domingo, 18 de abril de 2010

Objetividade: não trabalhamos

Tem gente que não entende quando eu digo que odeio escrever redações: "Mas você gosta tanto de escrever!", eles dizem, e mal sabem a bobagem que acaba de sair de suas bocas. Ao menos no meu caso, gostar de escrever é o mais inversamente proporcional possível a gostar de fazer redações e eu não vejo como isso poderia se dar de outra maneira.

Primeiramente, culpo os temas das redações. Por mais que vez ou outra haja alguma luz no fim do túnel com um tema interessante e que não tenha sido saturado pela mídia até sua última gota, a maioria deles são a respeito do que tem se falado (muito) ultimamente. Não acho de todo errado, já que a escola tem que nos preparar para as atualidades do vestibular, e fazer com que nos formemos jovens bem informados, patati patatá. Eu juro que eu entendo. Porém, existem coisas que eu acho que eles só cobram por tortura psicológica. Me diz quem ainda aguenta falar de aquecimento global, de legalização do aborto e da maconha, de analfabetismo, de preconceito, de cotas... Se for fazer um paralelo com os assuntos em alta na internet, seria como pedir pra falar do poder das mídias sociais, do futuro dos livros, da questão de compartilhamento de músicas, filmes, na internet. Eu, pelo menos, não aguento mais ouvir falar disso.

Minha professora de redação (que é um Alex deLarge na arte passar redações e mais redações pra gente, interessada apenas na ultraviolence, no horrorshow da coisa) passou 6 textos para fazermos. Mais precisamente as 3 propostas da primeira etapa do PAAES, e as 3 da segunda etapa. O problema é que os temas eram iguais em cada etapa, o que mudava era o estilo de texto. E os temas eram preconceito, na primeira, e analfabetismo funcional, na segunda. Imagine escrever três redações sobre cada tema, só mudando o tipo de texto. Tô pouco me importanto se um é uma carta ao Ministro da Educação e o outra é um artigo de opinião sobre uns gráficos infernais. É tudo a mesma porcaria. A fonte das ideias é a mesma, e ela seca. E como seca. A minha, coitada, a mata siliar já foi destruída, houve assoreamento, eutrofização dos corpos dos corpos d'água e toda a intempérie que vocês puderem imaginar. Perda total.

O segundo problema, é o limite de linhas. Ah, como eu queria ser dessas pessoas que lutam para conseguir escrever o mínimo, tem que encher linguiça, ah como eu queria! Escrevo meu rascunhozinho, leio, releio, corto aqui, mudo essas palavras, perfeito. Faço a leitura final e tenho até orgulho de mim, porque ainda que o tema seja um saco, eu tento fazer bem feito para parecer menos entediante do que já é. Aí vem aquela hora de passar a limpo na folha oficial. Logo de cara eu percebo que meu texto vai muito além do limite estabelecido. Algo como umas 10 linhas a mais. Então lá vou eu ter que cortar quase um parágrafo inteiro, espremer a letra, e sair cortando os chamados acessórios da língua. Advérbios, ênfases, alguns adjetivos.

Se antes meu texto era um look todo bem pensado, calça diferente, blusa de ombros marcados, ankle boot de inverno, tiara no cabelo, batom MAC, colar de correntes, muitos anéis nos dedos, esmalte Chanel, agora ele usa jeans, camiseta branca e all star preto. Só que um jeans fuleiro, uma camiseta amarelada, e um all star paraguaio. Rabo de cavalo num cabelo sem lavar, cara limpa com poros enormes, unhas roídas, carteira e celular guardados numa sacolinha de supermercado. Viajando mais ainda, antes meu texto era a Kate Moss, e agora ele não passa de uma Kristen Stewart pobre.

Eu costumo tirar boas notas nas redações da escola, mas não consigo ler aquilo e pensar que ficou bom. Ler aquele texto cru e sem expressão e pensar que sirvo pra escrever. Que sei escrever. A Luh esses dias twittou duas coisas que eu entendi muito, apesar de nunca ter escrito notícia na vida, e é uma resposta pra quem pergunta por que eu hesito tanto em prestar pra Jornalismo:


Não nasci pra ser objetiva e imparcial. Adoraria ser colunista de um jornal, ou escrever matérias fodas pra uma revista, mas sei que todo mundo começa de algum lugar. E, honestamente, não sei se esse preço eu quero pagar, já bastam os três anos de Ensino Médio.

21 comentários:

  1. hahaha!
    poxa, eu amo escrever redações...
    e quanto menos gostar do tema, mais gosto de escrever a redação!
    é como um desafio, vc escrever sobre algo que não quer ou um assunto que não gosta. quando ganhava notas boas por esse tipo de redação - ou, hoje, simplesmente elogios, fico bem mais feliz do que quando o assunto é fácil.

    inclusive, peço sua permissão pra roubar esses dois temas da sua professora e escrever sobre eles... "preconceito", interessante, analfabetismo funcional, também.

    e sobre o final do seu texto, não desanime assim - um jornalista não tem que ser SEMPRE imparcial. um colunista, aliás, tem toda permissão de dar sua opinião sobre aquilo que escreve!!

    tem umtexto que acho interessante sobre isso - o autor é meio polêmico, às vezes concordo com ele, outras não.
    bem, aqui o link:
    http://www.contraditorium.com/2010/04/07/bichas-nojentas-sao-uma-abominacao-aos-olhos-de-deus/

    <3

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  2. eu tb nao gostava muito de escrever as redações no ensino médio... no cursinho, pelos temas eu gostava mais... mas mesmo assim né?!
    graças que eu nunca pensei em prestar algum curso que tivesse que escrever outras coisas senão anotações sobre problemas pessoais hehehe!!

    beijosss e boa sorte com as redações! [pelo menos vc tirar boas notas né?! hehehe]

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  3. Mais uma pro time que nao gostava de redacoes :~
    Poucas redacoes me valeram uma boa nota no meu ensino medio :~
    Por mais que eu adorasse escrever (naquela epoca), eu sempre me enrolava e nunca achava que estava bom; mtas vezes eu tirava o que era bom e deixava o ruim, sem saber, por pressao de andar logo, cortar pra caber nas linhas etc-e-tals...
    Mas enfim, vc sabe escrever SIM! e concordo no que a Mari disse: " não desanime assim - um jornalista não tem que ser SEMPRE imparcial."

    Beijos e boa semana!

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  4. Ain, nem me fala em redação, rsrs, era meu terror no cursinho. rs
    Mas quem tem facilidade né, é outra coisa. :P

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  5. eu odeio fazer redações também! quando não consigo atingir o minimo de linhas estabelecido, passo milhões delas, aff ¬¬

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  6. Esse negócio de Redação é assim mesmo. São sempre os meeesmos temas, bem que eles poderiam mudar, porque não existe só isso no nosso dia-a-dia para ser discutido não é ? Já está ultrapassado. Eu também tenho esse problema de linhas, eu sempre passo do número máximo, e me enrolo toda para encurtar depois.
    Acho que se você trabalhasse em jornal ou revista não teria tanto problema assim, teria ? Acho que seria mais no caso de escrever colunas. Enfim rs.
    Beijo

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  7. Concordo com você! Apesar de eu estar na oitava série e isso significar alguns temas bem legais (porque a maioria das pessoas da classe não sabe escrever, então tem que dar um tema agradável pra eles treinarem pelo menos a concordância), mas pede pra eu falar do efeito estufa, que eu tenho vontade de correr pro blog e escrever algo legal! Agora, quer me matar, é colocar limite de linhas... Tão horrível, né? Beijos!

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  8. Ah já disse isso e minha amiga disse a mesma coisa: mas luh vc não gosta de escrever!
    Cara o povo acha q fazer redação é a mesma coisa q escrever para o blog, eu tb odeio os temas que passam, serio fico perdida! ¬¬''
    beijos
    adorei o assunto!

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  9. Anna,
    Sei como é isso porque este foi um dos motivos que me fizeram sair da faculdade de Jornalismo. Eu cortava tuuuuuuudo... o texto era cheio de floreios e ficava seco, curto, záz. Pronto, acabou.
    Eu seeeei que você sabe (!!!!) o que eu vou dizer agora, mas mesmo assim vou dizer. Existe o texto jornalístico e o texto literário. A pessoa que gosta de escrever não necessariamente gosta de escrever um texto jornalístico ou tem vocação para ser jornalista (percebi isso qdo eu tinha 19 anos), porque para se escrever uma dissertação, com os temas polêmicos todos, é preciso ter a vocação de querer argumentar e convencer o leitor de alguma coisa. Aí a objetividade ajuda e os floreios atrapalham. Um texto com cara das redações de vestibular está longe de ser um dos textos do seu blog. O texto do seu blog é poético, é sinestésico, semiótico, até... já o texto da redação do vestibular serve para você dissertar sobre um assunto e se posicionar sobre ele. E claro que nem todo mundo gosta disso, porque acho que nem todo mundo tem esta gana... rs.
    Se você tem um viés social dentro de você e uma gana de persuadir alguém sobre o seu ponto de vista e defendeeeeeeeer este ponto de vista e grrrrrrr, aí você vai curtir um texto dissertativo e vai perceber que os floreios vão deixar de te atrapalhar, porque quanto mais objetivo for o texto, melhor ele vai ficar. Aí o que você vai ter que escolher são os vários argumentos que vão fundamentar a sua teoria! Serão tantos que eles não vão caber na folha!!! rsssssss
    Mas se o seu barato é literatura... minha florzinha, não se deixe corromper. Apenas saiba escrever em todos os formatos, porque como escritora você precisa disso (eu acho), mas tenha em mente que o seu negócio é literatura e ponto final.
    Eu fiz esta escolha há anos-luz atrás.
    Fui prolixa, eu sei. E meio arrogante, até parece que eu tenho muita propriedade pra falar tudo isso... hahaha... tenho nada! Só a experiência de ter notado que o buraco é mais embaixo, mesmo.
    beijos!!!

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  10. Na faculdade de direito aprendemos a arte do enrolation... Na verdade, essa arte é introduzida em nossas vidas na época da escola, mas as matérias de humanas que pouco usam números a arte de encher linguiça vai sendo aprimorada nos anos da faculdade.
    Dai, chegamos numa pós e o professor limita as respostas das questões a um certo número de palavras. É óbvio que fico horas tentando encaixar o texto na quantidade de palavras delimitada.
    Eu entendo o professor, quer evitar embromation, ou você sabe ou não. Mas, na maioria das vezes, algumas coisas que eu acho relevante colocar tenho que deixar de lado.
    Acho que no caso da redação eu mudaria o estilo e deixaria a redação igual. Ué, se é sobre o mesmo tema, de estilo diferentes, então temos a mesma redação em estilos diferentes. Ou isso não funciona?
    Bjitos!

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  11. Eu tambem odeio redações, assim como detesto escrever. No caso da redação, parece ditadura - um tema que é imposto com o intuito de compartilhar ideias e novas experiencia é, muito mais, uma farsa analogica e constante para que sejamos forçados a escrever sem obter inspiração naquele momento. Um porre. Tema livre é o meu sonho de consumo.
    Beijos.

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  12. Ah, se até os 140 caracteres do twitter me irritam, imagine quando tenho que escrever uma redação de 20 linhas, ou tentar ser mais resumida nos meus comentários sem noção nos posts, dá um desespero!

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  13. oie Anna!!!
    Tô aqui pra te convidar a conhecer o nosso blog, o Plugadas! Um blog totalmente conectado no que há de mais atual em moda, beleza, comportamento, filmes, música, enfim, no que há de melhor! E já tá rolando promoção! Dá uma olhadinha depois e comente, se possível! http://www.plugadas.net
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    Beijos!

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  14. Anna, você é uma daquelas mulheres que mesmo com um jeans bascio e uma camiseta branca, está dando show em muita muita mulher usando Gucci. Então, não tenho duvida que sua inspiração sintetizada é melhor que muita redação de ban ban ban por ai.
    Você escreve bem e redação, bem redação nessa altura é mero percalço da vida.
    Obrigaado pela visita.

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  15. Bem, escrever com tema pré-estabelecido não é das melhores coisas; não gosto muito.
    Gosto mais de escrever livremente, dando espaço pra minha inspiração.

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  16. Oie Anna!
    Puxa, este post é perfeito.
    Sempre me peguei pensando em uma coisa: Até outro dia ai, eu dava aula no curso de publicidade e tinha, claro... os trabalhos de desenvolvimento de textos, redação publicitária e tals. E eu me pegava sempre encanado com os temas que as professoras do colégio davam nas aulas de redação em Português.
    Era sempre a mesma coisa, os mesmos temas... e pior, além de repetitivos, não serviam pra desenvolver quem não sabia escrever ou não tem paciência, pique ou vocação pra coisa. Quer mais? Os erros ortográficos(eu sei que erro mto na escrita mas não são erros como os permitidos pelas mestras de lá). A impressão é que nem se corrigiam os textos dos alunos! o_O
    Seja como for, eu sei que só repetia(sempre) um tema, para um trabalho de redação publicitária.. um texto inicial que teria como título 'O anel e a árvore'. À partir dai, valia qualquer texto...e sempre saía mta coisa legal. Depois da primeira aula, com 'o anel e a árvore', tudo fluía!
    =) Desculpe se escrevi demais... qq coisa, passa uma Pelicana neste comentário ehehe Bjos.. saudade e admiração do tamanho do mundo pelo seu blog e textos!

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  17. Te entendo. Escrever sobre todos esses assuntos é possivelmente a coisa mais chata que nos mandam fazer na escola. Eu nunca consigo pensar algo legal e o limite de linhas nunca dá certo - ou escrevo demais, ou não escrevo nada. No fim sempre sai algo muito ruim. Não que eu escreva coisas incríveis, mas redações sempre ficam ainda piores.
    Beijos!

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  18. Oie, Anna! Me identifiquei com teu post. No curso de Jornalismo, gosto das notícias que escrevo, mas sempre acho que está faltando alguma coisa. E eu odiava os temas das redações! E sempre tinha esse problema com o excesso de linhas... Com o tempo fui me acostumando, mas sempre frustrada com a falta de ousadia das universidades na escolha dos temas das redações... Tenho muitas dúvidas se a escolha da minha carreira foi a correta, ou se eu devia estar viajando pelo mundo e pesquisando para escrever um livro (sem limites de páginas). Mas é a vida. Um dia eu me encontro. Espero que você também :*

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  19. Os temas repetitivos e batidos desanimam qualquer um!
    Ah, só uma curiosidade:o tema da redação para a facul na qual entrei era "experiência como torcedor da seleção". Oi? Medo de temas esquisitos assim.

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  20. Me indetifieui MUITO mesmo! Também não gosto muito de esxrever redação e muito menos ser objetiva. Não gosto de nada que me mandem fazer, com regras: número de linhas, tipo de texto, etc. Eu escrevo da forma que eu quero. Não gosto de ser obrigada a escrever algo que preciso escrever, entende?! Ah, acho que entende sim...rs

    Beijos!

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  21. Redação é uma das coisas mais estúpidas da face da terra. Nos obrigam a escrever sobre assuntos velhos e cheios de pó e ainda esperam que a gente escreva eles numa página gigante aonde somente 280 palavras podem ser usadas. Like, what the hell?!

    Como se não fosse o suficiente nos forçar a escrever sobre algo totalmente chato e nada interessante!

    Sabe, eu consigo escrever qualquer coisa com a única condição; me deixar escolher o assunto e a quantidade de palavras. Os meus professores já até desistiram de me mandar escrever menos, por que a verdade é; eu simplesmente não os dou mais atenção, porque eu sei que eu não consigo escrever menos que 280 palavras. Será que isso é crime?! ¬_¬

    Amei o texto, Anna.
    Genial em todos os sentidos!


    Bjuss, =*

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