quarta-feira, 19 de março de 2014

Então eu assisti Breaking Bad

* Sem spoilers

E concluí que a série é isso mesmo que todo mundo andou dizendo.


Sempre desconfio de unanimidades e de melhores coisas de todos os tempos que aparecem toda semana. Coloco minhas expectativas lá no alto e invariavelmente me decepciono, mas, em se tratando de Breaking Bad, consigo imaginar Heisenberg me encarando, me pondo de joelhos, me olhando de cima e ordenando: say my name. Breaking Bad é a nova melhor série de todos os tempos, e vai ser difícil alguém lhe arrancar esse posto. 

Por causa desse meu pé atrás com tudo que parece bom demais pra ser verdade, comecei a assistir a série um dia depois do seu finale ser exibido e praticamente rachar a internet no meio. Milagrosamente não peguei nenhum spoiler (fãs de Breaking Bad são mais educados que os de Grey's Anatomy, repassem) e foi com uma vaga ideia da premissa inicial que eu conheci Walter White e deixei Vince Gilligan acabar com a minha vida. 

Sim, acabar mesmo, porque se tem uma coisa que não mudou ao longo das cinco temporadas da série foi o fato de que Breaking Bad me faz sofrer. Mas sofrer de verdade, porque eu não conseguia dormir sem saber se estava tudo bem com Jesse Pinkman (na maioria das vezes não estava) ou se a Skyler ia segurar a barra por mais um dia (sempre segurou). Desde o começo, Breaking Bad provocou em mim reações bem viscerais de amor, ódio, empatia, desprezo, tensão, nojo e profunda dúvida. E é por isso que ela é sensacional.

Amor:::::::::::::: Jesse
Vocês já devem saber, mas a premissa inicial gira em torno de um professor de Química fracassado que, depois de ser diagnosticado com câncer de pulmão em estágio terminal, decide usar seus conhecimentos para algo mais lucrativo do que ensinar estequiometria pra um monte de adolescentes entediados. Ele, com sua mente brilhante que poderia ter ganhado um Nobel, começa a produzir metanfetamina com a ajuda de um ex-aluno viciado que estava no lugar errado na hora errada, Jesse Pinkman. Basta isso pra que a partir daí Mr. White degringole numa espiral que só desce num movimento que o título intraduzível da série é perfeito para definir. A série nada mais é do que a história de Walter White breaking bad. 

A desculpa inicial é a de que ele faz isso para pagar seu tratamento e deixar algum dinheiro para sua família caso ele venha a morrer. No entanto, a série não precisa avançar até a metade pra gente ver que esse rolo todo nunca foi sobre ninguém mais além dele mesmo, seu ego, seu orgulho, sua vaidade e sua sede de poder. Histórias de ganância me encantam e repugnam ao mesmo tempo, e é o princípio por trás de vários filmes que eu adoro, como Scarface, a trilogia d'O Poderoso Chefão, Goodfellas e até O Lobo de Wall Street. Gosto desse tema porque ele dá margem pra fazer um trabalho com os personagens de forma incrível, porque é um ponto muito nevrálgico em todo ser humano: revira a gente do avesso e mostra o que existe de mais podre por trás e que é tão fácil de se identificar. 

Não é à toa que tem tanta gente sentindo peninha de Mr. White até hoje ou - não sei o que é pior - alçando o cara a um pedestal de ídolo. Uma parte desse artigo da New Yorker sobre O Lobo, Gatsby e outras histórias moralmente ambíguas discute de uma forma interessante esse tipo de fã perigoso que essas obras podem formar. Enquanto maratonei a quinta e última temporada, a acompanhei as análises que o Pablo Villaça fez episódio por episódio e, depois que um cara comentou que o Walt era um coitado porque todo mundo se voltou contra ele (ORLY), ele escreveu um texto bem interessante falando sobre o nosso fascínio pelos vilões, cuja leitura eu recomendo bastante. O Pablo pode ser um cara azedo e pedante como poucos, mas a gente pode aprender bastante com ele. 


E aí tem essa música do Switchfoot, que é tipo um dos meus mantras existenciais, que fala sobre o que realmente importa na vida. A letra diz bem claramente: where's your treasure, where's your hope if you get the world and lose your soul? e isso é bíblico (e não deixa de ser relevante se você não crê na Bíblia). Breaking Bad é uma história de um cara conseguindo o mundo e perdendo sua alma, e consequentemente despedaçando todo mundo ao seu redor. Por isso que dói e incomoda tanto - e seria bem mais fácil se o Jesse não fosse o cara mais querido, carente e adorável do universo. 

Além dessa discussão sobre moralidade, que é impecável e a narrativa da série executa de uma forma que deixam os russos enterrados emocionados, o trabalho técnico dela é absolutamente sensacional. Eu adoro um simbolismo e a série é lotada deles. Nada está ali por acaso, da roupa que os personagens usam até a forma como eles estão posicionados em cena. A questão da série com as cores é algo que me emociona profundamente pelo cuidado que a produção tem com cada mísero detalhe e pelo modo como essas peculiaridades, que passam despercebidas aos menos atentos, dá pistas para o que vai acontecer em seguida. A forma como o vermelho, o roxo, e principalmente as sombras são trabalhadas em Breaking Bad é uma coisa que dá gosto de ver.  

Se eu tivesse que explicar Breaking Bad em poucas palavras, aliás, era bem isso que eu iria dizer: dá gosto de ver. Um gosto amargo carregado de sangue, lítio e assassinatos a sangue frio, mas que entrega exatamente tudo aquilo que a gente procura numa boa série de TV, independentemente do tema, e a minoria entrega. Breaking Bad é mesmo a melhor nova série de todos os tempos, e vai ser complicado levar qualquer outra coisa a sério depois dela. 


14 comentários:

  1. Eu comecei a assistir um pouquinho antes da série voltar das férias e partir para os últimos episódios. Também comecei a assistir porque muita gente falava que era sensacional, principalmente um menino do meu antigo estágio que colocava a série lá no céu. Eu fui assistir com todas as expectativas possíveis e olha...não achei issoooooo tudo. Concordo com tudo que você disse no post, o que mais admirei na série e acho que merece toda essa fama de "uma das melhores séries dos últimos anos" foi a parte técnica, que foi milimetricamente pensada: cores, edição, fotografia, locações, roteiro, etc. Mas a história em si não me envolveu, enrolei mais que a vida pra assistir, só a última temporada que me ganhou e valeu pela série toda.
    Eu admito que eu assistia só pra ver como o Pinkman ia acabar porque NÃO AGUENTAVA MAIS VER ESSE MENINO SOFRER! Que dó! Meu coração a cada episódio ficava triste junto com ele e ele tinha um coração enorme e não precisava passar por tudo que ele passou, se fosse eu, pediria pra morrer logo hahahahaha. E eu passei a odiar o senhor Heisenberg, e de coração, não consigo entender quem idolatra esse homem hahaha, eu sentia nojo dele. E a Skyler eu bato palmas, como a mulher conseguiu ir até o final aguentando esse homem e essa vida! Deu tudo que ela podia, de forma mais sensata possível e fez tudo pensando realmente na família.
    Uma série que eu acho que tem isso tudo de Breaking Bad e que o roteiro consegue te envolver totalmente, que você vicia, é House of Cards, que eu to é pasma! Vamos ver se vai terminar dignamente como BrBa terminou.
    Ufa, falei demais hahahaha. Beijo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Um dos motivos de eu ter escolhido estudar Química foi Breaking Bad. A série é sensacional como poucas conseguem ser, e o que mais me fascina é exatamente essa linha tênue de emoções que ela provoca em mim, entre o repugnante e o fascinante. Sou fã de Scarface, tenho a Família Corleone gravada no coração e não me conforme por O Lobo de Wall Street não ter ganho nenhum Oscar, então te entendo completamente. Sempre torço o nariz pra coisas novas que viram modinha da noite pro dia e demorei pra me render ao Mr. White, mas o encanto foi imediato, não só pela série como pela Química.

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  4. Eu comecei a ver Breaking Bad logo que ela começou e fui me apaixonando com o tempo. E por isso entendi a comoção de todo mundo quando a série bombou. Eu também não sou fã do que vira uma febre de uma hora para a outra, mas a verdade é que não foi isso que aconteceu. Demorou pelo menos três anos para que as pessoas começassem a falar de Breaking Bad, não sei bem porque.
    Eu tenho um amigo psicanalista que assistiu a série. A primeira vez que começamos a falar sobre o assunto ele me perguntou sobre a minha visão sobre os fatos. Quando dei minha visão ele suspirou e disse "ainda bem que tu pensa assim, tenho encontrado muita gente que não conseguiu compreender a série e acaba por sentir somente pena do Walter, sem conseguir entender o que realmente foi a motivação".

    Na verdade, ele estava fazendo uma análise minha, de graça uhauhauah, ainda bem que nesse quesito eu passei.

    Beijoo

    http://resenhandosonhos.com

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  5. Amiga, nunca tive vontade de ver essa série. Cê sabe né, da minha preguiça absoluta de encarar uma série nova. To encalhada no meio da décima temporada de Greys Anatomy, nunca passei do 4º capítulo de Gilmore Girls e nem da 2ª temporada de Glee e Gossip Girl. (Tenho alguma treta com séries que começam com G!). Mas ultimamente ando tendo mais vontade de me aventurar. Tenho pensado em começar Gossip de novo, e fico sempre torcendo para que Gilmore Girls entre no netflix. Mas o que eu realmente comecei foi Once Upon a Time, e eu SUPER recomendo. Adoro quem pira em cima de teorias de algo que já foi inventado há anos, e as piras que esse povo inventou sobre nossos conhecidos contos de fada é muito boa!
    Talvez um dia eu assista BB.
    Beijo!

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  6. Eu tô devendo começar essa série a todas as pessoas que me garantiram que é a melhor série da vida (ou, para as mais comedidas, dos últimos tempos) já faz tempo. Porque ela é mesmo unanimidade e todas as pessoas que eu conheço e assistiram, das mais diferentes entre si, ma garantiram que eu preciso ver. Assim que eu me convencer a assinar o Netflix, acho que também me convenço a assistir (mentira, já estou convencida).
    Posso aproveitar o espaço, já que você citou as histórias moralmente ambíguas, e esses personagens (ambíguos também) cheios de ego e vaidade pra indicar Mad Men, se é que você nunca tentou assistir? Série maravilhosa que vem nessa onda que prova que tv hoje é, em várias ocasiões, tão requintada quanto o cinema, texto incrível, atuações lindas, um personagem central que amamos odiar e às vezes até odiamos amar - nem vilão, mas nem de longe um herói, Don Draper é um dos personagens mais interessantes que eu já acompanhei até agora, mesmo que ele me encha de raiva toda hora (a série também é da AMC, talvez isso diga alguma coisa? E, além de tudo, boas personagens femininas). Enfim, de repente você detesta, mas acho que vale a tentativa.
    Ah, e, os fãs de Breaking Bad ~precisam~ ser elogiados. Já faz um tempão que a série chegou ao fim e ainda não vi spoilers do final por aí (e olha que eu acompanho muitos fãs da série no tumblr). É uma raridade.
    Beijo!

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  7. Breaking Bad é, com o perdão da palavra, foda. Foram pouquíssimas as séries que mexeram tanto comigo, que me fizeram passar o final de semana inteiro sentada no sofá sem conseguir desgrudar o olho da TV.
    Tudo nela é extremamente bem feito e bem pensado, desde a escolha dos atores até a composição de cores dos figurinos, cenários e objetos de cena.
    E tem o Jesse, né? Fiquei meio apaixonada por ele.
    Enfim, é exatamente o que você disse, é uma série que dá gosto de ver.

    Beijos!

    Ps: Sim! Sou Carol do Pensamentos Traduzidos e voltei a bloggar depois de muito tempo de saudades dessa vida. hahahaha

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  8. é inexplicável meu amor por esta série, que obriguei meu namorado a assistir comigo, só pra eu revê-la toda, e olha, na segunda vez a gente percebe detalhes que tinha deixado passar.
    Eu tb adoro os filmes que vc citou, amo a temática máfia, acho bem rica (sem trocadilhos).
    E como não amar Jesse? E como não torcer pra ficar tudo bem com ele e imaginar que aquela fuga foi pra um lugar melhor, um lugar que ele mereça.
    E meu sentimento pelo Mrs. White ia do amor ao ódio.
    Sem falar ainda da aula de cinema que esta série dá;

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  9. Ainda não assisti essa série por motivos de #pudim. Papai assistiu inteira em umas duas semanas (nota-se que ele tem bastante tempo livre), E ME CONTOU UM SPOILER, mas que eu já tinha obviamente imaginado que ia acontecer. Mas agora que você indicou, como não?

    Assim que acabar Sherlock, vou botar na lista para assistir com MB.

    Beijo!

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  10. Eu sou super, mega, hiper suspeita pra falar porque eu amo Breaking Bad. Eu não vou superar essa série nunca. Nunca mesmo. Fiz algumas reviews chorosas dos oito episódios finais, ano passado, e eu não lembro de ter uma experiência tão emocionalmente estressante slash gratificante assistindo um seriado como tive com BrBa.

    A série É tudo isso. Tudo na série é bem construído e trabalhado. As atuações são impecáveis. A direção, então, nem se fala. Fotografia? Menos ainda. Não é à toa que Breaking Bad virou quase uma religião televisiva e eu chego pra todos os amigos, conhecidos e parentes (fiz meu pai viciar) com a frase: "Tu já assistiu Breaking Bad? Porque... *sermão de como a série é boa*".

    Fico feliz então quando as pessoas dão uma chance e percebem que a série merece todo o hype, fuzoê e barulho que teve e fez no ano passado (e vai continuar fazendo, pra mim, por muito tempo). :3

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  11. Comecei a primeira temporada e me interessei, mas achei muito parado, aí estou esperando as férias para terminar de ver! Estou curiosa pra saber em que momento ela fica tão genial quanto todo mundo fala! hahahaa
    Gostei da tua resenha!
    Abraços!

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  12. Meu marido estava assistindo, nem sei se já acabou...nossa, ele achava o máximo, eu achava super, hiper ultra chata, vou te dizer...assisti alguns episódios e parte de outros e não me prendeu de forma alguma. Muita gente falando super bem, mas para mim não deu, não rolou...gosto é gosto né?
    bjs

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  13. Eu demorei para assistir, e terminei exatamente na semana do último episódio. Também tenho esse certo preconceito do que todo mundo fala que é isso e aquilo, mas acabei cedendo e não me arrependo. De longe, uma das melhores séries que já vi.

    Um beijo,
    Re

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  14. chateadíssima porque eu iria fazer um post sobre breaking bad, que coincidentemente eu tinha o mesmo "pré conceito" que você (o medo dever e se decepcionar e etc).
    Ai,m mas essa série é magnífica! Ainda não terminei de ver, mas conto os minutos pra chegar em casa e ficar de olho na tela haha

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