quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Página 20 de 366

Então esse é o ano novo, diria Ben Gibbard em nossos ouvidos, e eu não me sinto nada diferente, completaríamos cantando, já sabendo de cor a letra da música que se repete em nossas cabeças a cada ano que começa, desde 2003. Eu ainda não sei como me sinto nesse novo ano e esse nem é o primeiro post de 2016 para eu começar o texto assim, cheia de mesuras e apresentações, mas me pareceu estranho não inaugurar o ano oficialmente por aqui - ou talvez eu só esteja com vontade de escrever sobre a minha vida. 2016 já parece durar décadas, muita coisa aconteceu, e não há dia passado em branco na nova temporada da glamorosa (HA) vida desta que vos escreve. 

primeira imagem de 2016: Pedro e eu + Capitolina e Francisco, os cães
No dia 31 eu estava conversando com as minhas tias e decidi algumas coisas. Em 2015 aprendemos que sempre dá pra piorar, mas como não é o ano - é a vida! é a gente! - o grande aprendizado que fica é que 2015 fez o que pôde. Assim, combinamos que 2016 vai ser o que ele puder ser e a gente dá um jeito no resto. 

Com minha outra tia, combinei uma só coisa: não ser histérica. Eu sei que não parece, mas vocês não imaginam o estrago nos nervos que eu consigo fazer fechada num banheiro com o chuveiro ligado. Ela tem essa cara, mas é nervoooooosa, disse um dia minha avó, num contexto completamente não-relacionado. 

Aceitar o que tiver que ser, não surtar. Me parecia uma lista de resoluções ótima, adulta, realista, quase poética. Minimalista. Eu estava bem feliz com ela e comigo mesma até que, no terceiro dia, depois de chegar em casa da chácara onde passei o revéillon, depois de desfazer as malas, banhar e tratar de Francisco, o poodle, eu caí de cama com dengue. Acho que nunca tive algo que me debilitou tanto. Passei os primeiros quatro dias sem sair do quarto, me sentindo tão mal que tinha medo de não conseguir tomar banho sozinha. É uma sensação que não desejo pra ninguém essa de, de repente, perder todas as forças que nos permitem fazer coisas básicas que nunca pensamos no esforço que exigem até não conseguirmos fazer mais. Dengue: sugiro que evitem.

O propósito de não ser histérica foi o primeiro a ir embora, porque durante esses dias de doença a única coisa que fiz foi chorar. Ano passado meu primo fez duas cirurgias no pulmão em menos de dois meses, e só se falava sobre como ele era ótimo paciente, mantendo o bom humor, contando piadas por ser o caso 0,0001% das estatísticas, sorrindo nas fotos da UTI e fazendo palhaçadas. Já eu, com todo esse meu preparo, fui picada por um mosquito e passei cinco dias chorando sem parar e os outros três chorando só de vez em quando. E aí, no primeiro dia que eu acordo sem pensar que estava ou estive doente, o David Bowie morre e toda minha motivação para levantar, lavar o cabelo, escrever, passear com o cachorro e retomar minha vida perdeu completamente a força.

segunda imagem de 2016
O David Bowie era um dos meus ídolos em quem eu pensava frequentemente, sempre grata por ele estar vivo e aparentemente bem. Isso acontecia com uma força particular desde que ele lançou o The Next Day, seu álbum de 2013, que anunciava logo na primeira faixa que ele estava ali, não exatamente morrendo - ao contrário do que muito se cogitou. O Blackstar vazou um pouco antes de 2015 acabar, e foi pra mim aquele lembrete caloroso e reconfortante de que, de novo, ele estava ali, não exatamente morrendo. Ha. Ingênua. Sendo quem é, o Bowie foi lá e lançou um disco para dizer exatamente o contrário: ele estava ali, morrendo, e queria deixar essa mensagem pra gente. Se você ouve Lazarus e não sente arrepiar os cabelos da cabeça até o dedão do pé quando ele canta you know, I'll be free, just like that blue bird, ain't that just like me?  você está MORTO POR DENTRO, SUMA DA MINHA FRENTE.

Vocês me desculpem, mas esse ainda é um tópico que me deixa sensível. Agora me divido entre achar toda essa eulogia que ele preparou para si uma coisa profundamente deprimente ao mesmo tempo que é extremamente genial e iluminada. No resto do tempo queria boletins médicos diários do Paul McCartney, do Chico Buarque, e do Robert Smith, me assegurando de que eles estão bem e não vão morrer nunca.


Mas aqui entre nós, analisando tudo isso pela ótica do meu egocentrismo profundo, talvez tudo isso seja um teste de 2016: aceitar o que ele tiver que ser, não ser histérica - com um lembrete adicional que eu coloquei depois, que é o de lembrar que o importante é ter saúde. É como se algo lá fora (ou lá em cima) quisesse me alertar que ouviu o que eu disse e está de olho. Que bom que ainda tenho um ano inteiro para chegar lá.


Em outras notícias, no dia 13 de janeiro embarquei embaixo de muita chuva para Curitiba, que me recebeu com muito sol (!), para aproveitar as famigeradas férias. Sempre me surpreendo quando consigo, de fato, executar alguns planos que nasceram como desejos da boca pra fora. É uma sensação extraordinária. Porque foi mais ou menos em outubro que eu e Analu dissemos que, de alguma forma, passaríamos janeiro juntas. E não é que deu certo? Foram dias de preguiça, novela, livros e excelentes risadas. Esse negócio de amizade à distância é engraçado porque a gente está acostumada a fazer coisas GRANDES juntas (casar! formar! praia! passeios! curtição! azaração!), mas até esse ano nunca tínhamos ido ao cinema juntas ou saído para tomar um cafezinho banal, sem aquela sensação de que seria um Café importante e épico a ser registrado nos autos da existência.

Não que casamentos, formaturas, banhos de mar e azarações não sejam importantes e essenciais, mas o banal também é muito bom. Como escreveu a Isa Sinaya vida não é feita de viagens a Viena, ela é feita de festinhas de aniversário. E cafés, panquequinhas, cinemas, episódios repetidos de Friends, um jogo bobo de charadas às cinco da manhã. Amigas: sugiro que conservem. E pra não dizer que não fizemos nada (viajei com ordens expressas para que eu saísse, me divertisse beijasse na boca - da senhora minha mãe, que teme pelo meu futuro), deu pra sair pra dançar e eu conheci o James, uma balada que moldou minhas expectativas de adolescência modernete quando há dez anos (!!!) eu cantava King dos Blasé me sentindo muito descolada (oê oê oê eu sou mais indie que você).

no facebook // no twitter
Voltei pra casa no domingo à noite, depois de um intenso chá de aeroporto, prolongado pela chuva em Uberlândia, que continuava firme e forte. Menos de doze horas depois eu já estava de volta ao trabalho, como se meu mês de férias tivesse passado como um suspiro. Quase no fim do expediente descubro que voltei de férias um dia antes da data marcada, ou seja, tinha acordado cedo, saído embaixo de chuva, exausta, com a garganta doendo, sintomas de gripe e o pescoço duro, à toa. Só me resta rir, sintam-se à vontade para fazer o mesmo.

E no vigésimo dia de 2016, é assim que as coisas estão. Vamos aceitar o que tiver que vir, com menos histeria, mas com um chá quente e um Tylenol Sinus, por favor - porque o importante é ter saúde, etc. Esse é o novo ano, e eu prometo fazer o melhor que puder.

9 comentários:

  1. FRANCISCO NA PRIMEIRA FOTO, tô apenas morta
    miga, dengue, quero muito evitar, que bom que já passou, agora vc tem todo esse ano pra encarar melhor a vida!!!1 eu lembro quando eu tive catapora aos 14 anos e só queria morrer. quando tive que fazer uma cirurgia simples porém chata em 2014 e só queria morrer, então vi todos os personagens de grey's anatomy morrerem (foi quando maratonei). mas quando fico doente mais grave, amigdalites infernais que não me deixam comer, eu só quero ir pra balada mesmo sem poder beber. ou quando fiz um procedimento no rosto/articulação da mandíbula levemente sem anestesia, saí de lá fazendo graça que um dos meus olhos não piscavam porque a anestesia fez efeito só nos olhos não no lugar da dor risos
    miga, não me deixa falar de doença que não paro mais
    achei a viagem de vcs maravilhosa e melhores conselhos de mãe <3

    ResponderExcluir
  2. Me dá a mão pois eu só quero a mesma coisa para 2016: Não surtar.

    E só pra dizer: Ler qualquer coisa que você escreve é uma delícia. Adoro aqui. Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Amiga! Gostei tanto do seu texto que tô até abrindo um writer aqui, acho que os primeiros dias do meu ano também podem render se eu largar de reclamar e fizer esforço. E foi maravilhoso foliar com você logo no início do ano, alguém devia ter gravado nossa madrugada jogando charades porque, cá entre nós, ela foi tão ou mais divertida que a do James, hein, hein?
    Te amo! <3

    ResponderExcluir
  4. Olar esposa!

    Nunca faço resoluções de ano novo porque sei que vai ser só uma coisa a mais que não vou conseguir cumprir e, consequentemente, ficar frustrada. Mas eis que no final de 2015 prometi pra mim mesma que ia criar vergonha na cara e deixar de ser ghost reader no blog dazamiga e voltar a comentar. E voltar a blogar, quem sabe. Então cá estou eu comentando pelo celular pra provar pra 2016 que apesar dele, eu posso, hehe.

    E ~pelo menos não foi hemorrágica, né?~. Consigo te imaginar em posição fetal na cama desejando star morta, mas agradeço imensamente que esse seu desejo o universo não concedeu.

    Te amo <3

    ResponderExcluir
  5. Perplexo que você voltou para o trabalho um dia antes HAHAHAHAHAHAH

    O que você pensou sobre a dengue é o que eu penso sobre nariz com coriza. Eu esqueço de como é ter um nariz que não escorre, a vida fica tão triste e tal... Daí quando eu fico bom, eu tento eternizar o momento na memória, uma coisa meio VALORIZE ESSE NARIZ BOM.

    Boa meta pra 2016!

    ResponderExcluir
  6. "Azaração". Anna Vitória deixando transparecer que é telespectadora de Malhação HAHAHAHAHA

    Oi, amiga! Amei conversar contigo ontem e saber que você tá boazinha. Não gosto dessa história de amiga doente.

    Você tem TODA a razão sobre 2016 ter começado ontem e parecer ter uma década. O mais louco é que não é só com a gente, te garanto. E sobre sua resolução para esse ano envolvendo a minha pessoa, acho que não preciso mandar a sra se emendar de novo, preciso? Obrigada.

    E por último quero colocar que acho um absurdo essas fotos suas com Banana sem minha presença no meio, mas segurarei o recalque pra dizer que amo vocês duas <3

    P.S: quando você falou que conheceu o James eu achei por um minuto que estava falando de um rapaz, risos.

    ResponderExcluir
  7. Eita, Anna, que jeito de começar o ano. Que bom que passou, que você tá melhor. Achei suas resoluções muito sensatas, especialmente a parte de que o importante é ter saúde. A gente não lembra muito disso quando tá saudável, né? Obrigada por me lembrar.

    Achei particularmente importante essa parte da sua reflexão sobre janeiro (por enquanto) que fala sobre como, bem, a vida não é só Grandes Momentos. Ano passado li uma quote perdida por aí sobre como 'for most of life, nothing wonderful happens', com wonderful no sentido de milestones. Mas não é maravilhoso sentar com uma pessoa que você adora pra tomar um cafezinho? É, né?

    Não sei se já tinha comentado aqui ainda em 2016, mas anyway: bom ano, com muita saúde, Grandes Momentos e pequenos momentos também.
    Beijo <3

    ResponderExcluir
  8. Amiga, quanta coisa pra vinte dias. Acabei de comentar lá no post de banana que estou sentindo minha vida uma grande várzea por causa de vocês. Onde estava eu nesse ano de 2016? Fica a questão.

    Odeio quando vocês ficam doentes, fico aqui meio mãe-angustiada. Ainda bem que você já está melhor e que isso não se repita, viu? Eu não chego a virar exatamente um poço de lágrimas quando fico doente, mas entendo muito o apelo porque a irritação que me dá não tá no gibi.

    Faz muito tempo que eu não te vejo, estou cheia de sdds. Mas adoro quando você aparece por aqui pra dar um update da sua vida.

    Te amo <3

    ResponderExcluir
  9. Eu acho que se tem algo que eu não posso prometer pra mim mesma é ser histérica. Eu, no seu lugar, não teria feito diferente: muitas lágrimas, e no meu caso, muitos medos.
    Tô lidando com uma coisa chata há três meses e ainda não descobri direito o que é. Fiz um exame chato, cheguei em casa e minha mãe chorou porque eu fiz o exame chato, e desde então sinto dores aleatórias de estômago onde a única explicação é: ansiedade. Não curto auto-diagnoses, mas é, realmente, a única explicação. Bola pra frente. Que bom que tu melhorou!
    E eu nunca tinha lido essa frase da Isa Sinay e oooopa, super real, né? Adorei. Aí leio você mandar a gente conservar amigas e dá vontade de chorar de novo porque tenho me sentindo um koo, que fica pesquisando doença no google e, pior, sem amigos ultimamente. Eita janeirão que começou bem.
    Mas vamo que vamo, né? Temos que ir.

    Obs #1.: GOD BLESS BEN GIBBARD POR THIS IS THE NEW YEARRRRRR
    Obs #2.: será que esse ano a gente mata nossa vontade de DCFC? Veremos.
    Obs #3.: seu cabelo tá lindo <3
    Obs #4.: na sua listinha, colocaria Morrissey. No dia que esse cara morrer eu acho que vou parir um cabrito vegano de tanto chorar.

    Beijo!

    ResponderExcluir