
Aos 11 anos, a única coisa que fazia da vida além de ir para a escola, inglês e aulas de ballet e sapateado, era vagabundar. Seja na televisão, computador (era viciada em The Sims e fanfics de Harry Potter), livros da Meg Cabot, eu não fazia nada. Chegava em casa do colégio, fazia meus deveres de casa no menor tempo que era capaz, e ia para a televisão. Flintstones (que saudades da época dos desenhos clássicos no Boomerang!), Dr. 90210, Vale a Pena Ver de Novo, Gilmore Girls, The OC e Disk MTV. Mamãe trabalhava a tarde nessa época, única maneira dessa esbórnia televisiva acontecer sem maiores danos.
Acho que seria mais justo se, antes de nascermos, assistíssemos a uma palestra nos dando alguns pareceres sobre a vida na qual estaríamos prestes a entrar. Só assim poderíamos desfrutar integralmente dessa pouca idade, da pré-adolescência tão leve, maravilhosa e cheia de tosqueiras, sem querer o tempo todo crescer, o mais rápido possível. Quando é que eu conseguiria encaixar, na minha rotina atual de casa-escola-casa-escola-casa-escola-house-twitter-friends (porque eu também vivo), toda essa maratona de programas deliciosamente vazios? Ah, se eu ao menos soubesse...

Posso dizer sem medo de ser injusta que The OC é a séria da minha vida. A que mais me marcou, e olha que só se pode dizer isso uma vez na vida. Marcou porque ela me lembra dos meus 11, 12, 13 anos, em que tudo era tão simples e lindo, e que meu maior problema era não ter coragem de adicionar o menino que eu gostava no msn e que minha vida social era muito precária se comparada à das coleguinhas prafrentex da escola (opa, isso ainda acontece). Ao ouvir as primeiras notas da musiquinha tema, "we've been on the run, driving in the sun, looking up foir number one, California, here we come, right back where we started from...", mergulhava nos mares azuis de Orange County, com seus dias ensolarados e muitos problemas embaixo do tapete. Via a Marissa, a chata, com todos os seus infindáveis dramas pessoais e familiares; Ryan, o eterno salvador da pátria, carregando todo mundo nas costas e arrumando brigas ao final de cada festa; Summer, tão divertida e histérica, com sua madrasta viciada em Valium e os constantes "ew"; a incrível Anna, que eu me identificava tanto; Kirsten e Sandy Cohen, sempre com seus conflitos ideológicos; Julie Cooper-Nichol e os golpes do baú; e claro, last but not least, Seth Cohen, minha maior, mais intensa e nunca superada paixão platônica televisiva juvenil, com suas camisetas fofas, tiradas divertidas (que eu ainda sei de cor), gosto musical impecável - que era o meu na época - e amor incondicional pela Summer. Quero pra mim ainda. Nunca superei.
Mesmo não assistindo há um bom tempo, vejo referências a The OC em tudo quanto é lugar, até porque a série é responsável por enorme parte do meu gosto musical, tendo acrescentado muito à playlist de quase cem por cento de todos os espectadores. Não conheceria Death Cab For Cutie, Rooney, Jem, The Subways, The Walkmen, Nada Surf, The Killers e acho que toda raíz de indie-rock que eu só ouço até hoje, descoberta no site Music From The OC, que eu visitava assim que o episódio acabava. E ouvir essas músicas me remetem imediatamente ao cotidiano dos pobres meninos ricos de Orange County, afinal, que tipo de fã é capaz de ouvir "A Movie Script Ending" sem se lembrar da viagem pra Tijuana, "Champagne Supernova" e sorrir internamente lembrando do beijo de Homem Aranha, "If You Leave" sem se lembrar da Anna, e como não dizer, "Hallelujah" e sentir algo doído por dentro, depois daquele episódio que preferimos não lembrar.

Depois de muito tempo sem assistir, nas férias de janeiro um dia tive um surto The OC. Lembro que era um dia que mamãe tinha um jantar de aniversário de uma amiga e voltaria tarde, e eu não tinha nada para fazer, nenhum filme para ver. Fritei batatas e passei a noite reassistindo meus episódios favoritos, chorando horrores nas mesmas partes que eu sempre choro horrores, rindo das mesmas piadas e xingando as mesmas coisas (porque apesar de amar muito, não posso negar que The OC me faz umas raivas). Quando mamãe chegou, deu uma leve olhada para a tv, revirou os olhos, suspirou e disse, "O Seth voltou".
Eu sempre tento atrair as pessoas para o movimento The OC, mas sou sempre ignorada. Enfiei a primeira temporada goela abaixo do Matheus, que sempre dizia que achava um saco - sem ter assistido. Resultado? Viciou, e agora eu finalmente tenho alguém para comentar todos aqueles episódios tantas vezes visto. Essa semana, só porque me bateu uma enorme nostalgia, me peguei assistindo (online mesmo, já que os dvds estão emprestados) um dos meus episódios favoritos da primeira temporada, e estou decidida a acompanhar a segunda junto com Matheus. California here we come all over again. Alguém, por favor, avise minha mãe que o Seth voltou.
