Fazer vinte anos supostamente é algo importante, porque as pessoas não param de destacar isso quando vão me dar os parabéns. Foi pensando nisso que há algumas semanas eu vinha pensando em fazer uma mixtape que tivesse como enfoque única e exclusivamente a minha pessoa e trouxesse a listagem mais ou menos definitiva das vinte músicas da minha vida. Se você leu Alta Fidelidade, você entende que isso sim é importante - pelo menos para pessoas como eu e Rob Fleming.
Há alguns anos tenho uma listinha pré-programada com mais ou menos uns cinco músicas que eu sempre cito como favoritas. Curiosamente, todas estão na lista de mais ouvidas de todos os tempos do LastFm - que é algo expressivo, já que eu não sou do tipo que ouve uma música repetidamente até não suportar mais. O problema é que ao colocar essa lista no papel, percebi que não ouvia várias daquelas músicas há uns bons meses - se não anos. E mesmo que quando eu ouça (porque eu fui ouvir para tirar a prova) eu sinta a mesma onda de emoções tomar conta de mim, me parece estranho falar sobre as vinte músicas da minha vida que não tocam na minha vida ou que pelo menos não sejam representativas dos meus vinte anos - já que supostamente isso é muito importante.
No embalo das músicas, parei para pensar um pouco sobre as minhas bandas favoritas - curiosamente, também aquelas que aparecem como mais ouvidas no LastFm - e percebi que tenho escutado pouca coisa das cinco primeiras posições nos últimos anos. Sim, eu disse anos. Novamente, como pode ser a banda da minha vida se ela não toca da minha vida?
O problema é que a banda da minha vida é Beatles. Sempre foi. Não tem como destronar os Beatles. Não tem como ser mais imponente e significativo do que eles na vida de alguém. Não existe uma cartada melhor. Existe?
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Não apenas a melhor banda, mas a melhor banda com as melhores fotos |
Decidi que Beatles era minha banda favorita quando eu tinha uns 12 anos e ganhei o Revolver. Na décima faixa, For No One, eu concluí que nunca ouviria nada tão excelente quanto aquilo, então ficou decidido que eles eram meus favoritos. Depois veio o Abbey Road, seguido de alguns filmes, uma discografia inteira, pôsteres no quarto, livros, canecas, camisetas e todos os meus amigos vendo algo dos Beatles e lembrando de mim. Veio o show do Paul McCartney, a conclusão de que ele era o cara mais legal do mundo e que Blackbird, essa sim, era a música mais bonita já feita por um ser humano.
Eu cheguei a escrever aqui que uma das coisas mais incríveis de se ver um ex-Beatle ao vivo cantando canções dos Beatles é ver que as sessenta mil pessoas reunidas naquele estádio estão cantando uma mesma coisa. Fazendo isso com alma, paixão e lágrimas nos olhos, porque quando o Paul McCartney sobe num palco e canta Eleanor Rigby, ele faz isso para mim, mas também para a pessoa que está do meu lado, e para aquela que está na arquibancada e para o felizardo que conseguiu ingresso de pista premium. Todos somos pessoas solitárias vindas de um lugar desconhecido. Então é meu, mas também é universal. Isso é incrível, extraordinário e é por isso que os Beatles foram, são e sempre serão sensacionais - mas quando se faz vinte anos, isso não é o suficiente.
Às vésperas de fazer vinte anos, eu percebi que precisava de mais. Os Beatles sempre foram os melhores, mas eles nunca foram plenamente meus. Abraço um sem número das suas letras, mas não sei dizer se alguma é genuinamente minha, a ponto de passar batida pela maioria das pessoas, mas tendo ao mesmo tempo aquela chord change that melts my guts (para citar Rob Fleming novamente), que só eu sei onde se encontra e só eu sei o que acontece dentro do meu coração quando ela toca.
Brega, claro, mas aos vinte eu já tenho direito a uma crise de meia-idade em busca de identidade.
Então é mais ou menos assim, vivi todos esses anos (20 na identidade e uns 200 de alma) para chegar num suposto marco da vida e descobrir que não tenho uma banda favorita e que talvez todos os meus anos de bandas favoritas foram uma mentira. A tríade Beatles, Strokes e Los Hermanos (esses merecem um post próprio) está desfeita e sabe Deus o que vem pela frente. Tem dias que acordo e acho que Rilo Kiley é a banda da minha vida, mas nos últimos dias só Wilco me satisfaz. Vira e mexe penso que a única certeza da minha vida é o Chico Buarque, mas o que eu faço quando basta eu entrar no ônibus pra Beyoncé vir quicando nos meus fones? Sem contar os dias que eu volto a ouvir Beatles e me acho maluca por ter pensado em tudo isso - o talvez do título tem uma razão de ser.
E nem vamos falar de Taylor Swift e One Direction, porque aí eu provavelmente vou concluir que no fundo minha vida sempre teve As Quatro Estações (o disco), de Sandy e Junior, como plano de fundo.
Mas a lista das vinte músicas sai, hein. Me aguardem.
I'm sure I do. Or at least, I'm sure I will. But tonight, I have to confess (but only to myself, obviously) that maybe, given the right set of peculiar, freakish, probably unrepeatable circumstances, it's not what you like but what you're like that's important. I'm not going to be the one that explains to Barry how this might happen, though.
{Nick Hornby - High Fidelity}
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É claro que ele não curtiu esse post |