segunda-feira, 11 de março de 2013

É que um diarinho às vezes cai bem

Desde que a Couth voltou a atualizar o blog regularmente, venho nutrindo aqui no canto uma invejinha da sua capacidade de fazer posts-diário muito deliciosos de acompanhar. Ao mesmo tempo, percebi que tenho feito isso cada vez menos - quem se arriscar nos arquivos do blog vai ver que antigamente até ida ao shopping no sábado à tarde virava assunto - e é bom, de vez em quando, voltarmos às raízes da blogosfera, daquele jeitinho várzea de quem conta do que fez para toda a internet como se escrevesse, na verdade, para aquele amigo que está longe.

Livro incrível que me acompanhou nesses dias
Então que no dia 24 de janeiro eu larguei faculdade, provas e trabalhos e entrei num avião rumo à Bahia, que não visitava desde que li Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban pela primeira vez. Quando meu pai disse que iríamos para Arraial D'Ajuda, confesso que fiquei meio apreensiva. As lembranças que guardo de Porto Seguro - que fica a uma viagem de balsa de cinco minutos de distância - consistem em axé e agito 24 horas por dia. No entanto, e ainda bem, eu não poderia estar mais errada. Arraial é um lugar com praias tranquilas, muitas desertas, mar quase sem ondas e administradores de quiosques à beira-mar com um impressionante bom gosto musical. 10 dias na Bahia e nada de Ivetão, mas sim - pasmem - Cat Power, Tiê e Caetano. 

Fiquei hospedada num chalé em um condomínio muito simpático, administrado por italianos extremamente adoráveis falando português com seus sotaques carregadíssimos. O portão de saída dava direto para a areia de uma praia deserta, Araçaípe. No primeiro dia perguntamos pro gerente se tinha alguma estrutura de praia ali perto, algo como um quiosque com cadeiras, bar, etc. "Graças a Deus não", ele respondeu. É bem esse o clima de lá. Tivemos que andar mais ou menos um quilômetro até encontrarmos um bar, mas valeu a caminhada na areia.


Se eu fosse a Couth, faria um desenho bem serelepe da minha pessoa refastelada sobre um pedaço de pizza, mas terei que ficar devendo. A verdade é que nunca imaginei que comer pizza na praia pudesse dar tão certo, nem que a Bahia me ofereceria tão perfeita iguaria, de mussarela, tomate e umas folhinhas de manjeiricão, massa fininha - a medida perfeita pra segurar a fome dos almoços tardios e muitas vezes inexistentes. Por volta das 17h, horário que costumávamos ir embora, o quiosque recebia um vendedor da Cacau Show, com trufas e barrinhas de chocolate à tiracolo. Então, nos fins de tarde, eu caminhava pela areia de volta pra casa com a água do mar teimando em pegar meu pé, os primos pequenos correndo na frente caçando siris - tudo isso enquanto saboreava uma trufa de maracujá. A vida é bela, queridos leitores.

O mar de Arraial D'Ajuda quase não tem ondas, é praticamente uma marola gigantesca que torna extremamente difícil o surgimento de alguma perspectiva de futuro que não envolva ficar ali boiando com as pernas pra cima pelo resto da vida. O único problema é que ao longo do dia a maré vai subindo e começa a puxar cada vez mais, deixando a vida das crianças um pouco complicada. Meus tios viajaram conosco, levando seus rebentos Mariana, 10, e Gustavinho, 6. Ela já é grandinha e consegue se virar sozinha, mas Gustavinho, o destemido, o intrépido, o sem juízo algum, precisa de supervisão constante. Por supervisão, entendam: a prima mais paciente do mundo inteiro nadando com ele pendurado nos ombros. Pra que pilates quando se tem um girininho assim enrolado nas suas pernas o dia inteiro?

Quando voltávamos para o chalé e todo mundo subia para tomar banho, eu gostava de dar uma fugidinha até a praia e ficar lá sozinha, eu e o mar, o mar e eu, boiando com a barriga pra cima, só o nariz e a ponta dos dedos do pé pra fora. Lembram daquele sonho? I-g-u-a-l-z-i-n-h-o. Infinito.



Arraial D'Ajuda nada mais é que uma vilinha, que pode ser reduzida a uma rua muito especial, a do Mucugê. Coisa mais linda, com butiques fofas, restaurantes muito charmosos e o melhor gelato que já tomei na vida. Embora seja um destino totalmente turístico, os preços não são tão abusivos como se imagina. Pelo menos não vi diferença gritante para o que se encontra em Uberlândia, tanto em comida como em roupas, peças de decoração, etc.

A história do acarajé já foi contada aqui, mas as melhores lembranças gastronômicas da viagem não tem nada a ver com a culinária típica. A primeira delas é o hamburguer do Crepe da Miloca, uma lanchonete estilo retrô, com direito a geladeira vermelha na decoração, muitas, muitas fotos de ídolos do rock, e trilha sonora ambiente regada a um blues bem supimpa. Todos os pratos tem nome de ícones da música e juro que foi coincidência o sanduíche que pedi - e amei tanto que tive que voltar lá pra repetir a dose - se chamar Beatles. Hamburguer, cheddar, bacon, cebola e barbecue - porque eu sou uma pessoa que precisa de pouco pra ser feliz. A segunda foi um bistrô que fica no meio do mato - mesmo -, o Bistrô D'Oliveira. O local parece mais uma cabana no meio das árvores, decorado com sofás, almofadas e muitas luminárias coloridas. Estranhei a quantidade de opções de pratos tailandeses no cardápio e descobri que o chef antes tinha um restaurante típico. Claro que ignorei os peixes da região para aproveitar e comer curry de verdade, coisa que não existe nessa cidade linda onde habito.

Eu poderia ter tirado foto das coisas, mas tenho vergonha.


Nota mental para futuras viagens: não comer curry com a boca queimada. Porque é claro que eu tinha que dar um jeito de aprontar uma das minhas nesses dias fora e a melhor forma que encontrei foi queimando o lábio com sol. Eu, apenas a louca do protetor solar, a que volta pra casa depois de dez dias de praia e ouve que não queimou nada, consegui arranjar uma queimadura de segundo grau no lábio, o que me impediu de aproveitar o mar nos últimos dois dias de viagem e, pior, não me deixou aproveitar o curry como ele merecia. Aguentei bravamente até a metade, mas estava meio impossível conciliar toda a pimenta com a boca quase em carne viva.

Por fim, a outra lembrança que guardarei com carinho de lá são os cães. Muitos, aos montes, em todo lugar. Fico imaginando se os donos são só os locais e os felizardos que tem casa por lá ou se existe realmente tanta gente que viaja com cachorro. Coisa mais lida vê-los rolando na areia feito idiotas, alguns morrendo de medo da água, outros fazendo stand-up paddle junto dos donos (juro!), todos eles me fazendo ficar dolorida de saudades de Francisco, o poodle, antes do que parecia razoável admitir.

Passei quase uma hora sentada perto deles pra conseguir essa foto. Gustavinho batizou-os de Trovão e Tempestade <3 nbsp="">
O único ponto ruim? A internet é um lixo. Tanto a wi-fi do chalé como a do celular só prestavam quando queriam e ainda assim com reza brava. Pra quem viaja com o intuito de se desligar completamente é ótimo, para quem foge da vida na cidade e tem um monte de pendências para resolver, pode render algum estresse. Eu que o diga.

Aliás, estou colhendo os frutos malditos dessa escapadela até hoje e acho que só escrevi esse post, mesmo depois de tanto tempo, pra rever as fotos, relembrar das histórias, e ver que valeu bem à pena.  

11 comentários:

  1. Que delícia de viagem e de memórias, Annoca.
    Depois de tanto vai e volta pela América Latina, tudo o que eu queria era uma viagem tranquila dessas pruma praia ou pruma lagoa (oi acampar enquanto é verão) com meus amigos queridos que não vejo direito há um ano. Mas tudo o que vou poder fazer com eles consiste em técnicas de projetos para o tcc e, quizá, tomar um café se nossos estágios forem perto um do outro.
    Também tenho invejinha boa dos desenhos da Couth, mas a gente tem que se virar com o que sabe: escrever e só, né? rs. Tais se virando bem!
    beijocas!

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  2. Eu estava em dúvida entre ir pra Bahia ou pra Recife nas minhas curtas férias que me aguardam, mas olha, acho que vou acabar indo pra Bahia. Adorei tanto o seu relato, tanto, nem precisa de desenho nem nada. Me senti me refastelando na areia comendo pizza com você e perseguindo os cachorros, morrendo de saudade e cheia de amor canino pra doar.

    Também teria provado o curry! Nunca comi!
    Ai, que vontade de ficar boiando só com o nariz de fora... Mas semana santa está aí e EU VOU PARA A PRAIA.

    Beijo Annoca!
    Amo seus posts sempre, então faça diarinho!

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  3. Anna Vitória,

    Que invejinha desse seu momento relax. Já fui para Arraial D'Ajuda, mas isso foi antes de eu ler qualquer um dos livros do Harry Potter. Faz muito tempo mesmo, nem me lembro do lugar. Quem sabe um dia eu não volto? Fico feliz em saber que lá ninguém é obrigado a escutar axé ou a conviver com barulho de micareta. Não gosto disso.

    Quanto ao seu texto, não tenho nem o que falar. Às vezes, tenho a impressão de que você escreve como se estivesse brincando, porque as palavras parecem fluir com uma facilidade absurda. Muito gostoso de ler. Parabéns!

    Beijos e boa semana para você,

    Michas
    http://michasborges.blogspot.com

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  4. Eu já fui para vários lugares da Bahia, e gostei mais de Porto Seguro, apesar de ser um pouco sujo.

    jj-jovemjornalista.com

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  5. Olha, não gosto de praia, mas se for pra ficar de bobeira olhando o mar que seja num lugar delicia desses. Amo suas fotos de cachorros anônimos Annoca! E seus posts são delícia de acompanhar também viu? nada de invejinha dazamiga! haha

    beijos!

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  6. Ai, Anna, que delícia de viagem! Preciso ir pra Bahia, porque desconjuro em Vitória com aquelas praias de água gelada. E sempre quis curtir uma praiazinha deserta, com um librinho na mão! E passaria a tarde comendo batatas fritas e tomando suco de maracujá, ai que benção! E que cachorros lindos. Meu sonho é ver Kimmy correndo na praia, mas minha mãe arrepia só de pensar. Imagina aquele pelo todo cheio de areia? HAHAHA
    Beijos! <3

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  7. Amiga, não vou conseguir comentar porque tô arrumando minhas malas pra ir pra Arraial D'Ajuda e...

    Gente! Fiquei apaixonada por esse lugar sem nem conhecer! Preciso demais de uma viagem assim pra me desligar de tudo. Vou falar com mamãe e já ir planejando as minhas opções para as minhas próximas férias <3

    (Essa descrição da pizza me deixou maluca, Anna Vitória! Você está querendo me tirar da minha dieta?)

    Beijo <3

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  8. Tou rindo até agora do ''crepe da Miloca'' porque super imaginei a Milena vendendo crepe debaixo do sol hahahaha
    Morro de vontade de conhecer o litoral da Bahia, Anninha, ainda mais se for um lugar que toca Tiê, gente! Que coisa mais não natural. E a cor dessa mar é de chorar de lindo. Pena que eu morro de medo de mar - a água fica no meu joelho e já acho que um tubarão vai me morder. Sério.
    Aqui também tem muito desses cachorros em algumas praias. Alguns nem tão bonitinhos quanto os da foto, mas outros sim.
    Vou passar essa quarta entediante morrendo de inveja e é isso.
    Beijo <3

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  9. Mas se o seu texto continua uma delícia as fotos seguem o ritmo e são de dar inveja. Eu nunca tive muita vontade de ir pra Bahia, mas recentemente, quando fui para o Rio, vi cada Resort com cara de paraíso que desde então nutro uma vontade louca de migrar pra lá. Acho que o mar tem uma força fora do normal, tenho uma ligação mto forte com ele, e estar um bucado de tempo nessa calmaria é sonho de consumo. E que delícia as fugidinhas que você deu, você e o mar, o mar e você. Ele tem um jeito de deixar a gente consciente de nós mesmas né?

    ps: pergunta nada a ver, e o livro? bom? ando com vontade de ler!

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  10. NUNCA ia pensar tudo isso da Bahia! Pra mim sempre foi um lugar barulhento, lotado e cheio de Ivetão! Amei o post diarinho (e que venham muitos mais assim!).

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  11. Not sure if Arraial D'Ajuda é mesmo uma praia fantástica OU você tinha todo o universo conspirando a seu favor nessa viagem OU você foi parar em uma praia poluída e lotada de gente e carros de som tocando Chiclete com Banana e você estava tão precisada dessas férias que romantizou tudo na sua cabeça. haha
    Não, sério, acho que qualquer um aqui queria estar no seu lugar! Quero dizer, o pior ponto negativo foi meio que um ponto positivo - você ainda fez uma espécie de "desintoxicação" de internet, né? Que lugar é esse que serve pizza e chocolate e tem um restaurante tailandês, gente!?
    :O
    Gostei muito do diário e das suas fotos, ficaram bem bonitas!
    Sempre que eu vou pro Nordeste, sempre opto por ir mais lá pra cima - Maceió, Recife, Porto de Galinhas, João Pessoa etc -, mas tenho vontade de conhecer a Bahia sim e vou lembrar da dica. Pode ser que eu curta mais Arraial D'Ajuda do que a badalada Porto Seguro!
    Beijo

    P.S.: Ir pra praia em baixa temporada tem suas grandes vantagens!

    [Ao som de: Weird Summer - Loveology]

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