A vida é feita de momentos.
Tem sempre aquele momento que você faz uma escolha, que ninguém pode dizer se é certa ou errada antes de saber dos motivos que levaram você a ela. Na última sexta, por exemplo, teve um momento em que eu escolhi ir ao cinema assistir Loucas Pra Casar, também conhecido como a nova-comédia-machista-da-Globo-Filmes, que eu sabia que ia odiar, mas fui mesmo assim. Fui, primeiramente, porque era de graça e eu não tinha nada melhor pra fazer, e depois porque o Matheus, também conhecido como meu-melhor-amigo-fã-de-pastelão, queria muito ver e ficaria me devendo essa. Fria, calculista e infinitamente paciente, esse é meu jeitinho.
Depois, veio o momento da vitória. Não, o filme não surpreendeu minhas expectativas e se mostrou uma pedida bem divertida pra minha noite de sexta, mas sim se revelou infinitamente pior do que eu esperava. Porque eu esperava algo bem ruim e sem graça, mas nem minhas piores expectativas me prepararam pr'aquilo. A história é sobre três mulheres estereotipadas - a quarentona bem sucedida que conquistou tudo, menos um marido; a """"vagabunda"""" e a virgem santa anjo do lar - que se descobriram envolvidas com o mesmo homem. Ao invés de se unir pra rachar esse macho no meio, elas resolvem brigar entre si - com direito a maior quantidade de "piranha", "vagabunda" e "biscate" que já ouvi na vida - pra ver quem é mais astuta pra levá-lo ao altar primeiro. Porque pior do que estar envolvida com um cara traíra que não presta é não estar envolvida com homem nenhum. Suspiros.
Enquanto eu me concentrava muito para não sublimar de horror e ódio, o Matheus tentava, com muito afinco, gostar do filme. Aos poucos fui percebendo que nem ele estava suportando aquilo, ele, o cara que ficou de joelhos no cinema do último filme do American Pie, e essa foi a vitória, porque eu amo estar certa. O coitado estava tão sem graça com o fiasco daquela sua ideia brilhante que nem tripudiar eu quis, só as consultas ao relógio e os suspiros de tédio foram suficientes pra mim. Eu estava até bem tranquila mexendo no celular, comendo chocolate e cochilando na poltrona, até que veio o grande plot twist da história: no dia do casamento a gente descobre que duas das três mulheres são ALUCINAÇÕES DA INGRID GUIMARÃES, ilusões essas que representam TODAS AS MULHERES QUE EXISTEM DENTRO DE UMA MULHER SÓ.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
OH NO THEY DID NOT |
Pois é. Depois que absorvemos essa revelação, veio aquele momento em que ficamos fartos, absolutamente fartos daquela palhaçada, e descobrimos que, olha só que coisa, não éramos obrigados a estar ali. A gente sempre tem uma escolha, e naquela sexta-feira eu e Matheus escolhemos ir embora no meio do filme porque sim, porque nossa, porque a gente merece mais da vida. Então levantamos e fomos embora.
Ou quase.
Especialmente nesse dia, fomos num cinema que não estamos muito acostumados a frequentar, um cinema de onde, aliás, nunca cogitamos fugir antes. No outro que vamos sempre a saída fica no mesmo lugar que a saída de emergência, então foi pra lá mesmo que fomos correndo. Essa saída de emergência ficava do lado do telão, uma tela que ia até o chão da sala - coisa que só percebi quando estava no meio do caminho e me dei conta que nossa escapadela estava sendo assistida por todo mundo ali. Já morrendo de vergonha, apertamos o passo até a porta, abrimos com muita urgência e aflição, para dar de cara com nada mais nada menos que a noite uberlandense.
Gente, a porta de saída dava para a rua. Quer dizer, não exatamente a rua, nossa vida teria sido mais fácil se fosse assim, mas a saída de emergência era realmente para emergências, porque do outro lado encontramos uma sacada e uma escada de incêndio externa. Fiquei tão chocada com a situação que não soube como proceder, principalmente porque já tinha me dado conta que estávamos alvoroçando o cinema todo e todas aquelas pessoas estavam assistindo nossa peripécia. A única coisa que consegui foi ir cambaleando - porque lógico que eu já estava me dobrando de tanto rir - até a primeira fila, para esperar a crise de riso passar para poder descobrir qual seria o próximo passo.
Enquanto isso, no filme, o personagem do Márcio Garcia me aparece careca sem nenhum motivo aparente. Como se não fosse o suficiente eu estar presa numa sala onde a porta de emergência é uma sacada e é impossível encontrar a saída por conta do escuro e da falta de sinalização, o filme mais idiota do mundo tinha ficado mais idiota e absurdo ainda com o Márcio Garcia careca. Eu me sentia dentro de um esquete de comédia do absurdo, e aquilo ia se tornando um pesadelo kafkiano à medida que o Matheus foi parando de rir e começando a ficar desesperado. "Anna eu quero sair daqui, Anna Vitória, pelo amor de Deus, vamo embora, o que tá acontecendo??? EU QUERO IR EMBORA".
Somos todos Cecília Malan.
Depois de minutos que mais me pareceram horas (sempre que eu pensava que o filme finalmente ia acabar eles me vinham com mais um casamento ou outra revelação cabeluda), a sessão finalmente acabou, as luzes se acenderam e encontramos a saída.
Outro momento importante nas nossas vidas é quando a gente acha que o sufoco acabou. Sabe aquela hora que você escolhe respirar aliviada mesmo sem ter certeza que está completamente segura e livre de qualquer perigo? Então, foi mais ou menos isso que aconteceu quando saímos da sala e demos gostosas risadas do ocorrido, que seria transformado numa divertida anedota no dia seguinte, até o momento que vimos que estávamos presos dentro do estacionamento.
Juro, eu procurei as câmeras da pegadinha quando chegamos na cancela e o caminho tava completamente bloqueado. Já passava da meia-noite e obviamente escolhemos parar no estacionamento alternativo do shopping, que quase ninguém frequenta, que fecha mais cedo e não tem sinalização nenhuma ou um segurança pra dar informação. O Matheus dirigia em círculos e até cogitamos sair pela entrada e fuck the police, mas ela também estava bloqueada. À essa altura voltamos muito rápido ao nosso comportamento padrão durante crises: eu tendo um ataque histérico de riso, sem conseguir raciocinar ou ajudar, e o Matheus tendo um ataque de pânico, sem conseguir lidar de jeito nenhum.
Como as pessoas responsáveis ainda deixam a gente sair de casa sem acompanhamento? Não sei. Gente, eu queria ficar séria e tomar as rédeas da situação, mas só conseguia pensar que seria muito incrível colocar a cabeça pra fora do carro e berrar ARE WE OUT OF THE WOODS?
Eventualmente uma alma boa e viva dentro de um Gol em movimento apareceu para nos salvar. A gente perguntou como fazia para sair dali, ele disse que era só seguir o carro e então nos conduziu por uma passagem que só pode ser secreta, porque não entendo como a administração do shopping realmente achou que alguém iria deduzir sem a ajuda de placas que aquele era o caminho certo. Até finalmente sairmos daquele buraco de minhoca eu estava jurando que o moço bonzinho do Gol era na verdade um psicopata pronto pra arrancar nos órgãos ou, pior ainda, o Márcio Garcia careca de braços dados com a Ingrid Guimarães.
Felizmente não era, e depois de um longo trajeto logo começamos a ver luzes, risos, seres humanos e uma saída iluminada e funcional, para nos tirar de vez daquele tormento. Pouco tempo depois estávamos livres passando rápido numa longa avenida pouco movimentada, e eu só conseguia pensar numa frase de um grupo de pensadores contemporâneos que eu gosto bastante:
DIRECTION, One. 2014.
Com os vidros abertos para o vento da noite, colocamos os braços para fora respirando a liberdade, e voltamos para casa rindo de como somos idiotas, ouvindo Heart Of Glass.
HAHAHAHAHAHAHHAHAH SOFRII
ResponderExcluirAnna, acho que se eu tirar um dia só para ler os posts com a tag novela mexicana vou entrar em colapso de tanto rir. A forma como você conta suas histórias é maravilhosa!
Regra número um : nunca achar que o sufoco acabou. O sufoco nunca acaba. Esses teus rolês são bem interessantes viu, preciso encontrar uns amigos assim \o/
ResponderExcluirHahaha ai Anna, quanto sufoco. Fiquei aflita só de imaginar a situação.Adoro o jeito como você escreve as suas histórias. Bjsss <33
ResponderExcluirNão lembro como vim parar no seu blog, mas agradeço muito por ter clicado no link.
ResponderExcluirMe diverti horrores com essa história!
É sempre assim: quando a gente acha que não pode ficar pior, tudo acontece!
Amiga, socorro. Quando você me contou eu já ri, mas aqui lendo o post eu quase morri porque, gente, HAHAHAHAHA, plmdd. Sabe que no fim das contas eu adoro me meter num apuro desses, né? Porque, cê sabe, eu passaria o apuro inteiro pensando no texto que ele ia acabar me rendendo. PFVR, preciso fugir de um cinema com vc e com Matheus (ele vai enlouquecer porque eu também não conseguirei fazer nada além de rir).
ResponderExcluirTe amo! <3
Ana, você sempre faz as melhores escolhas. O que rende um bom texto, e uma divertida leitura. Que história ein, tento imaginar a situação mas não consigo, acho que eu também teria uma crise se riso e logo em seguida entraria em pânico. Que bom que no fim deu tudo certo, ou quase.
ResponderExcluirBjs!
Porque numa situação como essa, o mais plausível é ter um ataque de riso, claro, kkkkkkkk Eu SEMPRE faço isso, e sempre sou aquela que conta tudo pra todos depois, preciso de mais situações como essa na minha vida, kk.
ResponderExcluirAdorei o post, dei muito risada e como sempre, se você fizer um Novo Testamento aqui, eu vou ler até o fim, porque olhar, seus textos nunca são tão compridos que me façam enjoar.
Apesar do texto ter vários spoilers do filme achei super divertido e quase morri de rir aqui com as suas peripécias na sala do cinema KKKKKKKK
ResponderExcluirAHAHAAHAHAHAHAH Eu adoro o jeito que tu escreve, sério. É mega divertido. E eu pude imaginar tudo muito certinho. Que maravilha. Eu já não tenho muita vontade de assistir comédia nacional, mas esse aí, pelo relato, conseguiu superar as expectativas de como ser ruim. E a agonia de não poder fugir? Nossa, amo (não). Nada como ficar presa vivendo o pesadelo. Quem nunca, né...
ResponderExcluirBeijos!
Sua vida dava um filme, Anna! HAUAHAUHAUHAUAHUAH Adorei o post, me diverti muito lendo. Acho que o Matheus te deve muito mais do que só uma, né? hahaha.
ResponderExcluirBeijo grande!
2015 começou com tudo, hein! hahahaha Cena de sitcom, isso.
ResponderExcluirBeijo! ;*
HAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHA
ResponderExcluirMil desculpas Anna, mas você não faz ideia de quanto ri lendo esse post! Muito obrigada por compartilhar essa história com a gente e tornar o dia melhor! O seu jeito de escrever é mágico e nunca vou cansar de admirar o modo como você transforma algo "pequeno" em um post maravilhoso!
Beijos e cuidado na próxima ida ao cinema UAHSUAHSUAHSUAHS
Gente do céu! Vamos mandar para a Globo Filmes essa história porque certamente vai dar um roteiro bem melhor do que o tal Loucas para Casar!!!! Que bizarro! Eu ia entrar em pânico na parte do estacionamento, morro de medo de estacionamentos vazios! Sempre acho que vai aparecer um ser de capa preta do tipo Eu sei o que vocês fizeram no verão passado e me tacar o gancho no estômago!
ResponderExcluirAgora esse filme sinceramente nem me deu vontade de ver. Apesar de adorar a Ingrid sinto o oposto pela Tatá Werneck, logo, nem me atrevi a passar por esse suplício.
Mas enfim, a pergunta que não quer calar é: POR QUE UM MARCIO GARCIA CARECA APARECE NO FILME? POR QUE???
Beijos
Amiga, OBRIGADA POR EXISTIR, POR ESCREVER, POR TER UM BLOG E POR SER MINHA AMIGA!! Como eu aaaaaamo seus textosss! Dei muita, muita, muita risada! Eu te juro que ri com o filme, principalmente porque AMO TATA WERNECK. Mas eu queria matar as 3 loucas o filme inteiro e no final fiquei desesperada e em choque tentando processar a informação, hahahahaha. Enfim, obrigada por escrever. Te amoooo!
ResponderExcluirPOR FAVOR, temos as melhores histórias sim ou com certeza? O cinema do barra shopping tem uma sala que a saída é mega estranha, aí pra voltar pro shopping tem que descer uns dois lances de escada, mas eu não sabia disso; logo, desci direto e fui parar no estacionamento. Fiquei confusine, não sei por que eles fazem essas coisas com a gente. Eles definitivamente nos odeiam. Mas se rende bons posts, a gente vive.
ResponderExcluirBeijos <3
Gente... ia perguntar se vocês foram num cinema de rua, mas o episódio do shopping me respondeu. Que cinema maluco hein? Mas eu ri - só não mais do que o dedinho grampeado da Nalu - que que cês fazem nessa vida pra acontecer essas coisas? haha que judiação gente! Filme ruim é uma lástima, de uns anos pra cá a Globo só faz copiar as comédias romanticas de Hollywood e deixarem elas ruins - não que as originais sejam muito melhores, mas pelo menos a gente consegue rir sem ser de desespero - tsc tsc tsc
ResponderExcluirPelo menos isso rendeu uma bela história pro blog e pros netos quem sabe né? hehe
beijos