sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Diário de viagem: quando chove no Rio de Janeiro

Para ler ouvindo:


Diz-se por aí que casa é onde nosso coração está, e foi pra sentir o meu batendo perto de mim que no último feriado voltei ao Rio de Janeiro. Minha relação com essa cidade é tipo a música da Vagabanda: eu posso tentar te esquecer / mas você sempre será / a onda / que me arrasta / que me leva / pro seu mar, com a pequena diferença que eu nem tento esquecer o Rio. Mas aí acaba o dinheiro e as milhas aéreas, mas eis que surge no meu caminho um oportuno congresso acadêmico, com ônibus gratuito oferecido pela universidade. Com uma perspectiva de doze a quinze horas de viagem, de bom grado fui pois só se é jovem uma vez (e há de se tirar proveito disso em algum momento). 

A parte ruim é que choveu e fez """frio""" todos os dias. A boa é que descobri todo um outro nível de amor pela cidade, pois nem isso me tirou a alegria de estar ali - e é absolutamente adorável ver os cariocas de jaqueta de couro e botas quando faz 23 graus lá fora. 

Cheguei já levando truque de taxista, porque não existe jeito melhor de pegar a atmosfera do local. Era um senhorzinho fofo, ouvindo rádio gospel, pensei: não é essa criatura de Deus que vai ludibriar esses jovens amassados e cheios de malas, não é mesmo? E foi assim que fui parar no morro da Babilônia. Ha. Ingênua. Como alguém pensa que um prédio localizado em frente a uma estação de metrô pode ficar no alto de uma ladeira é algo que meu entendimento ainda não compreende. Depois de momentos de tensão e hostilidade, brigamos pelo preço, afloramos os ânimos, e as malas foram praticamente jogadas na calçada. 

Ah, o Rio!

cariocas não gostam de dias nublados
Depois de nos instalarmos no nosso novo lar (me sinto tão adulta alugando apartamentos em cidades estranhas)(mas ainda acho muito estranho que deixem a gente assim, sem supervisão), almoçamos na orla de Copacabana e de lá fui direto encontrar minhas pessoas. Passei o dia na Livraria Cultura da Cinelândia na companhia de Gabriela Couth, Giuliana Rebeca, e a princesa Milena, a maior carioca do mundo refugiada em São Paulo, que por uma feliz coincidência estava na cidade. Pessoas normais (meus amigos da faculdade) acham estranho a ideia de se passar a tarde inteira numa livraria, mas, sério, não tem como escapar daquele lugar. 

O xodó do Brasil é a Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, que, sim, é impressionante, linda e enorme. Mas a do Rio fica num prédio que era o antigo cine Vitória (não faço ideia do que isso significa, mas aparentemente é uma informação importante), no centro do Rio de Janeiro. Você sai do metrô, dá de cara com o Teatro Municipal, e vai andando pelas ruazinhas até chegar naquele prédio incrível em art decó, com piso antigo, a estrutura toda preservada, e livros, livros, milhões de livros. Faltam os famosos pufes com Conjunto Nacional, mas não existe nada mais convidativo que as almofadas e o carpete da seção infantil, um lugar pra se deitar e rolar a tarde inteira enquanto folheia livros caros demais pra levar pra casa. 

Dessa vez preferimos ficar no café comendo doces e incomodando as pessoas, o que é uma opção igualmente válida. Imagem forte a seguir.


No início da noite, encontramos doutora Paloma no metrô e voltamos para Copacabana, para encontrar doutora Deyse Filgueiras, outra feliz coincidência da viagem. Quais as chances de eu e minha amiga maranhense que eu não via desde maio do ano passado marcamos viagem pro mesmo lugar, no mesmo feriado? Acontecem coisas no Rio de Janeiro. A ideia era irmos ao Pavão Azul, uma atração imperdível da cidade de acordo com o conceituado blog Pudding, mas estava bem cheio e a garoa não era muito convidativa à proposta de ficar na calçada. Fomos, então, ao Cervantes comer sanduíches sem abacaxi e brindar o aniversário da Beyoncé (!) com a caipirinha mais forte do mundo (recomendo a todos). 

Como se não fosse suficiente, fomos para a praia beber mais caipirinhas. Parecia uma boa ideia no momento, como me pareceu extremamente apropriado na volta pra casa aceitar ir com os amigos para a Lapa, mesmo estando eu já alcoolizada (ou talvez justamente por isso), molhada de chuvas diversas, de short e chinelo mesmo com todos saindo de sobretudo e meia-calça. Momentos. Me aprontei em dois minutos e logo estava diante dos arcos da Lapa, desconfiada que já tinha tomado decisões mais sábias na vida.


Queria ter algo incrível a dizer sobre uma das noites mais famosas do Brasil, mas a verdade é que não aproveitei nada porque é difícil aproveitar quando se está numa turma de quinze pessoas, à meia noite, numa sexta de feriadão no fervo carioca, depois de andar o dia todo e ter passado a noite num ônibus. Eu só queria sentar. De longe parecia tudo muito legal e todos muito bonitos, e um dia eu volto lá pra contar essa história, mas passado o efeito das pingas aceitei a derrota, entrei num táxi e fui pra casa dormir - um grande clássico da minha vida.

Sábado foi dia de aproveitar a cidade com os amigos. Estava oficialmente friozinho, de modo que trajando uma calça jeans (SHAME) fomos conhecer Ipanema. Eu já tinha conhecido a praia em outra oportunidade, mas nunca passeado na orla, com calma, pelo calçadão. Encontramos um quiosque simpático onde comemos uma quantidade absurda de camarões enormes, e um peixe frito que, segundo o garçom, é o favorito do príncipe Harry. A informação carece de fontes concretas, mas algo em mim gosta de saber que eu e ele agora temos esse vínculo em forma de ômega 3 e óleo de fritura. 

De lá fomos tomar sorvete na Vero, outra recomendação certeira da Couth, e eu pude matar as saudades do maravilhoso sorvete de caramelo com flor de sal (sim, você leu certo). Além dos tradicionais, a sorveteria tem vários sabores bem diferenciados (e maravilhosos), e dessa vez experimentei também o de limão siciliano com lavanda. Invejosos dirão que tem gosto de Bom Ar, eu achei sucesso. 

A ideia era aplaudir o dia nublado no Arpoador e depois andar pela praia até o Leblon, mas fomos surpreendidos pela chuva e eu nunca fui tão humilhada na minha vida como no momento em que passei na porta do Fasano embrulhada na minha canga de bolinhas pra tentar salvar meu cabelo da chuva. Momentos, queridos, momentos.



encontre a mineira da foto (dica: é a pessoa que pisa na areia descalça mesmo estando ela molhada)


Domingo fui com Paloma, Couth, MB e Mimi na Bienal do Livro. Em comparação com a de São Paulo, achei a do Rio mais agradável, pelo simples motivo que não estava tão cheia e era possível circular pelo lugar, missão um pouco complicada lá em São Paulo. Apesar de ter passado o dia por lá acho que andamos pouco, porque não visitei a maioria das editoras até porque estava pobre pobre pobre de marré marré marré e os preços estavam absurdos e não vi a Jout Jout, mas mesmo assim me diverti explorando as baciadas de promoção com Paloma, comprei meu primeiro Alice Munro, e ainda consegui ir na sessão de autógrafos da Capitolina (um corredor polonês de meninas maravilhosas, com os livros passando de mão em mão, e ficando lindos, rabiscados, e cheios de amor no caminho). No fim das contas, acho que valeu a distância percorrida (MEU DEUS COMO É LONGE).

Por fim, na segunda, não podia ir embora sem visitar a Urca, provavelmente o lugar que faz meu coração bater mais forte em todo o Rio de Janeiro. Mesmo quando eu só conhecia a cidade por fotos, as da Urca eram minhas favoritas, e sempre que estou lá sinto algo diferente, tanto pelas lembranças acumuladas, como pelo fato de ser tudo lindo de um jeito especial.


na igreja Nossa Senhora do Brasil, aka capelinha do Roberto Carlos

as fotos na Urca são do migo talentoso Felipe Flores
Dessa vez ainda consegui dois feitos nobres: o primeiro foi vencer o Bar Urca em horário de almoço no feriado, me pendurando no balcão e negociando minhas empadas aos berros com os atendentes, mais carioca do que nunca. O segundo foi que FINALMENTE consegui encontrar as Bragas, Sarah, Debs e Ester. Seria meio ridículo ir ao Rio de Janeiro pela quinta vez e não conseguir sair com elas. Foi rapidinho, mas valeu totalmente a espera.

Quanto ao congresso, risos, dizem que foi bom. Da minha parte, só posso dizer que o Rio de Janeiro continua lindo.


Saldo da viagem:
Cariocas conquistados: 0 (uma baixa horrível nas minhas estatísticas)
Dias em que fiquei bêbada: 2
Dias em que o cabelo colaborou: -4 (não apenas não colaborou como fez questão de ficar completamente cagado todos os dias, a umidade relativa do ar é um conceito distante)
Dias em que tomei chuva: 3
Livros comprados: 2 (autocontrole, teu nome é Anna Vitória)
Reais gastos inconsequentemente: R$3689060555,58
Etapas concluídas no curso sequencial de carioquização: 3 - disputar uma empada no Bar Urca, andar por Copacabana sozinha sem me perder, levar trucão do taxista (mas perceber antes de ser muito tarde)

14 comentários:

  1. tuas fotos do rio quase me fazem gostar mais daqui, hahaha. (: fiquei tão feliz de ver vocês e abraçar vocês e autografar vocês, mesmo que rapidinho! ,3

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  2. sei que não é o foco do blog, mas tenho muita vontade de ver look do dia seu, adoro suas roupas hauhauha it girl :*

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  3. Não grita comigo, mas moro aqui, tô de férias e acho o Rio superestimadíssimo. Eu fiquei caçando várias coisas pra fazer nesses 10 dias de férias e não vi muita graça. Mas, né, o tempo fechou um pouquinho e eliminou as praias e alguns eventos ao ar livre.

    Mas eu ri TANTO dessa sua foto na praia de casaco HAHAHAHAH Gótica suave total.

    É totalmente uma falha de caráter minha não amar a cidade. Você deve conhecer o Rio melhor que eu, sério. Eu só vou conhecer os museus, pontos turísticos etc quando vem alguém de fora e me leva junto.

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  4. Logo logo vou poder carimbar seu diploma no melhor curso sequencial que esse planeta já viu. Mas, antes, Lapa comigo. Isso é uma promessa.


    PS: QUE LINDA ESSA SUA CARA <3

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  5. Nunca tive uma vontade louca de conhecer o Rio, mas seu amor pela cidade é contagiante :D
    Essas fotos ficaram muito lindas, principalmente essa que tu tá sozinha de cara amarrada com a praia ao fundo: tá perfeita, sério hauhauahauah

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  6. Ah, o Rio é uma coisa linda! As paisagens, a música tão presente, a galera de bem coma vida. É uma lindeza.
    Mas preciso te dizer uma coisa, a forma como você escreve é super cativante e empolgante. Parabéns! Não só gostei daqui, como voltarei mais vezes.

    http://musicpoesiaeblablabla.blogspot.com.br/

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  7. Já ouvi falar muito da cidade maravilhosa mas ainda não a conheço e nem sei se vou conhecer.. Sou mais de lugares mais tranquilos e reservados do que o fervo do Rio.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  8. Anna sendo uma gótica suave urban conceitual nas praias do Rio de Janeiro
    Eu que nunca nem sai de SP fico imaginando como é sair daqui e que coisa maravilhosa deve ser

    Novembro Inconstante

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  9. Amiga, você voltou do hiatus em grande estilo, que post delicioso - e cômico. COMO ASSIM você nem foi ao Congresso? HAHAHA. Amo você e Palo que inventam viagens "para assuntos sérios" e acabam desistindo de propósito para foliar com A Gente. Totalmente válido, inclusive tô aqui sentada esperando cês inventarem congressos em Curitiba. Tava aqui aguando de amor e vontade estar com vocês todas. Poxa, você, Dede e Mimi em terras cariocas ao mesmo tempo foi demais para o meu coração, mas obviamente fiquei acompanhando e me senti parte de tudo.
    Te amo! <3

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  10. Que post maravilhoso, que saudades do Rio de Janeiro, que saudade d'A Gente. Não sei lidar. AMO que você nem foi ao Congresso, melhor tipo de pessoa, e obviamente estou providenciando uma calça parecida com essa que você usou na Urca porque como se não bastasse me influenciar a comprar uma blusa listrada (sim), agora você é o tipo de pessoa que me influencia a comprar calças maravilhosas também. Que excelente a vida me dando de presente uma amiga incrível and estilosa (odeio essa palavra, me avise se tiver uma melhor).

    te amo <3

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  11. no dia dos autógrafos, eu fiquei um tempão olhando pra você pensando "será se é anna vitória?!", mas rolou uma vergonha de perguntar hahaha estou aliviada por ter descoberto que consigo reconhecer em três dimensões pessoas que só vi nesses ícones miúdos das redes sociais.

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  12. Genteeeeee, como até agora eu não vim aqui e comentei nesse post? Que calúnia!
    Só posso dizer que foi maravilhoso conhecer mais uma pessoa de mundo lindo que é a blogosfera, apesar de toda minha timidez e etc haha.
    E espero que chegue logo o dia que a senhorita venha pra cá de vez para poder passar mais tempo e fazer mais passeios com as Bragas.
    Beijooo ♥

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  13. Ai Anna! Desde que você postou esse texto tô tentando vir ler, e sempre esqueço. Hoje vim, finalmente. Não sei mais lidar com a minha saudade dessa cidade e olha que só fui uma vez. :/
    Na minha semana teve dias de chuva também e o usamos para: Gabinete Real de Leitura, Centro, Niterói e Confeitaria Colombo.
    Mas teve também o dia que estávamos de bicicleta e começou a chover e foi incrivelmente bom.
    Não dá pra não se apaixonar com o Rio, mesmo com chuva.

    (fotos lindas e seu cabelo estava sim maravilhoso.)
    Beijão.

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  14. queria saber lidar com essas tuas fotos na urca mas não to conseguindo

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