terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Guia conversacional para garantir a sobrevivência nas festas de fim de ano

Antes de prosseguirmos com a entrega de prêmios do prestigiado So Contagious Awards, queria bater um papo com vocês. Devido aos acontecimentos políticos do ano, tenho percebido as pessoas mais desesperadas do que de costume com a perspectiva das festas de família e confraternizações diversas que marcam o fim de ano. Porque família é aquela história: não importa de que lado você esteja, sempre tem um tio, uma tia, o avô, a mãe ou o irmão que vai discordar de você. O mesmo vale para colegas de trabalho, amigos dos seus pais ou qualquer um que se encaixe naquele grupo de pessoas com quem você é obrigado a interagir de vez em quando e manter as aparências. 

Sempre vai ter alguém pra discordar de você de forma bem desagradável, seja baseando suas opiniões em dados recebidos via correntes do Whatsapp ou simplesmente defendendo com muita convicção uma coisa que vai diretamente contra algo que você defende com igual convicção. Além dos debates indesejáveis, essa época também é cheia daquilo que considero minha nêmesis pessoal: as perguntinhas. E os namoradinho? E os empreguinho? E as criancinha? E os futurinho? São aquelas perguntas que se faz para puxar assunto, mas que são carregadas de cobrança velada. Eu gosto de acreditar que muita gente é só sem assunto mesmo e não faz ideia de como uma pergunta do tipo pode deixar desconfortável alguém que ainda não tem a vida toda no lugar (tipo, TODO MUNDO), mas isso não muda o fato de que são questionamentos que, sim, deixam muito desconfortável uma pessoa que ainda não tem a vida toda no lugar, porque de acordo com os padrões da Sociedade a gente nunca vai ser suficiente e sempre vai existir algo para estar fora do lugar.


O nome disso é vida em sociedade. Seja bem-vindo. Às vezes é uma bosta. 

Pensando nisso, vim compartilhar com vocês algumas habilidades que fui adquirindo ao longo de anos de convivência em uma família que, de um lado, diverge de basicamente todos os meus posicionamentos políticos, e, de outro, não convive comigo o suficiente para ter algo mais interessante para perguntar do que sobre meus namoradinhos, meus empreguinhos, e meu futurinho - que nunca parecem bons o bastante. Apesar disso, são boas pessoas, ótimas até, gente que eu respeito e gosto o suficiente para não querer discutir, brigar, apontar dedo e cortar laços. Sendo assim, é preciso encontrar um ponto de equilíbrio para c o n v i v e r (ao fundo, Imagine, do John Lennon, começa a tocar) ou simplesmente manter a sanidade mental.


Esse guia não é para pessoas que querem mudar o mundo. Esse guia é para pessoas que querem dois minutos de paz e tranquilidade na vida, porque é Natal e isso tem que servir para alguma coisa. Nós vamos mudar o mundo eventualmente, mas depois do carnaval, por favor, que 2015 não perdoou ninguém.

1) Vale a pena discutir?

Na maioria das vezes, não. Antes de estralar os dedos, suspirar, e mandar aquele mas eu acho muito engraçado que... coloque a mão na consciência e pense se esse argumento exaltado vai te levar para algum lugar. Vá além: pense se essa conversa vai levar vocês pra algum lugar bom, porque a maioria dos debates acalorados na mesa de almoço só leva para uma discussão sem fim em que ninguém quer realmente discutir, mas sim provar a todo custo que se está certo. É manjado, é brega, mas às vezes é real: você prefere ser feliz ou ter razão? Amigo, se você prefere ter razão vai fundo, mas eu só quero comer minha farofinha e assistir o especial do Roberto Carlos em paz. Por isso, sou uma fiel usuária da técnica do hahaha verdade, verdade. 

Segue explicação:

2) Sorria e acene 

Outra técnica que uso bastante é a do sorrir e acenar. Mais do que implicar que você precisa necessariamente sorrir e acenar (dependendo da situação pode ser meio estranho), ela sugere que você apenas não esboce reação alguma enquanto ouve barbaridades mil. Foi assim que eu agi, por exemplo, quando no ano em que passei no vestibular a mulher do meu tio me levou pra tomar sorvete e passou o tempo inteiro me convencendo de que Direito era o caminho que eu deveria escolher quando percebesse que o curso de Jornalismo era uma piada. Sorri, assenti educadamente sem dizer nada. Se seu interlocutor for muito equivocado e realmente te tirar do sério, experimente revirar os olhos discretamente ou deixar claro no seu semblante como você está desconfortável com aquela conversa, mas por um bem maior prefere manter as aparências (vide passo número 1).

Caso ajude, em momentos assim costumo cantar mentalmente My Favorite Things enquanto penso no doge dançarino ou no Harry Styles de terno florido.

hahahahahah não

3) Tenha uma resposta automática padrão

Quando questionada sobre os namoradinho, os empreguinho, e os futurinho, principalmente sobre os dois últimos, tenha uma resposta padrão para dar para todas as pessoas, mesmo que ela não seja necessariamente verdadeira. Veja bem, estou passando por esse período dramático na vida que é o fim da faculdade e a completa incerteza sobre o futuro. Não é como se eu não soubesse o que eu quero fazer, meu problema é que eu quero fazer muitas coisas, o que me transforma num grande clichê da minha geração. Eu não quero explicar isso para as pessoas, até porque a maioria delas não está realmente interessada e eu não sou obrigada. A única coisa boa de ter que responder perguntas de quem não está interessado e não se importa é que eles se contentam com o mínimo, então basta dizer alguma coisa pouco específica como estou pensando em fazer mestrado, que é o que eu tenho adotado. Com os ex-BBBs e as subcelebridades aprendemos os já icônicos estou avaliando propostas e estou com uns projetos, mas corre-se o risco da pessoa ser curiosa e você se enrolar no próprio truque. O segredo é ser genérico e breve, e se mesmo com suas reticências ao abordar o assunto a pessoa insistir em opinar sobre sua vida, volte o passo número 2. Sorria, acene e espere passar.

É bom lembrar que algumas pessoas estão realmente interessadas na sua resposta para essa pergunta, seja porque elas gostam de você ou porque querem ajudar. Tenha sabedoria de distingui-las das outras e não tenha medo de ser sincero se se sentir à vontade. Pode responder que vai acordar dia 4 de janeiro e chorar. Pode dizer que não faz ideia. Pode dizer em voz alta que vai escrever um livro, prestar concurso, ou tentar uma pós em Harvard. Se a pessoa gosta de você, ela pode te arrumar um contato, um bom conselho ou genuinamente te desejar boa sorte, do fundo do coração. Esse suporte é importante, saiba aproveitá-lo. Mas, na minha experiência, as pessoas que realmente importam ou se importam sabem que o assunto é delicado e encontram jeitos melhores de abordá-lo do que entre uma garfada ou outra de peru.


Na dúvida, assista esse vídeo essencial da minha guru pessoal Gabby Noone.

4) Mude de assunto

Diante de qualquer assunto sobre o qual você não deseja conversar ou ouvir, lance mão desse combinado que preparei especialmente para meus queridos leitores: hahahah verdade, verdade + sorriso + aceno + NOVO ASSUNTO. Não sabe sobre o que conversar?


  1. A festa de fim de ano dos políticos. Discorrer sobre todos os momentos preciosos dessa confraternização é algo que desconhece fronteiras partidárias, porque o absurdo de tudo precede qualquer convicção e você ainda vai estar trazendo o tema de política para a mesa, provando que é muito mais do que um rostinho jovem e alienado que sempre desvia de conversas espinhosas;
  2. O Corinthians. Por experiência própria eu garanto: as pessoas SEMPRE têm algo a dizer sobre o Corinthians, independentemente do time ou até mesmo se elas se importam ou não com futebol. Soltar aquele Rapaz, mas e o Corinthians, hein? salva qualquer conversa. Eu tenho um colega de trabalho que é super meu parça sendo que todo nosso relacionamento é baseado em mas e o Corinthians, hein? e seus desdobramentos. 
  3. Novela. De novo, as pessoas SEMPRE têm algo a dizer sobre novela. Só desaconselho se sua família for do tipo bastião da alta cultura e começar a entrar numa conversa chata sobre a precarização da TV. Evite;
  4. A comida. Nossa, mas esse salpicão está um espetáculo, tia, a maionese foi feita em casa? Pronto, mudou de assunto e ainda puxou saco da anfitriã, mostrando como você é uma pessoa educada;
  5. Qualquer coisa profundamente desinteressante: uma vez estava visitando uns parentes distantes e eventualmente o assunto chegou em mim. Eu realmente não gosto de ser o centro das atenções, odeio falar sobre minha vida pessoal com pessoas que não conheço direito e estava numa fase ruim onde realmente não tinha nada de bom pra dizer sobre mim mesma. Então falei que tinha descoberto um editor de textos excelente e estava adorando usar. As pessoas provavelmente pensaram: coitadinha, que menina patética, por favor cale a boca. Elas sorriram e acenaram e não me perguntaram mais nada pelo resto do dia. Recomendo.
5) Saia à francesa

Em ocasiões sociais, acho muito importante ter para onde fugir. Pessoa ansiosa e introvertida como sou, já chego nos ambientes caçando lugares ou pessoas que podem ser meu refúgio pessoal quando as coisas ficarem insustentáveis. A cozinha costuma ser a melhor opção: além de poder beliscar, a cozinha é conhecida universalmente como o lugar que as pessoas sempre procuram quando precisam de um tempo ou onde se escondem para falar mal umas das outras. Além disso, sempre precisam de ajuda na cozinha. Se não estiver confortável na festa, entre na cozinha se oferecendo para lavar alguma coisa, cortar cebolas ou qualquer coisa do tipo. Eu costumo passar o Natal limpando o fogão e recomendo muito. Outra opção é a mesa das crianças. Sempre tem uma mesa das crianças e sempre falta espaço na mesa dos adultos e alguém precisa ir pro sacrifício. Seja essa pessoa e passe o resto da noite conversando com sua prima pré-adolescente sobre One Direction, com seu primo sobre o último filme da Marvel ou cuidando de algum bebê. Só não recomendo, claro, se você detesta crianças mais do que detesta os adultos. 

Por fim, para encerrar qualquer conversa desagradável, saiba sair pela tangente. Concorde, sorria, acene e peça licença pra ir no banheiro, finja que seu celular tocou ou lance mão do clássico, porém eterno: parece que tem alguém me chamando ali na cozinha, já volto. 

quem nunca né
De resto, respire fundo e espere passar. Lembre-se sempre de que você não é obrigado a nada, é só uma noite na sua vida e que aqueles que gostam de você e se importam de verdade provavelmente são os mesmos que respeitam suas opiniões e decisões, ainda que não concordem com elas, e não são aqueles que vão te deixar com vontade de levantar a voz ou chorar no banheiro. Abstraia, respire fundo e pensa que agora só ano que vem.

Boas festas!

12 comentários:

  1. Dominei a técnica da cara de paisagem, mas ultimamente tá difícil passar só com ela e o "sim, verdade". Também odeio ser o centro das atenções, principalmente nesses momentos em que tudo aquilo que você ainda não conseguiu ou não fez começa a vir à tona. Argh.

    Isso de ir para a cozinha é uma ideia excelente, sempre vou com o meu pai (ele tem mania de assumir o fogão, até na casa dos outros) e pego os melhores salgadinhos e pastéis assim que saem da fritura! (ok, isso provavelmente não é saudável)

    Espero que seu Natal seja muito bom e tenha o mínimo de estresse possível :) Beijos

    ResponderExcluir
  2. Primeira vez em alguns anos que eu vou passar o Natal com os parentes e já estava preparada para me esconder com as minhas irmãs em algun quarto, enquanto a festa acontecia lá fora. Acho que, com essas dicas, a gente vai poder se esconder na sala, mesmo. Ou na cozinha.

    Natal é uma data ótima de paz e sossego (em tese), e eu não quero estragar o meu com as perguntas inconvenientes e os assuntos desconfortáveis. Agora vou para o banheiro treinar a cara de paisagem para chegar na casa dos tios já pronta pra encarar o dia.

    Feliz Natal! Beijos.

    ResponderExcluir
  3. Ahahhaha engraçado que passo pela mesma coisa que você todo o bendito Natal, mas sabe que é a minha época favorita do ano do mesmo jeito? É parente falando mal do seu cabelo novo, te deixando um pouco nervosa, etc. mas ahh, uma vez por ano e é tão gostoso.
    Boas festas!

    ResponderExcluir
  4. HAHAHA, amiga, que texto sensacional. Eu, que há poucos anos atrás era uma apaixonada por festas de fim de ano ando garrando cada vez mais bode, então essa lista é muito interessante. Vou começar a adotar pra vida, afinal de conta esses almoços de família podem acontecer em qualquer domingo próximo de você, né. E temos 52 domingos ao ano. Jesus abençoa.
    Te amo! <3

    ResponderExcluir
  5. Anna, esse post veio numa *ótima* hora. Eu costumava gostar de Natal, e tem um lado da minha família no qual eu ainda gosto porque tem muitas crianças e a coisa incrível sobre crianças é que, além de elas serem ótimas, pais novos adoram falar sobre seus filhos, e daí a gente esquece os empreguinho, os namoradinho e, principalmente, os futurinho. Mas esse ano não vou estar lá. Vou estar perto de um monte de gente de quem eu realmente gosto, mas que são mais... indagadoras. E esse ano simplesmente não funcionou muito bem, então a última coisa que eu quero é conversar a respeito durante a ceia. (Fora as questões ideológicas que já tô decidida a não comentar de jeito nenhum).

    Lendo seu post, percebi que eu sempre sobrevivo a essas confraternizações e termino achando que no fim nem foi ruim, né?, porque eu uso várias dessas técnicas. O "verdade, verdade risos forçados" e o desviar pra novela ou jogar um maravilhoso filminho na conversa são meus preferidos, porque na minha família todo mundo adora um filminho e rende horrores. Todo mundo sabe que a gente tá desviando a conversa, mas por aqui todo mundo entende e segue a vida. Então tá bom. E, se tudo der errado, essa técnica de oferecer ajuda na cozinha é excelente, além de ficar bem bonito, olha que menina ótima, etc.

    No fim, o mais importante mesmo é que a gente não é obrigada a nada e, nossa, de fato não precisa estar certa. E a comida é boa. E sempre tem alguém pra dizer que a gente tem muito potencial, não tem?

    Bom final de ano!

    ResponderExcluir
  6. Minha família mora longe então não tenho que aturar elas no Natal. Geralmente só no Ano Novo, e é sempre mais tranquilinho nessa data. Ainda assim, passo o Natal com amigos da família que me conhecem desde pequena e geralmente as cenas e os diálogos são bem parecidos, então esse guia vai me servir muito. Obrigada. <3

    ResponderExcluir
  7. Acabei de descobrir que eu faço uso frequente da técnica 2 e nem sabia! A 1 eu tenho colocado em prática esse ano porque né, 2015 foi meio tenso, muita polêmica, pessoas exaltadas e eu realmente acho que [tentar] manter minha sanidade mental (haha) é melhor do que estar certa.

    E bem, eu sou meio radical também. Eu prefiro não confraternizar. Trabalho há uns 5 anos no mesmo lugar e não me sinto parte da ~equipe. Nunca fui em festinhas nem participo dos ~eventos. Em família, eu normalmente fico perto de pessoas com quem convivo mais e elas nem ligam se eu não me enturmo. (Deus abençoe esses familiares!)

    ResponderExcluir
  8. Que post incrível! Da última vez que minha tia perguntou sobre os "namoradinhos" só fiquei encarando ela com olhar de desaprovação, mas gostei dessa ideia ~a la Pinguins de Madagascar~. A parte do refúgio sempre faço, e no meu caso é a ida ao banheiro, mesmo que seja só pra me olhar no espelho (uma pena que não dê pra ficar lá por muito tempo). Enfim, dá vontade de imprimir esse texto e colocar num quadro!

    ResponderExcluir
  9. Annoca, sem querer querendo você descreveu todas as minhas táticas tirando a de mudar de assunto. Porque eu geralmente só sorrio e aceno e enfio a cara em algum livro e geralmente as pessoas me deixam quieta no meu canto. A menos que o parente seja MUITO insuportável e não se aquiete aí eu mudo de lugar hahaa

    Ai, não to nem um pouco animada pra esse Natal -.-

    beijo!

    ResponderExcluir
  10. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  11. Que post incrível! E muito útil. Sou uma adepta fiel do "hahaha, verdade, verdade" não vale a pena discutir com quem só quer provar que está certo e não podia se importar menos com a sua opinião. É muito desgaste mental.

    Os vídeos da Gabby Noone são sempre tão ótimos e divertidos, sempre dizem o que preciso ouvir, sabe? Alias amo o trocadilho com o sobrenome dela. Haha

    ResponderExcluir
  12. você é genial. eu já repassei esse post pras 3 pessoas que salvam do meu natal e vai ter ensaio antes. OREMOS. bom natal, querida!

    ResponderExcluir