Ou: Acontecem coisas
I've felt the wind on my cheek coming down from the east
And thought about how we are all as numerous as leaves on trees.
And maybe ours is the cause of all mankind:
Get loved, make more, try to stay alive.
O último post do ano é um texto que eu sempre fico ansiosa para escrever. Vai chegando novembro e eu começo a pensar em como definir aquele ano que está acabando, o que eu quero pro que vem em seguida, o que prestou e o que é melhor deixar para trás. Sei lá, sou brega e gosto de balanços, principalmente porque eles me mostram que as coisas são, estão e foram melhores do que o meu pessimismo me deixa enxergar, e eles me forçam a sempre agradecer mais do que pedir ou reclamar.
Bem antes de novembro eu já sabia que o último post de 2014 seria intitulado de More Adventurous. Mais aventureiro. Grandes bosta, né? Eu explico: More Adventurous é o nome de um cd do Rilo Kiley, que não por acaso completou dez anos esse ano e é um dos meus discos favoritos da vida. Eles tem uma música com esse nome também, que é uma referência a um poema chamado Meditations In An Emergency, de um poeta americano, o Frank O'Hara. O verso diz: "each time my heart is broken it makes me feel more adventurous". Pra mim, esse espírito aventureiro catalisado pelo coração partido (olha o DOIS MIL E CATARSE de vocês o que que virou) passa uma mensagem que as frustrações acabam gerando resistência e coragem.
Quanto mais a gente suporta sem morrer, mais ousados ficamos. Olha, se eu aguentei isso eu aguento muita coisa, eu sou capaz de muito mais - ou algo assim. Não é maravilhoso? Sou tão apaixonada por essa ideia que eu, que sempre digo que não tenho tatuagem porque nunca pensei em nada que eu realmente queira tatuar, ando olhando a parte interna do meu braço e achando que ali talvez seja um bom lugar pra eu me lembrar de ser sempre mais aventureira.
2014 foi uma aventura. Foi um ano difícil, pesado, estranho. Não preciso enumerar os motivos, sei que cada pessoa que ler esse texto vai ter seu elenco particular de razões para justificar isso. No dia quatro de maio eu pulei sete ondas no Rio de Janeiro, de mãos dadas com as minhas amigas, porque nós já estávamos sentindo a coisa desandar e achamos que era melhor começar de novo. Agora vai, sabe como é? E eu não me arrependo de nenhum segundo daquela manhã na praia, nem lamento o voo perdido, a bronca levada, ou as quinze horas de viagem de volta. Mas a partir daquele dia foi só ladeira abaixo.
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o ano em uma imagem |
Em 2014 eu vivi a pior fase da minha vida na faculdade. Eu, que sempre fui caxias mesmo nas piores circunstâncias (acho que quem suporta geometria analítica sem enlouquecer ou desistir no meio é muito vencedor), me vi matando aulas a rodo e deliberadamente deixando de fazer trabalhos simplesmente porque eu não tinha energia pr'aquilo. E isso me quebrava por dentro, drenava minhas forças, e deixou as pessoas ao meu redor preocupadas. De alguém que sempre diz que está tudo bem eu fiquei esgotada e me transformei na pessoa que responde que olha, não tá tudo bem não e se você me dá licença eu tô cancelando o dia pra ficar aqui deitada na minha cama vendo Breaking Bad.
Em 2014 muita coisa deu errado. MUITA COISA. Sabe quando você planeja algo já contando que alguma merda vai brotar de algum lugar, nem que seja do espaço, porque foi assim que aconteceu nas últimas, sei lá, 18 vezes? E aí seu pressentimento é comprovado e dá tudo errado e lá vamos nós começar de novo, plano Q da cartilha. Sabe quando está tudo dando certo e você fica assustada porque sabe que se deu certo até agora é porque ainda não acabou e vai dar errado em algum momento e SURPRESA SURPRESA lá está você às duas da manhã chorando, tremendo de raiva, redigindo um maldito de um recurso que, spoiler, não vai servir pra nada? 2014, that's how we rolled.
Em 2014, uma das coisas que eu mais queria e que todo mundo dizia que já era minha, que seria fácil, que não fazia o menor sentido do mundo eu não conseguir, deu, adivinhem, errado também. Mesmo eu tendo feito tudo certinho, mesmo tendo me esfolado por isso, mesmo tendo tentado o último dos recursos. Deu errado. Porque deu, porque a vida é assim, porque eu raspo do fundo do meu âmago atrás de uma fé que me consola dizendo que se não foi não era pra ser.
Em 2014 eu virei algumas noites trabalhando. Mas, nesse mesmo 2014, eu vi o sol nascer de uma pista de dança mais de uma vez. Eu me diverti em 2014, nossa, eu me diverti de verdade. Vendo futebol, dando gostosas risadas na internet, com a pizza nossa de toda sexta-feira, dançando, sambando, quebrando tudo sem parar. Eu aprendi a rebolar em 2014. Aprendi ou perdi a vergonha, qualquer um tá valendo. Nesse ano eu rolei na areia e fiquei louca, eu cantei Mardy Bum no show dos Arctic Monkeys, eu dancei Papo de Jacaré com meu pai e passei noites berrando músicas da Taylor Swift com minhas amigas. Em 2014 eu e meus amigos colocamos colchões na sacada gigante do nosso flat alugado no Espírito Santo e passamos horas deitados, sentindo a brisa do mar, cantando e pensando que a vida, ela às vezes é muito boa.
Em 2014 eu viajei pra caramba. Duvido que tenha passado um mês sem ter uma mala revirada num canto do meu quarto, porque eu simplesmente odeio desfazê-las. Eu viajei com minha família e junto com minha mãe mergulhei com peixinhos (que eu morri de medo risos) e conheci o melhor mar da minha vida. Viajei com minhas amigas sempre que deu, e um belo dia eu estava olhando passagens aéreas (exercício constante na minha vida) e achei uma pro Rio que não era exatamente barata mas não era exatamente cara, e eu pensei que não tinha literalmente nada melhor pra fazer com meu dinheiro do que transformá-lo numa loucura carioca, e um mês depois eu estava no Rio (de novo graças a Deus), com as minhas pessoas, na melhor festa da piscina que já se teve notícia. Eu viajei vinte horas no ônibus semi-decrépito da faculdade e descobri que faria tudo de novo. A ida, a volta e nosso pequeno idílio capixaba. Eu fugi pra São Paulo porque decidi que não apenas queria muito como eu ia de qualquer jeito ver o Castelo Rá-Tim-Bum e com isso eu descobri que, às vezes, quando a gente resolve fazer as coisas ao invés de só querer fazê-las, a gente de fato faz tudo o que quer. Ou pelo menos o que é possível.
Apesar dos nossos corações partidos, we should become more adventurous, não é, Jenny?
Me peguei lendo meus últimos últimos posts do ano e no de 2011, que na verdade foi escrito em 2012, eu pedia pelo amor de Deus para que o ano seguinte fosse diferente e interessante. Por muitos anos eu sentia que minha vida era bem mais do mesmo, principalmente durante o ensino médio. Uma coisa morna, chata e repetitiva, sem surpresas. Quando a escola acabou eu queria dar um perdido na rotina e ver coisas novas, conhecer gente, viver, olha só que coisa, aventuras. Eu queria viver, caramba. E lendo aquele post eu sinto que hoje eu vivo a vida que eu sempre quis. Que não é fácil, mas eu nunca esperei que fosse.
Meus dias sempre são diferentes uns dos outros (o que é ótimo e terrível ao mesmo tempo, sempre tomem cuidado com aquilo que vocês desejam), eu vivo cercada de gente maluca (e a maioria é maravilhosa também), eu ralo muito pra conseguir o que eu quero (e sim, as coisas dão errado, mas quando elas dão certo elas dão muito certo e a satisfação é multiplicada por milhões), e eu acho assustadora essa coisa de estar vivendo a minha vida de acordo com o meu nariz (fico pensando quem foi que autorizou essa palhaçada), mas juro pra vocês que eu não queria que fosse de outro jeito.
Em 2014 eu vivi muito, pro bem e pro mal. Ainda bem.
E eu sobrevivi pra contar essa história pra vocês, então só tenho a agradecer a Deus por isso - por cuidar de mim, por não deixar eu me perder (muito), e por me fazer acreditar - sempre. Não tenho coragem de pedir pra desacelerar, não agora (quer dizer, seria ótimo desacelerar um pouco MAS É APENAS UMA SUGESTÃO), então pro ano que vem eu só quero saúde, pra mim e pros meus, pra continuar. Com o resto a gente se vira.
(Mas seria ótimo ter coragem pra furar o nariz também)
(Talvez seja um ano pra levar a sério essa coisa de escrever)
(Não seria de todo mal arrumar meu armário. Ou pelo menos organizar meus livros, isso eu preciso conseguir)
(Mas sério, o que eu preciso mesmo é parar de dormir depois da meia-noite)
(E ser uma pessoa melhor, sempre)
o futuro em um meme |
((putz, meia noite e dezenove já))