividade é algo que ninguém pode tirar de nós e ela que tem que ser o centro. Porque a carreira não está nem aí, e a gente pode fazer como ela e também dormir com outras pessoas, mas é a nossa criatividade e nossas paixões que vão fazer essas experiências penosas de contatos, favores, sapos e sorrisos forçados valer alguma coisa.
MARAVILHOSA METÁFORA!!! Amy Poehler é minha amiga pois falamos a mesma língua. É exatamente pra ouvir coisas desse tipo que eu queria sair para tomar uma cerveja com ela. E amigas como somos, depois de palavras de sabedoria assim ela daria uma piscadela e poderíamos passar todo o resto do tempo falando sobre seus filhos adoráveis, sobre quando seu obstetra morreu um dia antes de ela dar a luz e o Jon Hamm (o Jon Hamm!) falou para ela get her shit together porque eles tinham um programa para apresentar, e principalmente sobre como é beijar o Adam Scott - de acordo com Amy, ele sempre tem o hálito fresco e as cenas de beijo com o Ben eram o que ela mais gostava de gravar em Parks and Recreation(fiquei um pouco decepcionada que a bunda do Adam Scott não foi mencionada em nenhum momento) (assistam Parks and Recreation).
Isso é Yes Please, o livro que me fez BRODER de Amy Poehler.
Apesar de não ter gostado do livro da Lena Dunham, escrevi naquele post que admirava a honestidade e a coragem da dela de bancar a própria história. Com a Amy Poehler é parecido, mas com um adicional: admiro a coragem e a honestidade, mas, principalmente, agradeço por ela fazer questão de nos lembrar que é preciso dizer sim pro mundo e para as coisas, sem nunca esquecer que não se vai a lugar nenhum sozinho. Agora tenho mais uma amiga pra me acompanhar.
YES! PLEASE!
And thank you very much.
>> Texto ótimo da Jana Rosa sobre o livro, com uma lista de todas as coisas que ela amou e eu também, mas deixei de mencionar porque não sabia como encaixar no texto;
>>> No Recreio, minha newsletter, já é uma realidade e foi de longe a melhor coisa da minha semana e provavelmente a melhor ideia que tive em 2016. Na primeira edição traduzi uns trechinhos do livro para meus exclusivérrimos assinantes. Ainda dá tempo de assinar pra receber esse texto, OLHA A OPORTU. Yes please?
No livro, a Amy fala sobre todos os prêmios que perdeu (foram muitos) (as pessoas não sabem de nada), compartilha os discursos que ela escreveu e nunca recitou, fala sobre como é sentar no colo do George Clooney durante uma premiação, e no final diz que prêmios são como pudim, e todo mundo ama pudim. Viu? Se importar é legal. A Amy se importa.
Muita gente disse que esse livro é uma ótima leitura para pessoas que não tem a vida toda no lugar, porque a Amy supostamente é uma pessoa que não teve a vida no lugar por muito tempo e só foi chegar lá depois de mais velha. Discordo, e acho que ela também: é bem verdade que Amy Poehler só ficou realmente famosa depois dos trinta e muitos, mas isso não significa que ela era um fracasso antes - e talvez a gente também não seja. Uma das coisas que mais me marcou nesse livro é a parte em que ela escreve que as pessoas gostam de histórias de sucesso, mas ninguém quer ouvir sobre os anos em que ela foi garçonete para se sustentar, todo o tempo em que ela trabalhou em shows pequenos com seus amigos até que alguém se destacasse um pouquinho mais e tivesse a oportunidade de conhecer pessoas, que conhecem pessoas, que conhece alguém que concorda que ela seria perfeita para tal papel.
A gente não é um floco de neve, a gente não é especial demais, a gente não deve esperar que as portas se abram diante de nós porque a gente é tão legal que o mundo nos deve esse reconhecimento. Só que isso não é sinônimo de fracasso. A gente pode muito bem fazer o nosso melhor, trabalhar duro, dar conta da nossa parte até conseguir abrir a porra da porta. No entanto, um adendo: aprendi com a Amy de que carreira, trabalho e criatividade são coisas diferentes. Ela fala que a carreira é sempre como um péssimo namorado que não se importa com nossos sentimentos, não quer nos apresentar para a família e nunca perde a oportunidade de flertar com outras pessoas. Já a criatividade é como uma senhorinha de risada gostosa que adora abraçar, e é a ela que devemos servir. Porque a criatividade nos guia, nos dá alegria e nos preenche. A criatividade é algo que ninguém pode tirar de nós e ela que tem que ser o centro. Porque a carreira não está nem aí, e a gente pode fazer como ela e também dormir com outras pessoas, mas é a nossa criatividade e nossas paixões que vão fazer essas experiências penosas de contatos, favores, sapos e sorrisos forçados valer alguma coisa.
MARAVILHOSA METÁFORA!!! Amy Poehler é minha amiga pois falamos a mesma língua. É exatamente pra ouvir coisas desse tipo que eu queria sair para tomar uma cerveja com ela. E amigas como somos, depois de palavras de sabedoria assim ela daria uma piscadela e poderíamos passar todo o resto do tempo falando sobre seus filhos adoráveis, sobre quando seu obstetra morreu um dia antes de ela dar a luz e o Jon Hamm (o Jon Hamm!) falou para ela get her shit together porque eles tinham um programa para apresentar, e principalmente sobre como é beijar o Adam Scott - de acordo com Amy, ele sempre tem o hálito fresco e as cenas de beijo com o Ben eram o que ela mais gostava de gravar em Parks and Recreation
Isso é Yes Please, o livro que me fez BRODER de Amy Poehler.
Apesar de não ter gostado do livro da Lena Dunham, escrevi naquele post que admirava a honestidade e a coragem da dela de bancar a própria história. Com a Amy Poehler é parecido, mas com um adicional: admiro a coragem e a honestidade, mas, principalmente, agradeço por ela fazer questão de nos lembrar que é preciso dizer sim pro mundo e para as coisas, sem nunca esquecer que não se vai a lugar nenhum sozinho. Agora tenho mais uma amiga pra me acompanhar.
I love saying "yes" and I love saying "please". Saying "yes" doesn't mean I don't know how to say no, and saying "please" doesn't mean I am waiting for permission. "Yes please" sounds powerful and concise. It's a response and a request. It is not about being a good girl; it is about being a real woman.
YES! PLEASE!
And thank you very much.
>> Texto ótimo da Jana Rosa sobre o livro, com uma lista de todas as coisas que ela amou e eu também, mas deixei de mencionar porque não sabia como encaixar no texto;
>>> No Recreio, minha newsletter, já é uma realidade e foi de longe a melhor coisa da minha semana e provavelmente a melhor ideia que tive em 2016. Na primeira edição traduzi uns trechinhos do livro para meus exclusivérrimos assinantes. Ainda dá tempo de assinar pra receber esse texto, OLHA A OPORTU. Yes please?