Sou muito mais de esquerda do que intelectual, e sei lá o que isso tem a ver com o fato de sonhar com cafés ruins - muito provavelmente nada, mas ignoremos o detalhe em nome do amor por uma boa referência. Me importo muito mais com café barato do que com cerveja e por isso me sinto na obrigação de abraçar o Antonio Prata de ladinho e adicionar um apêndice ao seu manifesto. Meu sonho é ter um café ruim no qual eu possa criar raízes, me afundar num sofá velho e poder me sentir parte dessa coisa linda que é o Brasil.
Sei lá se posso enquadrar cafés ruins na coisa linda que é o Brasil, para ser bem sincera, já que minha concepção de café ruim é muito mais americana do que tudo. Alto lá, queridos leitores meio intelectuais, meio de esquerda, que já ameaçam virar os olhos diante da simples menção elogiosa a algum produto dessa pérfida nação imperialista, que Tio Sam tem lá seus méritos. Eu nunca fui aos Estados Unidos, mas a maioria esmagadora dos filmes e séries norte-americanos que já vi me ensinaram que nas terras lá de cima, em qualquer esquina você encontra um lugarzinho pra tomar café e comer um pedaço de torta.
As cafeterias daqui, ao menos todas as que eu conheço, tem se esforçado muito para criar um ambiente agradável e cool em nome de reproduzir aquela atmosfera despretensiosa e aconchegante dos lugares que a gente vê nos filmes, que servem de refúgio a meio intelectuais, meio de esquerda buscando inspiração para um texto ou para uma teoria revolucionária, e também como ponto de encontro para amigos de longa data e casais que dividem waffles. O problema dessa ambição é que todo projeto que, antes de existir, já se pretende despretensioso, acaba sendo justamente o contrário, e o que vemos são lindas cafeterias impecavelmente decoradas, música ambiente agradável, um cardápio de 10 páginas e uma xícara de café que custa mais de cinco dinheiros.
Amigos, vocês estão fazendo isso errado. Quer dizer, do ponto de vista mercantil da coisa estão fazendo mais do que certo, vide o dono de uma cafeteria de Uberlândia que conseguiu criar um ambiente bacana e agradável o bastante para sempre me arrancar uma quantidade ofensiva de dinheiro em troca de uma comida bastante meia-boca, para não dizer ruim. Contudo, abuso da minha condição de mais-de-esquerda-do-que-intelectual para dar asas às minhas aspirações mais ingênuas e pensar que deva existir no mundo uma pessoa com vontade de abrir um lugar que venda café, chá, pães de queijo e uns bolinhos, e as pessoas a fim de um ~ambiance~ que se virem com as poltronas meio velhas, a decoração fora de moda e as canecas que não combinam entre si.
Esqueçam a Starbucks e pensem no café da tarde na casa da sua avó que mora no interior, que faz sempre os mesmos bolos - porque eles são fantásticos por si só -, só tem chá mate na dispensa e que sempre enche sua caneca à medida em que ela esvazia. Mais avós e menos caramel macchiato ventis.
Além de um café barato e servido em canecas, gostaria muito de ter a chance de comer bolos e tortas. Nas cafeterias daqui, ou eles são feitos de massa pronta e tem aquele gosto de isopor e remédio, ou então temos que pagar mais de R$10 por uma fatia fininha e triste. A experiência gastronômica da coisa é valida, mas enquanto não recebo uma mudinha de árvore de dinheiro para plantar no meu quintal - e eu nem tenho um quintal! -, deixemos o Mousse Cake e a Amor Aos Pedaços para ocasiões especiais. Não deve ser muito difícil fazer um bolinho de cenoura, de fubá ou de limão e deixar ali para que a gente se sirva. Muffins molhadinhos e talvez croissants às quartas-feiras para dar um ar de Europa que vez ou outra faz bem, mas só! Vamos nos ater àquilo que é bom e esquecer as invencionices de grãos de café torrados por freiras suíças batidos com grapefruit e iogurte natural feito com leite de cabres virgens de Salzburgo. Que café-com-leite atenda por, no máximo, média, e que caso alguém apareça pedindo um latte, que algum cerumano espirituoso que esteja por perto lembre-se de fazer referência à herança cultural que nos foi deixada pela Gaiola das Popozudas.
Eu só queria ter um lugar meio Central Perk meio Road House meio Luke's, que me recebesse com canecas de café, servisse hamburguer na hora do almoço e chá com bolo ao fim do dia, e não seria má ideia um Jude Law como balconista, que ouvisse desabafos melancólicos no fim do expediente e me trouxesse aquele último pedaço de torta de blueberry, com uma bola extra de sorvete, por conta da casa.
As cafeterias daqui, ao menos todas as que eu conheço, tem se esforçado muito para criar um ambiente agradável e cool em nome de reproduzir aquela atmosfera despretensiosa e aconchegante dos lugares que a gente vê nos filmes, que servem de refúgio a meio intelectuais, meio de esquerda buscando inspiração para um texto ou para uma teoria revolucionária, e também como ponto de encontro para amigos de longa data e casais que dividem waffles. O problema dessa ambição é que todo projeto que, antes de existir, já se pretende despretensioso, acaba sendo justamente o contrário, e o que vemos são lindas cafeterias impecavelmente decoradas, música ambiente agradável, um cardápio de 10 páginas e uma xícara de café que custa mais de cinco dinheiros.
Amigos, vocês estão fazendo isso errado. Quer dizer, do ponto de vista mercantil da coisa estão fazendo mais do que certo, vide o dono de uma cafeteria de Uberlândia que conseguiu criar um ambiente bacana e agradável o bastante para sempre me arrancar uma quantidade ofensiva de dinheiro em troca de uma comida bastante meia-boca, para não dizer ruim. Contudo, abuso da minha condição de mais-de-esquerda-do-que-intelectual para dar asas às minhas aspirações mais ingênuas e pensar que deva existir no mundo uma pessoa com vontade de abrir um lugar que venda café, chá, pães de queijo e uns bolinhos, e as pessoas a fim de um ~ambiance~ que se virem com as poltronas meio velhas, a decoração fora de moda e as canecas que não combinam entre si.
Esqueçam a Starbucks e pensem no café da tarde na casa da sua avó que mora no interior, que faz sempre os mesmos bolos - porque eles são fantásticos por si só -, só tem chá mate na dispensa e que sempre enche sua caneca à medida em que ela esvazia. Mais avós e menos caramel macchiato ventis.
Além de um café barato e servido em canecas, gostaria muito de ter a chance de comer bolos e tortas. Nas cafeterias daqui, ou eles são feitos de massa pronta e tem aquele gosto de isopor e remédio, ou então temos que pagar mais de R$10 por uma fatia fininha e triste. A experiência gastronômica da coisa é valida, mas enquanto não recebo uma mudinha de árvore de dinheiro para plantar no meu quintal - e eu nem tenho um quintal! -, deixemos o Mousse Cake e a Amor Aos Pedaços para ocasiões especiais. Não deve ser muito difícil fazer um bolinho de cenoura, de fubá ou de limão e deixar ali para que a gente se sirva. Muffins molhadinhos e talvez croissants às quartas-feiras para dar um ar de Europa que vez ou outra faz bem, mas só! Vamos nos ater àquilo que é bom e esquecer as invencionices de grãos de café torrados por freiras suíças batidos com grapefruit e iogurte natural feito com leite de cabres virgens de Salzburgo. Que café-com-leite atenda por, no máximo, média, e que caso alguém apareça pedindo um latte, que algum cerumano espirituoso que esteja por perto lembre-se de fazer referência à herança cultural que nos foi deixada pela Gaiola das Popozudas.
Eu só queria ter um lugar meio Central Perk meio Road House meio Luke's, que me recebesse com canecas de café, servisse hamburguer na hora do almoço e chá com bolo ao fim do dia, e não seria má ideia um Jude Law como balconista, que ouvisse desabafos melancólicos no fim do expediente e me trouxesse aquele último pedaço de torta de blueberry, com uma bola extra de sorvete, por conta da casa.
Norah Jones curtiu esse post |
Também sofro desse mal. Como podemos nos tornar escritoras famosas, quando não temos um café ruim pra chamar de nosso? Assim não dá.
ResponderExcluirNem gosto de café, mas um chocolate quente seria uma boa numa dessas. Sonho com um Central Perk pra chamar de meu, seria total vida. Eu faria tudo lá. Encontraria amigos, escreveria, checaria e-mails.. Ia ser a vida! <3
ResponderExcluiranna, eu amo café mas sou doida mesmo é por um cappuccino e ultimamente tenho pirado num pingado. super concordo com você e sou a favor do manifesto. e os preços, que sejam pequenos, por favor!
ResponderExcluirTenho uma paixão louca por café com leite (em pó!) e sinto falta de lugares acolhedores & baratos enquanto ando pelos cantos da minha cidade também. Esses dias, por sorte, abriram uma lanchonete até bacaninha na faculdade onde estudo, mas o café é terrivelmente aguado, daí não tem graça, né?
ResponderExcluirApoio seu manifesto, Anna!
Não tenho palavras para explicar o que achei desse texto! Adorei a forma como você estruturou as suas ideias e as ótimas referências às séries e filmes!
ResponderExcluirOlha, eu até vou em Starbucks e tal...mas não tem nada melhor que aquele café com leite da padaria, sabe? Ou aquele de casa meso, com bolinho de mamãe :) O ambiente dos cafés é muito agradável. Adoro ficar lá só observando os demais seres humanos com seus afazeres, ou então lendo um livro enquanto escuto a minha própria trilha sonora com meus fones de ouvidos... As músicas de Starbucks são muito...ambiente. Parecem trilha sonora de sala de espera, de elevador, de Saraiva...sei lá!
Fora que, normalmente, os lugares mais acabados visualmente são os que servem as melhores comidas, né?
Parabéns pelo post!
Beijos,
Michas
http://michasborges.blogspot.com
Estou apaixonada por esse texto.
ResponderExcluirReferência ao Luke's é demais pra mim *____*
Nem sei o que eu dizer.
É por essas e outras que eu te abo, Bavis!
<3