Há um tempo venho acompanhando o processo de produção de um documentário muito legal chamado A Vida Em Um Dia, que estreou no Brasil há pouco tempo. Para fazê-lo, os produtores colocaram um convite na internet para que pessoas do mundo todo filmassem um dia de suas vidas, mais especificamente o dia 24 de julho de 2010. Mais de 4500 horas de material foi coletada, e o documentário foi o resultado do recorte e montagem de todos esses pequenos mundos. Ainda não assisti ao filme pronto, mas imagino que é difícil não sair de lá algo muito legal. Motivada por esta proposta, sugeri um meme para as meninas da Máfia em que deveríamos relatar, seja em texto, foto ou vídeo, um dia de nossas vidas. Sorteamos a data e assim passamos o dia de ontem, sexta-feira, 04 de maio de 2012, registrando minuciosamente nossos passos.
Não tenho o hábito de ler horóscopo, muito menos acredito em alguma coisa quando o faço, mas esse mês a Alê estava falando sobre as previsões para maio da Susan Miller e eu resolvi ler a minha só pela graça. Diz a astróloga que o mês em questão será o melhor do ano para mim e que eu teria o constante sentimento de que as coisas estão dando certo e as portas estão sendo abertas. Reitero que não consigo acreditar nessas coisas, mas a verdade é que, quando fizemos o sorteio, eu imaginei que traria de resposta um relato bem entendiante estilo: acordei-fui-pro-pilates-dormi-de-novo-comi-fui-pra-aula. No entanto, vivi uma sexta-feira bem especial e senti mesmo como se tudo estivesse dando certo. Lembrei daquele clipe da Lily Allen, LDN, no qual ela caminha por Londres e vai colorindo os lugares por onde passa. Não que eu ache que trago cor às ruas por onde ando, mas sinto que ontem elas se coloriam pra que eu passasse.
Meu dia começou às 6h45 da manhã quando fui acordada pela minha mãe. Tive que abandonar meu berço esplêndido em tão indigna hora porque a missão do dia era ir até o cartório eleitoral tirar meu título de eleitora. Como não sabia chegar lá sozinha, tive que contar com uma carona da minha mãe. Estávamos atrasadas, pra variar, e por isso eu me vesti correndo e mal tive tempo de comer. Engoli duas fatias de pão de forma integral com requeijão no carro mesmo, enquanto ouvíamos o cd do Lestics.
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oi, bom dia
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Como o cartório abria só às 8h, fui com minha mãe até o trabalho dela esperar o tempo passar. Lá, tive que dizer oi e fazer graça para todos os seus colegas, que diziam sempre a mesma coisa: que eu havia crescido, que eles lembravam de mim quando eu era criança, que eu e minha mãe somos idênticas uma à outra. Respondi para umas três pessoas que estava muito feliz fazendo Jornalismo e que não, não tinha namorado. Mamãe conseguiu contrabandear um pouco de café pra mim, uma vez que eu dificilmente conseguiria articular uma frase completa, tamanho meu sono.
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Objetos engraçados do laboratório da minha mãe |
Fomos até o cartório eleitoral e depois de ficarmos meio perdidas por uns 15 minutos, encontramos o lugar. Mamãe me deixou lá e voltou ao trabalho. Por incrível que pareça estava vazio pra caramba, o que me surpreendeu, já que os jornais estavam divulgado que a espera estava por volta de quatro horas. Umas 10 pessoas estavam na minha frente, mas foi tudo tão rápido que fui atendida antes que tivesse tempo de ler todas as atualizações do Twitter. Já tinha feito o pré-atendimento via internet, logo, tive apenas que assinar duas vezes para ter meu título em mãos. Pensei que seria mais emocionante, que ouviria o Hino da Indepêndencia e que serpentinas verde e amarelas cairiam sobre minha cabeça, mas a única coisa que aconteceu foi a atendente mal humorada gritando PRÓXIMO e me expulsando dali. Na lanchonete em frente ao lugar eles plastificavam os títulos. Paguei R$2, resisti à tentação de comer uma coxinha e fui pensar no que faria.
Pelo terrorismo dos jornais, já tinha me programado para passar a manhã toda naquele lugar. Não eram nem 9h e eu já estava livre. O plano oficial era sair dali e encontrar meus amigos pro almoço, mas estava cedo demais. Liguei para quem poderia estar pelas redondezas e ninguém podia me fazer companhia, então resolvi ir até a casa da minha avó. Não fazia ideia de onde estava e nem qual ônibus deveria pegar. Procurei um ponto de ônibus e entrei no primeiro que passou, que me levou até o terminal central. Descobri que tinha esquecido meu iPod no carro da minha mãe. De lá, peguei outro ônibus e fui até a casa da minha avó. Ela não estava, então fiquei batendo papo com a empregada, brincando com Piche, o cão, e adiantando um trabalho para a faculdade enquanto esperava. Ah, também comi um Chokito.
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Lendo e assistindo Friends |
Por volta das 10h30 minha avó chegou. Pedi que ela me desse uma carona e assim nós fomos até a praça Sérgio Pacheco, onde deveria encontrar com todo mundo. Tínhamos marcado na casinha do Papai Noel, lugar que no Natal vira morada do bom-velhinho e que durante o resto do ano funciona como ponto para os velhinhos jogarem xadrez. Minha amiga Nathália já estava lá quando cheguei, e nós duas ficamos conversando sobre suas desventuras em Fortaleza enquanto os outros não apareciam. O Matheus chegou logo em seguida e depois de um tempo vieram os outros. Começou uma discussão sobre onde iríamos comer, já que o combinado era em um lugar que meus amigos que não comem carne não gostam porque a salada é ruim. Eles queria ir no Cafe Cum Prosa, onde tem salada demais e pouca carne, e nós, os carnívoros, protestamos. Decidimos ir até o centro da cidade comer no Subway, e fui no caminho tendo uma adorável conversa sobre Cheias de Charme e sobre como é mais divertido assistir Meninas Malvadas dublado. Ah, na praça ainda avistei um pônei. Era um pônei tristinho e judiado desses que um senhor cobra uns R$0,50 para que as crianças deem uma volta, mas ainda assim. Não tem como o dia ser ruim quando se avista um pônei pelo caminho.
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Matheus e Nathália na casinha do Papai Noel |
Lá no centro acabamos nos dividindo, porque a maioria das pessoas resolveu comer no McDonalds, enquanto eu, Matheus, Nathália e Rinna ficamos no Subway mesmo. Pedi um sanduíche de carne e queijo, um suco de uva, e comemos rapidinho para irmos nos juntar aos outros no McDonalds. Conversamos, rimos, brincamos, e como ainda estava cedo, resolvemos ir para a praça fazer nada. Comprei um McColosso e fomos.

A praça da Bicota é um dos meus lugares favoritos de Uberlândia. A vontade era de passar o dia inteiro ali rindo e falando bobagem perto das pessoas que eu gosto. Porque sempre que eu vou lá, é pra ficar rindo e falando bobagem perto de pessoas queridas. Foi lá que eu tive um daqueles momentos em que a gente vê que as coisas estão boas não porque existe algo de extraordinário acontecendo, mas simplesmente porque percebe que o ordinário também é ótimo. Eu só estava tomando sorvete num dia frio e muito azul, fazendo careta para tirar foto e explorando aplicativos de gif, e ainda assim eu não queria estar em nenhum outro lugar.

Tivemos que nos dispersar porque todos tínhamos compromisso pr'aquela tarde. Eu corri pro ponto de ônibus já imaginando que ficaria horas ali (porque é claro que eu pego um ônibus que só passa a cada 20 minutos) e acabaria chegando atrasada na aula. No entanto o dia sorriu pra mim de novo e esperei menos de cinco minutos quando meu amado 115 parou por ali. Durante a viagem fiquei olhando pela janela e concluí mais uma vez que maio é o mês que tem o céu mais bonito e que quando eu casar quero que seja maio e início de outono, numa tarde quase gelada e ainda assim muito azul e cheia de sol, como o dia de ontem.
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Janela, céu e eu |
Às 13h55 desci na porta da faculdade e subi rumo à minha aula de Mídias e Comunicação. Minha professora é alta, de cabelos curtos, parece a Lilian Pacce e é chique até dizer chega. Ontem ela usava uma camisa listrada de preto e cinza com uma gola de laço, jeans e botas pretas. Queria ter fotografado, mas fiquei com vergonha. A aula era a respeito dos estigmas da comunicação e confesso que nem prestei muita atenção porque estava mais divertido combinar a festa da sala, fazer planos para a recepção dos nossos calourinhos (que chegam só em 2013!) e trocar mensagens com a Carol sobre o muro das lamentações (sim). Não tivemos intervalo para que pudéssemos sair mais cedo e no fim da aula o Rodolfo e a Maysa mostraram que tinham feito etiquetas de identificação com o nome de todos nós e apelidos carinhosos. Tive outro momento daqueles que senti que as coisas estavam dando muito certo, porque se me perguntassem, ano passado, se eu pensava que em maio já teria amigos tão queridos, eu jamais concordaria.


Antes de ir pra casa, passei na biblioteca e peguei dois dvds para assistir no fim de semana: Bicho de Sete Cabeças e Paris, Texas. Cheguei em casa e vi que a empregada havia dado o bolo. Para que minha mãe não sofresse um derrame cerebral quando chegasse, lavei a cozinha e dei uma geral na casa enquanto ouvia um cd de músicas antigas. Depois disso, deitei no chão e fiquei rolando com o Chico. Aí descobri que meu nobre poodle havia sujado o pullover (sim) que ele usava de xixi. O coitado estava num cheiro insuportável. Minha mãe resolveu que era melhor dar um banho nele em casa mesmo, porque não estávamos aguentando aquele cheiro. Estava à toa na internet quando ela sai gritando louca porque o Chico havia fugido enquanto era secado, e nós duas ficamos quase cinco minutos feito duas birutas correndo atrás de um poodle molhado que trotava pela casa toda, escorregava no próprio rastro de água que deixava pra trás, e se sacudia de segundo a segundo, molhando nós duas.
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Chico molhado e descomposto |
De resto, assisti Avenida Brasil e apesar de mamãe ter insistido pra que eu jantasse de verdade porque já tinha almoçado bobagem, comi um
pão doce que ela tinha me trazido e depois um Sonho de Valsa. Sou muito saudável. Quando estava pronta para ver Dexter meu celular tocou. Era a Anaisa, e nós ficamos papeando por um longo tempo e foi assim que a meia noite me encontrou: deitada no sofá com meu cobertor lilás, um episódio de Dexter pausado, tagarelando no telefone com minha melhor amiga.