Achei engraçado ela dizer tal coisa, porque se sou assim é porque me acostumaram assim. Não sei se é por conta da minha nobre ascendência da roça, ou se é verdade esse papo de que em Minas a Terra gira mais devagar, mas cresci rodeada por pessoas que dão um pause no dia, e na vida também, pra tomar um café. Não inventei nada disso, estranho pra mim é saber que não funciona assim pra todo mundo.
Na mesma semana que a Renata fez o comentário, apenas alguns dias antes eu coincidentemente teorizava com o Pedro justamente sobre isso. Porque depois do almoço, naqueles dez minutos que meu pai demora pra escovar os dentes e ler um pedaço solto do jornal antes de sair correndo e me levar junto, eu e ele fomos até os fundos da casa pra tomar um café e comer um quadradinho de chocolate na frente da piscina, observando os bem-te-vis criando coragem pra dar um rasante na água e tomar um banho de dez segundos. Éramos eu e ele ali, silenciosamente, com as nossas xícaras de porcelana fina da vovó, dando um pause no dia, e na vida também, antes de começar tudo de novo.
Como se lesse a minha mente, ele soltou: "Eu gosto de café porque ele obriga a gente a parar, sentar um pouco, tomar um ar e não pensar em nada". E sim, é exatamente isso e só uma pessoa com quem eu me dou tão bem poderia entender dessa forma. Você até pode tomar um café enquanto faz alguma outra coisa, todo mundo faz isso e eu também, mas não é a mesma coisa, não é o jeito certo. A gente nunca queima a língua ou suja a blusa e os papéis quando simplesmente para pra tomar um café, já pensaram nisso?
Parar pra tomar um café é um ato de resistência. É você contra a realidade tacanha, a obsessão moderna por produtividade, as artimanhas do capitalismo, a parte do mundo que é um moinho. Ousaria dizer até, sem medo nenhum de ultrapassar os limites do ridículo da metáfora, que o cafezinho no meio do dia é a desobediência civil inserida no cotidiano do ser humano comum, do trabalhador brasileiro. Eles contam minhas horas e me pagam mal, mas foda-se essa merda toda que eu vou ali perder uma meia-hora com uma xícara de café, um quadradinho de chocolate, e um papo sobre a novela de ontem.
Se os caras de Pulp Fiction pararam pra tomar um café gourmet antes de limpar as vísceras de um homem de dentro de um carro, a gente também pode fazer uma pausa.
E por que logo café? Ora bolas, porque além de ser minha bebida favorita no mundo inteiro, ele fornece uma dose especial da melhor droga lícita que existe, a cafeína, aquela que dissolve o cenho franzido e alivia a dor de cabeça acima dos olhos, a que quando bate em formato de expresso sobe com uma energia gostosa que é quase como o espinafre do Popeye, e ainda exala um cheiro que toma conta da casa inteira e que consegue me tirar da cama antes das sete. Além disso, o café tem a medida exata para durar aqueles providenciais cinco ou dez minutos e é o casamento perfeito para um tabletinho de chocolate, que termina de adoçar o momento.
Tem essa música do Eduardo Dussek, meu novo ícone excêntrico dos anos 80, na qual ele descreve um cenário do fim do mundo. "Abri a janela e pasmei", canta ele em Nostradamus, ao observar do outro lado alguns prédios explodindo e pessoas correndo. Ao perceber que se tratava de obra de Deus, Nostradamus, alguma força do bem ou da maldade, ele simplesmente encara Carlota, a cozinheira, morta no chão e apela: "levanta, me serve um café que o mundo acabou".
Ouvi essa música e alcei o cara automaticamente à condição de ídolo, porque gosto de acreditar que se um dia eu acordar e der de cara com o fim do mundo, eu vou é sentar numa poltrona, tomar um café e observar o sol explodir na janela da minha casa.
Agent Cooper curtiu muito esse post |
Me identifiquei muito pouco porque não gosto de café (só do cheiro), mas curti muito o texto em si. Tentei fazer a troca mental com a minha bebida favorita: mate gelado (ou chá de uma forma geral mesmo).
ResponderExcluirNunca tinha pensado que pra tomar café você faz uma pausa na vida, e agora tô aqui sentada tentando lembrar de todas as vezes que isso aconteceu comigo (e foram muitas). Fantástico. hahahaha
ResponderExcluirAMEI o post! E uma das coisas que sinto mais falta de Floripa é do meu expresso favorito, eu tinha até cartão fidelidade daquele lugar. Mas também não vou desmerecer o cafezinho de 50 centavos da ufsc que tanto salvou minha vida acadêmica hahaha! Minha mãe não gosta de café, mas justamente ontem depois do almoço de dia dos pais, fui pra casa do meu papi poderoso e tomamos uma xícara de café da máquina de café dele novíssima e linda e meudeus quero casar com ela. Ali em pé mesmo, sem conversar muito, só apreciando o café, gente que momento perfeito!
ResponderExcluirComo você consegue falar tão bem de uma simples pausa pra um café? Sério. Eu tô chocada com esse texto, amiga. HAHAHAHA
ResponderExcluirMas falando em café: ô bebidinha maravilhosa, viu? Passo um dia sem tomar e a cabeça lateja mais que tudo HAHAHA. Entretanto, não gosto de café puro. Só tomo quando não tem jeito e tô caindo bêbada de sono na faculdade. Meu fraco é café com leite em pó (amor eterno amor verdadeiro). E fazer uma pausa pra tomar esse café é uma das melhores pausas do dia.
Rebeldes do cafezinho HAHAHAHA
beijos, bavis <3
adorei as always
Amiga, café é vida como bem sabemos, mas não consigo tomar uma xícara assim, sossegada com a vida. Minhas tomadas de café geralmente são acompanhadas de uma vida de pernas para o ar, o mundo despencando na minha cabeça e um sono quase incontrolável (e claro, língua queimada e papel pingado). Por favor, me ensina essa coisa ritualística, mística e mágica que é tomar o café de boas? Faz um tutorial aí rapidão? Preciso.
ResponderExcluirBeijo! <3
Anaaaaaaaaaaaaaa sempre me surpreendendo, kkk temos a alma gêmea quando o assunto é costumes da roça hahaha cafezinho com chocolate, pipoca e etcs kkkk adoro seus textos, eles sempre me inspiram :) bjooo
ResponderExcluirMorri de rir, porque desde a hora que vi o título do post na minha barra de atualizações que fiquei cantando ele no ritmo da música. O final dessa música é tão genial que toda vez que eu escuto eu rio, por favor.
ResponderExcluirEu queria muito gostar de café. Queria ~ser adulta~ e parar para pedir um café puro, sem as bichices que eu coloco nele, tipo frapuccino com nutella, sorvete de creme, 2 dedos de café e eu ainda misturo o chantily nele para ele perder o amargo logo, sabe assim? HAHAHA
Te amo!
Ana o post ta de mais, descontraido e engraçado, mas pensando bem você ate me deu um exemplo do que eu precisava aqui no serviço, dá uma pausa nessa correria estressante que é o dia a dia, e tomar um café, apreciar o momento e relaxar.
ResponderExcluirÉ a primeira vez que venho aqui, e será a primeira de muitas.
Bjs
Impossível não te amar, né Anna!!! <3
ResponderExcluirRealidade, Annoca, realidade. A pausa para o café, assim como a pausa pra QUALQUER coisa hoje em dia, é um ato de rebeldia contra esse cotidiano cada vez mais corrido, apressado, nas coxas. Tomar BEM uma xícara de café é se permitir a sanidade, por 20 minutos ou meia hora do dia. Porque Deus sabe que a gente precisa de um tempo dessa agonia diária que é essa vida.
ResponderExcluirTexto incrível, como sempre. <3
Bjs!
[Por favor, me ensina essa coisa ritualística, mística e mágica que é tomar o café de boas? Faz um tutorial aí rapidão? Preciso.]² - Iralinha <3
ResponderExcluirDepois daquela nossa conversa fiquei pensando sobre isso também. Te falei que, apesar da minha origem mineira muito próxima, eu não consigo simplesmente parar pra tomar café. Mas a minha avó sim. E quando eu estou com ela, também tomo. Minha avó tem o ritual certo, na hora certa da tarde, em que ela para pra "pitar e tomar um golinho de café". E quando eu estou com ela, todo esse ritual parece fazer sentido. E então eu escuto ela falar calmamente sobre alguma coisa e filosofamos sobre o universo, a vida e tudo o mais. Mas isso é tão comum que eu nem paro pra pensar, acredita? Eu sou sempre mais uma paulistana fazendo no mínimo 5 coisas de uma vez e olhando mais ou menos as mensagens no celular enquanto espero o elevador.
Está na minha lista de planos para a vida (porque eu tenho muitos) ser uma pessoa mais tranquila e que consiga parar pra tomar um café (sem aquele ar de enrolação que as pessoas ficam quando param pra tomar um café ~e falar mal da vida dos outros~ durante o trabalho). Eu acho chique esse negócio de tomar um café. Acho que quem consegue parar um tempo assim vive mais, vive melhor. Aqui em SP a gente só vê as pessoas correndo pra lá e pra cá, abrindo a porta do metrô e saindo feito estouro da manada pra tirar o pai da forca (ou a mãe da zona, como diz a minha avó). Mas eu não. Eu me policio pra ir devagar, o que ainda não está do jeito que eu quero, mas ficará. Eu quero ser daquelas pessoas que analisam calmamente a vida. Serena. E que tomam café. :)
Saudade, já. Beijo!
Ah, esqueci de dizer: Pulp Fiction está na minha lista de filmes sem noção, já te falei, né? Depois desse post eu descobri o motivo pelo qual você acha isso! Eu achei totalmente sem sentido eles deixarem as vísceras lá no carro e parar pra tomar café conversando sobre uma coisa nada a ver (eles falam de músculos? não lembro) pra só depois arrumar a vida!
ResponderExcluirCafé é vida gente! Só pensar no tempo que morava no interior e tinha um tempinho pra apreciar um cafézin e não aproveitada. Que faltaaaaaaaaaaa faz. Maior terapia pra mim: colocar o pó no coador e esperar a água quente filtrar aquele pedaço de céu e emanar aquele aroma mágico pela casa inteira. Aiai. <3
ResponderExcluirAmo parar para um cafezinho mas ultimamente é só na base da correria pra me manter acordada na redação. Esses minutos são difíceis :(
ResponderExcluirbeijos e muitas pausas de café na sua vida!
A pessoa enfia café, Pulp Fiction e Twin Peaks em um só post. G Ê N I A. Já ficou tão óbvio mas fazer o quê se eu e você temos essa coisa bichíssima de sermos tão parecidas nessas coisas.
ResponderExcluirLá de onde eu venho as pessoas também param pra tomar um café, viu. Ou uma xícara de chá. E foi daí que peguei gosto por ambos, também. Porque também fui criada assim. Minha madrinha não sai de casa, depois do almoço, sem a xícara de chá de camomila adoçada com três gotinhas de mel, e eu fui criada debaixo da saia dela. Minha mãe não voltava a trabalhar depois do almoço nem arrastada sem a xícara de café de costume. Como se não bastasse, ainda nos encontrávamos quase todos os dias na nossa confeitaria favorita no final da tarde pra tomarmos café juntas. Vai ver isso é coisa de cidade menor, né? Que tem aquele ritmo mais lento, mais cadenciado, não aquela coisa marchinha de carnaval frenética que as pessoas das grandes cidades estão acostumadas a dançar. Café e intervalinho da vida: nada melhor <3
Agora explica pro meu professor de economia porque saio no meio da aula dele pra ter esses momentos, hehe.
Beijoca <3
Anna! Não sei se foi a minha nova vida mineira, mas eu passei a adorar muito mais o café depois que vim pra cá. Quando descobri que eu sabia fazer café, foi uma revolução. Agora, mesmo quando temos aula 8 horas da manhã, eu acordo bem mais cedo, só para ter o prazer de fazer e tomar café, parando a vida, sem tentar pensar muito no dia inteiro que tem pela frente.
ResponderExcluirAliás, bora tomar um café? hahahaha
Tô aqui sentindo o cheirinho do café na cozinha e me deliciando com esse texto. Ca**lho! Adorei <3
ResponderExcluirBjs
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPensando bem, nem por ser de Minas a gente toma fôlego pra dar conta de atropelos toda vez que busca um santo cafézinho. Sou daqui de perto de você, de Belo Horizonte. Eu tava me lembrando, enquanto lia seu escrito que essa semana, eu estava tão desorientada com meu horário minúsculo de uma aula a outra da faculdade e que, ainda assim, não abrindo mão do meu café, fui meio que desorientada dar conta de tudo. O café caiu em mim e em uma pasta de textos, não deu outra. Aliás, queimei minha mão também. Se não fosse trágico na hora , teria sido uma reflexão muito boa. Agora, no entanto, com seu texto, eu paro pra pensar. Se eu tivesse parado pra respirar antes de concluir minha ansiedade borbulhante de atividade a atividade, teria inclusive tido um pouco de paz.
ResponderExcluirMais café e distração pra todo mundo! :)
Belo texto.
Confesso que também estou chocada com essa ideia de que tem gente que não dá pause na vida pro café. Sei lá, aqui em casa tem várias pauses ao longo do dia pro café. E quando estamos na faculdade, também. Tanto que nem temos intervalo durante as aulas, temos apenas o tempo do café. Que serve exatamente para brisar tomando café, pfvr, nada melhor. Eu aprendi isso em casa mesmo e talvez tenha a ver com a minha ascendência mineira (who knows?), mas confesso que Rory e Lorelai Gilmore pioraram a minha atitude cafezeira e hoje em dia uso o tempo do café como desculpa pra qualquer pause que esteja precisando. Achava que isso fazia parte da vida de todo mundo, porém. Estou chocada. HAHAHAHAH
ResponderExcluir(sdds de ter tempo pra ler todos os seus posts incríveis <3 <3 <3 pretendo ler os outros em brave, ok? dsclp a ausência!)
Cruje cruje cruje, t-xau
eu odeio café! parte porque quando era pequena minha mãe me obrigava a tomar porque dizia que achocolatado todos os dias fazia muito mal (assim como ela dizia que banho só era bom gelado, mães e suas manias) e parte porque simplesmente não me desce mas esse post meu deu até vontade de fazer um cafézinho (como se eu soubesse fazer mas enfim haha) e tomar enquanto como um pãozinho de queijo!
ResponderExcluirbeijos!!
Nossa, eu não curto muito café, mas tenho essa relação de sossego com leite! Isso porque assim como você foi acostumada a tomar café, aqui em casa somos acostumados desde criancinhas a gostar de leite. E no meu caso, nem com achocolatado desce, é leite puro mesmo, bem morninho <3 Embora não seja o café em si, é realmente uma maravilha tomar uma xícara sentadinha sem fazer nada, dando uma pausa no mundo. (realmente é um ato de desobediência civil e tanto)
ResponderExcluirBeijos!
Anna, eu não tinha esse hábito, mas estou adquirindo agora. Já fui capaz de detestar café na infância, porque sempre me sentia suada depois que tomava. Mas o inverno aqui se apresentou dignamente, com chuva e frio, toda a pompa exigida. Então tomo café quase todos os dias, no intervalo do meu curso de vestuário. E sim: é maravilhosa a pausa que dedicamos só para isso.
ResponderExcluirBeijos!
Acho incrível sua habilidade em escrever tão detalhadamente sobre coisas tão simples do nosso cotidiano!
ResponderExcluirParabéns Anna!
Amo café incondicionalmente! No meu trabalho chego a tomar umas 4 canecas de café por tarde... e também concordo que primeiro uma caneca de café depois a vida rs
ResponderExcluirTambém sou dessas que aperta o pause e vai tomar um café. Adorei o texto. =)
ResponderExcluirE como viver sem parar pra tomar café? Confesso que aqui em casa ele é parceiro nas horas dos jobs. Mas, sempre que vou no meu pai, tem a pausa do café. Antes de qualquer coisa.
ResponderExcluirAh, e um post como começa com uma imagem do Pulp Fiction não tem como ser ruim. Genial!
ResponderExcluirComentei no post do Blog Day falando que queria colocar em prática o antigo costume de comentar, tomei coragem e vim nesse post seu antigo, porque ele está até hoje na minha mente.
ResponderExcluirMuito louco né, porque quando você o escreveu com certeza não passou na sua mente que ficaria na cabeça de outra pessoa assim por tanto tempo ne? Rs
Quando eu o li pela primeira vez e li os comentários senti um pouco de revolta (é bom eu comentar agora que mais ninguém lê isso aqui). Porque você não está aqui declarando sua paixão por café apenas, você está tentando descrever qual o significado desse costume na sua vida, que não se resume a puro prazer. A gente come chocolate por prazer, a gente toma banho por prazer, mas tomar café pra você tem um quê a mais. Que eu preciso dizer, achei fantástico!
E por eu achar fantástico que ficou na minha mente.
No momento estagio em um museu privado que tem maquina de café expresso. A questão é que não parece um museu, parece uma empresa. Tomamos o café correndo e isso me incomoda todos os dias. Estou tomando café para ficar acordada para trabalhar pra vocês, me deixem em paz!
Queria ter essa ousadia diária de mandar um "que se dane, me deixe ter esse momento" é aproveitar o cafezinho.
Queria ter ousadia para fazer isso em vários pontos e detalhes da vida.
Esse capitalismo louco devora a gente e nossos prazeres diários.
Parabéns pra você rs. Eu estou trabalhando seriamente isso em mim ainda.
Beijos!