quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A mina que me salvou no meio da rua

Esse post é parte do meu projeto 1001 Pessoas, inspirado nesse blog aqui.

Nesse último fim de semana estive em São Paulo, num bate-volta desses bem loucos que eu adoro inventar, que me rendem dias de correria insana, pouco sono e a frustração por não poder estar em três lugares ao mesmo tempo. No mínimo. E aí que no domingo foi aniversário da cidade, e apesar do clima apocalíptico, dos banhos praticamente à seco e da culpa que eu sentia a cada copo d'água que tomava, deu pra curtir bastante essa terra louca que eu aprendi a amar. Depois de passar o dia curtindo o centrão, o Pedro perguntou o que eu achava de ir ver o show do Metá Metá no Largo da Batata. 

Eu nunca ouvi Metá Metá na minha vida. Eu nem sei que tipo de som eles fazem, se é metal ou maracatu. Já tinha ouvido falar meio por cima, vi algumas pessoas comemorando o show deles no aniversário da cidade, mas normalmente é preciso muito mais que isso pra me tirar de casa e me levar pro Largo da Batata no calor de meu Jesus que fez naquela cidade domingo. O problema é que era o Pedro que estava pedindo, o cara que topa sem pensar todas as minhas ciladas, que me leva pra baixo e pra cima, que passa café de noite pra gente e está sempre disposto a assistir qualquer filme de terror que eu sugira. Quando esse cara pergunta se eu topo ir com ele ver o Metá Metá, o mínimo que eu posso fazer é dizer que sim, sorrindo. 

Chegando lá, pra quem não conhecia nada e nem ninguém, eu bem que me diverti. O som deles, de acordo com as pessoas ao redor, é "violentíssimo e orgânico de um jeito que não se vê fácil hoje em dia". Eu achei uma mistura de maracatu com punk, se é que essa associação é permitida. Curti, dancei, mas estava preocupada com o relógio. De acordo com a programação, os shows iam acabar por volta das 21h, , mas já eram 20h30 e a última banda, a Nação Zumbi, não tinha nem entrado. Eu tinha que estar em casa antes das 21h30, porque ia pegar o ônibus de volta ainda naquela noite, então resolvi voltar sozinha de metrô. 

Falando assim tão naturalmente até parece que eu faço esse tipo de coisa todos os dias, mas a verdade é que, por mais que eu adore dizer que I'm a strong, confident woman, algumas situações me forçam a reconhecer que, no fundo, ainda sou uma mocinha do interior que morre de medo da cidade grande. Não é uma merda você se sentir tão vulnerável só porque é uma garota sozinha de minissaia (era um short-saia, porque eu tenho 12 anos, mas enfim) no transporte público depois das nove da noite? É sim. Se eu já estava super desconfortável antes, ficou um pouco pior quando o Pedro me ligou e disse que não daria pra minha tia me buscar na estação porque tinham saído com o carro. Eu teria que pegar um táxi, ou um ônibus, e, se eu tivesse sorte, encontraria um na porta do metrô. 

Eu não tive sorte, pelo menos não ainda. Aquele ponto de táxi super confiável da estação Sumaré se reduziu a um banquinho no meio de uma rua escura, sem sinal de vida, muito menos de táxis. O que era uma pequena ansiedade se transformou num medo muito sincero, e eu não conseguia parar de pensar que eu era uma garota-sozinha-de-minissaia-no-meio-da-avenida-sem-bateria-e-sete-reais-na-carteira. Que mundo horrível esse em que vivemos. Comecei a repetir meus mantras de encorajamento - You are a strong, confident woman. You are intrepid, you carry on. Se estiver com medo, vá com medo. Jesus, me tira daqui - e comecei a pensar que a melhor coisa seria achar um ponto de ônibus e entrar no primeiro que aparecesse, mas antes de qualquer ônibus e qualquer táxi e qualquer marmanjão suspeito™, uma moça desconfiada emergiu da escada da estação.



Ela parecia procurar algo ou alguém, mexia no celular freneticamente e olhava pros lados bem nervosa. Fui perguntar se ela sabia onde pegar um táxi ali perto e quando disse "Oi, moça?", ela deu um pulo de susto. Logo me pediu desculpas, disse que tinha muito medo de ficar na rua sozinha e qualquer coisinha já punha ela em sobressalto. Ela também estava contando com o ponto de táxi e tinha começado a procurar no Google o número de alguma central, mas a internet do celular não colaborava. Foi então que um táxi se aproximou, e eu e ela começamos a pular e a acenar loucamente, até que ele parou. A gente se entreolhou, meio sem graça, e eu perguntei pra onde ela estava indo. 

- Pra Apiacás, sabe onde fica?

Eu sabia. Porque era a mesma rua pra onde eu estava indo. Nesse momento a gente se abraçou, chorou bastante e entrou no banco de trás de braços dados. Ou algo assim. Porque, né, quais as chances? Eu perdida sozinha na noite encontro uma menina perdida sozinha na noite indo pro mesmo lugar que eu. Não foi a primeira vez que fui salva pelas evidências incontestáveis do destino. Em 2013, novamente perdida (pelo menos não sozinha) na na noite, dessa vez de madrugada, na puta que pariu das imediações do Lollapalooza, eu entrei no primeiro ônibus que apareceu, que me deixou na porta, literalmente na porta, do hotel em que meus amigos estavam hospedados. Descobri, naquela noite, que em São Paulo meu anjo da guarda faz hora extra. 

No último domingo, esse anjo da guarda assumiu as formas de uma moça um pouco mais velha que eu, que tinha um dread na nuca, várias tatuagens misteriosas, um piercing no nariz e apesar da postura fierce-mística-mais-indie-que-você, também tinha a confiança desmontada pelo simples fato de ser uma mulher sozinha numa cidade enorme e hostil, apesar do nosso amor por ela. Foi isso que viemos conversando naquele banco de trás, sobre como era horrível essa situação, sobre como não devia ser assim, sobre como estávamos de saco cheio de viver com medo. 

Chegamos no prédio dela primeiro, e ao racharmos a corrida, os sete reais que eu tinha comigo foram a conta exata da minha parte. A gente se despediu e eu nem sei o nome dela, mas quando cheguei em casa e me perguntaram se estava tudo bem, dei uma risada e disse: sobrevivi. 

solidariedade, irmãs! \o/

22 comentários:

  1. Ai, tuas histórias, Anna. Melhores histórias.
    Gente, te contar, difícil ser feliz sendo mulher, algumas vezes. Eu também fico pinando toda vez que tenho que andar na rua à noite, e nem precisa ser tão tarde assim: 19h já é suficiente para as ruas não terem quase ninguém a quem a gente possa recorrer. Saudades de quando eu estava em Londres e a gente andava despreocupada por suas ruas, sabendo que nada nos aconteceria, que tudo era seguro, que não precisávamos ficar pilhados. Londres, nisso, é uma das melhores cidades do mundo.

    Mas que bom que deu tudo certo e que vocês SE salvaram. <3

    Bjs!

    ResponderExcluir
  2. Hahaha, pelo menos você tem história pra contar! E eu também acho trágico ter que me sentir vulnerável, ter que sentir medo por estar na rua a noite com uma roupa que não seja, sei lá, uma burca ou algo do tipo.

    www.wanilagoularte.wordpress.com

    ResponderExcluir
  3. Ainda bem que essas coisas boas sempre acontecem no meio das furadas (que também sempre acontecem) com a gente. Sozinha de noite numa rua deserta em Sampa: eu teria um troço absoluto. Sorte que às vezes as pessoas que aparecem aleatoriamente no meio da rua em momentos de necessidade são as melhores pessoas que podiam estar no nosso caminho naquela hora. Afinal, imagina se ao invés de uma menina assustada é um cara enorme que (teoricamente) teria mais capacidade de te proteger naquele momento, mas que com certeza ia te deixar com muito mais medo do que você já tava.

    Adorei esse seu projeto, adoro suas histórias, e adoro gente aleatória que a gente encontra por aí.

    Beijos <3

    ResponderExcluir
  4. Eu chego em casa todos os dias 22:30 e tenho que andar um quarteirão inteiro (não é tão grande, mas), é saco sentir medo. Ando no meio da rua só pra ter pra onde correr, vai que.

    ResponderExcluir
  5. Esse sábado, voltando de um show com uma amiga la prás 2 da manhã, passei pela experiência de analisar cada táxi que passava e julgar se o motorista lá dentro era um potencial sequestrador ou não. O que é completamente ridículo, quando se para pra pensar. Mas sendo mulher a essa hora, quem é que ia parar para ser racional e analisar a bosta que é todo esse mundo machista que a gente vive?
    Enfim, adoro suas histórias e essa não fugiu à regra hahah

    Beijo!

    ResponderExcluir
  6. Amiga do céu, acho que nosso anjo da guarda fica sempre de olho quando entramos em apuros e solta umas dessas só pra gente saber que tá segura, né? Que bom que você encontrou essa menina, porque imagino seu medo, deve ter sido um sufoco e tanto!
    Te amo! Beijo!

    ResponderExcluir
  7. senhor que aflição que deu lendo e já imaginando desgraças maiores. mas que bom que apareceu uma irmã HAHA grl pwr :)

    ResponderExcluir
  8. Tenho comigo que a gente só consegue enfrentar um medo, enfrentando ele. Que bom que você chegou ao seu destino final em perfeito estado.

    http://www.jj-jovemjornalista.com/

    ResponderExcluir
  9. Realmente seu anjo da guarda faz hora extra. Toda vez que eu saio e tenho que voltar pra casa na madrugada eu começo meus mantras também, e desço do ônibus correndo no melhor do: salve-se quem puder. Essa parada de sentir medo nos impossibilita um tanto, mas fazer o que né, a vida!
    Bjs!

    ResponderExcluir
  10. Acho que eu já comentei isso por aqui, mas, meu Deus, que capacidade maravilhosa é essa de transformar as coisas que acontecem contigo em textos gostosíssimos de ler, engraçados e que me fazem cada dia mais acreditar em anjos? Porque né... hahaha

    Se eu fosse você, me sentiria exatamente da mesma maneira. Porque quero pensar que já sou bem crescidinha, mas é só me colocar numa cidade grande, à noite, tendo que me virar, que eu consigo me perder na própria rua da casa em que estou. Tua sorte (e nossa, porque acabam aparecendo esses textos maravilhosos) é que aparece uma boa pessoa pra ajudar naquele momento. Aliás, quais são as chances? A menina, praticamente na mesma situação, indo pra mesma rua que tu? Meu Deus, tu é uma personagem de um filme. Nada me tira isso da cabeça. hahaha

    ResponderExcluir
  11. Que medooooooooooo! Esse é um dos medos da minha vida. Na real, ontem mesmo eu passei por uma situação péssima onde cheguei na rua de casa e tive que andar menos de 100m pra chegar no meu prédio. Vi um cara que estava longe e já comecei a fazer tudo quanto é reza, além de aumentar o volume do celular porque eu sabia que ia ter algo. Ele passou do meu lado e fez algum comentário maldoso (deu pra ver na cara) que graças a música alta eu não ouvi. Mas cada célula do meu corpo tava preparada pra sair correndo naquela hora (eu já tava até com a chave na mão), e assim como tu e a mina que te salvou, eu odeio isso. Odeio sentir medo de fazer algo tão comum quanto andar na rua. E eu sei que não é só medo de assalto pra mim, como não deve ser pra vocês.

    Ainda bem que deu tudo certo. :) Beijos!

    ResponderExcluir
  12. MAS GENTE, DAVA PRA IR A PÉ!
    Hahhaahhaahhaahha SP é meio assustadora mesmo, ainda mais num domingo à noite porque a frota de ônibus diminui e dependendo do horário táxi é tipo miragem. Eu já cansei de me aventurar por essa minha cidade linda a pé, de ônibus, de me perder e ficar com o cu na mão, claro que meu ex morando ali nas proximidades eu consegui aprender bastante os caminhos da Sumaré na época que namorei com ele, mas entendo seu receio Anna.

    Felizmente essas pessoas loucas e maravilhosas andam por aí em São Paulo e sempre tem uma boa alma pra salvar a nossa vida, ainda bem né? E que bom que deu tudo certo!

    beijos

    ResponderExcluir
  13. É por essas que eu estou sempre rezando e agradecendo nossos anjos da guarda. Olha que coisa incrível! Se um dia eu me aventurar sozinha em SP vou aguardar ansiosamente por esse anjo desconhecido de dreads e muitas tatuagens misteriosas. hahahaha
    Que bom que tudo ficou bem.
    Beijos! Te amo <3

    ResponderExcluir
  14. Anna, acho que você é bem corajosa. Eu morro de medo de São Paulo, e nem sou menina de cidade do interior (não que esteja numa ~grande capital~. Na verdade, aqui é bem provinciano. Mas enfim, prosseguindo) - e é uma pena, porque eu tenho muita vontade de conhecer São Paulo. Mas não sei se me aventuraria sozinha assim, na noite. Porque acho que é bem fácil se identificar com o medo que você descreve aqui, porque a gente nem precisa estar numa cidade estranha pra sentir isso, né? É horrível, mas constante. Que bom que você encontrou essa menina morrendo de medo também. É incrível como estar morrendo de medo, ansiosa e tensa junto com alguém que tá se sentindo igual a gente (e que entende) é mil vezes melhor.

    Que o seu anjo da guarda continue fazendo hora extra sempre que você resolver se aventurar por aí!
    Beijo!

    ResponderExcluir
  15. Anna,
    Amei esse post! Ontem mesmo eu compartilhei algo no Teto sobre uma história parecidíssima, vou te marcar lá assim que terminar aqui.
    Primeiro, parabéns pela coragem. Eu jamais desgrudaria do meu amigo, porque eu sou muito, muito medrosa. Eu sou são medrosa fora de Vitória (às vezes, mesmo em Vitória), que mal me arrisco a sair da programação. Aliás, fico repassando todos os roteiros dos dias algumas semanas antes de viajar, e criando mil hipóteses de "e se" possíveis.
    Segundo, que bonito, mesmo, essa coisa das duas se ajudarem. A gente, enquanto mulher, tem que se ajudar mesmo, porque todo o resto do mundo vai fazer o contrário.

    Que bom que as duas conseguiram sobreviver <3

    Beijos!!

    ResponderExcluir
  16. Gosto demais dessas coincidências da vida. Como eu sou do interior igual a você, eu sei o que a gente passa a capital. haha
    Já tive muitos anjos da guarda por aqui também.
    Que bom que vocês duas sobreviveram.

    ResponderExcluir
  17. Oi Anna
    Eu moro aqui em SP e vira e mexe saio andando sozinha na rua tarde da noite. Eu não tenho medo, na maioria das vezes, não sei se pq acostumei ou se pq até hoje nunca me aconteceu nada (na única vez que aconteceu algo, foi uma tentativa de assalto as 7 da noite -_-), então não conheço bem o sentimento desse teu post. O que é meio assustador porque eu sei o risco, sabe? É perigoso pra caramba :O
    Sorte que tu deu sorte hehe, mesmo sendo duas meninas, é melhor do que estar sozinha, né?
    bj bj
    187 tons de frio

    ResponderExcluir
  18. Nossa, que aflição. Também estou cansada de ter medo, sabe? Quantas vezes sai do campus da minha faculdade, em POA e estava praticamente sozinha no ônibus, tendo que ficar sentada durante uma hora até minha parada, torcendo pra que somente pessoas de bem entrassem no bus. Chega um ponto que tenho medo de receber homens desconhecidos (do gás, por exemplo) quando estou sozinha em casa. Isso tudo é ridículo e causa indignação de sobra. Enfim. Bendito seja teu anjo da guarda que a moça que compartilhava das mesmas aflições que tu lado a lado. Beijos.

    ResponderExcluir
  19. Anna, Anna, Anna...há algo importantíssimo para sobreviver em São Paulo: nunca fique sem bateria no celular! Compre nos camelôes da vida aquele carregador portátil que, numa emergência, sempre dá uma ajuda. Mas enfim...outra dica em Sampa: qualquer dúvida ligue prazamiga que moram aqui em conhecem tudo de ônibus e afins...ou seja, quando for assim ME LIGA!!!!! Eu ia te salvar! Não presencialmente já que minha casa fica bem longe da Estação Sumaré, mas sabe como é né, sempre dá pra pedir um taxi no aplicativo, ou ajudar com o aplicativo que fala o horários dos ônibus...sobreviver aqui não é fácil amiga! Mas NUNCA MAIS fiquei parada em uma rua escura esperando um táxi viu! A menina dos dreads foi mesmo um ajo da guarda mas, não fica dando trabalhao extra pro anjo não viu, às vezes ele pode estar distraído!
    MAs...que bom que tudo deu certo! (MAs me senti na obirgação de dar broncas hein! Humpf!)

    Beijos

    ResponderExcluir
  20. Esse post me lembrou que hoje eu tava vendo um episódio de The Originals e a Rebekah, pra justificar sua ajuda a uma bruxa, diz "só acho que nós garotas devemos ficar unidas". E eu pensei: "cara, cê tem toda razão."
    Eu sei o que é passar por isso, aliás eu tenho medo de ficar sozinha na rua de minissia ou short tanto à noite quanto de dia, e pior do que estar sozinha é estar sozinha com um homem nessa mesma rua que você.
    Quando estava no primário ainda, me salvei por pouco de um cara que me "abordou" quando estava voltando do colégio e desde então sou arisca com qualquer homem estranho que chega perto de mim. Nunca dá pra saber qual vai te respeitar ou não. E vc sabe que tem todo direito de vestir o que quiser, mas não tem como não sentir medo numa situação dessa.
    Acho que toda mulher tá cansada de sentir esse medo, e o pior é que temos motivos.

    ResponderExcluir
  21. Puts! Devo falar que tu ainda foi muito corajosa em se arriscar sabendo que poderia encontrar uma rua deserta. Eu não tenho essa coragem toda, prefiro levar uma bronca tremenda ao chegar em casa do que me aventurar sozinha pelas ruas da minha cidade a noite.
    www.dreamsinparis.com.br

    ResponderExcluir
  22. Me passa o contato do teu anjo?

    Eu fui uma adolescente intrépida. Mas também, pudera, eu vivia numa cidade de 40 mil habitantes, morava perto de absolutamente todos os lugares onde costumava ir com os amigos e sempre tinha companhia para voltar para casa porque minha casa não só ficava próxima de tudo como ficava no caminho para a casa de todo mundo. Foram muitas caminhadas de madrugada, de minissaia, sem medo algum (mesmo quando estava num grupo apenas com meninas). Depois que vim para São Carlos, tudo mudou.

    São Carlos tem mais de 5 vezes a população de São Joaquim. Moro sozinha. Nem sempre tenho companhia para voltar para casa. Nem sempre saio à noite para me divertir. A cada notícia de assalto e principalmente de estupro, meu medo aumenta e me enclausuro mais. A maioria é no meu bairro e a maioria das vítimas são estudantes. Uma vez um cara me perseguiu por vários quarteirões com o sol a pino porque não respondi ao seu "oi, linda". Só me livrei dele porque encontrei um amigo. (Depois dizem que o Chega de Fiu Fiu é desnecessário.) Outra vez um mendigo forçou entrada no meu prédio quando eu estava chegando de uma prova às 16h da tarde e só não aconteceu nada porque saí correndo e gritando em direção à oficina do outro lado da rua. Se, quando me mudei para cá, eu ia comprar Red Bull de madrugada na loja de conveniência do posto de gasolina do quarteirão de baixo, hoje eu penso duas vezes se quero ir à padaria da esquina às 18h se o sol já se pôs. Peço a companhia do namorado quando ele está aqui. Se tenho que ir sozinha, vou nervosa, a passos largos, quase correndo - e sempre usando muita roupa. A gente não deveria sentir isso.

    Eu não saberia lidar na sua situação. Entraria em pânico, miga. Você é, sim, a strong, confident woman. <3

    ResponderExcluir