segunda-feira, 20 de abril de 2015

Então eu fui no show da Fresno

Eu, meu piercing no nariz, minha mecha rosa no cabelo (que agora são várias), dois amigos, e uma sensação de que já estou velha demais pra isso. 

Às cinco e meia da tarde de quinta, o dia do show, eu estava caída numa grama aleatória da UFU. Sabe quando você simplesmente cansa e resolve se jogar um pouquinho no chão? Pois é. Eu já tinha acordado cedo, trabalhado em casa, feito as unhas, apresentado trabalho e aguentado uma aula que parecia não acabar nunca, com um professor fazendo conjecturas sobre um texto chato que eu nem tinha lido, e ainda tinha uma reunião com minha orientadora antes de ir pra casa. Mas, saindo da sala de aula, dei de cara com um fim de tarde lindo de outono, com um céu azul sem nuvens, com o sol e sua luz incrível e com um vento quase frio, típico desses dias. Parecia uma afronta seguir pra outra sala fechada e deixar o dia ali acontecendo, lindo de morrer, de modo que deitei na grama e esperei a fadiga passar.

Ali, olhando o céu, eu pensava MEU DEEEEEUS EU AINDA TENHO UM SHOW PRA IR  E NÃO SEI NEM SE CONSIGO ANDAR ATÉ A SALA, QUERIA ESTAR MORTA. 

Às seis e meia da tarde, eu cheguei em casa esbaforida e descobri que já tinha fila na porta do lugar. E eu jurando que ia conseguir dormir uns quarenta minutos antes de sair. Ha. Ingênua. O problema não é você fazer todo um trabalho espiritual pra resgatar sua adolescência, não é pagar pra furarem um buraco no seu nariz e nem pintar o cabelo com uma tinta que cheira chiclete. O problema é que você faz isso tudo mas continua tendo 21 anos no mundo real, ao contrário dos jovens de 15 que tem tempo e energia pra ficar fazendo fila em porta de show antes da casa abrir. Não dá pra competir com isso, por mais bonitos que sejam a minissaia e o coturno que você comprou aos  16. 

Eu tinha sonhado um sonho bem lindo de pegar grade, roubar palheta e deixar o Lucas suar na minha cara, mas eu já estava tão cansada que pensei que se não desse tempo de chegar cedo pra ficar pertinho do palco eu ia arranjar um banquinho no fundo, perto do bar, e ia me contentar em simplesmente ouvir o show tomando uma caipirinha, sentada e feliz. 

Às oito e meia da noite, quando chegamos no lugar, a fila tinha acabado de começar a andar. Devagar, porque essas coisas nunca são rápidas quando a gente precisa, mas não o suficiente pra eu sentir necessidade de me sentar na calçada mesmo estando de saia. Claro que antes disso eu consegui esquecer meu ingresso em casa (!) e tive que ir literalmente correndo buscar antes do táxi chegar, e depois minha amiga esqueceu o ingresso em casa (!!) e teve que entrar num táxi pra ir lá buscar (Sério, quais são as chances de duas pessoas esquecerem o ingresso na mesma noite? Descubra saindo comigo), mas vou poupar vocês do drama (!!!) e pular pra parte em que eu tomei energético de guti-guti, pois só se é jovem uma vez e a minha claramente já passou. 

No entanto, felizmente, Penny Lane, minha santa pagã padroeira das groupies, ouviu minhas preces e o ambiente onde o show aconteceria só foi liberado depois de todo mundo entrar, de modos que quando aquela porta abriu ninguém era de ninguém e os jovens que passaram a tarde tumultuando a porta do recinto puderam fazer um tsuru com seu papel de trouxa enquanto disputavam espaço comigo perto do palco. 

PARECE QUE O JOGO VIROU Ñ É MSM??
A viagem no tempo de volta pra 2005 começou bem antes do show, com Fall Out Boy e The Used saindo das caixas de som. Me senti numa festa do Hangar 110 que nunca frequentei, mas curtia pacas. Não sei se era ansiedade, adrenalina ou aquele energético batendo, mas aos poucos o cansaço nas pernas e na cabeça foi sumindo e eu já queria mais espaço pra bater cabelo e estava até cogitando pular de mãos dadas com o cara escroto que não parava de me empurrar caso tocasse All The Small Things - coisa que feliz ou infelizmente não aconteceu. O que na verdade aconteceu e me fez ignorar todo o resto da festa foi que, ao olhar pra cima, eu vi o Lucas no andar de cima. 

Oh sugar, we're going down. 

Antes de ser fã da Fresno, eu já era fã do Lucas. Aliás, mais correto seria afirmar que eu só comecei a ser fã da Fresno por causa do Lucas. Sendo bem honesta, o som deles nunca foi minha vibe, mesmo na época em que eu passava lápis preto no olho pra ir pra escola, e sempre me incomodei muito com a necessidade que eles tinham de soar como o Copeland ou o Anberlin quando sempre tiveram potencial pra ser muito mais que isso. Mas aquela era a banda do Lucas, aquele cara que escrevia coisas tão legais, cujos rascunhos de Fotolog eu vi virar música, a banda que o Lucas montou com o Tavares na época da escola, o sonho adolescente deles de ser rockstar. 

Antes de qualquer coisa, eu estava lá por ele. Por ele e por mim, a garota que anos atrás achava que ele era o cara mais legal do mundo - e que até hoje, de vez em quando, tem umas recaídas. Eu devia aquele show pra mim mesma há muitos anos, e finalmente era chegada a hora de acertar as contas. Então, quando o Lucas apareceu com sua mochilinha nas costas e deu um tchau tímido pra gente, eu fiz o que eu teria feito se ainda estivéssemos em 2007: gritei horrores. Que delícia ter 13 anos. 

eu fui a menina de casaco vermelho à esquerda em 100% do tempo
O show que a Fresno fez em Uberlândia naquele dia 16 faz parte da turnê "O começo de tudo", cuja proposta é tocar só músicas dos três primeiros discos da banda. Não sei o que poderia ser mais simbólico pra esse meu revival adolescente do que isso, porque não era só pra mim que aquele era um momento de nostalgia e celebração de tudo que fomos um dia e que foi tão bom enquanto durou. Em determinado momento do show um cara foi pedido em casamento, e embora tenha ficado evidente que a namorada só fez aquilo pra que ele tivesse a chance de subir no palco e abraçar a banda, com casório ou não aquilo foi solene pra todo mundo, e a sensação que eu tinha era que todas as pessoas estavam ali tendo o show da vida delas, ou pelo menos de uma parte muito importante da vida delas. 

Essa comoção coletiva é uma coisa que só a música traz pra gente, e não importa o gosto do freguês, se é a Fresno, o Paul McCartney ou o Black Eyed Peas em cima do palco - o que faz diferença é a emoção do momento, tanto de quem toca como de quem assiste. Naquela quinta, todo mundo estava muito feliz por estar ali, e isso se fez sentir do começo ao fim do show.

Aliás, muito engraçado estar tão feliz num show com músicas tão deprimentes. Eu balancei os braços feliz da vida gritando que EU PUDE VER O SOL DESAPARECER DO SEU ROSTO, DOS SEUS OLHOS, DA SUA VIDA, dei pulinhos cantando NÃO-CHO-RA-NÃO-CHO-RA, e foi ao som de Se Algum Dia Eu Não Acordar que o Lucas pediu que a gente abraçasse os amigos que conhecemos graças ao róque e que estão aí até hoje. Imagina se um dia eu não acordar, quem vai puxar assunto com você? Quem vai mentir que você é legal? Imagina se um dia eu morrer, bem o tipo de papo saudável que todo amigo bate de vez em quando. Que fase. 

Como tinha que ser, Duas Lágrimas, a minha música, foi absolutamente tudo que eu esperava depois de tantas vezes ter dado replay nessa apresentação aqui, e eu, que tinha me lamentado tanto ao longo da semana por não estar conseguindo fazer uma imersão na banda, como sempre faço às vésperas de algum show, percebi que ainda lembrava de todas aquelas outras letras e bastava ser levada pelo calor das pessoas cantando pra lembrar de tudo. Eles mandaram um "OOOHHH MINAS GERAAAIS" em determinado momento, mas eu já sabia que vinha Stonehenge depois. 


Nunca esperei que um show acústico pudesse ser tão enérgico. No começo achei esse detalhe bem chato, pois a moeção™ sempre foi uma das coisas que mais curti no som da banda. Embora tenha sentido falta de ver o Lucas com sua guitarra branca maravilhosa, as pessoas pulavam e cantavam tanto que mal parecia que os plugs estavam desligados. A gente foi maré viva pra caramba, e quando o Lucas finalmente ficou de pé e abriu os braços, pra fechar o show com Sono Profundo (a última música do primeiro CD pra fechar o show que começou com a primeira música do primeiro CD), tudo que se sentia era a energia de uma banda que, independente do som que faça, o faz com muito respeito à música, muito amor e sempre se divertindo muito. Em troca, do nosso lado tinha a energia das pessoas que levaram muitos anos pra estar ali e, independente do sentido que aquelas músicas façam hoje, se é que ainda fazem algum, elas fizeram um dia, muito, e a gente estava ali pra celebrar e viver aquilo de novo. 

Às duas e meia da manhã, eu estava em casa, sem conseguir dormir. Sem maquiagem, sem sapato, e finalmente sem hora pra acordar, eu já não queria mais a cama com a qual passei o dia todo sonhando. Do contrário, com os fones de ouvido eu pulava pela sala ouvindo Logo Você (VOCÊ SENTE AO ME VER O QUE EU SINTO POR VOCÊ OU NÃO SENTE MAIS NAAADAAA??) e querendo que aquela euforia durasse pra sempre. Não sei se foi a adrenalina, o energético ou o que quer que seja que exista de tão especial no ato de se realizar um sonho - ainda que com uns anos de atraso. No fundo, a gente nunca fica velho demais pra isso. Que delícia ter 13 anos.

P.S.: Tavares, eu nunca te esqueci.
P.S.S.: Sem fotos do baile porque não encontrei as profissionais na internet (aô berlândia).

8 comentários:

  1. Hahahaha ANA! Não sou fã da Fresno mas sou fã e entendo muito bem esse sentimento. É assustador pensar que sua época (a ~adolescencia~) passou e que tem uma galera tão jovem e empolgada vindo aí mas ao mesmo tempo me sinto muito mais conectada aos meus ídolos, hoje com 21 anos, parece que eu os entendo melhor, que somos amigos, sei lá. É estranho, né? Hahah Mas acho que faz parte de ser fã.

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  2. Amiga, essa sua série de posts sobre essa fase adolescente estão maravilhosos. Poesia e comicidade em um equilíbrio mágico, que chora falando de sonhos e, ao mesmo tempo, morre de rir porque conseguiu ficar na frente e fez os adolescentes que estavam na fila fazerem tsuru com papel de trouxa, HAHAHA.
    Te amo!

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  3. "PARECE QUE O JOGO VIROU Ñ É MSM??" HAHAHAHAHAHAH Mas que trolagem ter fila à toa.

    Texto espetacular!

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  4. Só queria dizer o tanto que cê me representa quando escreve sobre essa adolescência tardia, mas vou tentar fazer um pouco mais que isso. Porque eu também queria estar morta no dia do show. O caso era tão grave que eu cheguei a considerar a possibilidade de não ir, ficar em casa agarrada com meu edredom, e fiquei com ódio de mim mesma por ter me metido em tamanha cilada. Mas só foi eu colocar meus pés naquela confusão que meu deus eu tinha 14 anos de novo, e ai como é bom ser adolescente. Eu também nunca esperei que um show acústico pudesse ser tão bom. Tinha aquela ideia do povo sentado, tudo bem calmo, no máximo umas palminhas e uns gritinhos histéricos, mas não. Foi maravilhoso. Foi tão bom quanto o show que eu assisti 8 anos atrás, com guitarras e Tavares (sdds). Teria sido melhor se eles tivessem tocado Polo? Cacete, sim. Sdds Tavares sem camisa e cheio de tatuagens? Sdds pra caralho. Mas foi lindo, saí de lá achando o Lucas lindo mesmo com aquele cabelo horroroso dele e sei lá, acho que voltei mesmo a ser adolescente.

    beijo, meu amô <3

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  5. Ai, Anna. Tsuru de papel de trouxa. HAHAHAHAHA
    Meu negócio com a Fresno é cilada antiga. Já fui em vários shows dos caras -- todos maravilhosos. Já fui mais viciada também, até porque hoje em dia nem escuto mais. Mas lembro que no começo de Março eu e meus amigos, numa vibe meio sonada, meio não temos nada melhor pra fazer, começamos a procurar músicas no YouTube pra ficar cantando. Fresno tava no meio. Cantamos/berramos muito e falamos "queria tanto um show da Fresno". Menos de um mês depois eles anunciaram show em um dos únicos dois lugares que frequento na minha cidade. Piramos, obviamente. E nós e mais todo mundo que tava naquele show (tá, quase todo mundo) saímos dos vinte e tantos anos pra terra dos quinze e foi demais. ♥

    Fico feliz por tu ter curtido.

    Beijos!

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  6. Não sou fã de Fresno, talvez só conheça uma única música. Mas fui obrigada a vê-los numa abertura do show do Bon Jovi aqui em Sampa! Mas aventuras adolescentes: tô dentro! Daqui um mês, pós show do BSB, devo fazer um post contando como foi! Mal posso esperar!!!

    Beijos

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  7. Pitty vai tocar na minha cidade natal, na festa do aniversário da cidade, na qual eu vou (quase) todo ano, religiosamente, desde o show do Netinho (sim, o da Bahia) em 1998. Um dos meus sonhos adolescentes era ir a um show da Pitty, desde que assisti um deles no Multishow, na época em que eu colocava Admirável Chip Novo no repeat. Ir a um show dela era um débito com meu eu adolescente, igual você com Fresno. Por isso, quando comentei isso com o Lu, meu namorado, ele lembrou de você imediatamente. "Igual aquela sua amiga de blog, a Anna!" Era este post que ele tinha lido. Antes de mim, porque sou dessas que acumula centenas (literalmente) de textos pra ler e não dá conta de tudo.

    Foi uma delícia ler teu post, como sempre. Entendo demais seu sentimento e estou esperando acontecer algo parecido comigo daqui a 9 dias (#contagemregressiva). Nada melhor que um show de rock pra despertar o nosso eu adolescente <3

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