terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Acarajé for dummies

Sorria, você está na Bahia. Imbuída deste estado de espírito, desembarquei nessa terra de gente que fala cantando, onde os dias não passam nunca e a umidade relativa do ar é um fato, e não apenas uma piada interna entre os meteorologistas, como acontece nas grandes cidades. Eu, carente de mar há quase quatro anos, agora olho pra ele basicamente de todas as janelas do chalé em que estou hospedada, e mesmo deitada na cama fico sentido as ondas me levando pra lá e pra cá, pra cima e pra baixo, já que depois que estou dentro dessa coisa linda que Deus nos deu, preciso de uma comida muito boa me esperando na mesa pra querer sair. Foi numa dessas que inventei de experimentar acarajé.

A ideia não tinha me passado pela cabeça, mesmo, e olha que eu sou uma pessoa que experimenta. Posso fechar a cara para a maior parte das coisas, mas gosto de dar língua a tapa pra dizer com propriedade se gostei ou não. Ainda assim, quando minha família se encheu do frenesi de turista e começou a cogitar a pedir uma porção da iguaria mais típica do estado, pensei cá com meus botões que daquela água não beberia, ou melhor, daquele bolinho não comeria.

Se vocês só conhecem o referido de nome, vou explicar: acarajé é um bolinho feito de massa de feijão fradinho frito no dendê, comido com recheio de camarão, vatapá, caruru, (insira alguma iguaria baiana de nome sonoro e divertido) e, principalmente, pimenta. Eu já torço o nariz pro bolinho de feijão, confesso. Daí que ele é frito no dendê. Dendê, aquele azeite que a gente costuma usar uma colher de chá pra temperar uma senhora panela de moqueca e mesmo assim o organismo leva uns três dias pra terminar de processar tudo. Não sabia o que era vatapá, caruru muito menos e assim, eu não como pimenta. Fresca mesmo, de modo que eu não tinha motivo algum para cogitar experimentar acarajé.

Outro agravante: era a primeira noite da viagem, o primeiro passeio e eu, com todo o meu histórico de intoxicações alimentares - infelizmente, mais extenso do que seria de bom tom comentar - em viagens não ia me dar ao luxo de entrar de cara num bolinho frito no dendê, correndo o risco de destruir toda a estadia na praia.

Contudo, os acarajés chegaram à mesa com uma cara tão inocente, feliz e indefesa que resolvi arriscar. Afinal, eu estava na Bahia. Se não comesse acarajé aqui, onde mais o faria? Então eu comi. E adorei. 

Ajuda um pouco o fato de que aquilo que nos foi servido era muito mais um nugget do que um acarajé. A garçonete percebeu nossa apreensão e nossa origem, e disse que aquela versão era um acarajé mais light, com menos dendê que o tradicional e com recheios menos temperados. Tipo um acarajé pra iniciantes, um acarajé politicamente correto pra mineiros se deliciarem, não passarem mal a noite inteira, e voltarem à sua cidade natal se vangloriando de não mais serem virgens da grande iguaria da cozinha baiana. Acarajé pro Instagram ver. 

A tal massa de feijão fradinho é uma delícia e, juro - que os baianos não me leiam - parece um nugget melhor temperado. Passei longe da pimenta, obviamente, mas pra todos os efeitos simpatizei bem mais com o vatapá do que poderia supor. Todavia, todo o meu amor vai mesmo é pro tal do caruru. Se eu estivesse bêbada, a foto queima-filme do verão teria como foco a minha pessoa abraçada a uma panela de caruru, ostentando um sorriso débil no rosto. Caruru, minha gente, é uma massinha feita à base de quiabo. Repito: quiabo! É uma coisinha tão singela e gostosa que me dá vontade de chorar. De toda essa experiência baiana, o caruru é o que vai voltar pra Minas como a história de amor mais verdadeira.

Coincidentemente, no dia seguinte, na praia, uma ambulante toda paramentada com traje de baiana veio nos oferecer acarajé, mas um acarajé de verdade. Entendi perfeitamente o motivo daquela ênfase na autenticidade do prato, e por isso mesmo passei longe. Apesar de estar feliz por ter esquecido o USB da câmera em casa, já que foto nenhuma faz jus à beleza desse lugar, no que tange a experiências gastronômicas fico feliz com meu acarajé de Instagram - que, aliás, nem foi fotografado. 

17 comentários:

  1. Ah, Anna! Amei o termo "acarajé pro Instagram ver", kkkk. Olha, dessa versão light eu nunca vi e nunca provei. Deve existir apenas em hotéis e pousadas mesmo. Mas, caso você queira uma versão menos agressiva do tradicional, sugiro o acarajé com vatapá, camarão e salada, apenas. É o meu predileto, é assim que eu peço. É uma delícia mesmo.
    Abraços.

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  2. hahahaha Ri litros com o post! E você conseguiu me deixar com vontade de provar o bendito (porém, sua versão light, nugget way of life).

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  3. Eu moro no Ceará, né, e desenvolvi uma alergia à camarão. Eu queria ter nascido com alergia, porque se tem uma coisa frustrante na minha vida é AMAR camarão com todo o meu ser e não poder comer. É desejar camarão, sentir o cheiro do bendito fritando, e me satisfazer com peixe. Eu sinto o gosto do camarão quando paro para pensar nele.

    E na culinaria baiana, praticamente tudo leva um tempero que é feito de camarão assado moído, então NEM FAROFA baiana eu posso comer (mais).

    Então, resumindo: chorei com esse post.
    Inveja.

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  4. Morri de rir, Anna. Amo sua classe e comédia pra contar essas coisas do cotidiano. Quando eu crescer serei igual. "Acarajé pra instagram ver" e mineiro comer, HAHAHAHA.
    Te amo!
    E eu nem sabia que acarajé era tudo isso aí, gente. BOLINHO DE FEIJÃO? QUIABO? MAS JAMÉ!
    <3

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  5. Eu tô morrendo de rir do: "(...) vatapá, caruru, (insira alguma iguaria baiana de nome sonoro e divertido)" HAHAHAHAHAHAHAHA
    Ai, preciso dizer que acho que jamais comeria esse treco. Na Bahia ou fora dela. Não nasci pra isso.
    Tô com a Analu: JAMÉ.

    Beijos, Annoca!

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  6. Ri demais com o texto! Ficou super divertido! haha
    Sou simplesmente apaixonada por acarajé! Meu pai é baiano e até sabe fazer, mas quando a gente vai a Bahia andamos kilometros só procurando o "acarajé de verdade" haha E só de pensar já fiquei com água na boca!

    Beijão :*

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  7. Anna do céu, a cada post desses eu te amo mais e tenho mais vontade de te trazer pra cá junto de mim. Talvez seja por posts como esse que você, de todas as meninas, é a que eu tenho mais vontade de carregar pelo Maranhão inteiro e mostrar cada coisa daqui – incluindo nosso acarajé, porque sim, Maranhão é terra de todo mundo, tem de tudo por aqui. Fique tranquila que por aqui também tem vatapá (em excesso mesmo) e caruru até você abusar. Tá, nunca fui à Bahia, então o de lá deve ter mesmo um gosto especial. Li tudinho imaginando você numa mesa de restaurante roendo todas as unhas na aflição do acarajé se apresentar e você fazer aquela cara de: tá, e agora, quê que eu faço com isso? Por favor, rolei de rir aqui. Te amo, sério.

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  8. Ainda bem que você não pediu um acarajé quente hahahaa

    Mas que me bateu saudade de comer um acarajé, ah... bateu, sim!

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  9. Acarajé é amor, é obra divina!

    Moro em Aracaju, cidade também conhecida (que nenhum sergipano leia isso!) como o quintal da Bahia, e, assim sendo, acarajé é prato tão normal aqui quando na sua terra de origem. É verdade, inclusive, que, em Sergipe, vatapá e caruru são quitutes bastante comuns até em churrascos, aniversários, reuniões de família e, enfim, tudo quanto é evento. Amo! ahaha
    Costumo visitar Salvador com frequência e posso lhe dizer que, em cada ida à maravilhosa terra de todos os santos, é a mim impossível deixar de reconhecer e agradecer a meus amados vizinhos por tamanha contribuição cultural, artística e, ó pai, culinária! hahaha

    Adorei que você tenha se entregado à magia da "acarajé de Instagram", também muito encontrada nas praias sergipanas, e, à propósito, convido-lhe a qualquer dia desses vir conhecer também os encantos e pratos da minha terra, prometo que não se sorri só na Bahia! hahah

    Abraço, Anna!

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  10. seja bem vinda, se ficou em que cidade aqui na Bahia

    ja comi das duas versões, mas eu te digo, vc perdeu a versão original, pq ela é beeeeeem melhor e com pimenta então....Mas eu falo isso por que sou baiana e acostumada a comer pimenta como quem come salada...adorei o post, espero que tenha gostado da minha terrinha.

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  11. Tenho vontade de conhecer a Bahia :)

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  12. Eu sou de Pernambuco, então aqui não é difícil de achar o tal do acarajé (embora não saiba se é o real acarajé baiano). Eu simplesmente adoro!! Com camarão e tudo o mais, menina que coisa boa!!!
    Quem nunca experimentou ta perdendo, com toda certeza.
    Adorei o post, simples e incrível.
    Como sempre.
    Beijos :D

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  13. oie anna, tudo bom?
    pra começar, adorei o nome do post... e adorei lê-lo também, você escreve divertido. gosto e me divirto com as suas histórias... também nunca comi acarajé, mas torço o nariz por conta da pimenta. não como nada muito temperado e acho que só encararia mesmo uma versão light da iguaria, pois meu estômago também é da pá virada e sempre embrulha com qualquer coisinha diferente. hehehe! mas que bom que você gostou... quem sabe um dia eu também não tome coragem para provar! quando eu for pra bahia (se algum dia for), vou tentar experimentar! :)
    beijo, beijo!
    ps.: ficou faltando mesmo uma foto no post! #curiosa

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  14. Sou paulistana e adoro acarajé. Mas o acarajé de verdade!!!!
    Só de ler seu post fiquei com água na boca.
    E agora? Onde vou arrumar um acarajé para satisfazer as minhas lombrigas?
    Bjs.
    Elvira

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  15. Sou paulistano e odeio acarajé. Mas o acarajé de verdade!!!! rs
    Comi uma vez (não foi na Bahia, mas em Alagoas) e nunca mais. Odiei. #truestory

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  16. Amo/sou ler esses seus textos onde você relata as coisas que acontecem com você. Sempre me divirto muito e dou boas risadas com essa sua forma deliciosa de escrever. Nunca comi acarajé, mas tenho certeza que iria passar muito mal porque tenho o estômago mais fraco do que é tolerável. Porém confesso que amo uma boa pimenta e acho que essa é a única parte que me chamou atenção no tal do acarajé! hahahah. Espero um dia experimentar esse Acarajé for dummies (que título ge-ni-al) e me sair tão bem quanto você!
    Super beijo, Annoca. ♥

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  17. O Caruru foi também o que eu mais gostei no acarajé. E o bolinho nem tem gosto de feijão. Mas confesso que ainda não troco uma picanha por nada nesse mundo.
    bjokssss

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