quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Descolando o grau

Enquanto escrevo este texto, meus colegas de sala estão se formando no colegial. Enquanto escrevo esse texto aqui no meu quarto, com um vestido vermelho com listras brancas que há uns 3 anos atrás era bonito e Havaianas nos pés, meus colegas de sala estão lá, enfiados numa beca mortalmente quente, cansados de tanto sorrir para as fotos e de tanto bater palmas. E eu não poderia estar mais feliz. Amanhã à noite, enquanto as meninas vão estar se enfiando em seus vestidos cheios de bordados, pérolas e babados e retocando a maquiagem pela última vez, para curtir o super-duper baile de formatura, eu estarei em casa, no meu sofá, provavelmente assistindo Friends e, novamente, morta de felicidade e alívio.

Eu nunca sonhei com minha formatura de terceiro ano, nunca imaginei como seria e nem fiquei idealizando que naquele dia o garoto mais bonito da escola ia se ligar que eu sou o verdadeiro amor da sua vida, nós iríamos dançar a noite toda e seríamos felizes para sempre - até porque, apesar de bem bonito, o garoto mais bonito da escola não é exatamente o tipo que eu escolheria para passar a vida toda do meu lado. O negócio é que eu nunca gostei desse tipo de festa, acho que só serve mesmo para gastar uma quantidade absurda de dinheiro num dia só e constranger e deprimir quem está se formando. Pelo menos eu me sinto constrangida e deprimida nessas ocasiões.

No começo do ano, pus na minha cabeça que ia ao menos colar o grau, para deixar meus pais felizes e minha avó poder colocar um retrato meu usando beca e capelo, com a cara muito estragada - alguém sai bem nessas fotos? -, na estante de fotos dos netos. Quando meus pais disseram que não faziam a maior questão do mundo, perguntei para mim mesma por que razão eu me submeteria àquela cerimônia que me obrigaria a descer uma enorme escadaria de mármore sem poder segurar no corrimão, usando salto alto, e ainda por cima tentar parecer feliz e bonita para as fotos. Não bastando isso, eu teria que esperar, em pé, que toda minha turma de 40 alunos repetisse o ritual, ao qual eu assistiria aplaudindo efusivamente, seguidos das outras nove turmas de 3º colegial da escola sendo que a) Meu terceiro ano foi o mais desunido da escola e recentemente resolveu forçar um amor e uma união que não aconteceram nos últimos 8 meses b) Além da minha turma, tirando uns 5 outros amigos que tenho espalhados pela escola, não conheço ninguém.

Apesar de estudar na minha escola atual há três anos, nunca me senti parte de lá. Não que eu fosse excluída ou algo do tipo, mas sempre a tive a sensação de que lá é um lugar que fui para passar no vestibular e pronto. Claro que eu conheci pessoas fantásticas, cresci horrores, aprendi um monte, participei de coisas muito legais, tive professores maravilhosos, não estou de forma alguma cuspindo no prato que comi - e comi muito bem; apenas não me conectei ao ambiente da forma que sou ligada à minha antiga escola, que mesmo depois de 3 anos ainda é o lugar que eu sonho sempre que sonho que estou na escola, é minha referência, poço de lembranças, reservatório da minha memória afetiva de infância. Depois que sair do colégio atual, levarei comigo as boas coisas que já citei e desejarei nunca mais ser obrigada a pisar naquele ambiente com salas hermeticamente fechadas com ar condicionado congelante. 

Essa distância também não permitiu que eu tivesse uma turma. E por turma, não digo meu grupo de amigos, digo uma sala inteira. É impossível amar todo mundo, mas só quem já teve uma turma sabe como é. Acho que cheguei a ter algo próximo disso no 1º colegial, mas depois as pessoas se distanciaram, as panelas se fecharam e as pessoas começaram a ser indiferentes em relação às outras.Aliás, no início desse ano o clima na sala era tão pesado que ela era fisicamente dividida e não, ninguém fazia questão de estabelecer boas relações com "o outro lado", a hostilidade só foi dando lugar a indiferença ao longo dos dias e até hoje existem pessoas na minha sala com as quais eu nunca troquei uma palavra.

Na oitava série, na antiga e amada escola, eu formei, fiz clipe, chorei um monte e já me despedi daquele clima friendship never ends, com aquelas pessoas que cresceram do meu lado e que eu aprendi a gostar com o passar dos anos. Naquele dia, entendi que todo aquele sonho de escola de filme americano estava chegando ao fim, e que eu nunca teria aquilo novamente e aproveitei cada minuto, abracei as pessoas, os professores, os funcionários que me conheciam desde pequena e pronto, etapa vencida, tudo superado. Já meus pais desfrutaram plenamente do momento corujice quando me formei no inglês e fui oradora da turma, discursei e tudo mais: quando voltei para a mesa estavam os dois com os olhos cheios d'água mesmo sem ter entendido metade do que eu havia dito. Essas duas cerimônias me livraram tanto da minha obrigação com meus amigos e memórias, como da que eu tenho com meus pais, de posar como tesourinho deles.

Por fim, desencanei de ir na festa assim que soube do preço absurdo que custaria para comprar uma mesa. Ainda bem, porque fui descobrir depois que o cerimonial planeja fazer com que os formandos dancem uma valsa - dançarei valsa no dia do meu casamento e só - e desfilem num tapete vermelho. Alguém consegue me imaginar fazendo isso? Até considerei ir como convidada, mas desisti assim que descobri, novamente, o absurdo preço. Para quem bebe é até razoável, já que é uma festa open bar, mas quem fica na base da Coca sem gás (sim, porque nessas festas o refrigerante nunca tem gás), como eu, vai  pagar pros outros encherem a cara. HA. O outro motivo é que não gostei do salão escolhido e nem do buffet, que nunca foi bom em todas as festas que fui naquele lugar, e já que não bebo, comida pra mim é um troço importante. Sem comida, sem bebida e sem lugar para sentar, opa, cadê meu pijama e meu dvd de Friends mesmo?

E nem é como se eu tivesse que ir nessa festa para sambar na cara da sociedade e provar algo para alguém, no melhor estilo Andie Walsh. Aliás, ficaria feliz em mostrar pro meu professor de Física do segundo ano, que insistia em zerar minhas provas ou me dar notas indignas sem qualquer razão concreta, que sobrevivi à Ondulatória e ao MHS, passei de ano e no vestibular sem nunca ter precisado daquilo, mas ele nem vai nos presentear com sua adorável presença na cerimônia. Meus traumas de colegial foram mesmo as aulas dele e as provas de Geometria, logo, lavo minhas mãos e fecho essa porta feliz da vida. Até porque segunda feira tem aula normal, semana que vem tem vestibular, e não é como se o ano tivesse acabado por causa daquela festa.


9 comentários:

  1. Anna, eu me senti exatamente assim na minha formatura de faculdade. Eu fui na colação, mas não participei da festa (que todos tanto esperam). A faculdade não foi a melhor época da minha vida, eu não fiz amizades, a turma não era unida...enfim! Não me arrependo de não ter participado. Agora, formatura de 3º ano eu participei e embora não tenha sido das melhores, eu aproveitei bastante e foi um tanto quanto depressivo, como vc mesma disse. Mas, essa época sim foi a melhor época da minha vida. Acho que vive no terceiro colegial, o que vc viveu na oitava série (o que eu já não vivi, rs). Mas eu entendo o seu sentimento. O importante é que vc está feliz. E parabéns! Que os anos que estão por vir, sejam de muitas vitórias!

    Beijos!

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  2. Meu Deus, Anna! Comecei o texto pronta pra gritar na caixa de comentários que você era doida, porque eu sou a Analu, sabe? Aquela que saltita? Então você deve imaginar que eu sou APAIXONADA por essas breguices. ADORO uma colação de grau e um baile de formatura. Sou frustrada por não ter tido colação na 8ª série, e SÓ colação no 3º, sem baile nem nada. Mas veja, a colação do 3º foi engraçadíssima, apesar da guerra travada entre os 2 lados da turma. A gente sentia bombas sendo arremessadas de um grupo a outro NA própria colação, mas nem isso estragou meu dia. E depois eu fui pra pizzaria com meus melhores amigos, e foi ótimo. Mas eu gosto de coisas megalomaníacas, e quero uma formatura de faculdade PERFEITA. Só criei trauma quando fui na da minha prima e teve a VALSA DOS AMORES. Comassim, Bial? Quer dizer então que é minha OBRIGAÇÃO estar namorando no fim da minha faculdade, senão vou pagar o MICO de não ter ninguém pra dançar na VALSA DOS AMORES! Ai misericórdia, desconjurei! É uma corrida contra o tempo! Pena que eu não me contento em mandar essas festas às favas e ficar agarrada com meu dvd de friends... HAHAHA.

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  3. Seguinte: eu usei beca uma vez na vida. E foi na formatura de pré-primário. E só. Fui lá, toda linda, com meu sapato branco, beca vermelha e capelo que tinha um pompom branco que teimava em fazer cócegas no meu nariz. Eu, do alto dos meus seis anos, maior janela nos dentes, fiquei em pé um tempão porque meu nome começa com R e quase pra fora do palco, porque a fila de alunos era maior que ele. E então pensei ali, naquele momento, 6 anos de vida... que eu não ia mais querer fazer isso. Na minha formatura de ensino fundamental eu até quis ir no baile, mas a minha mãe disse que não havia razões pra gastar dinheiro com isso. Era só uma oitava série e quando eu me formasse na faculdade teria o real motivo. E então eu fui só na colação de grau mesmo, com canudos de papel camurça porque eu estudava em escola pública, mas mesmo assim foi emocionante cantar Coração de Estudante e Valsa da Despedida. Foram os melhores 8 anos da minha vida, aquela ainda é a escola que eu sonho quando tenho sonhos com escola, foi lá que eu cresci, me desenvolvi, criei o caráter que eu tenho hoje e ainda guardo amigos daquela época. E então fui fazer o ensino médio em uma escola bem próxima da anterior, cujos alunos fizeram praticamente uma transferência em massa, apesar de ainda ser uma escola pública e uma das melhores da região, teve sorteio pra entrar e tudo. E então eu passei mais três anos ali, com quase os mesmos amigos e pouca mudança de ares, mas como a turma era praticamente a mesma, também foi uma escola da minha vida a considerar. Eu conhecia todo mundo. E então, na formatura de terceiro ano, decidimos por não fazer nem colação de grau, nem baile. Fomos todos pra Porto Seguro. E apesar de as viagens escolares de hoje serem pra Miami e Caribe, o nosso Porto Seguro foi uma das melhores coisas que eu fiz na vida. Rolam histórias até hoje, 12 anos depois, dos acontecidos de uma turma de mais de 100 pessoas da mesma escola soltas pela primeira vez em uma pousada e no maior estilo axé music que todo o auge do É o Tchan tinha no momento. Foi divertido. Tenho uma filmagem daquela semana. E tem uma filmagem em off zanzando mundo afora aê que eu nunca vi mas sinceramente tenho medo das imagens minhas que têm lá. Um álbum de mais de 100 fotos (que não eram digitais na época, portando 100 fotos era MUITO), muitas lembranças na cabeça e uma saudade linda. Na faculdade eu passei os 5 anos namorando, então conclusão: não conhecia ninguém e não gostava da minha sala. Pequena, porque eu estudava de manhã e a grande maioria dos alunos faziam o curso noturno. E eu nem fiz USP nem nada pra comemorar tanto assim. Conclusão: não fui nem em baile, nem em colação. Eu peguei foi meu diploma lá 1 ano depois, paguei mais de 100 reais por ele, coloquei debaixo do braço e saí de fininho....

    Beijo!


    PS: Eu ASSISTI THE BREAKFAST CLUB!!!

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  4. Eu pensava exatamente como você, pra muitos anos depois perceber que esse tipo de atitude só me levou a me distanciar das pessoas, e que rituais são importantes. Mas a gente não tem spoilers da vida pra dar a importância devida para as coisas... espero que você não se arrependa como eu.

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  5. É como eu disse no grupo ontem: Você deve estar onde seu coração está. É simples assim, a gente que inventa complicações. Pra que mais esse trauma de colegial? Pelo menos dessa vez, você pôde escolher se queria ou não passar por mais uma obrigação nessa etapa da vida. O importante é que você fez a escolha certa e tá feliz com isso!

    Também não participei da "festinha" de colação de grau no meu colegial. "Festinha" porque éramos todos pobres demais pra pagar salão de festas, costumes e o escambal. Eu odiava minha escola, a falta de respeito dos funcionários e os professores que só apareciam uma vez por semana pra escrever qualquer coisa na lousa. Da minha turma nem preciso falar. Todos detestáveis também. Haviam as panelinhas e eu não me encaixava em nenhuma. Poucas vezes passava o intervalo conversando com um grupinho de meninos, mas na maior parte do tempo eu ficava sozinha. Por opção. Porque aquele não era o meu lugar.

    Acho que a maioria das pessoas tem histórias como essa no colegial. Não é uma fase muito boa, não :P

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  6. Se eu disser que eu nunca fui em uma formatura e nunca tive uma você acredita? hahaha. Eu nunca gostei, não que eu seja anti social, só um pouco, mas foi pelos mesmos motivos que você disse ai em cima. A minha escola do ensino fundamental foi tudo de maravilhoso, a turma era bem pequena, mas meu pai disse que não iria gastar dinheiro com algo que eu não goste. Chorei muito no ultimo dia de aula, e hoje só falo com três amigas de lá. Já no ensino médio era que nem na sua escola. Ao mesmo tempo que todo mundo era amigo, também não era, e todo ano a turma mudava, eles mudavam os alunos. E também o povo queria festão caro e o colégio não fazia formatur! Era tudo por conta dos alunos e dos pais, e eles não deixavam falar sobre isso na escola rs. Agora na faculdade eu tbm nao vou fazer hahahha, vou só na colação pra ter uma foto com canudo e aquela roupa toda, vou pegar meu dinheiro e viajar com minhas irmãs ou meus amigos da classe. Porque nessa turma o povo tbm não é unido. Pode falar, tenho muita sorte! Então não se sinta só hahaha. Beijo.

    Meu comentário Ctrl+C Ctrl+V hahaha, agora foi!

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  7. Olha, eu tive formatura no 3o ano e não foi boa. Primeiro porque só estudei no tal colégio naquele ano, ou seja... paguei caro, dancei valsa 300 horas com meu pai, os fotógrafos eram péssimos e nem curti. Fiquei tão traumatizada que nem entrei pra festa de formatura da faculdade. É dinheiro DEMAIS. Sou muito mais comprar um convite e participar da festa, pronto. O resto da grana dá uma bela viagem.
    Beijo, Anna.

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  8. Eu fui além do antissocial,não fiz formatura nem na oitava,nem no 3°,não viajei como o pessoal queria,enfim,não fiz nada do que estava programado na vida de uma pessoa rs,na faculdade não sei como será,mas é bem como vc falou,vai depender na união da turma,do clima em 3 anos de convivência e tal.Parabéns por mais essa etapa vencida!
    Beijos

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  9. Então.
    Nem fui na minha formatura de terceiro ano e era a oradora, matei mesmo, estava numa puta raiva daquela merda de turma e etc. Foi uma porcaria aquilo tudo, mas o ano foi bom e etc. Só fico imaginando quem ficou me esperando pra fazer o tal discurso, não fui porque ia dizer "Odeio vocês e vão se fuder".

    De qualquer forma, agora na faculdade, achei que teria liberdade e adivinhe, estou sendo obrigada pelos tiranos dos meus pais a participar da formatura, ok, tudo certo, eles que vão sozinhos então, não vou enfiar meu pé num sapato assassino, meu corpinho num vestido caríssimo pra tirar umas fotos e dizer "formei".

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