Gosto de cinema brasileiro e fico muito feliz quando vejo que este ultimamente tem saído do lugar-comum, apostando em estilos e temáticas diferentes e se dando muito bem. Ano passado saí da sala de cinema encantanda com "As Melhores Coisas do Mundo", e minha tarde de domingo foi surpreendida com o belo "Os Famosos e os Duendes da Morte". Ambos são filmes jovens e sensíveis, mas cada um à sua maneira. Enquanto o primeiro é alegre, leve, mas sem ser superficial, o segundo é denso, melancólico, extremamente introspectivo e muito, muito bonito.

Além disso, ele é obcecado por vídeos de dois personagens bem misteriosos, um homem e uma garota que é a cara de Betty, que não vou revelar a identidade pra não estragar o clima da história. Como já disse, é um filme bem introspectivo, portanto, não assista esperando por grandes acontecimentos. Assistí-lo é como mergulhar naquela melancolia bonita do personagem, e o filme, bem onírico e sensorial, mistura realidade com sonho e delírio de um jeito que chega a confundir, vez ou outra, mas creio que essa fusão faz parte da proposta.

O diretor é Esmir Filho, e talvez vocês não liguem o nome à pessoa, mas ele dirigiu também o clássico Tapa na Pantera (quem não viu, veja, é brilhante). O processo de produção do filme foi bem inusitado, já que ele foi baseado num livro homônimo de Ismael Caneppele (que no filme atua como o homem misterioso do vídeo) que foi sendo escrito enquanto o filme era feito. Explico: o projeto nasceu de um começo de livro, que se desenvolveu junto com o filme, fazendo nascer, no final, um livro de um filme e um filme de um livro, ao mesmo tempo. Além disso, a maior parte do elenco é composta por atores locais, da cidade de Estrela - RS, e a linda linda linda trilha sonora, com deliciosas canções folk, também é responsabilidade de um cantor da região, Nelo Johann. Além das canções dele, claro, temos também Mr. Tambourine Man, do Dylan, que não podia faltar.*
Achei o filme animal e gostaria de dizer que todo mundo vai achar também, mas isso não é verdade. Se você não é fã de filmes mais densos e subjetivos, melhor não assistir, pois só te faria pegar uma má impressão de um trabalho tão bonito; gosto é gosto, vá de "As Melhores Coisas do Mundo" e termine cantarolando "Something". Mas se você gosta, se interessa por cinema, e quer conhecer uma nova face do cinema nacional, faça essa favor à você mesmo, assista, e termine o filme cantarolando, que nem eu, "Hey! Mr Tambourine Man, play a song for me, in the jingle jangle morning I'll come followin' you..."
* Informações retiradas do Na Minha Rolleiflex.