Quando paro pra analisar a minha vida em
retrospecto, tenho uma sensação atordoante de que passei por um total
desencontro de fases. Sinto que vivi meus anos de adolescência e os píncaros da
glória da minha juventude entre os meus dez e catorze anos. As minhas histórias
mais legais e malucas sempre remetem a essa faixa etária. Fiz poucas coisas
interessantes dos quinze até então, e pior: sinto que ando cada vez mais
desanimada, chata e preguiçosa à medida que o tempo passa. Como se de uma áurea
adolescência precoce eu tivesse pulado direto pr'aquele terreno nebuloso dos
trinta e cinco em que tudo que você quer na vida é um chinelo macio, uma comida
quente e um bom filme na TV ao fim de cada dia.
O problema reside naquele velho clichê: só
se é jovem uma vez. E por mais que uma das coisas que eu mais goste nessa vida
seja exatamente aquele cenário descrito acima, sinto falta de aventuras. Me
sinto ridícula por várias coisas que fiz aos 11, 12 anos, mas não me arrependo
delas, de jeito algum. Não fazia nada demais - no fundo sempre fui boa moça,
boa filha e não me canso de repetir que meus pais deveriam colocar as mãos pro
céu por nunca terem sabido o que é um filho dando trabalho - mas eu era mais
divertida, legal, intrépida. Eu e minhas amigas assistimos comédias
adolescentes demais nessa fase e uma vez cismamos que tudo que faltava nos
tradicionais jogos de interclasse da escola era uma equipe de líderes de
torcida. Conversamos na coordenação, com a professora de educação física e
tentamos agitar o pessoal. Ninguém comprou nossa ideia e mesmo assim lá fomos
nós, de fantasias ridículas e curtas naquele frio de início de inverno, com
pompons coloridos e gritos de guerra improvisados, correndo e pulando ao redor
da quadra, sendo mortalmente gongadas pelas costas e felizes demais vivendo um
momento único nas nossas vidas.
Na quinta série, o cara mais bonito da
escola era filho da minha professora de português e estava no terceiro ano. E
eu era amiga dele. Sempre que lembro disso fico me perguntando como ele foi parar
na minha lista de contatos do MSN, mas a verdade é que ele estava lá e não só
fazendo figuração, porque por um tempo a gente se falou bastante. Ele até me
confessou que assistia The OC de vez em quanto e ficou chocado quando eu contei
que a Marissa morria no fim da terceira temporada. Hoje fico imaginando toda a
sorte de coisas ridículas que eu devo ter dito pra ele no intuito de parecer
super legal e descolada, e ele devia mostrar aqueles históricos para os amigos
dele, que de certo seguravam a risada quando eu passava com minhas amigas para
cumprimentá-lo durante o recreio, mas não me arrependo disso. Não morri ou
perdi algum pedaço do braço, e por mais que fique afirmando pra mim mesma que
não tenho nada a perder, hoje, aos 18, encaro frequentemente um perfil no
Facebook, incapaz de mandar um oi, e me limito a arranjar desculpas pra ir até
a biblioteca na esperança de que um milagroso alinhamento de planetas promova a
comunicação que eu tanto desejo e tão covardemente não consigo iniciar. Como se
fosse uma menininha de onze anos apaixonada pelo cara mais bonito do colegial.
Sinto falta de ter essa cabeça leve, de
dar a cara a tapa, de ter menos medo da opinião dos outros. Não falo aqui em me
tornar a louca da balada e chegar em casa carregada, com o cabelo sujo de
vômito e sem conseguir me lembrar o nome de pelo menos um dos cinco caras que
beijei naquela noite, mas simplesmente de me levar menos a sério, pensar um
pouco menos no futuro, ter pique pra viajar 700km no ônibus da universidade
rumo a algum evento com muita cara de roubada - mas o que é a vida sem esses
eventos que a gente jura que se arrependeu mas no fundo sabe que faria de novo?
Além da preguiça e da chatice, o grande mal que me consome é o da
self-consciousness. Esse é um termo do inglês que não consigo traduzir sem
reduzir o seu significado. Literalmente seria a auto-consciência. Aquele
martírio pelo qual passamos quando sentimos que observamos a nós mesmos do alto
ao mesmo tempo em que fazemos qualquer coisa. É aquela vozinha interior que
grita "idiota! ridícula! patética!" quando começamos a escrever uma
mensagem pra alguém especial - e que nos faz apagar tudo, desistir daquilo e ir
dormir. É aquele freio que nos interrompe quando o professor faz uma pergunta
e, mesmo sabendo a resposta, desistimos de falar por medo de estar errado. Eu
sou um poço de self-consciousness, e se tivesse que chutar o nome de um dos
abismos que separa a garota que eu sou hoje, que morre de vontade de furar o
nariz e usar meias 3/4 mas tem vergonha, daquela brasa que já fui um dia, esse
termo pedante seria o título mais apropriado.
Já cantei Legião na avenida Paulista e
entrei numa fonte na praça principal de uma cidade pequena simplesmente porque
sim, cantei em karaokê de shopping e pintei meu cabelo com papel crepom sem
minha mãe deixar. Posso fazer uma resolução de ano novo antecipada? Mais dias
assim e menos daqueles, como ontem, em que o ponto alto do meu dia foi fazer
barraco com a atendente do China In Box. Que eu crie coragem para colocar um
piercing, mudar a cor do meu cabelo e pare de encher meus amigos de nãos ou
vamos deixar pra outro dia só porque já cheguei em casa, coloquei pijamas e vi
que o Globo Repórter promete.
Se eu seguir vivendo nesse timing confuso
e errado, já prevejo uma meia-idade despirocada, em que vou acabar com um
piercing no umbigo, ou pior, uma tatuagem de borboleta no tornozelo.
Eu tenho 16 e me identifiquei tanto com tudo isso. Desanimação e preguiça me consomem. E eu também prefiro ficar em casa assistindo Globo Repórter (principalmente os de viagem) kkk, complicado...
ResponderExcluirAh menina,tem que tocar o puteiro mesmo,acomodação é para os fracos. E sobre essa idade de 35 anos,chinelo e filme em casa. Non ecxiste,tenho 36 e se passar um final de semana em casa acho que morro de tédio.
ResponderExcluirO que eu tenho a dizer: ISSO FOI ESCRITO PARA MIM!!!
ResponderExcluirO que você chama de self-consciousness, Freud chamou de Superego. Aquela parte maldita do nosso aparelho psíquico que insiste em trollar as nossas vontades malucas.
ResponderExcluirMas olhe, eu senti uma identificação com o texto. Só que não foi pelo fato de ter feito loucuras no início da adolescência... foi justamente por não ter feito nada disso e hoje, aos 24 anos, sentir falta de ter esses momentos de insanidade temporária.
Enfim, isso é papo de gente com velhice precoce. kkkk
Eu inventava coisas mirabolantes aos 10 também. Tipo desfiles de biquini no fundo do quintal da vovó. Nossos tios nos gongavam muito, jogavam água, mas todo mundo ria no final. Mas desde pequena eu sempre fui um poço de self-consciouss. Eu sou daquela que penso nas frases antes de digitar. Sou aquela que já apagou inúmeras mensagens de texto por medo de enviar. Diria que sou aquela que dificilmente sairei na chuva, de tanto medo de me molhar. E eu odeio isso! Odeio mesmo, porque eu também sinto que isso não vai me levar a nada! E eu morro de vontade furar o nariz! E não quero fazer isso aos 30..
ResponderExcluirAnna, nós somos gêmeas.
Te amo. <3
Abri meu painel do blogger pra tentar sair dessa seca de escrita e aí me deparei com seu texto. E aí percebei que me diverti e fiz loucuras de adolescente até uns 15, 16 anos, depois tudo ficou, sei lá, sério demais. Eu passei a me levar a sério demais. E cá estou, caminhando para os 30. Com vontade de furar o nariz (de novo, porque fiz isso aos 17 e acabei tirando por ter inflamado). Pois é.
ResponderExcluirSe jogue, Anninha. O tempo voa!
Beijo
Eu estava pensando nisso esses dias, porque sai com minhas irmãs pro shopping e cada uma pagou um mico, e quando eu tinha essa idade de 14, 15 anos, pagava muito mais e era super divertido. Até que eu não me controlo tanto assim, mas acontece na maioria das vezes, e é muito ruim. Já cansei de deixar de sair com alguma amiga por preguiça, e etc. E como você disse, quando estivermos mais velhas, vamos querer fazer altas loucuras rs
ResponderExcluirBeijo!
Amiga, eu li esse texto assim que você postou e não consegui comentar nada. Porque tudo que eu queria era gritar um grande THIIIIIIIIIIIIS. E achei que seria bobo, mas agora que bebi do soro da verdade (zumbizando de sono), me lembrei que se trata de você, que sempre entende minhas creicices e bobeiras. Aí vim aqui dizer que me identifiquei horrores. E que isso de se identificar me dói às vezes, como você também sabe (: Por isso a falta de palavras que façam sentido.
ResponderExcluirEnfim, assino embaixo. Só trocaria o furo no nariz por uma tatuagem bem linda. Só não conta pra minha vó ;)
Amo você!
Cara, tapa na minha cara esse texto! hahaha
ResponderExcluirMuito bom! E é assim mesmo, tô com vite e 'uns' e relembro meu colegial da mesma forma! Eu era uma idiota feliz, hahaha!
Droga, comecei a pensar antes de fazer e deixei mt coisa divertida de lado!
Beijo grande!
Taryne: "...isso tudo que eu queria era gritar um grande THIIIIIIIIIIIIS." ( true story)
Pode falar que eu não ligo, agora amigo eu tô em outra...
ResponderExcluirEu tô ficando velha. Eu tô ficando louca.