quinta-feira, 6 de maio de 2010

Felicidade não tem de ser clandestina

Já me disseram que tenho um jeito um tanto pueril de enxergar o mundo, que as coisas se dão de uma maneira simples demais no universo ao meu redor. Concordo em partes. Desisti de tentar entender o mundo, essa grande incógnita que vivemos, simplesmente porque cheguei a conclusão que ele é todo errado. Do princípio ao fim. As coisas desandaram com a primeira pessoa que fez uma escolha errada, que desencadeou mais um tanto, e foram circunstâncias erradas gerando situações absurdas e cá estamos nós, (com o perdão da expressão) afundados na merda. Procurar uma lógica naquilo que é ilógico é tentar provas que dois mais dois é igual a cinco. Você pode fazer um monte de contas e realmente chegar a prová-lo, como já me fizeram, mas, pegando os princípios da didática mais infante, se você tem duas laranjas e ganhar mais duas, você sempre terá quatro laranjas. E ponto.

Dane-se se você queria cinco para fazer um bolo ou um suco mais consistente. Algumas coisas a gente tem que simplesmente aceitar que assim o são, senão enlouquecemos.

Sou a primeira a me levantar contra a alienação, àquelas pessoas que não enxergam nada além do seu próprio mundinho colorido, que aplaudem de pé enquanto lhes dão porrada por trás, só porque na sua frente estão uns trapezistas charmosos. A política do pão e circo tão conhecida. Um antigo professor de História, o melhor que já tive, é que adorava dizer o quão lamentável era a situação do povo miserável que enquanto ganhavam balinhas dos políticos sorriam e faziam-lhe muitas festas, esquecendo-se completamente de que aquelas balas seriam sua única refeição do dia. Concordo completamente. A gente tem que abraçar o mundo e enxergá-lo em sua totalidade, suas cores de Almodóvar e seus tons gris e não aceitar as coisas só porque alguém disse, como quando na Idade Média os servos aceitavam sua condição porque um senhor lhe dizia que era assim que o mundo funcionava.

Entretanto, sou obrigada a me levantar contra também àqueles que se condenam a uma auto-comiseração e auto-flagelação por conta de todos os males do mundo, e talvez também dos seus. As pessoas, todas, têm o direito de serem felizes.

E ser feliz não é dar risada quando se vê com aliança no dedo e logo depois observa o príncipe encantado sair galopando na garupa de outra ou, sendo mais radical, quando não se tem o que dar de comer pros seus filhos; ser feliz não é abraçar as filosofias de Poliana e procurar enxergar um lado bom nas maiores desgraças, porque existem coisas que simplesmente não têm lado bom. Para mim, ser feliz é, a princípio, se dar a chance de ser feliz. É borrar o rímel chorando por conta de um garoto idiota, mas depois comer brigadeiro com as amigas falando mal de todos os homens do mundo dando muita risada, é se alegrar diante dos primeiros passos do seu filho e ficar feliz porque naquele dia se conseguiu trazer algo melhor à mesa ou simplesmente porque você apontou para a primeira estrela no céu e não surgiu verruga alguma em seu dedo.

Mesmo aqueles que não são acometidos por tantos revezes podem dizer que é egoísmo ser feliz enquando existe um sem número de pessoas sendo maltratadas pela vida ou ainda sabendo que o mundo é todo errado e incoerente, viver e não ter a vergonha de ser feliz sem ao menos se questionar ou contestar sobre o que tudo aquilo é ou deixa de ser. Já adianto a resposta, ser assim, escolher viver assim, é escolher passar a vida querendo respostas para um problema que não tem solução. E não há nada, absolutamente nada que a gente possa fazer. Se condenar a um questionamento eterno faz com que nossa cabeça dê um nó impossível de ser desfeito, e vocês podem ver que fim tiveram os grandes contestadores. Deprimidos, desiludidos, infelizes. Não estou de forma alguma desprezando o pensar, o questionar, o procurar respostas, já disse aqui o quando o eu gosto de Filosofia, o tempo que eu perco pensando em coisas sem explicação; mas há um limite para tudo nessa vida. Tem horas que a gente tem que parar porque, é clichê mas, pensar enlouquece. E entristece.

Se for chamar de ilusão, de inocência exacerbada, até mesmo de alienação, para os mais radicais, essa minha postura diante da vida, que chamem, não me importo. Prefiro ser assim do que me condenar a um sofrimento sem fim. Não adianta servirem-se de ditos como "é melhor amargar uma verdade do que se deliciar com uma mentira", porque não é mentira isso que eu vivo. Sou plenamente ciente do Universo ao meu redor, assim em maiúsculo pra diferenciar do primeiro parágrafo, agora falo desse Universo enorme que não se entende e não se tem controle. Só aceitei que as coisas são como são, e que tudo está errado e que não cabe a mim mudar aquilo que só poderia mudar se fosse desfeito e refeito por perfeitas mãos; posso e devo dar o máximo de mim para, ao meu alcance, tentar mudar, mas o mundo não vai ganhar nada comigo me entregando a um eterno sofrer diante do que é preto no branco.

Sei bem também que quem assim o é, ou seja, infeliz, não é por razão própria. Não é diante desses que me oponho. Sou contra quem se recusa a ser feliz. Tenho visto muito House nesses dias (meu novo vício e paixão) e no personagem principal da série vejo muito dessa postura. Ele cria contínuos obstáculos para separar a si mesmo da felicidade, porque acha os felizes estúpidos, simples demais, ignorantinhos demais. Do que me adianta ser toda entendida das coisas se no final da história eu vou estar sempre, sempre infeliz?

Escolho então enxergar alegria plena numa tarde passada na varanda da casa de algum amigo, tomando Coca Cola e dando risada, ou então ficar até altas horas em dia de semana assistindo House só porque o episódio está bom demais para deixar no meio, e fazer de um domingo a noite festa por conta de um macarrão com atum improvisado junto ao meu pai no fogão, e fugir no meio da tarde para tomar café num lugar charmoso com minha mãe, jogar conversa fora na mesa da cozinha com minha avó, e sentar no colo do meu avô, mesmo já sendo alguns centímetros maior que ele, e ouvi-lo contar pela milésima vez seus casos da Bahia. Já dizia uma personagem que eu muito aprecio e me inspiro sempre, Claire Colburn, em palavras semelhantes a estas, que a verdadeira grandeza consiste em levar muita porrada da vida e continuar de pé, para que os outros se perguntem porque eu continuo sorrindo.

Já me perguntaram no Formspring, que conselho eu daria para qualquer pessoa que aparecesse, que eu julgasse uma das coisas de mor importância para se levar pra vida. Excluí a pergunta, porque não sabia como responder, mas agora posso fazer uma resposta atrasada. Não aconselharia, repassaria um conselho que já foi dito e até musicado há alguns anos atrás: é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe.


Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba

Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

17 comentários:

  1. Eu de vez em quando fico tentando entender esse mundo, e as pessoas, mas é bem complicado, e mesmo que a gente tente ajudar a muda-los a gente não consegue mudar tudo, e entender tudo. Esses cientistas que a cada dia querem saber de tudo, sempre estão errados, sempre vem outro e diz que é assim e assado, e vão sempre surgindo novas idéias. Se Deus nos deu essa vida, foi para fazer dela a melhor, e não ficar se entristecendo e deixando de viver por causa de coisas que vemos por ai sem explicação. Dizendo em House, ele é um dos meus amores platônicos dessa vida rs, eu fico com pena dele por essa vida que ele escolheu de tentar entender e saber de tudo, e deixar de ter a vida dele, com amigos e tal.
    Adorei o post :]
    Beijos

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  2. Pensar enlouquece mesmo.
    Adooorei a postagemm, beeijos.

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  3. Post lindo, lindo, Anna!

    Não tenho nem o que contestar, adicionar ou comentar. Perfeito!

    Bjão!!

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  4. Anna-querida,
    acho que você fez esse post pra mim.
    Percebi que não existe infelicidade, mas também não existe felicidade.
    A gente só não precisa se esforçar tanto pra ser isso ou aquilo, porque no fim, a vida é diferente pra cada pessoa no mundo, e ela vai ser sentida e vivida sempre de uma forma muito particular, que não é melhor nem pior.
    Ela é linda porque é feita de momentos, e somente isso, tristes, felizes, cheios de tantas coisas, que são o agora, e é tudo o que é a vida.
    Questiono porque é meu ser assim, porque já não me esforço para não ser assim, porque já não visto minha armadura para não sofrer, porque é sempre depois de sofrer um monte que eu tenho meus momentos mais lindos, tão lindos que fazem valer uma vida.
    Sabe que eu já até falei pra outras pessoas, mas não pra você, que acho que você tem vocação pra ser feliz, e tem mesmo, e tomara que seja, porque você merece.
    Mas eu, que sempre vou sofrer muito ou ter momentos de extrema euforia, e que portanto, nunca serei nem feliz, nem infeliz, mas simplesmente um ser humano que vive como dá pra viver,e que admira profundamente toda a beleza inegável de existir, vivo com a verdade do que acredito, e exponho minhas fragilidades na sua forma mais crua, porque já não tenho medo de ser assim, por fora, exatamente o que eu sou por dentro.
    Faz parte disso ter meus dias muito trsites, como você já me viu ser, minhas épocas de crise, meses ás vezes, quando eu me descabelo e choro, e sou a pessoa mais pessimista do universo. Mas você não conhece só essa parte de mim, e talvez você tenha esquecido, mas eu tenho meses de plena paz, quando tudo o que eu quero e agradecer pelas maravilhas da minha vida, e a felicidade está no simples fato, de um dia, sem mais porque, me dar vontade de desenhar girassóis.
    ainda assim, gostei muito, muito, muito do post, acho legal que você se posicione, e concordo com muita coisa, embora não com tudo.
    Amo você Menina-Bacana.
    Um beijo!

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  5. entenderr o q naum pod ser resolvido eh um tanto quanto bizarro mesmo!
    adorei o blog!
    bjinhos

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  6. Anna, você escreve com a levesa da fala, então apesar de não conhecê-la ou mesmo nunca ter ouvido sua voz, eu consigo perceber a entonação com que escreve as palavras.

    Você pode começar hoje e não vai conseguir nunca entender o que é felicidade de uma forma definitiva.

    Uma coisa eu aprendi, mas nem sei também se isso será verdade absoluta para todos, hoje para mim é o que mais se enquadra: A felicidade está dentro de nós. E quando você escreve que, tomar café na casa da sua avó, ou sair para um chá chique com sua mãe ou mesmo o macarrão de 3 minutos do seu pai e ouvir seu avô te trazem felicidade... acredito mais ainda que é algo, absolutamente interior.

    A felicidade é personalíssima! Então, quando ouço alguém dizer "minha felicidade é você", ou "dependo de você para ser feliz" e por ai a fora... fico com dó dessa limitação.

    Pois além de você depender de um terceiro para sua felicidade, você passa para a outra pessoa uma carga muito pesada, que é fazer você feliz!

    Eu sou feliz!!! um mantra que deve ser repetido centenas de vezes...

    Bjinhus! e ah!! Seja feliz sim!

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  7. Ana! meu Deus! eu amo muito os seus textos, esse foi muito lindo de ler *-*

    não vou ficar me alongando demais por aqui, porque acho que você já disse tudo nesse post ;***

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  8. Anna, estou procurando aqui alguma coisa pra dizer, mas não consigo. Você me deixou sem palavras.
    Eu concordo e também precisei fazer isso para não adoecer de tristeza. E já tive este problema. Já me senti mal, por ser feliz. Até que a vida me tornou feliz por natureza, não importa o que aconteça, sempre vou optar pela alegria. E isso tem me protegido.
    Você é muito sábia. Continue assim.
    bjs
    Mel

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  9. Anna, eu te entendo, pq pelo que já li nos seus textos, nós duas temos ideias muito parecidas. Tb questiono as ordens do mundo e já concluí que tudo está errado. E me dá uma grande agonia, pq perfeccionista como sou dá vontade de consertar tudo! hahaha

    Há pouco tempo comecei a assistir a House e já virei fã daquele jeito ranzinza dele ser.
    Ultimamente eu ando conseguind ficar feliz com pequenas coisas, que antes não via graça.

    Gostei muito do seu texto.

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  10. Começo bem e terminou ainda melhor, com uma musica que arrasa, com uma frase hiper verdadeira.
    É melhor ser alegre que ser triste, e eu realmente n entendo quem pensa o contrário.
    Alegria é a melhor coisa que existe MESMO.
    Uma vez minha amiga, q vive triste, estava bem feliz. Ai suspirou de felicidade e disse: já to cansada de ficar feliz.
    Eu acho que prefiro morrer antes de CANSAR da felicidade.
    Bjoss

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  11. Anna, você espanca. Já disse isso?

    É sério, você escreveu um texto que, se eu tivesse capacidade e desenvoltura para tal, teria escrito.
    Amei!

    Olha, o peso da vida às vezes me faz triste, depressiva e desacreditada. Porém, sempre consigo me reerguer, tirar os olhos do caderno de questões que eu fiz sobre a vida e apenas sentí-la, pois sentir, como diria Clarice, é uma das formas de entender.

    Um beijo.

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  12. Ficou perfeito, Ana! É por isso que eu digo que a vida é feita das pequenas coisas!

    Beijos!

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  13. aprecio sua maneira de pensar, mas não sei como responder, a não ser discordando de vários pontos.
    não vou encher seu saco aqui com uma "análise" breve ou não do seu post ou da sua maneira de enxergar a vida, porque blá. Até escrevi umas coisas mas apaguei tudo. D=

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  14. Eu dou plena razão ao título e concordo com toda a estrutura dessa tua crônica. Mas a minha felicidade, em especial, é mesmo clandestina, é roubada, é desfrute puro porque eu vivo muito mais pelos outros, vivo de admirar os outros e esqueço de mim, apesar de ser egoísta.

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  15. Não era para eu estar escrevendo esse comentário, porque ele seria o registro apenas de que li seu texto.
    Mas acho que vale mesmo assim, pois deixo registrado também que concordo com cada palavra que você escreveu e é um dos melhores textos que li nos últimos tempos!
    As pessoas precisam aprender isso!!!
    Bjitos!

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  16. confesso que ri do teu post-desabafo-protesto. não pelo assunto em si, mas porque, pra mim, parece que você cuspiu essas palavras num acesso de 'chega, parem, eu não aguento mais'.
    quanto ao mundo, eu o amo ou o detesto, depende do meu humor de manhã todos os dias, e não sei se isso tem o dedo da tpm no meio, eu não sei o que ela faz em mim...

    enfim, concordo que alegria é bem melhor (:

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  17. Eita Anna! :O Que coisa mais linda! Em toda a sua simplicidade e veracidade.
    Eu penso demais e às vezes isso atrapalha a totalidade do que sinto, acabo sofrendo por pouco, fazendo tempestade. Ô saco que é às vezes.
    Mas, uma pessoa que estimo demais me disse q vive muito mais do que a emoção lhe manda fazer - pro bem, claro - do que ficar dando ouvidos total à razão, tirando qd a conta é de matemática ahahah! :p

    É simples simples ser feliz, e cara, eu sou feliz dessa forma simples. Sem precisar de muito, e nesse pouco ganho muito tendo quem amo ao meu lado, apenas preciso disso pra ser feliz, e as demais coisas complementam.

    E um segredo que a vida nos ensina: seja o bastante pra você, pois assim, quando as pessoas se achegarem elas simplesmente te acrescentarão felicidade naquilo que já te completa.

    Beijos querida!

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