quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Últimas palavras a respeito de Bento Santiago e Capitolina - NOT

Vocês devem estar cansados de lerem coisas sobre como eu idolatro o Machado de Assis e sobre como Dom Casmurro me derrete completamente. É óbvio que ele não é a perfeição literária absoluta, existem outros livros melhores (vide Reparação), só que esse livro me encanta tanto e toda vez que eu o leio sempre tenho umas inspirações súbitas pra escrever. No meio do ano tinha lido na Folha que a Globo ia fazer uma minissérie sobre o livro, e já fiquei toda alvoraçada, mas realmente esperava uma minissérie normal, tipo A Casa das Sete Mulheres (?)

Quando vi os teasers e os primeiros minutos, na minha cabeça vinha só uma coisa: Tim Burton. Assim mesmo, negritado e sublinhado, porque a série parece mais uma obra dele tupiniquim e vocês por favor entendam isso como um elogio. Eu consigo imaginar perfeitamente bem a série a la Hollywood com ele na direção, Johnny Depp fazendo o papel do Bentinho e até ouso dizer que a mulher do Tim (eu fazendo a íntima, haha), Helena Bonham Carter (assim como Johnny, figurinha carimbada nos filmes de Burton), como a Capitu porque acho que só um pouquinho de make daria o toque perfeito de ressaca nos olhos dela já meio descaídos, oblíquos e dissimulados.

Outra coisa que eu percebi que é fierce demais, é toda a não-concordância de alguns elementos da série da série com o tempo que ela passa, que aí me lembrou muito Marie Antoinette, da Sofia Coppola. Neste nós vemos a presença de all stars no figurino (coisa que creio não ser muito comum na época dela) e trilha sonora repleta de artistas contemporâneos (ou quase) tipo New Order, The Cure e Strokes *explode coração* Em Capitu vemos a atriz que faz a menina jovem com uma tatuagem enorme (e linda) não escondida, a trilha sonora é repleta de riffs nervosos de guitarra e canções lindíssima tipo o tema de Bentinho e Capitu que eu não me canso de ouvir.

Certamente eu fico arrepiada com as frases e narrações, porque elas seguem exatamente o livro, que de tanto lê-lo eu até decorei algumas muitas passagens, e fico repetindo junto com a tevê feio besta, carinha de algodão doce e minha mãe me olhando como se eu estivesse curtindo um barato aluciante. (?) É tudo bem diferente do que a gente tá acostumado a ver na Globo (a não ser por Hoje é Dia de Maria, que eu não vi, mas todos dizem que o naipe é o mesmo), muito teatral (a falta de cenários é um exemplo), poético e sensível até o último suspiro. Tive coisas com a cena do primeiro beijo e da reconciliação dos dois (não encontrei vídeos).

Como a trama ainda não chegou ao fim, ainda não sei como será a abordagem acerca do grande bapho da história, que é a traição - ou não-traição - de Capitu. Tem gente que faz debates sobre isso, escreve livros e teorias mil e ao ver isso tenho vontade de pegar os responsáveis e sacudi-los. Pelo amor de Deus, será que ninguém compreendeu que não importa se ela traiu ou não, porque esse NÃO é o foco da história. O livro fala sobre como o ciúme pode nos levar a ver, imaginar, criar coisas e acreditar em estórias que na nossa cabeça julgamos ser fatos. Ninguém reparou no jeito meio totalmente desconsertado e psicótico do Bentinho narrador? (outra coisa genial da produção)

De um lado vemos um Bentinho que enxerga a cara do amigo na cara do filho, evidências incontestáveis de que ela era uma rapariga de quinta e do outro a certeza quase absoluta que a gente tem que nosso cérebro é astuto o suficiente pra criar tudo aquilo que a gente quer ver. E em várias passagens do livro é frizado que Capitu era extremamente dissimulada, que conseguia ter um controle extremo de suas emoções e que quase nunca ficava visivelmente abalada. O que nos leva a teoria de que ela era uma fingida e tinha sangue de barata o suficiente pra negar tudo até a morte, catando durante a tarde e jantar pato assado com o marido comentando sobre a crise americana e o rebaixamento do Vasco.

É tudo muito ambíguo porque foi feito para ser ambíguo, bobo é quem tenta discutir e briga com seus argumentos. Machadón deve estar se dobrando de rir no túmulo ao nos ver aqui nesse pandemônio tentando resolver uma questão que nem ao menos ele, o criador de tudo, foi genial o suficiente pra manter sem solução. Haha, toda unanimidade é burra e tudo é relativo (citações baratas mode off).

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