terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Te peguei no colo

Ontem minha prima Mariana completou 11 anos de idade, e bem quando eu estava escrevendo uma mensagem pra mandar pra ela, percebi que sem ver tinha escrito que não acreditava que eu já tinha pego ela no colo. Me assustei com essa frase não só porque é absurdo que a prima que eu até hoje vejo como um bebê tenha vividos anos que não cabem mais nos dedos da mão, mas sim porque eu sempre odiei ouvir que os outros já me pegaram no colo. Nada contra colos, nada contra os outros, mas não gosto de adultos nostálgicos, principalmente esses que, diante de evidências da passagem do tempo, adoram lamentar os anos idos como se fosse uma coisa muito ruim crescer.

Acho que é por isso que nunca gostei muito de fazer aniversário, pois isso significa que vou ter que ouvir de um monte de gente que parece que foi ontem que eu cabia em seus colos e que droga eu não ser mais um neném. Como se eu fosse uma pessoa muito pior hoje do que quando babava em suas roupas e como se eu tivesse culpa de alguma coisa. Se pudesse escolher eu também ficaria pra sempre na época em que podia fingir dor de barriga para não ir pra escola e assistir Convenção das Bruxas na Sessão da Tarde, por mais que ache que infância é a fase mais superestimada de todas - mas isso é caso pra outro post. O negócio é que odeio a nostalgia deprimente dos adultos ao meu redor e pior ainda quando ela vem de algum amigo dos meus pais que eu não vejo há quinze anos que vem me perguntar se eu lembro daquela vez que vomitei depois de comer um monte de danoninhos. É claro que não lembra, você era tão pequena. Acredita que já te peguei no colo? 

Só que a Mariana fez 11 anos ontem e a única coisa que eu conseguia pensar era naquela tarde que eu cheguei atrasada na escola porque fiquei na maternidade esperando para segurar ela colo. Li em uma dessas listas de coisas que todo mundo deveria fazer antes de morrer que era preciso ver alguém nascer e se desenvolver para ter uma vida completa. Por mais que meu susto tenha muito daquele pasmo existencial que tão bem descreveu o Antonio Prata ao dizer que vira e mexe descobre que uma coisa que ele pensava ter acontecido há dois anos já conta cinco, o que me atormentou mesmo foi pensar que aquela menina que na minha cabeça tinha parado nos seis anos já é um ser humano tão cheio de ideias, vontades, sonhos e segredos como qualquer outro, como eu fui quando tinha a idade dela e como sou hoje. 

A gente tende a olhar para a nossa infância como se fosse uma vida paralela à nossa, com lembranças que são um misto de registro pessoal e tudo que apreendemos das fotografias, histórias que nossos pais não cansam de repetir e também aquelas que inventamos sem querer. Mas, veja bem, com onze anos eu já era muito eu, se é que vocês me entendem. Euzinha, amiga de muitos dos meus melhores amigos, fãs de bandas que gosto até hoje, vivendo muitas das histórias que hoje conto pros outros e são as mais engraçadas e malucas que eu tenho. Aos onze anos, eu já tinha um blog, queria escrever um livro e fiz uma revista com as minhas amigas na aula de redação da escola. Aos onze anos eu era apaixonada pelo filho da minha professora de Português seis anos mais velho que eu, e a gente conversava sobre The O.C. (!) e eu comecei a ouvir Pearl Jam pra ele me achar muito legal. Aos onze anos eu já tinha uma coleção de blusas de bolinha e só não pintava minhas unhas de preto porque minha mãe não deixava.

Ou seja, pouca coisa mudou de lá pra cá. Hoje eu pinto as unhas de preto, gosto de verdade de Pearl Jam e quando encontrei o filho da professora de português no shopping há um tempo atrás me senti vesga por ter pensado por muitos meses que ele era o cara mais bonito da escola.

Assim como o Antonio Prata (de novo, sempre ele) que não se recupera do susto de olhar sua filha bebê dormindo no berço e perceber que ela existe ("Olivia, você não existia e agora existe: olha só o que você fez, sua doida!"), não me recupero do baque de pensar que, meu Deus, a Mariana também existe. Não só existe como já leu todos os Harry Potter, os Diário da Princesa (essa série eu chegarei nos vinte sem ter concluído) e muito mais livros que eu na idade dela. Ela existe e assiste coisas que eu nunca ouvi falar e quando ouço nome fico me perguntando se é filme, série ou boneca nova da Mattel - mas mesmo assim eu fiz com que ela adorasse A Noviça Rebelde, Grease e o próximo passo é apresentar-lhe Audrey Hepburn. Ela adora One Direction, já desencanou da Lady Gaga e eu espero que daqui uns nove anos ela ainda lembre de todas as letras e possa cantá-las bem alto quando estiver sozinha em casa. E que o One Direction leve logo aos Beatles, mas tudo bem ter um post do Harry no quarto, porque ele é mesmo lindo. Mas Violetta nunca vai ser tão bom quanto The O.C.

Pensando nisso, concluí que tenho coisas muito mais importantes para dizer do que voltar o holofote pra mim e atrapalhar o aniversário dela com minhas lembranças nostálgicas. Muito melhor que isso é dizer que:

1) Prepare-se



2) Acredite


3) Eu prometo que vai ser 


4) Mariana, minha flor, eu te peguei no colo, mas os melhores dias da sua vida virão agora. Aproveite, seja muito feliz e conte comigo para assistir Grease quantas vezes quiser.

10 comentários:

  1. Adorei os gifs auto-explicativos sobre a vida. Estranho saber que a gente tá ficando velha e já dando lições de vida e morais para crianças/adolescentes, sendo que agente saiu dessa fase, ontem. :D

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  2. Ai que texto mais lindo! A passagem do tempo impressiona mesmo, eu vivo chocada que meu afilhado mais velho vai fazer 10, repito, 10, DEZ anos em fevereiro. E choca a gente pensar que pegou no colo, porque isso é realmente passar os holofotes pra gente e pensar que, caraca, eu já tinha tamanho pra pegar eles no colo, e agora eles tem 10 anos e vida própria, sabe?
    Lembrei de mim aos 11 anos. Usava arquinhos, estava deixando a franja crescer e lia, afoita, Harry Potter e a Ordem da Fênix. <3
    Te amo! E parabéns pra Mariana!

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  3. AI, QUE TEXTO LINDO, ANNA VITÓRIA <3

    Precisei do caps porque amei de um tanto! Parabéns pra Mariana e que ela siga todos os seus conselhos e dicas, não vai se arrepender. Sorte a dela por ter uma prima como você!

    Você deu uma choradinha escrevendo isso? SEMPRE dou uma chorada escrevendo os da Gio, HAHAHAHA!

    Te amo!

    P.S: E SENHOR, preciso ler Antônio Prata! Vocês todas estão numa onda louca de falar dele e eu sempre boiando =P

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  4. QUE POST LINDO!!!!!
    Eu jamais conseguiria escrever algo assim para os primos que peguei no colo, porque nunca vou me conformar com o fato de eles serem crescidos. Outro dia eu descobri que um deles está NAMORANDO, com catorze anos!!!! Eu carreguei no colo e hoje ele tem até namorada, quão estranho é isso? Aí é que eu paro pra pensar no horror que deve ser ser irmão mais velho e dou toda razão ao meu quando diz que eu sempre vou ter doze anos. É HORRÍVEL saber que a pessoa está crescendo, dá uma sensação egoísta tenebrosa!
    Essa semana a primeira prima que eu peguei no colo vai fazer quinze anos. QUINZE ANOS. E eu mudei de cidade e não vou poder ir na festa e estou altamente frustrada porque faz alguns anos que não a vejo e não sei o que ela faz ou deixa de fazer e me sinto uma péssima prima por não tê-la introduzido corretamente nas masmorras da vida, mas espero que ela tenha se encaminhado sozinha (e bem).
    Estava com saudades de textos assim!
    Abraços!

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  5. Sempre bom recordar momentos e saber que nosso paraíso está no presente tempo!

    jj-jovemjornalista.com

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  6. Amei o texto!
    Eu me sinto tão adolescente que sempre que me dou conta que já sou adulta levo um susto. Gente sou apaixonada por Seth Cohen há quase 10 anos, como isso aconteceu??? Pra onde esse tempo todo foi?
    Também não sou muito fã de nostalgia, porque, assim como você, eu sempre me senti muito eu. Meu eu de 11 anos já era muito do que eu sou agora, então não tem motivo pra ter saudade. Mesmo assim às vezes é difícil de evitar essa sensação.

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  7. Anna, que texto lindo! Queria ter escrito alguma coisa bonita assim pra minha prima. Foi estranho, esse ano, estar nos quinze anos dela que, ok, não peguei no colo, mas que lembro com muita clareza de ter visto na maternidade quando ela ainda tinha só um dia. E, embora eu *também* não goste quando os mais velhos vêm me falar que eu cresci, e que eu era tão pequena (bom... ainda sou pequena, geralmente essa parte também vem incluída no comentário)... Eu entendi. Mas, ao mesmo tempo, fico feliz de ver que pessoa bacana ela é, sabe? Sempre foi. E continua a ser.

    Eu acho a infância uma época linda, sou nostálgica até demais de vez em quando, mas faço questão de dizer pros mais novinhos ao redor de mim que os melhores anos da vida deles ainda estão por vir, até porque é nisso que eu procuro acreditar, sempre.

    Adorei mesmo. Beijo!

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  8. Nossa... simplesmente sem palavras pra esse post. Texto muito massa! Sei bem como é essa sensação de ver não só primos, mas também irmãs mais novas crescendo... ai, nostalgia... (e detalhe para o fato de que adorei os gifs ao final. kkkkkk)

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  9. Às vezes eu me pego nostálgica, falando da minha tenra infância... TENRA INFÂNCIA, Anna. Olha, Cê sabe que chegou na terceira idade quando pega a palavra TENRA e faz par com INFÂNCIA.
    Eu sou uma velha caquética num corpinho de menina de vinte anos, só pode.
    Abraços, sua linda.

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  10. Há poucos dias atrás eu estava lembrando de quando meu primo era pequeno, fui visitar na maternidade, dei banho, peguei no colo e brinquei de esconde esconde quando tudo o que eu queria era ficar jogada no sofá, agora ele tem 10 ou 11 anos e nem olha mais na minha cara.. Nem parece que carreguei no colo.

    Novembro Inconstante

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