segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Já fui uma brasa


Quando paro pra analisar a minha vida em retrospecto, tenho uma sensação atordoante de que passei por um total desencontro de fases. Sinto que vivi meus anos de adolescência e os píncaros da glória da minha juventude entre os meus dez e catorze anos. As minhas histórias mais legais e malucas sempre remetem a essa faixa etária. Fiz poucas coisas interessantes dos quinze até então, e pior: sinto que ando cada vez mais desanimada, chata e preguiçosa à medida que o tempo passa. Como se de uma áurea adolescência precoce eu tivesse pulado direto pr'aquele terreno nebuloso dos trinta e cinco em que tudo que você quer na vida é um chinelo macio, uma comida quente e um bom filme na TV ao fim de cada dia. 

O problema reside naquele velho clichê: só se é jovem uma vez. E por mais que uma das coisas que eu mais goste nessa vida seja exatamente aquele cenário descrito acima, sinto falta de aventuras. Me sinto ridícula por várias coisas que fiz aos 11, 12 anos, mas não me arrependo delas, de jeito algum. Não fazia nada demais - no fundo sempre fui boa moça, boa filha e não me canso de repetir que meus pais deveriam colocar as mãos pro céu por nunca terem sabido o que é um filho dando trabalho - mas eu era mais divertida, legal, intrépida. Eu e minhas amigas assistimos comédias adolescentes demais nessa fase e uma vez cismamos que tudo que faltava nos tradicionais jogos de interclasse da escola era uma equipe de líderes de torcida. Conversamos na coordenação, com a professora de educação física e tentamos agitar o pessoal. Ninguém comprou nossa ideia e mesmo assim lá fomos nós, de fantasias ridículas e curtas naquele frio de início de inverno, com pompons coloridos e gritos de guerra improvisados, correndo e pulando ao redor da quadra, sendo mortalmente gongadas pelas costas e felizes demais vivendo um momento único nas nossas vidas. 

Na quinta série, o cara mais bonito da escola era filho da minha professora de português e estava no terceiro ano. E eu era amiga dele. Sempre que lembro disso fico me perguntando como ele foi parar na minha lista de contatos do MSN, mas a verdade é que ele estava lá e não só fazendo figuração, porque por um tempo a gente se falou bastante. Ele até me confessou que assistia The OC de vez em quanto e ficou chocado quando eu contei que a Marissa morria no fim da terceira temporada. Hoje fico imaginando toda a sorte de coisas ridículas que eu devo ter dito pra ele no intuito de parecer super legal e descolada, e ele devia mostrar aqueles históricos para os amigos dele, que de certo seguravam a risada quando eu passava com minhas amigas para cumprimentá-lo durante o recreio, mas não me arrependo disso. Não morri ou perdi algum pedaço do braço, e por mais que fique afirmando pra mim mesma que não tenho nada a perder, hoje, aos 18, encaro frequentemente um perfil no Facebook, incapaz de mandar um oi, e me limito a arranjar desculpas pra ir até a biblioteca na esperança de que um milagroso alinhamento de planetas promova a comunicação que eu tanto desejo e tão covardemente não consigo iniciar. Como se fosse uma menininha de onze anos apaixonada pelo cara mais bonito do colegial.

Sinto falta de ter essa cabeça leve, de dar a cara a tapa, de ter menos medo da opinião dos outros. Não falo aqui em me tornar a louca da balada e chegar em casa carregada, com o cabelo sujo de vômito e sem conseguir me lembrar o nome de pelo menos um dos cinco caras que beijei naquela noite, mas simplesmente de me levar menos a sério, pensar um pouco menos no futuro, ter pique pra viajar 700km no ônibus da universidade rumo a algum evento com muita cara de roubada - mas o que é a vida sem esses eventos que a gente jura que se arrependeu mas no fundo sabe que faria de novo? Além da preguiça e da chatice, o grande mal que me consome é o da self-consciousness. Esse é um termo do inglês que não consigo traduzir sem reduzir o seu significado. Literalmente seria a auto-consciência. Aquele martírio pelo qual passamos quando sentimos que observamos a nós mesmos do alto ao mesmo tempo em que fazemos qualquer coisa. É aquela vozinha interior que grita "idiota! ridícula! patética!" quando começamos a escrever uma mensagem pra alguém especial - e que nos faz apagar tudo, desistir daquilo e ir dormir. É aquele freio que nos interrompe quando o professor faz uma pergunta e, mesmo sabendo a resposta, desistimos de falar por medo de estar errado. Eu sou um poço de self-consciousness, e se tivesse que chutar o nome de um dos abismos que separa a garota que eu sou hoje, que morre de vontade de furar o nariz e usar meias 3/4 mas tem vergonha, daquela brasa que já fui um dia, esse termo pedante seria o título mais apropriado.

Já cantei Legião na avenida Paulista e entrei numa fonte na praça principal de uma cidade pequena simplesmente porque sim, cantei em karaokê de shopping e pintei meu cabelo com papel crepom sem minha mãe deixar. Posso fazer uma resolução de ano novo antecipada? Mais dias assim e menos daqueles, como ontem, em que o ponto alto do meu dia foi fazer barraco com a atendente do China In Box. Que eu crie coragem para colocar um piercing, mudar a cor do meu cabelo e pare de encher meus amigos de nãos ou vamos deixar pra outro dia só porque já cheguei em casa, coloquei pijamas e vi que o Globo Repórter promete. 

Se eu seguir vivendo nesse timing confuso e errado, já prevejo uma meia-idade despirocada, em que vou acabar com um piercing no umbigo, ou pior, uma tatuagem de borboleta no tornozelo.

10 comentários:

  1. Eu tenho 16 e me identifiquei tanto com tudo isso. Desanimação e preguiça me consomem. E eu também prefiro ficar em casa assistindo Globo Repórter (principalmente os de viagem) kkk, complicado...

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  2. Ah menina,tem que tocar o puteiro mesmo,acomodação é para os fracos. E sobre essa idade de 35 anos,chinelo e filme em casa. Non ecxiste,tenho 36 e se passar um final de semana em casa acho que morro de tédio.

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  3. O que eu tenho a dizer: ISSO FOI ESCRITO PARA MIM!!!

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  4. O que você chama de self-consciousness, Freud chamou de Superego. Aquela parte maldita do nosso aparelho psíquico que insiste em trollar as nossas vontades malucas.
    Mas olhe, eu senti uma identificação com o texto. Só que não foi pelo fato de ter feito loucuras no início da adolescência... foi justamente por não ter feito nada disso e hoje, aos 24 anos, sentir falta de ter esses momentos de insanidade temporária.

    Enfim, isso é papo de gente com velhice precoce. kkkk

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  5. Eu inventava coisas mirabolantes aos 10 também. Tipo desfiles de biquini no fundo do quintal da vovó. Nossos tios nos gongavam muito, jogavam água, mas todo mundo ria no final. Mas desde pequena eu sempre fui um poço de self-consciouss. Eu sou daquela que penso nas frases antes de digitar. Sou aquela que já apagou inúmeras mensagens de texto por medo de enviar. Diria que sou aquela que dificilmente sairei na chuva, de tanto medo de me molhar. E eu odeio isso! Odeio mesmo, porque eu também sinto que isso não vai me levar a nada! E eu morro de vontade furar o nariz! E não quero fazer isso aos 30..
    Anna, nós somos gêmeas.
    Te amo. <3

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  6. Abri meu painel do blogger pra tentar sair dessa seca de escrita e aí me deparei com seu texto. E aí percebei que me diverti e fiz loucuras de adolescente até uns 15, 16 anos, depois tudo ficou, sei lá, sério demais. Eu passei a me levar a sério demais. E cá estou, caminhando para os 30. Com vontade de furar o nariz (de novo, porque fiz isso aos 17 e acabei tirando por ter inflamado). Pois é.
    Se jogue, Anninha. O tempo voa!
    Beijo

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  7. Eu estava pensando nisso esses dias, porque sai com minhas irmãs pro shopping e cada uma pagou um mico, e quando eu tinha essa idade de 14, 15 anos, pagava muito mais e era super divertido. Até que eu não me controlo tanto assim, mas acontece na maioria das vezes, e é muito ruim. Já cansei de deixar de sair com alguma amiga por preguiça, e etc. E como você disse, quando estivermos mais velhas, vamos querer fazer altas loucuras rs
    Beijo!

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  8. Amiga, eu li esse texto assim que você postou e não consegui comentar nada. Porque tudo que eu queria era gritar um grande THIIIIIIIIIIIIS. E achei que seria bobo, mas agora que bebi do soro da verdade (zumbizando de sono), me lembrei que se trata de você, que sempre entende minhas creicices e bobeiras. Aí vim aqui dizer que me identifiquei horrores. E que isso de se identificar me dói às vezes, como você também sabe (: Por isso a falta de palavras que façam sentido.

    Enfim, assino embaixo. Só trocaria o furo no nariz por uma tatuagem bem linda. Só não conta pra minha vó ;)

    Amo você!

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  9. Cara, tapa na minha cara esse texto! hahaha
    Muito bom! E é assim mesmo, tô com vite e 'uns' e relembro meu colegial da mesma forma! Eu era uma idiota feliz, hahaha!
    Droga, comecei a pensar antes de fazer e deixei mt coisa divertida de lado!
    Beijo grande!

    Taryne: "...isso tudo que eu queria era gritar um grande THIIIIIIIIIIIIS." ( true story)

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  10. Pode falar que eu não ligo, agora amigo eu tô em outra...
    Eu tô ficando velha. Eu tô ficando louca.

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