sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Manifesto contra quem pensa que assédio é motivo pra dar risada

Para ler ouvindo:


You're trying to tell me sexism doesn't exist, but if it doesn't exist, what the fuck is this?
Kate Nash, mas poderia ser eu e qualquer mulher sobre as coisas que temos que aguentar.

Então que ontem eu me peguei vendo Amor & Sexo. Nas chamadas mais cedo vi que eles iam falar sobre questões femininas e logo imaginei que a chance de feder era grande, por isso mesmo queria passar longe da televisão. Mas me distraí, a TV estava ligada mesmo, sabe como é. De repente, não mais que de repente, eu estava cuspindo moscas varejeiras de ódio e não conseguia nem dormir só pensando a respeito do desserviço que foi aquele programa.

A primeira pauta foi sobre cantadas na rua, coisa que eu prefiro chamar de assédio sexual mesmo. All fun and games, apresentadora e convidados rindo bastante de tudo, falando que dependendo da fala  pode ser ofensivo, mas que faz parte, é paquera, é esse remelexo gostoso do acasalamento, é um impulso irrefreável masculino. Não cantar uma mulher bonita na rua é como ver seu time jogando e não torcer. 


Enquanto o pessoal estava relativizando uma questão séria e dando mais motivo para sermos chamados de loucas, frígidas e histéricas na hora de reclamar a respeito dessa agressão, eu lembrava de um dia em que eu estava andando na rua e um carro começou a andar devagar bem perto de mim. Já era de noitinha, não tinha muito movimento, e o dono do carro abaixou o vidro, assobiou e começou a falar psiu. Eu fui apertando o passo, olhando ao redor e pensando em como eu poderia fugir, ou me defender, caso aquele homem resolvesse encostar  e vir atrás de mim. Não olhei pro carro em momento algum, só fiz minha melhor cara de dragão das trevas e andei mais rápido. Então ele falou ei, gatinha e pela voz eu reconheci que era meu pai. Brincando comigo. 

Fiquei tão transtornada na hora que mal falei com ele, só dei um tchau rápido, recusei a carona e segui em frente. Tremendo ainda. Porque eu estava assustada, eu estava pensando em coisas horríveis, eu só conseguia imaginar o pior. Esse pior não era um assalto, um sequestro relâmpago, eu não estava com medo de perder minha bolsa ou meu celular. Eu ando na rua todos os dias com medo de ser estuprada, com medo que alguém passe a mão em mim, com medo que um cara se ache tanto no direito de invadir o meu espaço que acredite poder também levar isso pra um outro nível. 


Vai ver ele acha que meu vestido está lhe dizendo alguma coisa, vai ver ele acha que meu não, na verdade, é um sim, como c e r t a s m ú s i c a s nas paradas de sucesso do mundo todo levam ele a acreditar. 

Pros homens tudo é noooooossa, né? A gente que é nervosinha e não sabe brincar. Eles só querem descontrair, paquerar, melhorar nossa autoestima. Risos. Risos eternos. O que eles não veem é que essas pequenas, insignificantes, indolores agressões cotidianas acabam legitimando outras maiores, mais sérias. Eles não enxergam o quão grave é isso porque nunca se sentiram vulneráveis desse jeito. O que pra eles é uma gracinha é motivo de pavor pra alguém que, como eu, quando tinha 13 anos foi cercada por uns sujeitos bêbados no meio da rua, durante o carnaval, e ouviu que só sairia dali depois de beijar todos eles. Não preciso dizer que nunca mais passou pela minha cabeça curtir um carnaval de rua, e que até hoje fico meio cabreira de circular sozinha por festas grandes, né? 

Ninguém nunca puxou esses caras pelo braço no meio de uma balada, uma, duas, três vezes e um não não foi o suficiente. Por que, não? Você é tão linda. Porque eu não quero. Você é lésbica? Eu não quero. Você tem namorado? Eu não quero, dá licença. Vai se foder então. Enfim, um sábado a noite como outro qualquer. E sabe o que é pior? Nem é novidade mais. Faz parte. A gente sai de casa sabendo que sempre vai ter um idiota pra te puxar pelo braço, pra vir passando a mão no cabelo. Vira rotina. Às vezes vem caras legais falar comigo, acontece também, mas estou tão acostumada a ficar na defensiva que tenho dificuldade de levar a sério. Isso é muito triste, quando a gente para pra pensar.

Eu participo de três grupos sobre feminismo no Facebook, e não passo um dia sem ouvir um desabafo de alguma mulher sobre assédio, sobre agressão, sobre abusos sofridos na rua, dentro de casa, na faculdade. Nunca vi nenhuma delas comemorar porque nossa, um cara na rua me chamou de gostosa e isso fez meu dia. 

Assinado: NINGUÉM
Normalmente é assim: estava voltando pra casa a noite, no meu bairro que nunca me deu motivos para me sentir insegura, quando da sacada um homem começou a falar comigo. Boa noite, moça. Boa noite, moça. Oi, linda. Ele ficou falando até eu virar a esquina, e enquanto isso eu só pensava que ele estava no primeiro andar e tinha tempo o suficiente pra descer correndo as escadas, me alcançar, e fazer o que quiser comigo. A chance era mínima, claro, mas é tanta coisa que a gente ouve por aí, tanta coisa que a gente passa, que, sim, qualquer coisinha dessas é motivo pra ter medo, e não é pouco. 

Esse caso é meu, o episódio da semana. Pode ter certeza que semana que vem vai ter um novo, e na outra também. Eu poderia fazer uma newsletter sobre isso, que tal? Como Um Cara Fez Com Que Eu Me Sentisse Suja, Agredida, Assustada e Invadida - Semana #34. Eu tenho medo, todos os dias. Podem até usar o meme da Regina Duarte pra ilustrar, se quiserem. 

Tem mulher que gosta? Aposto que sim, já me falaram, mas tem gente que gosta de apanhar na cara e nem por isso eu saio por aí enfiando minha mão nas fuças de quem eu acho que está merecendo umas bifas. Na dúvida, fica calado, fica no seu canto e respeita as minas. Se estiver interessado mesmo, aja que nem gente, não seja um idiota, vai que. Até porque nunca ouvi uma história que começou co Então, a gente se conheceu porque ele gritou que minha bunda era maravilhosa e então eu soube que era amor.


Quanto a certos programas, se não for pra ajudar, por favor, não atrapalhe. 2014, caras. Melhorem. O expediente no escritório feminista já é cansativo demais sem vocês empurrando o movimento pra trás. Não passarão.

Update: a  ♥ Clara Averbuck ♥ escreveu sobre o programa de ontem também e, como sempre, matou a pau. Prestigiem.

13 comentários:

  1. Olha Anna, tenha certeza de que você não é a única a passar por isso. Cara, eu fico imaginando o que se passa na cabeça desses idiotas de acharem que toda mulher vai gostar de ouvir coisas ridículas saindo da boca desses imbecis. Já passei por várias situações e em uma delas quase tive síndrome do pânico. Já fui atacada na rua, já tive amigas que foram abusadas, já tive gente da família que sofreu assédio de quem tinha o papel de protegê-las.
    Tenho medo de andar na rua. Não me sinto segura se estiver sozinha, e não confio em nenhum homem desconhecido que chega perto de mim. Temos motivos pra isso né?
    O pior é ouvir desses idiotas que eles tão só elogiando, elevando nosso ego. Ao contrário : tenho é nojo de ouvir certas coisas.

    Por coincidência eu tava vendo um blog e vi esse vídeo aqui > http://www.youtube.com/watch?v=b1XGPvbWn0A < que resume o que todas as mulheres passam diariamente...

    :*

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  2. Amiga, bati palmas para o seu post. Uma vez eu dei uma bronca no meu pai. Porque estava reclamando puta da vida que um cara tinha me chamado de "delícia" as 9h da manhã e estregado metade do meu dia, porque fiquei remoendo aquilo, com vontade de voltar atrás e mandar ele tomar no cu, aí meu pai disse: "Mas filha, ele só te achou bonita, ué, não é elogio?" e eu e minha irmã gritamos em coro: NÃO PAI, NÃO É.
    Um dia eu estava voltando pra casa a pé, do trabalho, por volta das 18h. Aí tinha uns caras num carro bem velho, mas eles deviam estar em cinco caras no carro. Por volta dos 20 e poucos anos, eles tinham. Abriram todos os vidros e começaram a andar devagar com o carro e me encarar, com aquela cara de sorriso de moleque. Eu continuei andando, tremendo, e até fiz uma curva que não deveria, para mudar meu caminho, de TANTO medo que eu estava. E eles provavelmente apenas estavam querendo me cantar e dar risada, mal sabem que eu cheguei em casa tremendo apavorada de medo, porque se eles quisessem descer do carro ali e me encurralar eles fariam sem o menor problema. A rua estava deserta, eu só poderia gritar, e eles tinham mãos o suficiente para segurar minha boca, sabe.
    E nem entro em detalhes sobre o problema masculino em ouvir o não, porque cê já sabe o que eu passei com um certo cara que se apaixonou por mim no ano passado e simplesmente não aceitava que eu não queria ficar com ele. ENFIM.
    Sizomi tem tanto pra aprender ainda. :~~
    E é a gente que vai ensinar!
    Beijo, te amo!

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  3. Poxa, expressasse bem o que penso a respeito disso. Parabéns! *palmas* É um absurdo que essas criaturas ajam assim. Tem gente que diz que sou "noiada", mas eu sou extremamente desconfiada quando ando na rua, mas tá demais. Não compreendo como tem mulher que sente "bem" com esse tipo de assédio.

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  4. Não tem coisa que mais me aquece o sangue do "cantada"! Sério mesmo, o que os caras pensam que vai acontecer depois que eles abrem a boca pra soltar um "gostosa" na nossa cara? Que a gente vai sair correndo e se jogar nos braços deles, encantada com a delicadeza? Muitíssimo pelo contrário! Nunca fui de revidar esses "elogios", sempre continuo meu caminho em linha reta, punho fechado e mandíbula cerrada. Fico furiosa, mas não faço nada por medo. Medo sim, que eu, você, e todas as mulheres sentem uma hora ou outra ao andar sozinha na rua. E eu odeio isso tanto, mas tanto! É tão errado a gente não poder andar livremente pela rua a hora que quiser, e quando bem entender! Ter que ficar cuidando de cada cara que aparece no ponto de ônibus, pois você não tem ideia da intenção dele. Ter que ficar traçando rotas em função do horário, em função da roupa. E isso que nem vou entrar no mérito de falar dos caras de balada, meu deus. Às vezes vou nesses lugares só pra aproveitar a companhia das minhas amigas, sem o intuito nenhum de ficar com algum cara, mas eles simplesmente não aceitam isso. Pensam que se estamos na balada, estamos disponíveis. E isso é TÃO prepotente! Como se nossa única função na balada fosse beijar um cara, faça-me o favor. Ainda falta muito para que esse mundo seja igualitário, enquanto isso a gente vai lidando (e lutando) como pode. Boa sorte pra gente nesse mundo doido!
    Um beijo!

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  5. Ai, Anna, vem cá, deixa eu te dar um abraço. Faz mais ou menos um ano que fiz um post sobre esse mesmo tipo de assunto, logo depois que saiu a pesquisa do Think Olga, porque eu tava revoltada. Não tem nada que me coloque numa pilha de nervos feito "cantada" não requisitada.

    Mês passado fui numa festa, e eu só tava lá pra curtir com os meus amigos. Eu não perdi tempo espichando olho pra ninguém até porque não queria mesmo, não tava a fim. Conversei com um casal de amigos meus por um tempo, e um amigo deles ~puxou papo~, eu conversei um pouco e saí. Fui no banheiro. Aí quando saí o cara tava lá, querendo falar comigo de novo. Não sei como (sei sim: bebida) acho que passei meu Facebook pra ele, e ele me adicionou. Aí é que vem a bomba: ele veio me falar que eu fui GROSSA com ele, fui rude. E, tadinho (não), talvez eu até tenha sido, mas ele veio querer falar sobre isso como se fosse o fim do mundo sendo que eu não. Tava. A. Fim. Get the fucking hint, plmdds.

    O pior de tudo é pensar que isso não foi a primeira, nem vai ser a última vez que eu vou passar por isso. Ou tu vais passar por isso. Vou continuar saindo do ônibus com a chave na mão, porque vai que... Né. Triste.

    Beijos!

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  6. Eu acabei de chegar em casa e tô um caco, de forma que não sei se vou conseguir ajeitar minhas ideias e falar alguma coisa que preste, mas eu precisava (repito, PRECISAVA) comentar nesse post. Não cheguei a ver o programa, mas não é de hoje que vejo pessoas fazendo o desserviço de colocar o assunto em pauta e discutir da pior forma possível, sempre caindo naqueleS mimimis de sempre. E eu acho que é uma coisa já tão enraizada que acaba ficando mais difícil discutir, sem acabar caindo em algum estereótipo. Esse semestre eu tô produzindo/dirigindo um curta e o tema é exatamente assédio sexual. O roteiro exagera em alguns pontos? Sim, exagera. Mas assim, por alto, era exatamente isso que a gente queria. Que as pessoas parassem de enxergar o assédio como algo rotineiro e que "não dá em nada", sabe assim? A gente não falou de estupro porque seria pisar num terreno ainda mais delicado e com o tempo curto que a gente tinha/tem, não dá pra ficar se dando o luxo. Mas ainda assim, o tempo todo eu ficava me questionando se a gente não tava caindo em algum estereótipo, sabe? Mesmo sem querer, mesmo com boas intenções, mesmo vivendo isso todos os dias.Hoje mesmo, voltando da gravação (veja só), tô eu e uma amiga no carro, conversando sobre nem lembro o quê, o sinal fechado, quando para um babaca do nosso lado e começa falar merda. Na hora eu ignorei. Não olhei, não dei resposta, nada. Continuei conversando com minha amiga como se nada estivesse acontecendo, mas na minha cabeça, a única coisa que eu queria era que aquele sinal abrisse logo e eu pudesse sair logo dali antes que ele resolvesse sair do carro. Talvez a gente ficasse ali uma eternidade e o cara babaca, de fato, nunca saísse do carro, mas vou eu arriscar? Não é natural que uma pessoa se sinta no direito de falar abobrinha pra outra dessa forma, passar a mão e até mesmo fazer coisa pior. Não venha com essa de que "ah, é da natureza masculina", porque gente, não é. Isso é doentio, sem mais. Continuo com receio de falar sobre o tema, mas entre erros e acertos, é uma discussão necessária. Quero muito que o filme dê certo e que a gente consiga, de alguma forma, fazer mais pessoas enxergar que o tal do "fiu fiu" é um problema de verdade. Que isso não é frescura, não é desnecessário, não é "coisa da nossa cabeça". Espero que eu seja tão bem sucedida quanto você foi com esse post. Apenas aplaudindo aqui do outro lado, mesmo que meus braços estejam a ponto de cair de tanto carregar tripé.

    beijo!

    P.S: E se eu falei abobrinha, pfvr, ignore.

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  7. Uma colega minha foi estuprada no domingo passado. A notícia foi chocante para a maioria das pessoas do nosso convívio porque "ela era uma menina de igreja", "tava saindo da catedral da cidade", "tava de calça" e uma série de outros motivos que me deixavam com a cara lá embaixo com vergonha de olhar para quem dizia isso e com menos vontade de viver.

    A reação mais dramática de todas (e que não julgou a menina) foi de uma amiga minha e que foi melhor amiga dessa colega na infância. Ela ficou desesperada e se recusava a acreditar no que estava acontecendo com a amiga que foi segurada, amordaçada, enfiada num carro, levada para um local ermo e obrigada a ter relações sexuais com dois caras.

    Hoje, essa amiga acabou contando que, num dia qualquer numa balada da cidade, já ficou com um cara sem ter vontade, só para ele deixar ela quieta. Algumas amigas falaram que isso já aconteceu com elas e, incrivelmente, nenhuma delas usou a palavra "abuso" porque acharam que, apesar de terem sido forçadas a fazer algo que não queriam, achavam que, ao não recusar, estavam "de acordo" e foi uma situação okay, normal.

    Ou seja, o que falta é informação, na maioria das vezes, e é de ficar preocupado quando um programa com tanta visibilidade se preste a não fazer o que deva.

    adorei o texto, beijo*
    andré cefalia

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  8. Parece que o programa quer ser tão liberal que acha que condenar a cantada é caretice.
    A "cultura da cantada" é só mais uma manifestação da opressão imposta às mulheres. É absurdo como ela não respeita nem idade. Eu gostava de andar de bicicleta, mas parei aos 10 anos depois que uns garotos desconhecidos passaram e disseram "oi" sorrindo. Eu já sabia que eles não estavam sendo simpáticos nem educados, já sabia que, se eu fosse um garoto, eles não teriam falado comigo. Aquele oi significou o mesmo que a vez em que uns garotos me perguntaram no ponto de ônibus onde a mulher tem pelo. Nas duas vezes e nos casos relatados aqui e em toda parte, eram garotos/homens se sentindo mais fortes que a garota/mulher e deixando isso bem claro, como o homem das cavernas arrastando a mulher pelo cabelo. Foi o suficiente para afeatar toda a minha vida, e com muitas mulheres acontece coisa pior. Desde a primeira vez que percebi isso (e foi MUITO cedo), tenho dificuldade em ser feminina e acabo tendendo para a androginia - virou algo instintivo. Mas assim como ser e parecer mulher, não é nada fácil ser e não parecer mulher.
    Felizmente hoje se debate isso (na internet, não na Globo), porque até pouco tempo atrás não se dava atenção ao problema. Já é um passo, mas toda essa onda de antifeminismo tá aí pra ajudar o machismo a se manter.

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  9. Eu devia ter posto "ser feminina" entre aspas, porque outra coisa que me dá nos nervos é ouvir gente dizendo (nas Globos da vida, inclusive) que "mulher tem que ser feminina", como se não usar saia e batom tornasse alguém menos mulher.

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  10. Eu não sei nem começar a dizer o quanto eu amei esse seu post. Todas essas meninas que comentaram aí em cima falaram por mim, e eu não consigo entender qual é a dificuldade de alguns homens de respeitar os nossos limites. Hoje, um professor de português que eu admiro com todo o coração resolveu inventar de "ensinar" às meninas como vetar um cara sem risco dele tentar de novo, dizendo "nananananananananão" e se afastando. Era uma piada, ok, e até que a gente riu, mas a verdade mesmo é que isso não se aplica porque os caras às vezes não. desistem.
    E não é só quando o guri fica te agarrando e te pressionando diretamente que incomoda. Conheço um garoto que cismou que era apaixonado por mim, chegou a pedir pra ficar comigo e eu vetei. Insatisfeito, ele perguntou à quatro (!) amigas minhas como ele podia fazer pra eu aceitar ficar com ele, porque ele achava que era "doce" meu ter negado. Tipo: WHAT? Não preciso nem comentar o meu nível de irritação ao saber disso, né?
    Também já passei por uma situação de estar sentada quietinha na areia da praia que ficava na frente de um hotel onde eu tinha ido passar férias com os meus pais, vendo o sol se por, e, no instante em que eu me levantei, um cara que estava vindo na minha direção por trás de mim (?), e que eu não tinha notado, reclamou. "Tá saindo só porque eu cheguei, gatinha? Senta aí, me faz companhia agora que escureceu." Sério, eu lembro nitidamente da voz e da cena dele sacudindo uma garrafa pela metade de bebida. Meu medo foi tanto que eu não consegui nem prestar atenção no que estava fazendo, só catei minhas coisas com a maior pressa e corri pro hotel de novo.
    Quer dizer, esses são só alguns casos (meus). E é absurdo como todas nós temos histórias desse tipo pra contar e como esse assunto é pouco abordado, insignificante, chamado de "mimimi". Sei lá... É tanta coisa pra melhorar que às vezes chega bater um desânimo.
    De qualquer forma, adorei o seu post. Beijo grande!

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  11. ~aquele momento que você agradece aos céus por ter desligado a tv antes das 20h~
    o que falar desse assunto que mal conheço e já considero pAkAs?

    em toda a minha vida, só ri de uma cantada uma vez. não sei se foi meu estado de humor ou o papel de bobo que o cara fez. ele tava falando no celular muito sério (devia ser um assunto sério) e andando de bicicleta. quando passou perto de mim, falou "tá de parabéns, colega". aquilo me fez rir, de tão tosco que foi. e ele seguiu o caminho. não sei se fiz mal em rir, mas foi o impulso do momento. achei nadavê ele parar pra falar aquilo. nem era meu aniversário (?).

    mas geralmente faço carão. se vejo que tem um grupo de homens (especialmente em bar, saída de colégio, enfim), faço cara de brava. ergo a sobrancelha lá em cima.

    o interessante é que esses caras nunca fazem isso sozinhos (a menos que estejam e carros e bicicletas). e se você vai parar pra perguntar alguma coisa, eles se intimidam. bando de imbecis.

    paquera? desculpa, cara. eu não acho que estar num ponto de ônibus lotado enquanto um desconhecido GRITA de dentro do busão que você é gostosa seja paquera. isso é falta de respeito... com uma boa dose de machismo (e bota machismo nisso!).

    também passei por algo parecido. tava de bike, indo pro curso, e ouvi um 'psssiu' do outro lado da rua. já ia mandar se fuder, quando eu vi que era meu amigo de classe, pedindo pra eu esperar ele. ainda falei 'nossa, desculpa, pensei que fosse um idiota' hahahaha sem noção.

    "Então, a gente se conheceu porque ele gritou que minha bunda era maravilhosa e então eu soube que era amor." hahaha exatamente.

    www.pe-dri-nha.blogspot.com

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  12. Eu costumava me irritar muuuito com essas coisas. Discutia, batia boca. Dai percebi o quanto entrar em conflito com os homens pra discutir me deixava estressada e não dava resultado. Dai parei. No trabalho quando falam alguma coisa eu simplesmente ignoro. E sabe que dá certo? Pararam de fazer comentários, e as brincadeirinhas diminuíram drasticamente. Sou Diretora de arte e na minha área as mulheres ainda são minoria, na empresa onde estou trabalho numa sala com 7 homens e só eu de mulher. Não foi imediato, mas hj sou respeitada. É óbvio que há diferenças de tratamento, eles por vezes se "contém" de dizer coisas, mais por ser conversa bagaceira de homem do que ofensa a mulher.
    A questão é que aos poucos vejo as coisas melhorando, mas nada nesse mundo é imediato. Falta entender que mulher não é um bichinho sensível e acuado. Somos iguais, mesmo sendo tão diferentes.

    Boa semana. Bejoo

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  13. Primeiro: ontem eu fiz a cagada de assistir esse programa de bosta. Não sei qual era a pauta e don't care. Só sei que tinha uns salva-vidas. Fiquei sabendo por eles que existe uma espécie de máscara que eles usam quando fazem respiração boca a boca, para não entrar em contato direto com a boca das pessoas. A perspectiva me agradou, não sabia que isso existia. Até que um dos salva-vidas disse que 'Se a pessoa afogada é uma Fernanda Lima da vida, daí ele não usa a máscara né?'. Daí ele aproveita. Ah, em algum momento antes disso ouvi algum famoso dizer que ensina as menininhas da família a chupar manga desde pequeninhas, pra que elas cresçam sabendo chupar outra coisa. WHAT.THE.FUCK.
    Segundo: tem uma parte de mim que sempre quer revidar. Revido quando me sinto segura, tipo quando tem bastante gente em volta. Meu objetivo é constranger, meio que considero minha única arma. Um velho nojento uma vez ficou andando colado em mim no meio do centrão dizendo 'que coxão hein? dava 100 real pra meter nesse cuzinho'. Comecei a gritar SOCORRO, SOCORROOOO, TARADO, ESSE SENHOR É TARADOOOO. Óbvio que teve mais gente rindo da minha cara do que qualquer coisa, mas pelo menos o velho foi embora, me chamando de 'vadiazinha' e dizendo que 'um dia desses ele me pega', claro. Outra vez alguém enfio a mão na minha bunda, mas em cheio, tb no meio de uma galera, tb no centrão. Olhei pra trás e tinha várias pessoas, comecei a gritar 'QUEM FOI? QUEM FOI O FILHO DA PUTA QUE PASSOU A MÃO EM MIM?' e, obviamente, mais pessoas riram de mim do que qualquer coisa. Enfim. Num caso como o q tu descreveu (que no fim era seu pai ~aliás, desculpa, mas que piadinha de mal-gosto né?) jamais faria isso. Passei por um bem parecido, o filha da puta ficou me pedindo pra entrar no carro. Sabe o que me irrita? É que nesse dia eu tinha ido numa festa no dia anterior com uma saia curtinha e tinha dormido na casa de uma amiga. Acordei cedo e voltei pra casa a pé com a mesma roupa (sim, era umas 7 da manhã :/) e aconteceu isso. E eu fiquei me culpando, tipo 'lógico, o que tu queria? andando com aquela sainha no meio da rua...'. Isso foi antes de eu começar a me informar sobre feminismo e entender melhor sobre essas coisas de empoderamento e que sim, posso vestir o que eu quiser. Posso citar mais uns 100 casos desses.
    Terceiro: uma vez estava contando umas coisas assim pro meu namorado e sabe o que ele me disse? Que esse tipo de coisa tb acontece com ele, que naquele dia mesmo ele estava andando de bicicleta e dava pra ver a cueca vermelha dele e ele parou num sinal e umas mulheres dentro de um carro começaram a gongar a cuequinha dele. Falei que até entendia o constrangimento dele e perguntei quantas outras vezes ele tinha passado por uma situação parecida. Nunca. Comecei a citar apenas coisas que tinha acontecido naquela semana (umas 5). E olha que nem sou gostosa (não que eu ache que isso importe, mas enfim). Namorado nota zero, né? Hahaha, acabei doutrinando ele e ficou tudo bem, mas olha, é díficil.
    Quarto: daí tá lá a Fernanda Lima, queridinha do Brasil, na televisão aberta dizendo que isso tudo é ok. Que cantada de pedreiro aumenta auto estima, que salva-vidas pode se aproveitar de gente morrendo afogada (!!!!!!!!!!) desde que seja mulher gostosa.
    Quinto: não sei como concluir, só que...
    D
    E
    S
    Â
    N
    I
    M
    O
    Detalhe que o segundo ponto saiu mais como um desabafo, né? Haha

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