quinta-feira, 30 de julho de 2009

Abbey Road.

John canta versos aparentemente sem sentido, que dão abertura a um milhão e meio de interpretações diferentes, umas remetendo ao lado político e outras para o lado safadinho da coisa. George consegue colocar uma canção sua no lado A e cria uma lenda, a canção mais linda, doce e romântica da banda que chegou a ser gravada até por Frank Sinatra. Paul cria uma música fofa e meio retrô para, com muito humor ácido, contar a história de um psicopata que matava as pessoas com seu martelo de prata. E Paul grita, esgoela, mostra sua voz incrivelmente polivalente para implorar a sua querida que fique com ele, dizendo que para ela ele não fará mal algum, e cria a minha música favorita dos Beatles, fugindo do rock e mergulhando no blues. Ringo, inspirado em suas férias na Itália, fala de polvos e seus jardins. John junta duas canções inacabadas para fazer uma canção que pende para o rock progressivo e que dá abertura a várias metáforas sobre guerra do Vietnã e outras coisas. George mostra que não é pouca porcaria e misturando um solo contínuo de violão, elementos de orquestra e uma letra lindamente otimista, faz uma canção que me deixa arrepiada do começo ao fim devido a grandiosidade de sua harmonia. Todos se juntam num coro harmônico para dar origem à música mais lisérgica, viajada, banhada em chá de cogumelos que os Beatles já criaram. Paul cria um pout-pourri gigante com algumas músicas inacabadas e cria então uma música com um toque pessimista e melancólico. Com muita cara de pau, John e Paul se juntam para cantar em todas as línguas que conhecem e as que acabaram de inventar, misturando italiano, espanhol, inglês. John e Paul se juntam num medley, que viraria marca registrada desse cd para cantar, entre outras coisas, sobre personalidades indianas e sobre a groupie que entrou pela janela do banheiro no quarto de um cantor famoso da época. Paul junta duas músicas para alfinetar várias pessoas, criar uma melodia magistral digna de ópera e aproveita para inserir nela trechos de outra canção do disco. Paul escreve a canção que viria a ser o epitáfio da banda, cuja última frase é escrita em testas, camisetas, tatuagens, frases de efeito no Orkut de muita gente: And in the end, the love you take is equal to the love you make. Uma faixa escondida com menos de trinta segundos, muito fofa e acidental, colocada ali porque a gravadora nunca jogava nenhum material deles fora.

Eles andam na rua do estúdio que foi a casa dos quatro por tantos anos, e agora no fim precisa ser imortalizada. E foi.


Nenhum comentário:

Postar um comentário