As pessoas sempre me perguntam se eu estou namorando, mas raramente me perguntam sobre os meus amigos. Aliás, as pessoas falam mais sobre um namorado que eu nem tenho do que sobre os meus amigos, que estão aqui todos os dias. Não é estranho? Costumo brincar que nunca fui namoradeira e nem encontrei o amor da minha vida porque gastei minha cota de sorte ficando amiga das melhores pessoas do mundo. É brincadeira (eu ainda tenho um saldo positivo de sorte pra gastar com o amor da minha vida, né? NÉ???), mas é verdade também. Eu realmente sou amiga das melhores pessoas do mundo.
Sei que é moda dizer que se tem poucos, mas bons, amigos. Todo mundo prefere. Concordo, acho que é melhor mesmo se ter um amigo de verdade do que 10 amigos-até-a-página-seis, 20 colegas e 300 conhecidos no Facebook, mas, como eu disse, tive muita sorte na vida. Eu tenho muitos amigos. Descobri isso esses dias quando fui contar o número de pessoas que considerava minhas amigas de verdade e me faltaram dedos nas mãos pra contabilidade. Isso é muito, não é? Tenho muitos e ótimos amigos.
Digo isso sem medo de parecer exibida e sem vontade de ser modesta porque considero os meus amigos um milagre, e acho que milagres têm que ser celebrados. Fui assistir Paper Towns semana passada e fiquei um tempão pensando no texto que abre o filme, em que o Quentin diz que seu milagre era ter sido vizinho de Margo Roth-Spiegelman: dentre todas as estados, todas as cidades, todos os bairros e todas as casas, ela foi morar justo do lado dele. Não era exatamente uma loteria, mas é como se fosse.
spoiler: o milagre não era a Margo |
Quando eu era mais nova eu pensava muito sobre isso, sobre esses acasos milagrosos que acabam mudando o rumo das nossas vidas. Tinha o menino bonitinho da sala, aquele que todas as meninas gostavam, e tinha uma menina que era vizinha e amiga dele da vida toda. Eu pensava: sempre tem uma menina pra ser vizinha do menino que a gente gosta, e essa menina nunca sou eu. Do mesmo jeito que eu não era a menina sorteada pra fazer trabalho no grupo dele, e a professora nunca me escolheu pra sentar perto do garoto que poderia ser meu namorado.
Eu escapei de todos esses milagres, e quando tinha 12 anos e assistia A Nova Cinderela, costumava me lamentar pensando que se alguém fosse chamar a atenção de um equivalente a Austin Ames, essa pessoa não seria eu. Não seria eu que perderia o celular no dia do baile pra ele encontrar, e nem seria comigo que um cantor italiano trombaria no meio da rua pra depois me convidar pra fazer um show com ele #referências A vida inteira, todos esses clichês de comédias românticas que sempre precisam de um pequeno milagre, um golpe de sorte ou um empurrão do destino pra acontecer, nunca aconteceram comigo.
No entanto, quando meus pais foram procurar uma escola pra mim depois do jardim de infância, eles rodaram a cidade inteira e ficaram entre duas opções. Numa tarde de sábado, eles saíram comigo pra que eu visitasse as duas e escolhesse a que eu gostasse mais. Antes, uma parada. Uma amiga da minha mãe queria muito que ela conhecesse a escola onde os filhos dela estudavam, um lugar pequeno e pouco conhecido, e foi lá e marcou uma visita, meio que sem minha mãe pedir (ou querer). Pra não fazer desfeita, a gente foi lá ver qual era antes de ir pras outras escolas. Resultado: eu e meus pais amamos tanto aquele lugar que nem chegamos a visitar os outros dois colégios.
Fizemos a matrícula na segunda-feira e foi lá, no ano 2000, que eu conheci os meus melhores amigos. Dentre todas as escolas, de todas as cidades, entre todas as salas, e todas as panelas, foi ali que a gente se encontrou e é aqui, juntos, que estamos até hoje. Não é um milagre?
Da mesma forma, com o fim da escola, eu poderia muito bem ter feito mais um ano de cursinho e tentado vestibular em São Paulo, como minha mãe queria. Ou eu poderia ter ido estudar em Belo Horizonte, como meu pai queria. Ou eu poderia ter feito Direito, como todas as pessoas queriam. Mas eu fiquei aqui, no Jornalismo, e no primeiro período eu fiz amigos, que hoje escreveram um livro comigo, sem nunca brigar - e todo mundo disse que a gente brigaria. Logo eu, que estava morrendo de medo de estar num lugar onde eu não conhecia ninguém, eu que nunca soube muito bem fazer amigos (!) porque a última vez que havia feito isso foi com seis anos de idade, caí numa sala cheia de gente que ri comigo, com quem eu faço planos pro futuro, com quem eu acabo de alugar um apartamento na praia pro feriado. Não é exatamente uma loteria, mas é como se fosse.
Por fim, tem aquela história que vocês já conhecem. São milhões de pessoas vagando a esmo na internet entre textões e gifs de gato, mas eu caí no grupo do Facebook com as amigas que me fazem pensar que não quero reescrever as nossas linhas que se não fossem tortas não teriam se encontrado. É tanto amor que eu escuto músicas românticas da Sandy e penso nas minhas amigas. Eu poderia ter ido dormir mais cedo naquelas primeiras folias, eu poderia ter saído do grupo pra estudar pro vestibular, eu poderia ter acreditado que era loucura viajar 600 quilômetros pra me encontrar com pessoas que eu nunca tinha visto antes, mas olha onde isso me trouxe. Embora haja tanto desencontro pela vida, ela nos trouxe até aqui. Não é um milagre digno de filme?
Quis escrever tudo isso não pra dizer olha só como eu sou legal e tenho amigos legais, mas porque eu acho que a amizade é subestimada no mundo que vivemos. As pessoas dizem que quem tem amigos tem tudo, mas são essas mesmas pessoas que dizem depois que você sempre faz novos amigos e tudo bem. Ou então acham graça de você se despencar pro Rio de Janeiro pra surpreender sua amiga sem uma real necessidade, só porque sim, porque ela merece, porque a gente merece e quis assim. Ou então acreditam que os amigos meio que ficam ali pra tapar os buracos entre a vida familiar, seu trabalho, e seu relacionamento amoroso - nunca sendo uma prioridade, sendo os primeiros a ser deixados de lado quando a correria começa.
Não existe uma propaganda do Boticário ou da Coca-Cola pro dia do amigo, e as pessoas preferem qualquer história mais ou menos de romance do que ouvir minhas histórias com meus amigos, que são muitas, e eu adoro contá-las - logo eu, que detesto falar sobre minha vida pros outros. A sociedade me vê como uma fracassada e as pessoas me consideram sozinha porque não namoro ninguém, mas esquecem que enquanto eu estou "sem ninguém" eu fico até de madrugada sentada numa mesa conversando abobrinhas e rindo horrores com meus amigos, ou que desestabilizamos linhas de metrô, dançamos abraçadas aos berros e vimos o sol nascer juntas - seja depois de uma noite memorável ou depois que o mundo acabou, mas ficou tudo bem. How do you feel by the end of the day, are you sad because you're on your own? No, I get by with a little help from my friends.
Saberei que encontrei a pessoa certa quando achar alguém com quem eu faça tanta questão de gastar meu tempo, meu dinheiro e minhas noites de sono como eu faço com meus amigos. Na loteria da vida eu não saí com o roteiro de comédia romântica anexado no meu destino, mas consegui os meus amigos. Na vida todo mundo tem um milagre, e eles são o meu. Ainda bem.
Feliz dia do amigo pras minhas pessoas - as melhores do mundo.
Nossa que lindo linda muito lindo esse texto que vc fez pra mim linda, ti amuh<3
ResponderExcluirKim K.
Feliz dia do amigo!
ResponderExcluirBj e fk c Deus
Nana
http://www.procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
Então, eu podia comentar muita coisa, tecer uma lenha sobre como concordo com o assunto. Eu nunca fui de ter MUITOS amigos, nem tenho tanta convivência com amigos de infância. Consegui guardar uma da educação infantil, mas vejo pouquíssimo. Consegui guardar uma do ensino fundamental, e mais uns 2 do colegial, mas novamente, vejo pouco. Só que vocês são meu milagre mesmo e nunca vou precisar "guardá-las", porque estarão sempre aqui e ai dA Gente se não estivermos. Então vou comentar somente: "Saberei que encontrei a pessoa certa quando achar alguém com quem eu faça tanta questão de gastar meu tempo, meu dinheiro e minhas noites de sono como eu faço com... A Gente". Porque a vontade que eu sinto de ficar colada em vocês o tempo inteiro, é isso que eu preciso sentir com o amor da minha vida (além dos temperinhos, HAHAHA). Aí eu vou saber que é amor.
ResponderExcluirTe amo! <3
Que texto lindo, Annoca!!! Segui seu conselho e apertei o play na música da TayTay e fiquei totalmente arrepiada quando cheguei no final do texto, juro.
ResponderExcluirCidades de Papel é uma bela história de amizade no fim das contas e acho que a maior graça do filme foi os amigos dele, na real. Amizade é um relacionamento que todo mundo deixa em segundo plano, né? E não devia ser porque os amigos são fonte de alegria infinita. Graças a Deus que você foi abençoada com amigos ótimo, amiga. E que eles sejam pra sempre seu milagre. O cara que aparecer na sua vida e te fizer gastar seu tempo, dinheiro e noites será uma pessoa incrível e maravilhosa <3 E ele vem pra somar com todo essa loteria que você ganhou na vida no quesito dozamigo.
Beijos <3
Ain Anna, esse post me representa tanto. Vontade de compartilhar por todas as redes sociais.
ResponderExcluirAs pessoas tem isso de não dar o devido valor a isso que chamamos de amizade. E falarem que é prioridade e super importante apenas na teoria, sem pôr na prática. Sendo que foram eles que sempre estiveram lá pela gente e são eles que sempre vão estar. Eles que estavam do nosso lado enquanto estávamos nos descobrindo. Que aguentam crises e mais crises existenciais. Crises amorosas, e te lembram qual o seu valor. Que te abraçam e apoiam não importa a situação. Como não dá o devido valor a isso né?
Por isso que é com eles que torro minha grana e minhas noites de sono mesmo. Vale a pena <3
Bisous!
Chiquinha <3 Sou a pior pessoa DO MUNDO pra fazer e manter amigos, mas uma vez também parei pra contar marromeno nos dedos meus amigos e concluí que essa história de "poucos, mas bons" também não cola por aqui, não. Tenho muitos ótimos amigos pelos quais eu me jogaria na frente de um caminhão sem esforço. E todos vocês (e A Gentes) são meu maior milagre.
ResponderExcluirJá tive muito medo de não encontrar "meu alguém" e morrer sozinha, até que eu constatei que eu jamais vou morrer sozinha, porque eu tenho amigos (os de agora e os que ainda virão), e tenho planos sérios de irmos todas pro mesmo asilo e quebrarmos aquele lugar como a gente quebra tudo no mundo sempre. Amo a minha família, mas isso não significa que família e amigos sejam hierarquizáveis, para mim as duas coisas estão no topo em importância. Não é o sangue que define o que é importante na minha vida e o que não é, e acho muito estranho que o mundo não compreenda isso.
Só finalizando, finalmente estou lendo PT e to amando, eu não sonhei que você também curte, né? To me sentindo muito do contra na vida, por favor venha me amar.
Beijos amo você <3
Eu tenho a sorte de poder dizer que te entendo perfeitamente. Mesmo. Engraçado que toda vez que eu leio algum texto seu falando disso eu penso que eu mesma poderia ter escrito isso. E isso me deixa muito feliz, porque é um sentimento tão gostoso que eu acho que o mundo seria um lugar melhor se todo mundo pudesse ter um pouquinho disso.
ResponderExcluirMuito lindo!
ResponderExcluirTer amigos é uma sorte grande!
bjos
Fiquei emocionada lendo esse texto por lembrar muito das minhas amigas. Então, eu te entendo. Eu pago pau para minhas amigas, e eu nunca achei que pudesse ter um amor assim por alguém. É TÃO bom saber que você pode contar com alguém. Eu considero tê-las conhecido uma baita sorte. Uma baita sorte.
ResponderExcluirLer esse tetxto também, rs.
Um beijo,
Re
Esse foi o melhor post de dia dos amigos que eu li nessa blogosfera!
ResponderExcluirEstou EMOCIONADA ♥
Sem palavras pra ti ♥
♥
Vou encher de corações mesmo, pq amei ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
Ótimo post sobre amizade. Eu consegui fazer amizades mesmo na transição do EFI pro EFII, porque mudei de colégio. Mas, quado consegui esses, tive que mudar novamente, e de cidade dessa vez. Aí já foram amigos com contatos perdidos, que mesmo que eu quisesse estávamos crescendo e nos tornando adolescentes e eles iam conhecer outras pessoas, mas para mim continuavam sendo os mesmo queridos. Então chegou esse período maravilhoso onde fiz amigos mas ao mesmo tempo me fechei pra eles. Percebi que me achava tão chata que ninguém iria querer ficar falando besteira comigo ou fazer as coisas que eu queria fazer, até porque eu não podia sair tanto quanto os demais e eu mesma bloqueava a relação. Só depois que percebi os erros que tinha cometido, pedi desculpas pra alguns, e não tem sensação melhor ainda - a não ser ficar conversando besteira com eles sobre qualquer coisa que interesse a ambos, o que é difícil - do que ouvir de quem você considera amigo te chamando pra ir a algum lugar ou pra sentar e conversar. Talvez seja hora de arriscar chamar de AMIGO mesmo, não colega.
ResponderExcluir