Assim como boa parte da geração anos 90, fui uma dessas crianças cuja infância foi marcada pelo Castelo Rá-Tim-Bum. O programa era, de longe, a minha coisa favorita na televisão, e o peguei naquela fase curiosa da vida em que já temos certo discernimento pra separar realidade de ficção, mas não completamente. Sempre ficava aquele mas será se atrás da orelha, e esse meu grande talvez foi muito importante na experiência que era ver Castelo Rá-Tim-Bum. Porque, no fundo, mesmo que eu não admitisse em voz alta, eu acreditava que aquele castelo poderia existir em algum lugar, com seus objetos mágicos e animais falantes, e era meu sonho conhecê-lo, mais do que qualquer castelo de princesa da Disney.
Quando soube da exposição, evitei toda e qualquer notícia relacionada, porque não sabia se conseguiria visitar e não queria sofrer. Sendo eu uma pessoa que já chorou lendo resenhas de shows que deixou de ir (madura), eu já deveria saber o que me aguardava quando um dia não resisti e abri o jornal com várias fotos do museu: chorei, chorei mesmo, porque é uma coisa um bocado rara na vida quando aquele sonho delirante de infância se materializa diante de você - e foi naquele momento que eu vi que era uma oportunidade que eu não poderia perder. Meu Deus, eu ia abraçar a Celeste!
Ser eficiente não é uma coisa com a qual eu estou acostumada, mas é tão bom quando acontece que eu deveria me esforçar pra ser mais assim. Porque em mais ou menos três dias eu já tinha combinado uma data com meu primo-irmão-parceiro-de-cilada paulistano pra eu brotar na porta da sua casa e estava com passagens em mãos, pronta pra conhecer o Castelo.
Querido leitor, senta que lá vem história.
Quando decidi viajar pra ver a exposição, todos os ingressos antecipados à venda na internet já tinham sido vendidos. Eu disse to-dos, até outubro. Então, cheguei lá sabendo que antes de entrar eu teria que enfrentar uma fila considerável. Eu também já sabia que a fila seria grande, mas juro que não imaginei que seria uma coisa tão insana, porque era dia de semana e as pessoas tem mais o que fazer, certo? Errado. Ha, Ingênuos.
Ah, São Paulo, uma cidade com tanta gente que a parcela pequena de pessoas que perdem uma manhã de dia de semana pra ficar numa fila pra entrar num castelo de brinquedo consegue formar uma multidão. A fila já ocupava uns três quarteirões, e fomos informados que se, e somente se e com muita sorte, nós conseguíssemos um adesivo que nos garantisse um ingresso para aquele dia, só entraríamos em uma sessão à noite. Como o Pedro tinha uma aula no fim do dia, achamos melhor voltar no dia seguinte e ficar por conta.
Sábado, às 7h50 da manhã, mais de uma hora antes da abertura de bilheteria, a fila estava bem maior que a do dia anterior. Mas tudo bem, só se é jovem uma vez e estávamos na função. Assim, se você estiver planejando visitar a exposição, vá com o espírito aberto pra passar muito tempo na fila, em pé e provavelmente embaixo de sol. Não tem nada que você possa fazer pra diminuir a espera, a não ser desencanar, ir pra casa e se contentar com as fotos dos outros no Instagram.
Levei livro, fones de ouvido e duas mexericas - que se provaram uma escolha bem acertada, senão eu teria sucumbido com facilidade a um cachorro-quente desses de carrinho antes das dez da manhã. Que alegria viver. Quase quatro horas depois, mais tempo do que eu já gastei em qualquer fila de show (porém menos do que eu esperei na fila da pré-estreia do último Harry Potter, veja bem), tínhamos ingressos em mãos. Preferimos comprar pra uma sessão da noite e assim poder aproveitar a tarde em alguma outra atividade, e foi ótimo voltar descansada, porque já tinha esquecido da dor nas pernas e nas costas e pude curtir a exposição por mais de duas horas, como a criança feliz dentro de mim pedia.
Colocando em perspectiva, já investi mais tempo da minha vida com um trabalho do Marcelo Tas do que com o Paul McCartney, o que definitivamente é algo a se pensar.
Se valeu a pena? Dependendo da referência, até um show do Anthrax vale a pena. Pra quem passou a infância literalmente sonhando em visitar o Castelo, vale demais. Mas o Pedro, por exemplo, que nem era tão apegado ao programa como eu, curtiu bastante e ficou bem feliz por ter ido - o que me deixou aliviada, porque fiz o menino ficar quatro horas numa fila por conta disso, imaginem só se fosse ruim.
O que a exposição fez foi montar os cenários do Castelo Rá-Tim-Bum nas salas do museu. Sim, tem tudo, da biblioteca ao lustre, e até umas coisas que eu nem lembrava, como a oficina do Tio Victor e o jardim da Caipora. Sim, eu perdi completamente a linha lá dentro e entrei dando pulinhos ao ver a entrada e o Porteiro, e chorei ao ser recebida pelo Nino e o Relógio. De cara avisei meu primo, com sua postura de too cool for this shit, que eu ia me descontrolar, me envergonhar, tirar foto de tudo que visse na minha frente e que tudo bem se ele quisesse fingir que não estava comigo. A parte boa foi que encontramos um amigo dele, cuja namorada estava tão louca como eu por estar ali, então ela pulou pelo museu comigo e a gente se abraçava quando não tinha como abraçar as peças e rolar no chão. Nada como paixões de infância para aproximar as pessoas.
No começo, estava tão eufórica, querendo ver tudo ao mesmo tempo agora, que mal estava conseguindo prestar atenção nas coisas. Precisei parar cinco minutos pra me recompor, respirar fundo (sério) e recuperar minha sanidade pra poder aproveitar a exposição com calma. Você pode ficar o tempo que quiser lá dentro, o que é um alívio bem grande quando você tem que ouvir os monitores dizendo o tempo inteiro que não dá pra voltar atrás.
Sou dessas malas que leem todas as fichas de informação e passam cinco minutos em cada atração, e recomendo que vocês façam o mesmo. São muitos detalhes interessantes e curiosidades de fato curiosas nas fichas e nos vídeos. Uma das coisas que sempre achei sensacional a respeito do Castelo Rá-Tim-Bum é que a produção é extremamente simples, quase rudimentar em alguns pontos, mas é tudo feito com tanto capricho e criatividade que se torna uma coisa genial. Adorei ver os estudos de figurino dos personagens, assim como as fotos do desenvolvimento do estilo de cada um. Os da Morgana e os do Tio Victor são os mais legais, foram muitas possibilidades diferentes estudadas até chegar na forma como eles se apresentam.
Outra coisa legal são os bonecos e a forma como eles foram construídos e pensados, e quem está por trás da articulação deles #nerd. Tem a história de cada um nas fichas, alguns originais, e réplicas feitas para a exposição. É possível interagir com algumas delas, tipo o Gato Pintado e a Celeste, e isso é simplesmente amazing. Quando você chega perto da árvore, um sensor é acionado e ela diz NOOOOOOOSSAAAA e bate um papinho com você. É maravilhoso, eu queria colocar ela embaixo da blusa e levar pra casa comigo.
pessoas normais > abismo > eu |
Minhas salas favoritas foram o quarto do Nino, com o chão e paredes cobertos com páginas de gibi e o sofá giratório - cuidado com ele, fui atropelada umas duas vezes; a biblioteca, que também é coberta em sua maior parte com livros de verdade; a cozinha, onde você pode abrir vários armários como eu sempre sonhei em fazer desde aquele episódio da caça aos ovos de Páscoa; e, finalmente, o lustre do castelo. Ah, o lustre! É uma das últimas salas e pensei que não teria essa parte, mas quando entrei naquele ambiente azul, com os figurinos belíssimos da Lana e da Lara, e seus foutons brilhantes, sofri outro abalo emocional. Eu absolutamente amava aquelas fadas e passei anos da minha vida querendo ser como elas. Outro encontro com o ídolo de igual emoção foi com a Penélope, meu role model com seu figurino completamente cor-de-rosa. Viverei 80 anos e não superarei aquele cabelo pink, suas meias e sapatos.
A parte chata é que já tem muita coisa suja e deteriorada. Como várias peças são interativas, muita gente não consegue separar uma coisa da outra e acaba mexendo onde não deve, e a delicadeza vai com deus. É muita gente, e muitas famílias com crianças pequenas, e fica difícil pros monitores darem conta de tudo, principalmente quando a maioria dos pais não parece se importar com as crianças forçando alguns armários e gavetas, tentando tirar objetos do lugar e pisando nas camas e sofás. Quis, por vários momentos, virar a mão na cara de muitos deles, mas respirei fundo e aceitei que infelizmente faz parte. Também tem muita gente tirando foto, o que acho perfeitamente razoável, mas sempre tem aquela cota de gente sem noção que acaba atrapalhando. Tive que passar reto pela sala dos passarinhos, por exemplo, porque eram 50 pessoas ao mesmo tempo querendo fazer um book saindo das cascas dos ovos. Não deu.
Uma verdade: a iluminação do lugar acaba estragando a maioria das fotos, distorcendo as cores e sua cara. Isso não me impediu de tirar várias, com a mesma cara bestializada de felicidade, mas como vocês podem ver pelas ilustrações do post, elas não servem pra muita coisa além do conforto de estarem ali pra você olhar depois e saber que realmente esteve num lugar dos seus sonhos.
Não sei se vocês veem da mesma forma, mas pra mim compensa a jornada.
nailed it |
E o que faz de mim o fato de eu ter me emocionado ao ler seu post? Sério, rolaram duas lagriminhas que eu vou negar pras pessoas ~normais~ até a morte que existiram.
ResponderExcluirO Castelo mexe comigo até hoje por nunca ter tratado as crianças como seres retardados como alguns programas infantis fizeram/fazem. Acho que é por isso que eu gosto tanto (a ponto de saber boa parte dos episódios decor e tê-los visto, tipo, mais ou menos a mesma quantidade de vezes que vi Rei Leão - o que, acredite em mim, é MUITO).
Eu tentei visitar a exposição num domingo, mas tava impossíííível, cheguei depois das 10h, a possibilidade de conseguir entrar era mínima =/ Como moro do ladinho de Sampa, decidi deixar para outro dia, mas penso em fazer como vc: passar um perrengue na fila cedinho mas comprar o ingresso pra noite, pq aí posso dar uma voltinha da Paulista e pagar de caipira turista mais um pouquinho =P
Beijo, Anna! Saiba que vc não tá sozinha nessa XD
Ai que tudo! Quando eu vi que ia ter essa exposição, tive um treco, mas em SP quase chorei! E fiz isso de não ler mais nada sobre, pra não sofrer.
ResponderExcluirEu era super fã do programa quando criança, não perdia um. Mas hoje, com minha memória ótima, eu não lembro de quase nada. Nem dos nomes dos personagens, muito triste.
Muito legal que você conseguiu, o ruim de exposição cheia é isso, muita gente e muitas acabam mexendo onde não deve, e não dá pra ver tão bem assim.
Aqui no Rio, no CCBB, as filas chegam quase nesse nível, e é muito ruim rs, tem que querer muito...
Orando a Deus pra alguém levar essa expo pra outros estados, e que o Rio esteja incluso hahahaha.
As fotos ficaram muito legais. Adorei!
Beijo
http://www.debsupertramp.wordpress.com
Amiga, sabe que quando eu via Castelo eu nunca pensei nele sendo real? Ou pelo menos não me lembro. Uma das únicas coisas (além das comédias românticas com finais felizes) que me fazem misturar ficção com realidade em níveis preocupantes é Harry Potter. Eu tenho 22 anos nas fuça e vivo pensando que não é possível que aquilo não exista, eu que dei o azar de ser trouxa, mas quem sabe numa próxima vida (esteja nela também, esteja em todas as minhas vidas, pfvr)?
ResponderExcluirNem preciso falar mais sobre essa exposição, que enquanto eu não estiver lá dentro com os olhos brilhando eu não vou acreditar nessa felicidade. Desde que ouvi falar no assunto eu estou surtada, e já lamento o universo não ter nos deixado fazer isso juntas. Seríamos mais insuportáveis que nunca gritando e fotografando esse castelo!
PFVR essa foto amassando o gato da biblioteca <3 <3 <3 Meu ídolo!
NÃO DÁ PRA VOLTAR ATRÁS? Só de ler já me angustiei. Quer dizer que quando eu sair do quarto do Nino eu saí PARA SEMPRE? Preciso passar O DIA nesse museu, 1 hora em cada ambiente.
A CELESTE DIZ 'NOSSA'???? ME DIZ SE ELA DIZ TAMBÉM 'SE EU TIVESSE BRAÇOS, E PERNAS'??? (to me descontrolando completamente nos COMENTÁRIOS, e isso é uma prévia do que farei lá).
Sofá giratório: meu maior sonho <3 <3 <3 <3 <3
Lustre do Castelo e Penélope:::: Meu sonho era ser a Lara ou a Penélope (e eu tinha a pachorra de dizer que a minha cor favorita era azul, Deus tá vendo)
BOOK SAINDO DA CASCA DO OVO DOS PASSARINHOS??? 90% de chance de eu ser uma das inconvenientes, ou eu não trabalharia para o instagram. Nossa amizade acaba aqui? (Não, porque sou tuas nega).
Te amo!
Anna, você contou a minha experiência!
ResponderExcluirA fila foi insana (e eu fui numa quarta feira) mas valeu cada segundo dentro do Castelo, que eu poderia jurar que era mesmo real!
Foto saindo do ovo: eu tenho. Mas juro que passei rápido por lá porque a sala era apertadinha e eu já estava muito cansada.
Não consigo escolher lugares favoritos, mas talvez o hall por causa da árvore da Celeste NOFA <3
saudades dessa exposição!
beijo
Estou amando loucamente essa vibe Castelo Rá-Tim-Bum que tomou conta do mundo, principalmente porque ela me fez sentar hoje e ver esse trem quase pela primeira vez. Isso porque eu não via quando era criança e tinha uma justificativa socialmente aceitável pra ver. Mas lembro de passar o canal, lembrei de uma coisa ou outra hoje enquanto assistia.
ResponderExcluirAchei um programa tão genial, tão sensível, tão imaginativo sem ser bobo. Ai, queria poder ser criança de novo e ver.
Mas confesso que não estou muito animada pra exposição. Porque né, horas de fila já me matam, ainda mais pra ver coisas que vou reconhecer de duas semanas antes, não uma vida inteira.
Seu post ficou tão bom. Saudade que eu tava de passar umas horinhas por aqui.
Beijo <3
Caramba, eu pude reviver a minha infância de quero viver no castelo rá-tim-bum com esse seu post. Chegou dar uma coisinha aqui no coração, sério.
ResponderExcluirAh, o episódio da caça aos ovos de páscoa! Ai como eu queria futucar esses armários!
E, bem, fiquei com vontade de ver fotos do lustre. Eu e minha irmã fingíamos ser as fadinhas (eu era a de vestido amarelo - lana ou lara? rs).
E você teve que falar uma senha ao porteiro pra poder entrar? hahahaha
NOOOSSA, a celeste! NOOOSSA, que emoção!
(Bem, vou ler seu post outra vez...)
Sofrendo muito com esse post. Quando soube da exposição fiquei louca para ir, mas financiar uma viagem do Piauí para São Paulo só para ver uma exposição não estava no orçamento da casa então fiquei aqui e sofri. Com certeza foi uma experiência incrível e que valeu muito a pena! :)
ResponderExcluirBeijo
Eu tenho que ir!!!!!!! Faz um mês que estou combinando com o pessoal mas nunca dá tempo. :( Será que consigo comprar o ingresso de um dia para o outro?
ResponderExcluirQueria ter sido uma das amigas do Nino e achava que existia. Imaginava minha pipa - que nunca tive - se perdendo numa dessas quebradas e acabar encontrando aquele lugar incrível.
ResponderExcluirNunca superarei o fato de não ter tido a oportunidade de entrar no lustre. :/
Eu também chorei, literalmente, vendo as fotos dos outros na exposição do Castelo Rá Tim Bum e, novamente, lendo seu post. É provável que eu vá, mas sabe quando a gente não quer esperar algo demais pra não se decepcionar se não der certo? Pois é.
ResponderExcluirAdorei ler seu relato, apesar da invejinha. ♥