terça-feira, 27 de agosto de 2013

Manifesto contra o segundo semestre



Não dá pra confiar num período do ano que começa com agosto. Existe algum cartão de visita pior do que esse que vem cheio de poeira pra emporcalhar nossos livros e qualquer objeto que fique parado por mais de meia hora e um clima seco desses de colocar as alergias de pessoas de bem em chamas? Pois bem. Pior do que isso só mesmo pensar que é só o começo. O segundo semestre inaugura o retorno do calor e a cada novo dia quente de agosto só consigo pensar que estou em uma montanha russa que sobe, sobe, sobe e que inevitavelmente vai descer numa sucessão de intermináveis semanas em que eu eventualmente não vou conseguir dormir por causa do calor.

Eu odeio o segundo semestre porque ele é quente, mas não é só por isso. O primeiro semestre também reserva dias razoavelmente quentes, ao menos aqui nas minhas terras, mas eles não são infernais porque são úmidos e cheios de vento. Os dias quentes do segundo semestre são secos e cheios de um calor que parece de estufa - em desespero eu olho para as árvores na rua e percebo que as folhas não estão se mexendo. Se nem elas estão dispostas a sair do lugar, imagine só meu ânimo. O segundo semestre é o semestre da primavera, e por mais que eu ame os vários ipês coloridos que vejo pela cidade e adore as calçadas da universidade chapinhadas de flores, eu trocaria toda essa exuberância por dias sem insetos. Primavera é a estação das flores e dos insetos, aqueles insuportáveis que ficam voando ao redor das lâmpadas, que caem na nossa testa quando apagamos a luz pra dormir e espalham suas asas nojentas pelo chão. Eu realmente odeio insetos voadores, então sim, eu odeio a primavera. 

E sabe, não é que eu tenha algum problema em usar roupas leves, curtas e coloridas, mas a moda outono-inverno tem muito mais a ver comigo do que a primavera-verão. Eu gosto de cores sóbrias e a maior parte das minhas roupas é preta. Eu adoro usar casaquinhos, jaquetas e meias, amo tênis, botas e sapatos fechados, me sinto atordoada quanto penso que as pessoas estão olhando para os meus dedos dos pés. Sou o tipo de pessoa que depois de dez dias na praia já fica doida de saudades da calça jeans e do All Star de todo dia: enquanto todo mundo reclama muito de ter que calçar sapato de novo, eu estou toda feliz me sentindo eu mesma novamente. Então o segundo semestre me aborrece até nas roupas, porque eu aposento tudo que gosto de usar e em troca ganho a sensação de que só indo de biquíni para a faculdade eu  estaria vestida de forma apropriada para o calor.

No calor a gente sua, as roupas grudam, o cabelo estraga, pele idem e andar de ônibus é um suplício. Há mais ou menos um mês eu tive que fazer um trabalho num bairro muito, muito afastado e o processo de chegar lá me fez andar nuns seis ônibus diferentes. Não vou dizer que foi super agradável, e olha que eu gosto de ônibus, mas se essa mesma saga acontecesse uns dois meses depois, tenho certeza que teria sido um dia absolutamente infernal e não apenas cansativo por razões óbvias.

Em contrapartida, o primeiro semestre é marcado pelo fim do verão e pelas minhas estações favoritas: inverno e outono. Apesar do calor nos primeiros meses, fica sempre aquela expectativa das noites cada vez mais frias, das manhãs geladas e dos dias frios com aquele céu azul fantástico que só o outono nos oferece. O primeiro semestre é cheio de chuva e eu prefiro chegar em casa molhada três vezes na semana, como acaba acontecendo no mês de março, do que viver uma semana inteira respirando mal por causa do clima seco de agosto e setembro. Adoro as árvores quase sem folhas e a grama muito verde, adoro passear a pé no centro da cidade e não derreter, adoro o cardápio de inverno dos restaurantes, ir tomar caldo depois da aula de francês e beber chá o dia inteiro. Amo dormir de meias e ter motivo pra usar cachecol. 

Mas não é só o clima que me faz odiar tanto essa época. O segundo semestre é assombrado pelo Natal. Sei que ele acontece só no fim de dezembro, mas as coisas chegaram num nível que uma semana depois do dia das crianças já tem lojista inconveniente pendurando pisca-pisca e contratando um senhorzinho pra ficar vestido de Papai Noel na porta da loja. A cada decoração de Natal que eu vejo, subo mais um degrau rumo à angústia existencial. Não tenho nenhum motivo concreto para não gostar dessa data, mas sei que não me sinto bem nessa época. Não sei se é a felicidade imposta, a total falta de coerência da estética natalina com a realidade do nosso país (gente que se angustia por incoerência estética: eu), a comercialização tão extrema de tudo que chega a ser promíscuo, aquelas festas de fim de ano que você é meio obrigado a ir, o cheiro de panetone ou a invasão da uva-passa. Sei que eu odeio o Natal e metade do segundo semestre do ano existe em função dele.

No primeiro semestre, ninguém inventa de colocar uva-passa no arroz ou resolve rechear as carnes com abacaxi e colocar fruta em todas as saladas. O primeiro semestre tem a Páscoa, que é minha data comemorativa favorita, o que revela que meu coração não é tão gelado assim. Sou cristã e, sem desmerecer o nascimento de Cristo, acho a simbologia da Páscoa muito mais significativa e bonita, é uma coisa que me toca mais do que qualquer outra celebração religiosa. Sim, tem chocolate, mas tem essa ideia de tragédia e redenção pela qual eu sempre fui apaixonada. E ninguém é obrigado a ser feliz na Páscoa, então é bem mais fácil ficar alegre. Além dos doces, Páscoa é época de bacalhau, vinho, e eu já disse que ninguém inventa de colocar uva-passa no arroz e na farofa? Alguns meses depois, minha segunda festa favorita: a junina! Daí que eu nem sou católica, mas amo festa junina de paixão, de assistir quadrilha dos primos e dos filhos pequenos de amigas da minha mãe, topar fazer pintinha no rosto, absolutamente adorar uma quermesse e passar o dia inteiro cantando Boate Azul. Gastronomicamente, festa junina é quase uma festa do milho e eu amo milho em todas as suas variantes (menos pamonha), então me sinto totalmente contemplada. Os meses de junho e julho também marcam a época dos morangos, uma das minhas frutas favoritas, e eu tenho desculpa para passar semanas inteiras comendo morango todo dia como sobremesa depois do almoço. 

Quase que eu me esqueço: as principais premiações do mundo do entretenimento acontecem no primeiro semestre, inclusive o Oscar, que pra mim é uma data comemorativa marcada no calendário como qualquer outra.

Depois de tudo isso, me parece bem lógico que o primeiro semestre reserva tudo de melhor num ano, deixando o resto e o lixo pro final. Eu nem precisaria escrever esse post se só lembrasse a vocês que o segundo semestre é aquela época do ano em que as pessoas reclamam do calor e falam o tempo inteiro, a partir de setembro, que nooooossa, olha, o ano já acabou, que horror, tá passando rápido demais, sentenças que entram na categoria de coisas que eu mais odeio ouvir durante a experiência da existência. Somo isso às uvas-passa e à saudade do outono e já quero me enterrar no chão e só sair no dia 02 de janeiro. Porque o segundo semestre começa com a poeira de agosto, e o primeiro chega com agenda nova, piscina o dia inteiro e aquele alívio delicioso de pensar que falta um ano para o Natal.


{Há poucos dias, a Dani, blogueira querida do Sem Formol Não Alisa, fez um post contando que prefere bem mais o segundo semestre do que o primeiro. Gostei da proposta e resolvi fazer uma resposta - do contra, obviamente. E aí, de que lado vocês estão?}

9 comentários:

  1. É a primeira vez na vida que eu não concordo com um post seu (oh, não diga). Mas, para não perder o costume, me identifiquei muito com o parágrafo sobre o Natal. Também amo Páscoa e Festa Junina, mas eu tenho um problema tãããão grande com clima que ele pesa monstruosamente na minha decisão, hahaha.
    Adorei o texto, como sempre, Anna! :)

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  2. Não sei, Anna, eu também vivo reclamando do calor mas depois que experimentei o que é frio de verdade, estou tentando ver as coisas por outra perspectiva. TUDO BEM QUE desde que voltei, o calor não está tão insuportável porque chove quase todo dia por aqui (♥) e quando vem sol, não dói tanto porque é fresquinho.
    O problema é Dezembro porque o verão chega matando e doendo e isso só me faz lembrar do começo desse ano que as aulas começaram em janeiro e as salas de aula só tinham ventilador (climatizaram as salas de aulas, PELO AMOR DE CRISTO!!!!) e a gente não entendia PN do que o professor dizia só nos preocupando com o suor que escorria das nossas testas. AI.
    Sinceramente, acho que vou começar a utilizar mais a praia e a piscina de casa pra reclamar menos.

    Eu sempre gostei do natal porque gosto de ganhar presente (é, nem escondo) e porque eu como pra me acabar, mas também AMO a páscoa de paixão. Não sou muito religiosa, mas gosto de folia e também acho a história que envolve a páscoa muito mais interessante.

    E com isso quero dizer que: DEPENDE MUITO. Cada ano minha vida é marcada por acontecimentos diferentes uns que estragam o começo do ano e outros o final, mas esse ano tá bem tranquilo e bonito e tô amando tudo. HAHA

    Beijo :*

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  3. Compartilho de algumas coisas que você disse tipo a angústia na época do Natal (época do ano que eu odeio, mas só não supera. o Ano-Novo mesmo porque eu fico muito melancólica) e o Oscar ser data marcada do calendário, além desses insetos insuportáveis que aparecem quando tá muito quente.

    Agora, sobre o calor eu entendo, mas pelo que deu pra perceber, parece que onde você mora existe umas estações mais ou menos definidas (o que é bem legal, eu amo morangos e adoraria ter uma época pra comê-los). Eu sou do Rio e, tirando junho-julho que o tempo consegue ficar friozinho, o resto do ano é puro sofrimento. Só que nada se compara ao calor do verão. N A D A. Lembro de notícia do jornal falando que tinha lugar com sensação térmica de 50ºC. Como não vou à praia, fico confinada no ar condicionado quando dá, mas é só colocar a cara pra fora que eu já peço pelo amor de deus pra chegar o ~inverno~.

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  4. É a primeira vez que comento aqui, apesar de ser leitora assídua há quase um ano. É que eu me identifiquei tanto com o texto que pretendo até usar alguns de seus argumentos para explicar as pessoas o porquê de eu não gostar do verão.
    Eu entendo todas as suas angústias em relação ao segundo semestre, não gosto dessa imposição de felicidade provocada pelo Natal, mas não digo que odeio a data pois adoro reunir a família o que não acontece na Páscoa que eu amo mais por ter essa de tragédia com redenção.
    O calor é um martírio e os insetos parecem me perseguir, o que não faz eu odiar mais o segundo semestre é que tem meu aniversário bem no meio dele, mas se eu pudesse mudaria a data para o início do ano que é muito mais a minha cara. Adorei o texto Anna, você escreve muito bem.

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  5. Sem dúvida alguma, sem medo de falar: Milhões de vezes eu prefiro o primeiro semestre. Tudo, tudinho que você disse se encaixa a mim, TUDO.
    Odeio o calor com todas as vísceras e veias e partes nojentas de dentro do meu corpo. ODEIO. ODEIO. ODEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEIO.
    Você só transpira e não respira, e acabamos de tomar banho refrescante e já transpiramos de novo. E o cabelo fica um óleo de fritar batatinha, e a pele queimada e os pés suando - e sujos porque temos de usar sapatos abertos - eca - e nem namorar no calor dá cara. Tudo cansa, tudo que come faz mal pro estômago. Até a água desde diferente.

    O primeiro semestre é lindo:
    Tem janeiro que é férias e tem aniversário da mãe. E tem Fevereeeeiro - uhuuu - Com o Carnaval e seus dias de descanso - ou folia, pra quem gosta. Tem Março e MEU ANIVERSÁRIO, e vários outros de essoas queridas e tem uma chuvinha mansaaaaaaaaaaa: São as águas de março fechando o verão...♪♫). Sem contar o TANTO de feriado que tem no primeiro semestre. Depois de agosto, acaba-se tudo. :/
    Tem FESTA JUNINAAAA! E milho, e caldos, e doceeeeeeeeeees.
    E o frioooooooo lindo!

    Olha, depois que experimentei um frio mais frio que o que estou acostumada em Minas lá na Argentina, voltei amando ele ainda mais. *__*
    Roupas quentinhas, cachecóis e lenços charmosos + botas + sapatilhas + meias-calça + vinho + foundue + cobertor e meia e pijama de flanela + chocolate quente = paraíso.

    Que chegue logo ano que vem, esse segundo semestre já deu. hahahaha

    Beijão Anna!

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  6. Eu amo o Natal, mas também nada me tira da cabeça que o primeiro semestre é infinitamente melhor. Tudo tem cheiro de novidade, de tempo pra fazer tudo o que você quer, parece que começa limpo. O segundo semestre é um começo gelado, pra mim, ao contrário de você, o segundo semestre é congelante. E agosto realmente não é um mês para se começar algo. No primeiro semestre tem sol e ânimo. No segundo tem: "Meu Deus que cansaço isso precisa acabar logo senão eu não aguento"! HAHAHHA
    Te amo <3

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  7. Estou contigo e não abro. hahaha Gente, segundo semestre é horrível porque já estou cansada do primeiro, em Brasília a falta de umidade fica pior que o deserto do Saara, tenho que me vestir formalmente nesse calor dos invernos e sem umidade, custo a estudar para faculdade e não gosto de Natal. haahaha
    Beijos

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  8. Olha, tirando a parte do Natal eu realmente odeio o seduno semestre, principalmente por causa do calor. Mas eu não me rendo, continuo usando calça jeans e tênis, só troco os casacos por camisetas de manga curta(porque tenho braços grossos e uso para disfarçar, a não ser que o calor esteja insuportável uso blusa de alça fina) você esqueceu de comentar ( acho que porque não precisa, sortuda rs) a raiz dos cabelos de quem faz chapinha que estraga rapidão devido ao suor, trágico!

    Meu desgosto é mais pelo calor do que pelo segundo semestre mesmo, mas tamo junta rs.

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