sábado, 25 de agosto de 2012

A noite veste prata


Sinceramente, eu não sei quem foi que começou. Estava andando um pouco mais atrás do resto do grupo, olhando maravilhada ao meu redor sentindo algumas coisas acontecendo no meu coração e pensando no quanto eu amo aquela cidade cinza e linda, até que ouço vozinhas delicadas cantarolando algo conhecido e resolvo andar um pouquinho mais rápido para me inteirar do movimento. Andando abraçadas a alguns passos de distância de mim, as meninas cantavam Tempo Perdido, que por meio de um acordo tácito acabou se tornando um de nossos hinos, talvez o mais sério e profundo deles. 

Me uni àquela cantoria e enquanto cortávamos a Avenida Paulista tão imersas em nós mesmas e na intensidade de tudo aquilo que tínhamos vivido, que poderia mais ou menos ser traduzido em alguns versos da música, observei a reação das pessoas. Estou com uma mania de dividir as pessoas por grupos, e naquela noite tive a chance de fazer isso mais uma vez. Algumas nos ignoravam, certamente ocupadas demais para perceber o que acontecia ao seu redor. Pessoas meio tristes e meio chatas, muito provavelmente. Outros nos olhavam como se fôssemos idiotas. Essas sim, com certeza muito chatas. Outros olhavam curiosos, tentando entender aquele flashmob pequeno, discreto, com garotas de braços dados cantando, algumas meio chorando. Pessoas normais. Outras cantaram junto à medida que passávamos por elas. Oi você que cantou junto com a gente, parabéns por ser legal e saber apreciar as coisas bonitas que a vida coloca diante de você. Poderíamos ser amigos. Não é porque eu estava no meio do movimento nem nada, até porque eu acharia incrível ver alguém andando na rua cantando Legião. 

Longa é a avenida e breve a música, de modo que Tempo Perdido logo virou Quase Sem Querer, que pulou pra Eduardo e Mônica até fechar com Pais e Filhos, quando foi mais legal ver as pessoas se unirem ao coro de quem prega que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, um amanhã que nem existe mesmo. Estávamos todas meio embargadas e a coisa ficando intensa demais, e o fato de ninguém se lembrar direito como era o começo de Giz deu uma quebrada no clima e logo começamos a rir e substituir aquilo por Kelly Key, só que mais baixinho e discreto porque deixaria de ser de bom tom.

Vou guardar para sempre esse momento, nós, tão jovens, vivendo nosso próprio tempo. Como diz a Renata, foi uma cena para passar diante dos meus olhos nos meus últimos cinco minutos de vida. Ainda que tivéssemos medo do escuro não seria necessário deixar as luzes acesas, porque aquela noite vestiu prata. 

10 comentários:

  1. Aquela noite vestiu prata, ouro e diamante! Vestiu amor! E, sem falsa modéstia, fui eu que comecei! Eu, medrosa que sou, cochichei no ouvido da Tary: Isso aqui tá tão lindo.. vamos cantar Tempo Perdido?
    E nós duas começamos, Milena logo entrou na onda, e assim foi. Sei que de repente estávamos cantando todas juntas! Que momento maravilhoso.. <3

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  2. Nossa, deve ter sido muito lindo ver vocês cantando, ainda mais Tempo Perdido :)

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  3. Verdade! É um fato para passar pelos olhos nos últimos 5 minutos de vida! E sabe, eu tava aqui pensando no que eu senti naquele momento. Além do frio por baixo da minha pashmina, claro. E da vergonha, porque você sabe, eu sou uma pessoa tímida. É que eu estava no meu lugar. Na minha avenida. Que eu passo todos os dias e, como essa cidade é um ovo, provavelmente eu encontraria alguém conhecido. E eu não sou das demonstrações de alegria coletivas. Eu sou das escondidas. Se eu tivesse em qualquer outra cidade, que eu tivesse certeza que ninguém do meu convívio, que conhece toda a minha seriedade e rabugice, eu estaria cantando mais loucamente, muito mais parecida com vocês. Mas aqui, no meu mundinho, eu estava cantando em som mais abafado. É de mim, o que eu posso fazer? Eu cantava em tom mais baixo, mas nem por isso com menos intensidade. Nem por isso sem saber da importância do momento. Eu cantava baixo pra afogar as lágrimas que teimavam em cair. E tirava fotos pra distrair, quando o que eu queria mesmo era sentar e chorar. Você sabe, eu tenho um pé no drama.

    Queria ter escrito esse texto pra poder tagar meu "fato pra passar no filme dos meus últimos 5 segundos do dia". Mas se não eu, que seja você. <3

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  4. Gente, que fim de texto fantástico! Eu estava tentando entender onde você explicaria o título e pimba. Incrível como sempre! Ai como eu sou sua fã. E ai como me orgulho por ter participado dessa cantoria, coisa mais linda não tem como ter existido. A gente podia ter morrido ali que todas estariam felizes e realizadas com certeza e com certeza essa cena passará no nosso filminho pré morte e com certeza falaremos dela para o maior número de pessoas possível, porque acima de tudo, naquele dia respiramos vida, naquele dia vivemos. Quem dera todos os dias pudessem ser como aqueles. E vale eu dizer que não consigo parar de cantar "vejam só essa manhã tão cinza, a tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos" o tempo todo e já até me irritei. HAHAHAHA
    Abraços meu amor <3

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  5. Achei seu blog super por acaso e me deparei com esse texto e adorei. Esses momentos fazem a vida valer a pena.

    Carissa

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  6. Sempre bons esses momentos descontraídos!

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  7. MEU DEUS. QUE TEXTO LINDO. Só me deixou ainda mais na vontade de estar lá, cantando com vocês. Mas, tudo bem. Se foi incrível pra vocês (e foi, como você deixou claro com o texto), me basta. Na próxima a gente canta ainda mais alto, comigo no meio! <3

    Amo vocês!

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  8. Eu fico tristinha até agora por não ter como ter ido (estudante de odontologia é pobre demais para ser certos luxos mi mi mi). =/

    Que coleção bonita é essa, Anna?

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  9. Ah, não é tão cinza assim, vai... este final de semana o céu estava azul, lindo...
    Eu comprei duas câmeras analógicas. Quando tive a idéia de fotografar vocês, já tinham voltado para suas casas... da próxima vez me avisa, que eu faço um book lindo.
    um beijo.

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