terça-feira, 30 de dezembro de 2014

More adventurous

Ou: Acontecem coisas 

I've felt the wind on my cheek coming down from the east
And thought about how we are all as numerous as leaves on trees.
And maybe ours is the cause of all mankind: 
Get loved, make more, try to stay alive.

O último post do ano é um texto que eu sempre fico ansiosa para escrever. Vai chegando novembro e eu começo a pensar em como definir aquele ano que está acabando, o que eu quero pro que vem em seguida, o que prestou e o que é melhor deixar para trás. Sei lá, sou brega e gosto de balanços, principalmente porque eles me mostram que as coisas são, estão e foram melhores do que o meu pessimismo me deixa enxergar, e eles me forçam a sempre agradecer mais do que pedir ou reclamar. 

Bem antes de novembro eu já sabia que o último post de 2014 seria intitulado de More Adventurous. Mais aventureiro. Grandes bosta, né? Eu explico: More Adventurous é o nome de um cd do Rilo Kiley, que não por acaso completou dez anos esse ano e é um dos meus discos favoritos da vida. Eles tem uma música com esse nome também, que é uma referência a um poema chamado Meditations In An Emergency, de um poeta americano, o Frank O'Hara. O verso diz: "each time my heart is broken it makes me feel more adventurous". Pra mim, esse espírito aventureiro catalisado pelo coração partido (olha o DOIS MIL E CATARSE de vocês o que que virou) passa uma mensagem que as frustrações acabam gerando resistência e coragem.


Quanto mais a gente suporta sem morrer, mais ousados ficamos. Olha, se eu aguentei isso eu aguento muita coisa, eu sou capaz de muito mais - ou algo assim. Não é maravilhoso? Sou tão apaixonada por essa ideia que eu, que sempre digo que não tenho tatuagem porque nunca pensei em nada que eu realmente queira tatuar, ando olhando a parte interna do meu braço e achando que ali talvez seja um bom lugar pra eu me lembrar de ser sempre mais aventureira.

2014 foi uma aventura. Foi um ano difícil, pesado, estranho. Não preciso enumerar os motivos, sei que cada pessoa que ler esse texto vai ter seu elenco particular de razões para justificar isso. No dia quatro de maio eu pulei sete ondas no Rio de Janeiro, de mãos dadas com as minhas amigas, porque nós já estávamos sentindo a coisa desandar e achamos que era melhor começar de novo. Agora vai, sabe como é? E eu não me arrependo de nenhum segundo daquela manhã na praia, nem lamento o voo perdido, a bronca levada, ou as quinze horas de viagem de volta. Mas a partir daquele dia foi só ladeira abaixo. 

o ano em uma imagem
Em 2014 eu vivi a pior fase da minha vida na faculdade. Eu, que sempre fui caxias mesmo nas piores circunstâncias (acho que quem suporta geometria analítica sem enlouquecer ou desistir no meio é muito vencedor), me vi matando aulas a rodo e deliberadamente deixando de fazer trabalhos simplesmente porque eu não tinha energia pr'aquilo. E isso me quebrava por dentro, drenava minhas forças, e deixou as pessoas ao meu redor preocupadas. De alguém que sempre diz que está tudo bem eu fiquei esgotada e me transformei na pessoa que responde que olha, não tá tudo bem não e se você me dá licença eu tô cancelando o dia pra ficar aqui deitada na minha cama vendo Breaking Bad. 

Em 2014 muita coisa deu errado. MUITA COISA. Sabe quando você planeja algo já contando que alguma merda vai brotar de algum lugar, nem que seja do espaço, porque foi assim que aconteceu nas últimas, sei lá, 18 vezes? E aí seu pressentimento é comprovado e dá tudo errado e lá vamos nós começar de novo, plano Q da cartilha. Sabe quando está tudo dando certo e você fica assustada porque sabe que se deu certo até agora é porque ainda não acabou e vai dar errado em algum momento e SURPRESA SURPRESA lá está você às duas da manhã chorando, tremendo de raiva, redigindo um maldito de um recurso que, spoiler, não vai servir pra nada? 2014, that's how we rolled. 

Em 2014, uma das coisas que eu mais queria e que todo mundo dizia que já era minha, que seria fácil, que não fazia o menor sentido do mundo eu não conseguir, deu, adivinhem, errado também. Mesmo eu tendo feito tudo certinho, mesmo tendo me esfolado por isso, mesmo tendo tentado o último dos recursos. Deu errado. Porque deu, porque a vida é assim, porque eu raspo do fundo do meu âmago atrás de uma fé que me consola dizendo que se não foi não era pra ser.

Em 2014 eu virei algumas noites trabalhando. Mas, nesse mesmo 2014, eu vi o sol nascer de uma pista de dança mais de uma vez. Eu me diverti em 2014, nossa, eu me diverti de verdade. Vendo futebol, dando gostosas risadas na internet, com a pizza nossa de toda sexta-feira, dançando, sambando, quebrando tudo sem parar. Eu aprendi a rebolar em 2014. Aprendi ou perdi a vergonha, qualquer um tá valendo. Nesse ano eu rolei na areia e fiquei louca, eu cantei Mardy Bum no show dos Arctic Monkeys, eu dancei Papo de Jacaré com meu pai e passei noites berrando músicas da Taylor Swift com minhas amigas. Em 2014 eu e meus amigos colocamos colchões na sacada gigante do nosso flat alugado no Espírito Santo e passamos horas deitados, sentindo a brisa do mar, cantando e pensando que a vida, ela às vezes é muito boa.

Em 2014 eu viajei pra caramba. Duvido que tenha passado um mês sem ter uma mala revirada num canto do meu quarto, porque eu simplesmente odeio desfazê-las. Eu viajei com minha família e junto com minha mãe mergulhei com peixinhos (que eu morri de medo risos) e conheci o melhor mar da minha vida. Viajei com minhas amigas sempre que deu, e um belo dia eu estava olhando passagens aéreas (exercício constante na minha vida) e achei uma pro Rio que não era exatamente barata mas não era exatamente cara, e eu pensei que não tinha literalmente nada melhor pra fazer com meu dinheiro do que transformá-lo numa loucura carioca, e um mês depois eu estava no Rio (de novo graças a Deus), com as minhas pessoas, na melhor festa da piscina que já se teve notícia. Eu viajei vinte horas no ônibus semi-decrépito da faculdade e descobri que faria tudo de novo. A ida, a volta e nosso pequeno idílio capixaba. Eu fugi pra São Paulo porque decidi que não apenas queria muito como eu ia de qualquer jeito ver o Castelo Rá-Tim-Bum e com isso eu descobri que, às vezes, quando a gente resolve fazer as coisas ao invés de só querer fazê-las, a gente de fato faz tudo o que quer. Ou pelo menos o que é possível. 

Apesar dos nossos corações partidos, we should become more adventurous, não é, Jenny? 

Me peguei lendo meus últimos últimos posts do ano e no de 2011, que na verdade foi escrito em 2012, eu pedia pelo amor de Deus para que o ano seguinte fosse diferente e interessante. Por muitos anos eu sentia que minha vida era bem mais do mesmo, principalmente durante o ensino médio.  Uma coisa morna, chata e repetitiva, sem surpresas. Quando a escola acabou eu queria dar um perdido na rotina e ver coisas novas, conhecer gente, viver, olha só que coisa, aventuras. Eu queria viver, caramba. E lendo aquele post eu sinto que hoje eu vivo a vida que eu sempre quis. Que não é fácil, mas eu nunca esperei que fosse. 

Meus dias sempre são diferentes uns dos outros (o que é ótimo e terrível ao mesmo tempo, sempre tomem cuidado com aquilo que vocês desejam), eu vivo cercada de gente maluca (e a maioria é maravilhosa também), eu ralo muito pra conseguir o que eu quero (e sim, as coisas dão errado, mas quando elas dão certo elas dão muito certo e a satisfação é multiplicada por milhões), e eu acho assustadora essa coisa de estar vivendo a minha vida de acordo com o meu nariz (fico pensando quem foi que autorizou essa palhaçada), mas juro pra vocês que eu não queria que fosse de outro jeito. 

Em 2014 eu vivi muito, pro bem e pro mal. Ainda bem. 

E eu sobrevivi pra contar essa história pra vocês, então só tenho a agradecer a Deus por isso - por cuidar de mim, por não deixar eu me perder (muito), e por me fazer acreditar - sempre. Não tenho coragem de pedir pra desacelerar, não agora (quer dizer, seria ótimo desacelerar um pouco MAS É APENAS UMA SUGESTÃO), então pro ano que vem eu só quero saúde, pra mim e pros meus, pra continuar. Com o resto a gente se vira.

(Mas seria ótimo ter coragem pra furar o nariz também)
(Talvez seja um ano pra levar a sério essa coisa de escrever)
(Não seria de todo mal arrumar meu armário. Ou pelo menos organizar meus livros, isso eu preciso conseguir)
(Mas sério, o que eu preciso mesmo é parar de dormir depois da meia-noite)
(E ser uma pessoa melhor, sempre)

o futuro em um meme

((putz, meia noite e dezenove já))

11 comentários:

  1. Que retrospectiva linda, Anna!
    Acho que 2014 não foi um ano fácil pra ninguém, mas assim como todo os anos, sempre tem coisa boa. Acho que depende muito também de como vemos as coisas.
    Feliz 2015 pra você, anna! Bjs

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  2. Muito boa sua retrospectiva!
    Que bom que apesar das coisas ~bad vibes~ que vão acontecendo, tá tudo indo por um caminho que você já queria antes.
    Que esses momentos ruins não superem os bons jamais!
    E tomara que no próximo ano, aquilo que você não conseguiu realizar nesse, você consiga e a satisfação por isso seja maior ainda!

    E muito obrigada pela força lá nos comentários do blog, viu? haha
    Foi muito fofo e sempre que alguém fala algo, incentiva mais um pouquinho mesmo sem saber.
    E eu adorei o que você falou lá em cima:
    "uma mensagem que as frustrações acabam gerando resistência e coragem.". Nossa, e como isso é MUITO verdade!
    Beijos e um ótimo ano pra gente haha.
    http://www.deborabp.wordpress.com

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  3. Amiga, esse texto tá tão maravilhoso e eu me emocionei tanto lendo (e me encontrando em linhas tortas) que vou ter que fazer um também? Não posso me despedir de um ano importante (mesmo que pra aprendizado) como 2014 com uma lista de Taylors Swifts. Meu blog merece mais de mim. Te amo muito. E me aguarde.

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  4. "Mas sério, o que eu preciso mesmo é parar de dormir depois da meia-noite", meta de vida. Brincadeiras à parte, defino meu 2014 em uma expressão: foi louco. Feliz 2015 <3

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  5. 2014 foi um ano bem meio a meio, mas acredito que as coisas boas que aconteceram (A Gente, por exemplo, pfvr) nos deram força suficiente pra seguir em frente e esperar o ano novo.
    2015 vai ser demais, to sentindo! Vai ser muito mais A Gente e muito mais amor <3
    Te amo!

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  6. Anna Vitória, pelo amor de Deus, ou graças a Ele que você escreve, puta que pariu! <3
    Lindo demais esse texto e fico feliz que você tenha tido um bom ano apesar de todos os forninhos que quase caíram - e alguns, de fato, caíram - na cabeça de todo mundo.
    Que sua vida continue sendo como você sempre quis, porque competência pra isso eu sei que você tem!

    Beijos guria e feliz ano novo!

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  7. "eu vivi muito", acredita que usei essa mesma frase no meu texto "retrospectiva" de 2014? Acho que você tá certa demais; apesar de tudo, eu estou vivendo a vida que eu sempre quis. Esse fim de 2014 tá com tanta cara de final de filme que eu nem sei, ainda mais com esses filmes. E talvez eu me arrependa de dizer isso, mas quero que 2015 seja a mesma coisa. Não com exatamente os mesmos problemas, mas com o mesmo ritmo e o mesmo clima. Porque acho que viver um pouco não mata ninguém, né? Na hora parece que sim, mas no fim a gente sobrevive. Esse é o nosso tempo. E eu não me arrependo de nada.

    Te amo <3

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  8. (Talvez seja um ano pra levar a sério essa coisa de escrever) - Posso pegar carona contigo?

    Muito legal tua reflexão Anna. A gente tem que saber dar valor aos momentos bons da vida, e aos ruins também. São eles que nos moldam, que nos fortalecem, que nos deixam mais resilientes, e mais humildes também, que tem coisa nessa vida que não depende da gente, que a gente não pode controlar. A gente aprende a ser mais flexível, a esperar menos pra não se decepcionar tanto.

    Que bom que você percebe que está vivendo a vida que queria. E se ela não é 1000 maravilhas sempre, ainda assim é boa. Não seria muito chato se tudo acontecesse como a gente sempre espera e deseja? ;)

    Muita saúde em 2015 pra você!

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  9. Vou ter que começar esse comentário dizendo a mesma coisa que falei pra Analu hoje (ou ontem): tem dias que venho aqui, leio, acho tudo maravilhoso e aí decido não comentar até ter como falar alguma coisa que preste de verdade e não só as groselhas de sempre. Só que minha cabeça tá uma beleza (não), então preferi não esperar e vir comentar logo, antes que eu perca a oportunidade de vez.

    Pfvr, que texto maravilhoso. Adoro ler retrospectivas, balanços etc etc, porque de uma forma ou de outra acabo me identificando com alguma coisa, mas o seu mexeu comigo demais. 2014 foi um ano bom, foi um ano ruim, foi intenso, uma aventura. E que essa aventura continue em 2015.

    beijo! <3

    P.S: A propósito, obrigada por falar tanto da Jenny Lewis aqui, porque me fez tomar vergonha e agora tô ouvindo o The Voyager em looping hehehehe

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  10. Confesso que não tenho saco pra ler retrospectivas alheias, mas cliquei na sua porque eu sabia que iria ser um texto incrível e, obviamente, minhas expectativas foram confirmadas.

    Esses períodos f*das na faculdade fazem mesmo a gente perder um pouco da perspectiva e deixar de perceber, ainda que momentaneamente, as muitas coisas bacanudas que acontecem simultaneamente ou, ao menos, entre um momento tenso e outro. Acho que as retrospectivas são válidas justamente pra gente ter esse momento de sentar, pensar, relembrar e notar melhor nossa própria vida.

    Bem, diante desse texto maravilindo, só posso te desejar um 2015 cheio de aventuras! Beijocas :*

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  11. "E com isso eu descobri que, às vezes, quando a gente resolve fazer as coisas ao invés de só querer fazê-las, a gente de fato faz tudo o que quer. Ou pelo menos o que é possível."
    Frase que resume meu 2014 e que me ensinou muito pro resto da vida. Em 2014 fiz uma das primeiras e realmente relevantes coisas por mim e pra mim. Passei aperto pra poder fazer o que fiz, mas não me arrependo.

    2014 foi um ano definidor. Mexeu em muita coisa, tirou do lugar e colocou de novo. Me jogou pra baixo e pro alto. Não quero de novo, mas quero levar junto tudo o que aprendi nele. E juro, não foi pouco.

    Beijos!

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