domingo, 21 de fevereiro de 2010

Do Sétimo Andar.

Todos os dias por volta das seis ele passava por ali. Com uma sacola da padaria nas mãos, que de longe ela podia sentir que cheirava a pão quente. Ah! Como ela queria poder gritá-lo e convidá-lo a sentar-se ao seu lado para dividir os pães com um café quentinho que ela passaria na hora. Requeijão e novela das seis iriam muito bem também, obrigada.

Ele estava sempre com uma câmera pendurada em seu pescoço, e vez ou outra parava no meio do caminho para fotografar um gatinho de rua que por ali passava. A respeito dele, sabia que tinha um estúdio na rua acima e não deveria morar muito longe, se não, por que passaria a pé, num sossego infinito, às vezes assobiando algo que ela não podia ouvir, com aquela sacola de pães nas mãos?

Certa vez fez plantão na padaria esperando ele chegar. E ele chegou. Com a câmera no pescoço e toda a graciosidade que a fazia perder o começo da novela das seis todos os dias só pra vê-lo passar. Junto a ele uma ansiedade e nervosismo nunca vistos chegaram a galope, tomando de assalto a jovem que, perdendo a noção do rumo de seus devaneios, apenas se virou e analisou a prateleira de biscoitos de maisena com uma perícia desnecessária. Olhava-o de soslaio, discorrendo mentalmente acerca da boniteza e charme que ele exalava vestido com aquela camiseta branca. Ele pediu algo que ela não compreendeu à atendente e, enquanto seu pedido era atendido, o moço pôs-se a andar em torno do recinto, circundando vez ou outra a garota com vestido de listras que passara muitos minutos escolhendo qual biscoito levar. Ao ver que ele se aproximava, a jovem de imediato pousou a mão ao lado esquerdo do peito, tal era o descompasso e a força que palpitava seu coração; chegou a comprimir a mão sobre a pele temendo que o mesmo rasgasse-lhe o peito e fosse parar, aos pulos violentos, aos pés de seu alvo de admiração. Abriu um leve sorriso diante da idéia estúpida que lhe passara pela cabeça, imaginou a cara que ele faria ao encarar seu pobre coração aos pulos no chão. Ela tinha certeza que ele fotografaria isso, e um sorriso dessa vez sem medo de se mostrar se abriu em seus lábios, e uma onda enorme de afeição por ele perpassou-lhe todo corpo, fazendo com que um arrepio lhe percorresse a nuca. Distraiu-se tanto em meio a suas conjecturas que quando deu-se por si, ele havia acabado de sair da padaria, com pães quentes, como cheiro que ele deixava para trás denunciava, e um brilho nos olhos que naquele momento apenas os transeuntes e gatos de rua puderam testemunhar.

(Continua...)

* Passamos por uns problemas técnicos aqui essa semana, né? Haloscan resolveu me abandonar, e até eu aceitar isso definitivamente e criar coragem para instalar o sistema de comentários do Blogspot foi uma novela. Não tenho como responder aos últimos comentários, me perdoem. Aos poucos retribuirei as visitas.

* Quem acompanha o blog desde o começo talvez se lembre desse conto. Postei-o há milênios atrás, um pouco diferente. É um dos meus escritos favoritos. Dei uma editada porque sentia que faltava algo. A continuação virá em breve.

* E a história é inspirada na música do Los Hermanos, "Do Sétimo Andar".

25 comentários:

  1. Ah, bem que eu achei o conto bem familiar... sua desrição do cheiro de pão me fez vontade de comer um fresquinho com manteiga (:
    Beijo, Anna!

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  2. Estréia dos comentários aqui ein!

    Bom.. enquanto eu tava lendo, fiquei pensando numa coisa. Durante alguns anos eu frequentei um lugar que me fazia chegar cedo pra tomar café numa padaria de esquina. É claro que eu fui lendo seu conto, recriando sua história no ambiente que eu me lembrei. O mais engraçado é que de manhã cedo eu quase sempre encontrava com um cara que era música, pintor e fotógrafo e vez por outra ele aparecia com sua velha Canon... e da janela da padaria as vezes ele registrava uns flagrantes do cotidiano. A arte e a vida mutuamente se inspiram ein!
    Legal demais te ler... pra variar!!
    Bjoooooo Anna!

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  3. É,esse conto deu vontade de comer pão mesmo :9
    E de encontrar um cara assim tbm *suspira :)
    Esperando ansiosamente a continuação, mas não se sinta pressionada ;)

    ;*

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  4. Poxa, adoreei! Muito lindo mesmo!
    Vouesperar a continuação! beijos!

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  5. Amei! Impressionante como às vezes encontramos pessoas que só de olhar sentimos um magnetismo, uma sensação boa... Isso fez com que eu me lembrasse de um dos curtas de "Paris, te amo" onde um rapaz se aproxima de outro porque sente uma conexão, uma energia entre os dois. Espero a continuação, beijos ;*

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  6. Também senti vontade de comer pão quente com manteiga!!!! Você consegue descrever o universo das suas histórias com muita tranquilidade, sem ansiedade, explorando coisas simples, delicadas e fazendo uso do universo psicológico de cada personagem. Na prática, na hora de ler fica uma delícia!!! Parabéns!
    Ansiosa para saber o resto!
    beijos!

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  7. sempre inspiradora né anna?

    Me faz viajar nas formas mais românticas e poéticas possíveis de encontrar alguém, o meu alguém!

    obrigada (:

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  8. haloscan eh um viadinho!
    e o conto eh lindo! (espero a continuacao)
    e eu ando meio morta de fome....rs! tudo que eu vejo me lembro comida! deu pra sentir o cheirinho de pao quente X_x (que saudade do paozinho brasileiro.. afffffe).. requeijao, ai ai ai.

    beijos!

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  9. eu já disse o quanto, apesar de sermos de mundos tão diferentes, dá pra sentir bem essas suas crônicas mais românticas, né?
    talvez porque esse tipo de coisa seja universal. mas você tem talento.

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  10. Ainda não tinha lido esse conto, mas já tô doida pra saber o final! rs.

    Beeeijos, Anna

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  11. Meigo. x) Sabe, eu sou dona desses amores platônicos... #stalkerfeelings Hahahaha. xD

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  12. Tenho uma leve impressão de que esse conto me é familiar e eu realmente devo ter lido da primeira vez que vc postou, mas só lendo o final pra ter certeza... posta logo! hahhaha
    e, ai, finalmente o haloscan foi embora daqui. Tava morrendo de inveja, reconheço!
    beijos

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  13. Essa é a música da minha vida. Pra completar eu cursei faculdade no sétimo andar da universidade. BJS

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  14. Tantas vezes que queremos gritar alguém para sentar do nosso lado!
    beijos

    Lindo como sempre seus contos!

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  15. Isso me faz lembrar de quantos caras eu já precisei esperar na frente da padaria, soh pra admirar a beleza e o charme...
    Beijos!

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  16. Adorei o conto *-* quero saber o final.
    Pois é menina, tô vendo todo mundo reclamando desse haloscan, deu problema né? Não sei direito mas parece que agora é pago, sei lá ._.
    Adorei o blog
    :* xOxo

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  17. Ah, vim aqui feliz pensando que já tinha a continuação do conto...

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  18. Que lindo. senti o cheiro de pão também.
    beeijos

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  19. Adorei o conto, quero muito ler a continuação, então vou segui-la!
    O cheiro de pão de deixou com fome, lembrei da época que fazia cursinho, que era instalado num prédio em cima de uma padaria, o cheiro de pão quente me impedia de prestar atenção na aula, o que o professor dizia em minha mente era traduzido na palavra "pão".

    Parabéns pelo blog, adorei!
    Beijos!
    http://minidesastres.blogspot.com

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  20. Não li esse, não, mas to doida pra ver a continuação. E pra comer pão acompanhado de requeijão e novela das seis.
    Beijo.

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  21. Cara como vc escreve bem... nossa vc deve estudar p ser escritora. Amei o conto quero a continuação.

    O haslocan agora é pago neh!

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  22. garota como vc escreve bem !!
    gostei demais do conto...com uma riqueza de detalhes de fazer inveja qualquer novelista!! rsrs!
    beijo grande

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  23. Eu lembro desses texto!!! Ele é tão fofo... menina ouvi dizer que deu a louca no haloscan né? Quem sai perdendo é eles.
    bjos!

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  24. Já tinha lido esse conto, mas tive que parar pra ler mais uma vez, tão lindo, tão querido ele.
    Você e seus apaixonantes fotógrafos. Que vontade de poder inventar um de verdade!
    Adoro esse conto!
    Um beeijo Anna!
    Parabéns, uhul!

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  25. aow Que conto lindo! Expressou os sentimentos como alguém que está apaixonado (risos)! ;D beijos

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