quarta-feira, 6 de maio de 2009

LosHermania.

Numa tentativa (frustrada, com certeza) de neutralizar a babação de ovo absoluta que virá a seguir, preciso dizer que há pouco mais de um mês atrás eu ainda engrossava a fila daqueles que eram do lado anti-Los Hermanos da Força. Da música deles confesso que conhecia bem pouco, no máximo uma "Anna Júlia" completa e um trechinho de algumas outras aqui e acolá, e saía dizendo a torto e a direito que eles todos eram uns chatos, uns estrelões antipáticos (menos o Amarante, eterno querubim do Olimpo da minha profunda estima) e eram todos toupeiras coloridas que amavam fazer letras Marina Person e se recusavam a tocar o clássico dos clássicos nos shows. Durante o show deles na abertura do Radiohead, fiquei boiando muito, e triste porque estava sendo muito foda, e eu queria estar lá pulando e cantando com o pessoal, não só balançando a cabecinha, balbuciando os refrões. Impressionante como a banda extrema as opiniões, é 8x80, tem aqueles que amam, que choram (como eu vi muita gente fazer no show) e aqueles que odeiam, xingam, metem bronca (oi passado). Depois da vergonha passada lá, cheguei em casa e pus-me a pesquisar sobre a banda. Baixei toda a discografia e me ouvi tudo devagar, com cuidado.

Me encantar não foi nada difícil, ainda que tenha começado minha empreitada com o primeiro cd bizarro deles. Flertando com vários gêneros musicais, principalmente o rock, o samba e a bossa nova, o Los Hermanos faz um som diferente, leve, desses que a gente certamente iria querer como trilha sonora na ilha de Lost. Não sei quem foi a criatura errada que berrou que as letras dos caras eram sem sentido e cabeça-wannabe, porque a maioria me pareceu de uma poesia ímpar (sempre quis dizer isso) e além de entender muito bem as mensagens passadas, me identifiquei com tanta coisa! Verdades deslavadas muitas vezes sendo jogadas na nossa cara com a voz suave do Camelo (que ainda é uma mula pra mim), fazendo-nos relevar o conteúdo. Como o carnaval de época, que eles tanto cantam; a chamada época de folia, cheia de suas marchinhas que contam histórias de pierrots apaixonados que choram pelo amor da cooooooooooooooooooooolombina e todos cantam, felizes, atirando confetes para cima. Um tantinho irônico, não? Mas não é disso que o mundo é feito? Um monte de pessoas tristes que atiram confetes e serpentinas pra aparentar que vai tudo muito bem, obrigada.

Em um desses feriados, viajei para a micro-cidade-roça de vovó, e a trilha do caminho, obviamente foi Los Hermanos. Escolhi o "Ventura", o meu preferido deles, que durou exatamente da saída daqui, até a chegada lá e foi particularmente gostoso ver a estrada passando sem fim e cantarolar baixinho tudo aquilo. Minha mãe achou um máximo, tudo lindo. Acho que hoje já posso dizer que sou uma "loshermânica" e escrever isso na testa, ou então fazer virar camiseta e sair por aí, rodopiando na toada das trombetas a medida que a voz rouca do Amarante me diz pra onde ir. Aiai, esse monte de floral, xadrez, fita na testa e mais tendências hippies da moda estão afetando minha vida, sério.

• O primeiro cd me assustou um pouco, porque ele é muito ruim. Eles se metem com um hardcore desesperado ao mesmo tempo que tentam cantar sobre melancolias de solitários carnavais. Eles inclusive deveriam venerar "Anna Júlia", porque se não fosse por ela, mas sim pelo cd, eles nunca teriam emplacado, prontofalei. Além da supracitada, salvo "Pierrot", "Tenha Dó" e "Aline".

• Já o "Bloco do Eu Sozinho" revolucionou muito o estilo dos caras, é totalmente compreensível o buxixo que causou quando foi lançado. É um cd muito bom, já com alguns clássicos, como "Todo Carnaval Tem Seu Fim" e "A Flor". Ainda tropeçam em alguma coisinha por resquícios do hardcore amalucado do trabalho anterior, como em "Tão Sozinho". Por outro lado, o trabalho conta com algumas coisas bem incríveis, como "Sentimental", "Casa Pré-Fabricada" e "Retrato pra Iaiá" e "Assim Será".

• "Ventura" pode ser considerado um álbum perfeito, tem um errinho em "O Pouco Que Sobrou", mas é irrelevante. Cheio de clássicos ("O Vencedor", "Último Romance", "Cara Estranho", "Deixa o Verão"), me faz delirar do início ao fim. Não consigo dizer quais são minhas favoritas, mas se estou com pressa, começo a ouvir de "O Vencedor", e na sequência passo por "Último Romance", "Do Sétimo Andar", "A Outra" (amo, amo, amo, amo), "Cara Estranho" e "O Velho e o Moço". Baita tracklist pra um cd só, hein? Se tu quer aprender a ouvir Los Hermanos, começa por aí que não tem erro.

• O último cd lançado, "4", é o que eu menos conheço, ainda não tive paciência pra ouví-lo completo por mais de duas vezes. Talvez aí finalmente encontremos a arrogância da banda, com canções pretenciosas e - eu sou obrigada a concordar com a criatura absurda citada citada acima - nonsense. Destaco "O Vento" e "Dois Barcos", que eu gosto particularmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário