segunda-feira, 17 de junho de 2013

A alma encantadora das ruas

A única passeata da qual fiz parte na vida foi num movimento elitista e reacionário que, se fosse maior, seria algo do tipo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Nesse nível. Em minha defesa, eu tinha 14 anos e muita titica na cabeça, fui levada pelos diretores da escola mas estava lá mesmo pelo oba-oba. O fato do meu professor mais bacana e esperto, que me ensinou tanto que até hoje lembro dele quando estudo, não ter ido junto com a gente e ainda condenado o ato em sala de aula, pouco antes de sairmos, deveria ter sido um sinal. Ainda bem que não surtiu efeito nenhum e de lembrança só mesmo a vergonha que sinto de mim hoje por estar achando tão revolucionário marchar pela cidade embaixo da garoa. 

O negócio é que eu cresci ouvindo (e às vezes até repetindo) que a minha geração, a minha época, era a da passividade, de gente que muito reclama e pouco faz, que um dia o país já teve vigor o bastante pra levar a galera pras ruas, mas que essa época já passou. Acho injusto para com alguns movimentos organizados e focalizados dizer que todo mundo está sentado de braços cruzados só reverberando queixas, mas se a gente for pensar no impacto nacional (e internacional) e numa ação única que mobilize um contingente razoável de pessoas ao mesmo tempo, é verdade que estávamos dormindo. Não consigo ver as notícias dos protestos recentes sem pensar na letra de "Quando o sol bater na janela do seu quarto", da Legião: até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo, quem roubou nossa coragem?

Penso na letra da música e arrepio inteira ao receber uma enxurrada de tweets com fotos impressionantes provando que recuperamos nossa coragem e fomos correr atrás do que é nosso. Ver a direita voltando atrás e mudando de posição. Não importa se isso é oportunismo, estratégia, mas é um sinal de que o barulho tá alto demais. Não tenho gabarito em política e nem me sinto à vontade para analisar o quadro atual, minha bagagem é pouca e tem gente fazendo melhor do que eu jamais faria (o Don't Touch My Moleskine tem feito uma curadoria bem bacana de textos, imagens e quadrinhos a respeito dos protestos, vale a leitura!). Mas, ao mesmo tempo, não consigo ficar quieta, RTs e shares nas redes sociais não  são suficientes pra dar conta de tudo. É um movimento grande que será lembrado depois e espero que a gente não se esqueça de como tem sido bonito (apesar de eventuais e inevitáveis incidentes indesejados) e deixe isso se perder ou desvirtuar lá na frente. 

Que este post sirva então de registro e que venham mais histórias. Quinta é meu dia de ir pras ruas e estou feliz que meus netos vão saber que comecei mal nessa vida de protestos, mas tomei tenência e abracei a bandeira certa.

Gabriel Bá e Fábio Moon

3 comentários:

  1. Amiga, que texto lindo! Eu fui pras ruas graças a você, e foi incrível. Já estou indo parir meu relato. <3

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  2. Excelente texto! Me deu até muita vontade de ir, mas acontece que não posso (tenho motivos pessoais) e isso tem feito com que eu me sinta bem inútil...

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  3. Apoiadíssimo. Estou adorando a cobertura do Don't Touch My Moleskine também, excelentes textos e imagens.

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