sábado, 22 de junho de 2013

Antes que eu me esqueça da minha cabeça

Pulei da cama hoje no maior clima de "Acorda, amor". Não sonhei que tinha gente lá fora batendo no portão, mas dormi com medo da dura numa muito escura viatura. Minha nossa santa criatura, essa onda de protestos está me deixando maluca. Juro pra vocês que hesitei antes de abrir o Twitter, com medo de ter notícias de um golpe ou, pior ainda, não conseguir entrar porque a rede foi suspensa. Eu sei: menos Anna Vitória, bem menos. Foi isso que repeti para mim mesma enquanto respirava fundo e tentava sossegar meu coração alarmista. Mas o negócio é que ontem eu passei o dia inteiro com medo de um golpe militar. Quem me visse na hora do almoço, mastigando rapida e nervosamente, iria jurar que eu estava a beira de uma síncope.

O que aconteceu foi antes de ir pra mesa eu tinha lido uma enxurrada de textos falando pela virada à direita percebida nas manifestações, e o que poderia resultar daquele mar de gente com palavras de ordem ambíguas. Teorias e especulações grandes, graves, mas que na minha cabeça faziam (e ainda fazem) um bocado assustador de sentido. Leio a última postagem do blog e fico abismada com o quanto tudo mudou em menos de dez dias. Na quinta era tudo coisa de marginal, na segunda eu estava em êxtase observando as pessoas na laje do Congresso Nacional, na quinta eu estava decepcionada e na sexta eu estava em pânico.  É revolução, cocaína, ou vai acabar em tristeza? Eita nóis. Que semana. 

Então a Nina Lemos postou um texto muito ótimo sobre esses dias loucos e eu me senti compreendida. Tem gente com a cabeça tão virada quanto a minha, sonhando com teorias da conspiração, sem saber se vai pra rua ou se fica em casa. Não sou a única que acorda cedo para adiantar os trabalhos da faculdade e percebe, ao meio dia, que está assistindo Globo News desde as oito da manhã, vidrada. Como ignorar tudo isso e sentar na frente do computador para fazer um fichamento? Até na Máfia, o refúgio para a maioria dos males do mundo, não conseguimos falar de outra coisa: se antes todo e qualquer tópico acaba se desvirtuando para pautas muito menos nobres, nessa última semana as postagens aleatórias inevitavelmente terminavam em manifestação. Desculpa, mas eu tenho que dividir isso. Eu sei que a gente só fala disso, mas preciso desabafar. Eu prometi que ia mudar de assunto, mas vocês viram esse texto? Ontem eu estava tão descontrolada que mandei para o meu pai uma série de links que mandavam a real sobre o que está acontecendo, porque enquanto eu mastigava nervosamente ele falava que o país tava bonito demais. Não pai, não tá, olha esse texto da Cynara, olha a socióloga, olha o Pablo Vilhaça falando em golpe com todas as letras, olha só as coisas subversivas que sua filha fica lendo! Estou com faringite e completamente sem voz desde a noite de ontem, talvez um sinal pra eu parar de espalhar pânico por aí ou uma evidência que eu ando falando tanto, sem parar, que por estar fragilizada minha gargante deu pane.

Antes que me entendam mal, o povo na rua é lindo sim. Fui para a rua na quinta, como disse que faria, e mesmo desiludida com o que encontrei por lá (pessoas agindo como se aquilo fosse micareta e não política, palavras de ordem reacionárias, hostilização de movimentos sociais, ataque a jornalistas, pessoas protestando contra a homofobia valendo-se de argumentos homofóbicos, etc, etc, etc), não deixei de arrepiar quando tive uma visão do alto de um viaduto inteiro tomado por pessoas, várias cabeças no lugar dos carros e até o vão, na parte de baixo, lotado de gente para se perder de vista, para a frente e também para trás. Foi lindo sentar numa das avenidas mais movimentadas daqui, mas deu vergonha perceber que o movimento tinha ola mas não tinha pauta. De repente começou uma correria e eu com meu sangue frio tampei o nariz e saí em debandada, me separei dos meus amigos e quando vi estava na rua de casa, transtornada, e foi tudo uma grande zoeira. Povo na rua tá bonito demais e esse texto sensato publicado no site Juntos! diz é que é lá que vamos resolver as coisas e as dúvidas, mas eu tenho medo desse gigante que parece ter tomado vodca com energético, para citar de novo a linda da Nina Lemos. 

Uma coisa boa que tiramos disso tudo é que nunca se falou tanto sobre política, o tema espinhoso que já fez vários olhos revirarem (até os meus). Eu, pelo menos, nunca quis tanto ler mais e me informar com mais propriedade sobre vários temas importantes para o nosso país, além daqueles que já chamavam a minha atenção. Percebo essa mudança na atitude de amigos e pessoas aleatórias, e estou curtindo a forma como as redes sociais tem se tornado espaço para debate e troca de ideias. Como tudo na vida, sempre tem os idiotas que quase azedam a coisa toda, compartilham sem ler, repetem sem entender, mas é para esses casos que foram criados os abençoados filtros. 

Aliás, esse papo dos idiotas ajuda a explicar o que está acontecendo. Sempre tem os idiotas. Não seja um deles e aproveite esse momento para ler mais, aprender coisas novas. Pense antes de compartilhar, procure entender o que é que você está escrevendo no seu cartaz, descubra o discurso por trás do seu grito de guerra e da sua bandeira e, como colocou bem demais minha querida amiga Isabela: Acima de tudo, quando entrar em alguma discussão não arrote ignorância com quem tiver conversando com você. Uma discussão saudável não serve pra você convencer o outro de que está certo, pode servir pra você enxergar outro parâmetro e ouvir opiniões diferentes.

Quem quiser começar a ler e se informar um pouco mais, alguns links bacanas: novamente o Don't Touch My Moleskine, que reúne tudo de melhor e mais pertinente que tem aparecido por essa internet de meu Deus; a timeline da Vivian Whiteman, jornalista de modas que sempre admirei pra caramba, e agora que tive contato com seus posicionamentos políticos, curto ainda mais; e a transcrição do discurso do Zizek (obrigada por compartilhar, Isa!), que é sobre o movimento Occupy, mas vem e muito a calhar na atual conjuntura que vivemos. Em inglês, Vanessa Bárbara e Juliana Cunha tentaram explicar a situação do país para quem está lá foraE pra dizer que não falei das flores, Tary, Mayra e Kamilla escreveram ótimos vinte centavos sobre o que está acontecendo e vale bastante a leitura. 

7 comentários:

  1. Eu ia postar no meu blog também, sobre isso. Mas fiquei na dúvida e preferi não postar, porque era tanta coisa que queria falar que ia ficar meio embolado. Gostei bastante do que você escreveu, e a sua impressão sobre o protesto aí de quinta, foi a mesma que eu e minhas irmãs e amigos tivemos daqui do Rio. Vi muita gente que nem sabia quem era o dono da empresa de ônibus aqui do Rio, gente tomando uma cervejinha no esquenta, e depois teve confusão também. Pelo que tenho lido, to ficando confusa, só consigo ler sobre isso rs. Mas o mais perigoso são essas tais pessoas idiotas Anna, porque tem MUITA gente, e não é só quem foi pra rua, e eles estão se deixando levar por falta de conhecimento.
    O que mais achei legal foi isso de todo mundo debater sobre política, antes eu só conversava isso com meus pais, minhas irmãs e uma amiga, hoje é tema de todas as conversas. Uma coisa que uma amiga da irmã teve a coragem de falar e que pode servir de exemplo para muitos é que ela não foi pra rua, porque ela não entendia nada de política, não sabia do que tava acontecendo, preferiu ficar em casa e se informar, pesquisar e isso que tá acontecendo fez com que ela se sentisse envergonhada por não se importar e agora ela tá buscando isso pra depois ir cobrar.
    Espero que isso realmente gere algo de bom :}
    Escrevi demais hahaha. Beijo!

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  2. Me deixou de fora da listagem das flores, mas tudo bem. Meu texto foi bem mais emocional que informativo. Eu também estou assustada com o que tá acontecendo, mas como disse no blog da Tary, acho que sou alienada o suficiente pra não entrar em pânico como você. E fico com minha prioridade emocional, egoísta e fútil: Meu musical estreia em 7 dias e eu não tenho cabeça pra outra coisa a não ser intencionar texto e cantar Paula Toller a torto e a direito pra não correr o risco de errar afinação. Em relação ao Brasil, espero do fundo do meu coração que tudo fique bem. Estamos levando bandeiras pra peça. :)
    Beijos!

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  3. Ai amiga, eu na verdade estou num momento bastante egoísta quando eu não deveria ser. Não agora. No entanto tenho meus posicionamentos. Não tenho medo de um golpe (ainda), mas tenho medo de algo pior: a galera se acomodar de novo. Pq algumas cidades baixaram o preço da passagem, por que a Dilma prometeu não sei o q, pq o Brasil tá indo nessa Copa e aí o povo esquece. Infelizmente. Espero muito mesmo que dessa vez seja diferente.
    Beijos!

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  4. Achei que era só eu que estava ficando paranoica, mas confesso a você que o medo tem batido forte por aqui. Também fico lendo dezenas de textos das mais diversas diretrizes, e tenho me assustado. Golpe midiático daquela rede de tv, Facebook te desconecta se você escreve uma determinada frase, sociólogos, filósofos...! E eu me assusto. Assusto sim, pq não era pra ser assim! De um dia pro outro tudo ficou estranho, teorias da conspiração circulando sem parar e minha cabeça rodando na mesma velocidade. E eu tento ver o lado positivo: como você escreveu tão bem, voltamos a conversar sobre política! Só que o medo bate toda vez que abro um site de notícias.

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  5. Uau. Sinto um alívio ENORME em saber que não fui só eu que tive uma síncope e fiquei paranoica com tudo isso. Eu fiz um post no meu blog sobre isso. Sinceramente o medo de um golpe me deixou sem dormir e agora que eu estou voltando a pensar em coisas que me distraiam disso. Mas essa semana foi uma das semanas mais tensas na minha vida. Eu sou MUITO emocional também como disse a Analu no comentário e no texto dela. Claro que o fato de todos estarem começando a discutir política e tal, é muito lindo e é muito bom as pessoas saírem um pouco da ignorância e ir atrás do que está acontecendo.
    Adorei a recomendação do texto da Nina Lemos porque ao ler também me senti compreendida. Não está fácil.
    E realmente o medo cresce a cada notícia e onda de tweets que vejo.
    Espero por dias melhores e que tudo dê certo, sem termos que vivencia um golpe de estado.

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  6. que saudade que eu tava daqui <3
    fazia um tempo que não lia nada. agora tô voltando. adorei os "links do dia"

    beijão anna, té mais!

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    1. ahh, me arrisquei a tocar no assunto também e me sinto igual você. "Na quinta era tudo coisa de marginal, na segunda eu estava em êxtase observando as pessoas na laje do Congresso Nacional, na quinta eu estava decepcionada e na sexta eu estava em pânico" hahaha!

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