domingo, 4 de agosto de 2013

Crônica de uma tragédia anunciada

Meu pai uma vez me disse que eu seria brilhante se fosse menos teimosa. Essa frase foi dita num contexto mais profundo e pedagógico, a ver com grandes aprendizados da vida e a minha vocação meio maldita de sempre querer tentar do meu jeito para só depois dar a mão à palmatória e ouvir aquele eu te avisei que chega a doer nos ossos. E é verdade mesmo que eu sou teimosa pra caramba, mas é porque sou da escola tough love e acredito que a gente precisa bater a cabeça na porta algumas vezes para aprender certas coisas, mesmo que a cabeça seja minha e eu tenha que escutar o galo do arrependimento dançar foxtrot nas minhas ideias todas as manhãs. A gente aprende, não tem como negar. 

Às vezes culpo o Pedro Bandeira por eu ser assim. Lembro que na terceira série a professora nos leu um livro dele em sala, "Pequeno pode tudo", que conta a história de um pardalzinho que por algum motivo que não me lembro agora se destacou de seus semelhantes por ser muito persistente. Persistência. Foi essa a palavra que a professora usou como mote para nos falar a moral da história e lembro que me apaixonei por ela. Se os memes já existissem, poderia dizer que eu e minha amiga Amanda iniciamos um: em todas as situações que vivíamos, dizíamos uma para a outra que deveríamos ser persistentes. Lembro uma vez que eu estava triste e ela desenhou o pardal do livro na borda do meu caderno e eu entendi que era para seguir em frente. 

Acho que o que me faz ser assim tão cabeça dura é que eu acredito muito em certas coisas. Ninguém aceita de bom grado a chance de meter a testa numa porta de ferro se não acredita no por que de ter entrado  ali apesar de tudo. E acho que acreditar não pode ser uma coisa de todo ruim: bem sei que se não botasse fé em mais nada nessa vida, não teria muito o que fazer por aqui. Quando a gente acredita a gente não desiste e isso já é um avanço enorme. Era essa a moral da história do livrinho do Pedro Bandeira, não é? Não é tão bonito e nem lá muito nobre quando a gente escreve ou diz em voz alta que não desistiu porque acreditou muito em algo e precisava provar que estava certo, mas é isso que me motiva na maior parte das vezes. 

Eu queria fazer Medicina porque era o curso mais difícil e, já que eu não sabia o que eu queria da vida, pelo menos poderia provar que eu poderia ser o que eu quisesse. Eu aprendi a gostar de Machado de Assis porque fui levada a acreditar que ele era demais e precisava provar isso para mim mesma, mesmo que não entendesse bulhufas do que ele queria dizer em Dom Casmurro nas primeiras tentativas. Eu recusei aquele brilhantismo do qual meu pai falava porque ele me faria abrir mão do que eu sempre acreditei ser a melhor forma de viver a vida, e acho que posso ser menos brilhante se for um pouco mais feliz - so far, so good. E mesmo já tendo falhado num desafio do tipo uma vez, aceitei sem pensar quando a Analu inventou a semana "7 dias 7 crônicas". Disse para ela que a gente ia se ferrar muito, mas que estava animada, porque acredito que a gente pode arrancar poesia do cotidiano nem que seja com fórceps, e acredito também que, se desses sete textos um for realmente bom, já vai ter valido à pena.


Este texto por si só é um exemplo de teimosia: sou teimosa o bastante para criar uma teoria com cara de filosofia de vida para servir de argumento e justificativa pela minha cabeça dura, porque isso é bem mais fácil do que dizer que às vezes eu só sou mesmo muito estúpida e nas outras eu dou sorte. 

8 comentários:

  1. Tu é uma gênia mesmo!

    Eu amei e vou usar para mim mesma essa filosofia/desculpa para explicar a minha teimosia também. Não adianta os outros falarem, é preciso que a gente enxergue com os próprios olhos e leve nossos próprios tombos para aprender o caminho certo, que antes não nos parecia tão bom assim.
    Estou mega ansiosa pelas tuas outras 6 crônicas!
    Te amo.
    <3

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  2. MIMIMI
    NÃO SEI SOBRE O QUE ESCREVER!!!!!!
    Detesto esses desafios, sinto-me pressionada e a cabeça falha! Mas devo dizer que você se saiu muito bem com essa coisa de ser persistente, viu? Continue assim!

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  3. Acho que ser cabeça dura só por ser e ser persistente acreditando naquilo que se faz são coisas bem diferentes, e pelo o que eu to vendo você tá no lado certo. Quando aquilo faz ou deve fazer uma diferença na nossa vida pra melhor, acho válido a gente tentar, mas é bem verdade que as coisas são muito mais bonitas na teoria, né.

    Ótima crônica. Estou esperando as outras :)

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  4. Amiga, e eu convidei você tremendo de medo de você gritar que não ia entrar nessa roubada nem a pau! Adoro que você topou e estamos juntas na maluquice! Tomara que seja uma semana incrível!
    Te amo muito!

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  5. Mesmo que seja uma "desculpa", ainda continua sendo uma ótima filosofia de vida, porque eu acho que você está mais que certa em trocar um pouco de brilhantismo (que ainda assim te sobra e muito) por um pouco de felicidade (que nunca é demais). E eu acho que nossa semana vai dar muito certo!

    Beijos, Annoka.

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  6. Você é tão genial que eu nem sei o que dizer. E gata, tudo o que você escreve é ótimo. Nem bom é. É ÓTIMO. E eu também sou teimosa assim. Mas vamos valorizar a palavra persistência porque eu gosto mais também, haha. Te amo!

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  7. Se esse texto é resultado da sua teimosia, pode continuar batendo a cabeça. :)

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  8. brilhante!!!

    E seu pai deve estar adorando ler esse post. Vou levar comigo a imagem do pardalzinho...ee sconder o livro da minha filha, que já é teimosa o suficiente!

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