quinta-feira, 30 de abril de 2015

Americanah e o milagre da ficção

Recentemente li no blog do Jim Anotsu um texto muito bacana sobre os pequenos milagres da ficção, coisa que, segundo ele, acontecem só uma vez a cada muitos livros. Você sabe do que eu estou falando. É aquele momento em você lê e sabe que aquilo é verdade, mesmo que não seja. É aquele momento em você lê e diz: é isso, ainda que você não saiba o que o isso de fato seja. Desconfio que os milagres da ficção operam em duas frequências igualmente virtuosas: ou eles te dizem alguma coisa que você precisa saber - ou sempre soube, mas só queria confirmar ou então queria uma metáfora bem bonita que a justificasse - ou fazem você questionar tudo que você sabe. Os de santo mais forte te deixam com a sensação de que você não sabe nada, mas tudo bem. 

Milagre da ficção foi o termo que conseguiu definir de forma mais adequada a impressão que tive ao ler Americanah, meu primeiro contato com a literatura de uma mulher de quem eu já era tão fã que me sentia no direito de tratar por Chimmy - Chimamanda Ngozi Adichie, para os nem tão íntimos (ou abusados) assim. Logo na primeira página, o narrador apresenta não Ifemelu, a protagonista, mas a forma como ela percebia os cheiros de cada cidade onde morou. Descobrimos ali que Princeton era boa porque não tinha cheiro de nada, e Chimamanda escreve que sua heroína, "acima de tudo, gostava do fato de que, nesse lugar de conforto afluente, podia fingir ser outra pessoa, alguém que tivera acesso a esse sagrado clube americano, alguém com os adornos da certeza". 


É impressionante como tão poucas palavras conseguem dar a dimensão de toda uma sociedade, e como uma única observação, uma expressão que poderia passar despercebida, consegue dar o tom do espírito de uma nação, uma impressão sucinta e absolutamente precisa da noção de privilégio. Adornos da certeza: é isso. Na primeira página, acendi uma vela para Chimamanda e agradeci pelo milagre alcançado. 

A escritora ficou mais conhecida por seu discurso, o incrível "Sejamos Todos Feministas", ter sido sampleado na música da Beyoncé, mas não sei se todo mundo conhece sua outra palestra no TED, na qual ela discorre sobre os perigos de se contar uma única história. Nele, Chimmy, nossa prima mais velha e descolada, fala que a consequência dessa narrativa única é a desumanização dos sujeitos, uma vez que ninguém é único. Nigeriana, ela obviamente fala de sua experiência como uma garota de classe média que foi estudar nos Estados Unidos e se viu presa naquela única história que a maioria dos americanos parecia ter sobre a África inteira e todos que vivem nela: a da miséria, da fome, da tragédia.


Assim como Chimamanda, Ifemelu, a protagonista do livro, vem de uma família de classe média nigeriana e cresceu num contexto que eu, nas profundezas abissais da minha ignorância, nunca tinha associado ao país. Ifemelu e seus amigos eram jovens inteligentes, ambiciosos, cheios de leitura e sonhos, e sonhavam com a América ou com a Inglaterra, os destinos mais comuns, não porque estavam fugindo da fome ou da peste, mas porque, assim como todos, queriam escolhas, oportunidades, queriam crescer à altura do próprio potencial. Ou seja, nem um pouco diferentes da gente aqui mendigando vaga de intercâmbio em qualquer universidade estrangeira, porque estudar fora é vencer na vida. 

No entanto, ao chegar nos Estados Unidos, Ifemelu descobre um mundo novo. Ela descobre, pela primeira vez, que é negra, coisa que até então nunca tinha parado para problematizar e que se torna imediatamente o rótulo que é obrigada a carregar naquele país que jura que superou o racismo, mas que é incapaz de apontar para alguém e dizer que essa pessoa é negra sem constrangimento. O livro, aliás, começa pelo final, quando Ifemelu resolve deixar os Estados Unidos justamente porque está cansada de ter que ser negra em tempo integral. A boa filha à Nigéria torna para que possa ser ela mesma, ao menos um pouquinho. 

Se dentro da história Ifemelu sente que está assumindo um papel pré-estabelecido na maior parte do tempo - a blogueira, a namorada negra, etc - como personagem de um livro ela é perfeita em ser quem é. Chega a ser bizarro como a personagem existe com clareza na minha imaginação, como ela é completa e complexa. Gosto da ternura e da forma como, ao mesmo tempo, ela julga as pessoas ao seu redor, mesmo não sabendo que isso é legal. Gosto de como ela quer passar uma boa impressão apesar de tudo, e de como, mesmo não querendo, ela se acha superior às suas amigas que ficaram na Nigéria. Gosto de como ela existe e sou absolutamente fã do fato de ela ser a única dona da sua história - que é, também, uma história de amor. 

Na contracapa da edição da Companhia das Letras (que está toda muito maravilhosa, invistam), junto com as aspas cheias de louvores das pessoas de sempre, a primeira chamada que se lê é de que o livro promete "uma história de amor implacável". Não é um livro sobre uma negra na América, não é um livro que denuncia o racismo, não é o livro sobre uma geração: é uma história de amor. Junto da narração, Americanah traz alguns textos do blog em que Ifemelu escreve suas impressões justamente sobre as questões raciais nos Estados Unidos, e num desses posts ela fala que as mulheres amam o Obama porque ele se casou com uma mulher negra e esse tipo de representatividade deu às mulheres negras a chance de se verem, pela primeira vez, não como a melhor amiga espirituosa da mocinha, mas como a dona da história que encontra um grande amor no final do filme. 

Mais uma vez: é isso.

2015 tem sido um ano generoso comigo literariamente falando, mas nenhum livro me tocou tão profundamente como Americanah o fez. Como o Jim Anotsu disse, milagres da ficção são raros, e por isso preciosos. Esse livro esfregou minha cara nos meus próprios privilégios, me trouxe insights não só sobre a questão racial, mas sobre imigração, sobre ser e perceber o outro e, com suas lições de empatia, definitivamente me fez uma pessoa melhor. Eu me senti burra o tempo inteiro, mas é pra isso que servem os bons livros.

Americanah me fez chorar quando Ifemelu alisa os cabelos, porque entendi o que o cabelo representava na identidade dela, e me fez chorar quando fala sobre a eleição do Obama, porque entendi o que, de fato, isso representou, e me fez chorar com seu grande gesto romântico do final, digno de uma comédia romântica estúpida qualquer, tão inconsequente quanto, porque entendi que aquela era uma história de verdade, ainda que não seja e esse é o grande milagre da literatura.

É isso. Leiam Americanah, acendam uma vela para Chimamanda antes de dormir and bow dow, bitches.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

33 coisas que vocês nunca se perguntaram (mesmo)

Diga trinta e três: trinta e três. Essa frase vem de uma crônica que o Antonio Prata escreveu ao fazer trinta e três anos (cê jura) e eu nunca esqueci. No texto ele diz que, aos trinta e três, de Jesus pra baixo, todo mundo é ressentido. Trinta e três: a idade de Cristo e do ressentimento. Eu repito isso pra mim mesma sempre que escuto esse número, e é inevitável me perguntar se aos trinta e três eu também vou ser ressentida. Aos vinte e um rola uma certa obrigação moral de jurar que não, imagina, ou pelo menos implorar pra que não seja assim. Mas o negócio é que o feriado passou e me deixou gripada, e o passeio de terça me deixou cheia de picadas de insetos, e agora estou aqui, muito ressentida, querendo escrever, mas sem conseguir, porque espirrar cansa e eu realmente não pensei na gripe quando inventei de fazer um piercing.

Quando fico doente sinto uma necessidade absurda de atenção, de modo que a melhor coisa que encontrei pra curar o ressentimento foi esse apanhado de perguntas pessoais e absolutamente desnecessárias que vão me dar a chance de discorrer sobre a minha existência em torno de situações que vocês realmente nunca se questionaram antes e podiam passar sem. Desculpa.

(Vi as perguntas no blog da Analu e da Del, e você pode ficar completamente à vontade para ser o próximo da lista)

1) Por que você costumava levar bronca quando era criança?
Fui uma criança tão certinha e responsável que era quase idiota, tanto que minha mãe costumava brigar comigo pra que eu fosse menos mole e, óbvio, chorasse menos. Acho que "engole o choro" foi a frase que mais ouvi durante a minha infância - sempre em vão. Eu e minha mãe costumávamos brigar um bocado por causa de roupa e sempre que a gente saía pra algum almoço, festa de aniversário, etc, era um drama aqui em casa. Até que um dia ela disse que não ia mais brigar comigo por causa disso e assim foi. Passei por épocas de usar só cor-de-rosa, e outras de usar minhas fantasias de bruxa e de cigana pra ir na papelaria da esquina, mas ninguém morreu por causa disso.

2) Quando foi a última vez que você saiu sem rumo?
Sempre ando sem rumo quando passeio com Chico, o poodle. Essa falta de rumo, claro, vai até os limites do quão sem rumo é possível ficar dentro do próprio bairro, mas quando saio nunca penso direito no caminho que vamos fazer e o objetivo nunca é ir em algum lugar específico, mas só andar, andar, andar, ouvir música, e ir pra casa quando o cachorro pedir arrego. 

3) Três objetivos para o seu futuro:
Pensar no futuro tem me tirado o sono nos últimos tempos. Literalmente. É um misto de angústia e expectativa, muitas dúvidas e muito medo. Então, como qualquer pessoa responsável, eu evito pensar no assunto. Aprendi lendo um livro sobre organização que o segredo para fazer as coisas é fazer uma coisa de cada vez, repartindo grandes objetivos em pequenos objetivos, abraçando uma ideia de que o futuro começa no próximo minuto. O único tipo de futuro com o qual consigo lidar no momento é o que se estende até dezembro, e até lá quero três coisas: terminar meu livro-reportagem, transformar essa ideia num projeto que não acabe junto com a faculdade e começar a planejar uma viagem bacana.


4) O que você encontraria se abrisse sua geladeira nesse exato momento?
Olha, engraçado você perguntar, porque hoje eu abri minha geladeira e encontrei um Choco Milk (?) de um litro e seis latas de água tônica. Aqui em casa ninguém toma leite, muito menos água tônica, mas quando perguntei pra minha mãe o que diabos era aquilo, ela disse: "ah, trouxe pra você". Eu sei, o cúmulo da delicadeza e da atenção, e eu sou mimada e mal agradecida por reclamar, mas eu já disse que não bebo leite, tampouco achocolatado pronto? Já disse que tomei água tônica aproximadamente umas três vezes na vida? Mas coisas assim estão no espectro de decisões que minha mãe toma quando vai ao supermercado, porque ela não tem paciência, não presta atenção, e vive trazendo coisas aleatórias pra casa. Tipo o dia que ela perguntou qual iogurte eu queria, eu disse que era o natural, e ela me trouxe seis sabores diferentes e nenhum deles era o natural. Aí eu tomei todos, mesmo não gostando de iogurte com sabor, porque ela estava só querendo agradar. Mães.

Além do Choco Milk e das seis latas de água tônica, eu provavelmente vou encontrar margarina, requeijão, presunto, mussarela, iogurte (de morango), suco de goiaba, chá gelado, ketchup, mostarda, ovos, palmito e tupperwares com restos de comida que devem virar um mexidão amanhã ou depois. Maçãs e limões na gaveta de frutas, e provavelmente tomate, cebola e pacotes de verdurinhas picadas, porque hoje tem sopa. Tem também cerveja pra minha mãe e vinho branco pra mim - pra vocês verem como são as coisas. No congelador provavelmente tem feijão, alguma carne, compressas de gelo e infelizmente nenhum sorvete. 

5) Qual tecnologia ocupa mais seu tempo?
O celular. Queria ser menos apegada e morro de vergonha da minha dependência, mas como é bonito o rosto do loop eterno entre Twitter-Instagram-Whatsapp, né?

6) Uma coisa usada que você comprou:
Adoro frequentar sebos e não tenho frescura nenhuma com livro velho, então vários exemplares da minha estante vieram desses garimpos. Ultimamente tenho gostado bastante de usar o serviço de trocas do Skoob Plus, meus últimos usados vieram de lá: "Três Viúvas", da Liliane Prata e "A Zona do Desconforto", do Jonathan Franzen.

7) Qual a primeira coisa que você faz ao acordar?
Queria dizer que me alongo, medito e faço orações na direção da Meca, mas a verdade é que depois de apertar o botão da soneca três vezes, eu checo e-mail e redes sociais e só depois levanto e vou escovar os dentes.


8) Do que você precisa nesse exato momento?
Parar de tossir, parar de espirrar e um anti-gripal que caia como uma bomba e me faça dormir 12 horas, pra eu acordar amanhã como nova. Ser hippie e se tratar com chazinho e sopa não está com nada, amados.

9) Qual foi a última coisa que você leu, ouviu ou assistiu que te inspirou?
Estou relendo Fama & Anonimato, do Gay Talese, meu livro-reportagem favorito. Resolvi pegá-lo justamente porque preciso de inspiração e está dando certo e errado ao mesmo tempo. Ler a primeira parte do livro, A Jornada de um Serendipitoso em Nova York, me deixa com vontade de ir pra rua e escrever sobre todas as pessoas que cruzarem o meu caminho, mas o cara é tão bom e especial no que faz que não dá pra fugir da sensação de que nunca vou conseguir fazer isso bem o suficiente.

Ah, o disco de estreia da Courtney Barnett saiu recentemente e as letras dela são muito bacanas.


10) Um souvenir que você comprou ou ganhou:
Não é um souvenir típico, mas meu pai esteve na Bahia um pouco depois do carnaval e me trouxe de lá um par de brincos e um colar, ambos maravilhosos. Gostei tanto dos dois que até deixei de lado o ressentimento de ter ficado por aqui enquanto ele curtia as marolas de Arraial, principalmente porque meu pai nunca se arrisca a comprar um presente pra mim, ele sempre pergunta o que eu quero antes. Achei bonitinho ele ter tentado, e melhor ainda por ter acertado, e olha que eu sou a pessoa mais insuportável do mundo quando o assunto é presentes que envolvam roupas e acessórios.

11) O que te deixa estressada?
Cobranças, pessoas incompetentes e/ou mal educadas, trânsito, gente que anda devagar na minha frente, ter que ir ao banco, falar ao telefone e, lógico, ficar gripada.

12) Já morou em outro país além do Brasil?
Não, mas tenho MUITA vontade. É um dos meus maiores sonhos, embora não tenha muita vontade de ir em definitivo.

13) Você tem tatuagem?
Não.

14) Qual foi a última coisa que você pesquisou no Google?
Fui checar como se escreve o sobrenome da Courtney Barnett e acabei lendo alguns textos sobre o disco novo dela. Descobri nessas que ela é australiana, por isso todos os vídeos dela ao vivo no Youtube foram gravados em cidades australianas - e eu estava super "nossa, a moça surgiu ontem e já tá aí, fazendo turnê na Austrália please come to Brasil etc".

15) Qual sua maneira de ser egoísta?
Acho que meu blog é a coisa mais egoísta da minha vida e esse questionário é um exemplo perfeito disso. Gosto de um texto que está no livro da Juliana Cunha onde ela diz que seu blog é do tipo que você pode ler o histórico inteiro que não vai encontrar nada de útil pra sua vida, porque me identifico horrores. Hoje em dia ninguém mais bloga, só produz conteúdo pra internet. Minha resistência pacífica é continuar ocupando espaço aqui sem pagar aluguel, só enchendo os transeuntes desavisados com minhas histórias de resfriado, guarda-chuvas e adolescência tardia.


16) O que demora demais?
Os ônibus, as pessoas que andam devagar na minha frente e a nova temporada de Orange Is The New Black.

17) A última vez que você ficou acordada a noite toda:
Em dezembro do ano passado, na formatura da Paloma. Acho que por volta das cinco da manhã começou um set de arrocha profundamente equivocado e eu fui pra mesa tirar um cochilo, sofisticada como sou. O que me levantou foi a bateria de escola de samba (!) que chegou na pista algum tempo depois e me colocou pra sambar como se eu já não tivesse dançado de salto alto (quase) a noite inteira. Que país maravilhoso é o Rio de Janeiro. Eu e minhas amigas tínhamos combinado de terminar a noite na praia, viradíssimas, mas é claro que entre chegar em casa, trocar de roupa e sair, paramos no meio do caminho e acordamos horas depois.

18) Qual a comida que todo mundo ama, mas você odeia?
Feijoada. Desculpa. Eu sei que é um dos pratos mais tradicionais da nossa culinária e que vocês passam a semana inteira esperando o dia da feijoada no self-service, e não melhora muito quando eu digo que muita gente já disse que minha avó faz a melhor feijoada do universo, mas não dá. Eu não gosto de feijão preto, não como carne de porco e aquilo não me desce. Não vou dizer que odeio, porque eu até como se não tiver outra opção, mas me sinto muito segregada socialmente e julgada por todos quando digo que não gosto - tanto que normalmente costumo me justificar dizendo que o prato não me faz muito bem.

19) O que você está vestindo agora? O que essa roupa diz sobre você?
Estou vestindo um macacão todo preto e nada nos pés, mas estava com sapatilhas prateadas. Essa roupa diz que eu sou uma fraude, porque as pessoas sempre me elogiam quando estou com esse macacão: falam que eu estou bonita, perguntam onde eu vou, etc. Mal sabem elas que esse macacão é meu maior trunfo quando estou morrendo de preguiça, primeiro porque é uma única peça, segundo porque é de malha e por isso mega confortável, e terceiro porque provoca esse maravilhoso efeito de parecer que estou vestindo algo especial quando, na verdade, ele é um onesie mais arrumadinho.





































20) Você já fez amigos ou se apaixonou por alguém que conheceu pela internet?
Sim! Graças à internet e aos blogs eu comecei a fazer parte da Máfia, que começou como um grupo de blogueiras que hoje são minhas amigas do coração, a história mais maluca que eu tenho pra contar.

21) O que te faz perder o sono durante a noite?
Ansiedade, essa maravilhosa. Porque nada como passar a noite andando em círculos em volta da mesa de jantar da sua casa obcecando com o próprio futuro e pensando em importantes decisões de vida, não é mesmo?

22) Qual foi a primeira coisa que você comprou com seu dinheiro?
Um vestido laranja, lindo de morrer, todo de laise. Lembro como se fosse hoje: estava passeando no shopping quando vi o vestido na vitrine e não consegui mais parar de pensar nele. Segui com a vida, até que lembrei que opa, o jogo virou e eu tenho dinheiro aqui que é meu e eu posso gastar comprando esse vestido pra mim. Foi baratinho, acho que comprei na Riachuelo, mas foi super especial. Agora a primeira coisa de gente grande que comprei foi meu notebook.

23) O que tem na sua prateleira?
Não tenho exatamente uma prateleira, mas os objetos que fazem as vezes dela estão soterrados de livros e ocasionais bobagens fofas, como canecas, caderninhos, bonecos e até uma garrafa fechada de Guaraná Jesus. Meu último bookshelf tour foi em 2013, mas essas fotos do meu "home office" mostram o espaço um pouco mais atualizado. A única coisa que mudou foi a quantidade de livros.

24) Como você se acalma depois de um dia estressante?
Tomando um banho bom e lavando o cabelo. Chegar em casa e lavar a cabeça é uma coisa que faz milagres, principalmente se há tempo suficiente pra se fazer isso ouvindo um CD gostoso (pra esses momentos, gosto de Norah Jones, Cat Power, Lorde, Belle and Sebastian e a trilha sonora de Elizabethtown). De resto, comfort food quando é possível e alguma série que exija pouco de mim. Friends e The Middle são maravilhosas nessas horas.


25) Escreva sobre alguma coisa que você quebrou:
Olha, eu sou desastrada pra caramba. Mas, ironicamente, eu tenho reflexos muito bons. Sério. Por isso, sempre consigo salvar copos, vasos, pratos e enfeites antes deles caírem no chão - depois que eu, claro, dei um jeito de derrubá-los por aí. Não consigo lembrar de nenhuma tragédia envolvendo coisas quebradas, essa é a dimensão do meu instinto aranha.

26) O que você mais gosta de comer no café da manhã?
O café da manhã é minha refeição favorita. Juro. Mesmo aquele de todo dia, com o pão na chapa que eu mesma faço em casa e café fresco, ou então o pão de queijo bom da faculdade. O que me motiva a levantar da cama e ir pra aula de manhã é a perspectiva do pão de queijo quente. Eu ganho o dia quando tem algum bolo pra complementar, e dream come true é quando tem croissant e/ou tapioca. Quando vou pro Nordeste, meu café da manhã é composto de três tapiocas: uma salgada e duas doces, e faço a festa no café da manhã de qualquer hotel, onde como tudo que tenho direito, das frutas aos ovos mexidos. 


27) Como quer que sua vida de aposentada seja?
Esses dias meu primo Gustavinho, de 8 anos, perguntou pro meu avô com o que ele trabalhava. Meu avô disse que era aposentado, ao que Gustavinho questionou: "mas o senhor ganha dinheiro sem fazer nada?", "sim", disse meu avô, sem se alongar muito nos pormenores da previdência social. No mesmo dia, um tempo depois, Gustavinho disse que seu novo sonho na vida era ser aposentado e é mais ou menos assim que me sinto com relação à vida, de modo geral. Claro que do jeito que as coisas andam, a primeira coisa que eu quero da minha vida de aposentada é que seja real algum dia, antes de eu ficar inválida. Depois, quero netos, palavras cruzadas, Downton Abbey e poder ser inconveniente sem me preocupar muito com as pessoas ao redor. Tipo o Jack Nicholson

28) O que você leva em consideração ao votar em um partido político?
Voto mais nos candidatos do que no partido em si, e procuro saber se suas propostas estão alinhadas, minimamente, com os ideais de esquerda em que acredito. Sou do tipo a favor de cotas, do Bolsa Família, de ciclovias, políticas sociais, abortista-gayzista e essa cartilha dos horrores aí, então não está fácil mesmo votar (e viver), mas vamo que vamo.

29) A religião é um fator importante na sua vida? Por quê?
O dogma religioso em si, não. Não fui criada dentro de uma tradição religiosa específica, embora tenha tido uma educação cristã desde pequena. Eu acredito no Deus dos cristãos, tenho muita fé e isso é essencial na minha vida. Frequentei igreja por bastante tempo, mas me afastei porque não me sentia mais acolhida naquele ambiente. Deixou de ser minha casa, sabe? Mas continuo acreditando e buscando, porque eu acredito no amor, que pra mim é uma coisa sagrada demais pra que o mundo seja um vazio aleatório, determinado por acasos. A gente é e precisa de mais que isso.

30) Como está sua casa agora? Limpa ou suja?
Vou ser bem sincera e dizer que não está limpíssima, cheirando Veja multiuso e com aquele ar de faxina recente, mas não está suja e nem bagunçada o bastante pra eu ter vergonha de receber uma visita.

31) Você não economiza quando o assunto é...
Comida! Já perdi a conta das vezes que saí jurando que ia me conter pra economizar dinheiro, e pouco tempo depois lá estava eu comendo aperitivo, prato principal, e sobremesa. Já fiz a tática de comer antes de sair pra não gastar (pobrezas né), mas sempre acabo pedindo alguma coisinha. Não consigo entrar numa padaria, armazém ou mercadinho e sair de mãos vazias, e mesmo tendo vários escorpiões no bolso, nunca lamento dinheiro gasto se a comida for boa. Hoje mesmo eu saí da faculdade sem lanchar porque tinha pão em casa, mas no caminho entrei na padaria e saí de lá com dois croissants, chá gelado, e uma barra de chocolate.

32) Você separa o lixo pra reciclagem?
No meu prédio tem coleta seletiva, o que já ajuda bastante mesmo não sendo uma seleção totalmente confiável. Em casa eu separo latinhas, garrafas PET e embalagens longa-vida, que é o que a gente consome mais, mas sei que poderia fazer melhor.

33) Sua sobremesa favorita:
Pudim de leite condensado. Ou algum tipo de torta, de preferência de morango ou de limão. Brownie e um golinho de café também servem. Quando tudo falhar e nada mais fizer sentido, brigadeiro. 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Então eu fui no show da Fresno

Eu, meu piercing no nariz, minha mecha rosa no cabelo (que agora são várias), dois amigos, e uma sensação de que já estou velha demais pra isso. 

Às cinco e meia da tarde de quinta, o dia do show, eu estava caída numa grama aleatória da UFU. Sabe quando você simplesmente cansa e resolve se jogar um pouquinho no chão? Pois é. Eu já tinha acordado cedo, trabalhado em casa, feito as unhas, apresentado trabalho e aguentado uma aula que parecia não acabar nunca, com um professor fazendo conjecturas sobre um texto chato que eu nem tinha lido, e ainda tinha uma reunião com minha orientadora antes de ir pra casa. Mas, saindo da sala de aula, dei de cara com um fim de tarde lindo de outono, com um céu azul sem nuvens, com o sol e sua luz incrível e com um vento quase frio, típico desses dias. Parecia uma afronta seguir pra outra sala fechada e deixar o dia ali acontecendo, lindo de morrer, de modo que deitei na grama e esperei a fadiga passar.

Ali, olhando o céu, eu pensava MEU DEEEEEUS EU AINDA TENHO UM SHOW PRA IR  E NÃO SEI NEM SE CONSIGO ANDAR ATÉ A SALA, QUERIA ESTAR MORTA. 

Às seis e meia da tarde, eu cheguei em casa esbaforida e descobri que já tinha fila na porta do lugar. E eu jurando que ia conseguir dormir uns quarenta minutos antes de sair. Ha. Ingênua. O problema não é você fazer todo um trabalho espiritual pra resgatar sua adolescência, não é pagar pra furarem um buraco no seu nariz e nem pintar o cabelo com uma tinta que cheira chiclete. O problema é que você faz isso tudo mas continua tendo 21 anos no mundo real, ao contrário dos jovens de 15 que tem tempo e energia pra ficar fazendo fila em porta de show antes da casa abrir. Não dá pra competir com isso, por mais bonitos que sejam a minissaia e o coturno que você comprou aos  16. 

Eu tinha sonhado um sonho bem lindo de pegar grade, roubar palheta e deixar o Lucas suar na minha cara, mas eu já estava tão cansada que pensei que se não desse tempo de chegar cedo pra ficar pertinho do palco eu ia arranjar um banquinho no fundo, perto do bar, e ia me contentar em simplesmente ouvir o show tomando uma caipirinha, sentada e feliz. 

Às oito e meia da noite, quando chegamos no lugar, a fila tinha acabado de começar a andar. Devagar, porque essas coisas nunca são rápidas quando a gente precisa, mas não o suficiente pra eu sentir necessidade de me sentar na calçada mesmo estando de saia. Claro que antes disso eu consegui esquecer meu ingresso em casa (!) e tive que ir literalmente correndo buscar antes do táxi chegar, e depois minha amiga esqueceu o ingresso em casa (!!) e teve que entrar num táxi pra ir lá buscar (Sério, quais são as chances de duas pessoas esquecerem o ingresso na mesma noite? Descubra saindo comigo), mas vou poupar vocês do drama (!!!) e pular pra parte em que eu tomei energético de guti-guti, pois só se é jovem uma vez e a minha claramente já passou. 

No entanto, felizmente, Penny Lane, minha santa pagã padroeira das groupies, ouviu minhas preces e o ambiente onde o show aconteceria só foi liberado depois de todo mundo entrar, de modos que quando aquela porta abriu ninguém era de ninguém e os jovens que passaram a tarde tumultuando a porta do recinto puderam fazer um tsuru com seu papel de trouxa enquanto disputavam espaço comigo perto do palco. 

PARECE QUE O JOGO VIROU Ñ É MSM??
A viagem no tempo de volta pra 2005 começou bem antes do show, com Fall Out Boy e The Used saindo das caixas de som. Me senti numa festa do Hangar 110 que nunca frequentei, mas curtia pacas. Não sei se era ansiedade, adrenalina ou aquele energético batendo, mas aos poucos o cansaço nas pernas e na cabeça foi sumindo e eu já queria mais espaço pra bater cabelo e estava até cogitando pular de mãos dadas com o cara escroto que não parava de me empurrar caso tocasse All The Small Things - coisa que feliz ou infelizmente não aconteceu. O que na verdade aconteceu e me fez ignorar todo o resto da festa foi que, ao olhar pra cima, eu vi o Lucas no andar de cima. 

Oh sugar, we're going down. 

Antes de ser fã da Fresno, eu já era fã do Lucas. Aliás, mais correto seria afirmar que eu só comecei a ser fã da Fresno por causa do Lucas. Sendo bem honesta, o som deles nunca foi minha vibe, mesmo na época em que eu passava lápis preto no olho pra ir pra escola, e sempre me incomodei muito com a necessidade que eles tinham de soar como o Copeland ou o Anberlin quando sempre tiveram potencial pra ser muito mais que isso. Mas aquela era a banda do Lucas, aquele cara que escrevia coisas tão legais, cujos rascunhos de Fotolog eu vi virar música, a banda que o Lucas montou com o Tavares na época da escola, o sonho adolescente deles de ser rockstar. 

Antes de qualquer coisa, eu estava lá por ele. Por ele e por mim, a garota que anos atrás achava que ele era o cara mais legal do mundo - e que até hoje, de vez em quando, tem umas recaídas. Eu devia aquele show pra mim mesma há muitos anos, e finalmente era chegada a hora de acertar as contas. Então, quando o Lucas apareceu com sua mochilinha nas costas e deu um tchau tímido pra gente, eu fiz o que eu teria feito se ainda estivéssemos em 2007: gritei horrores. Que delícia ter 13 anos. 

eu fui a menina de casaco vermelho à esquerda em 100% do tempo
O show que a Fresno fez em Uberlândia naquele dia 16 faz parte da turnê "O começo de tudo", cuja proposta é tocar só músicas dos três primeiros discos da banda. Não sei o que poderia ser mais simbólico pra esse meu revival adolescente do que isso, porque não era só pra mim que aquele era um momento de nostalgia e celebração de tudo que fomos um dia e que foi tão bom enquanto durou. Em determinado momento do show um cara foi pedido em casamento, e embora tenha ficado evidente que a namorada só fez aquilo pra que ele tivesse a chance de subir no palco e abraçar a banda, com casório ou não aquilo foi solene pra todo mundo, e a sensação que eu tinha era que todas as pessoas estavam ali tendo o show da vida delas, ou pelo menos de uma parte muito importante da vida delas. 

Essa comoção coletiva é uma coisa que só a música traz pra gente, e não importa o gosto do freguês, se é a Fresno, o Paul McCartney ou o Black Eyed Peas em cima do palco - o que faz diferença é a emoção do momento, tanto de quem toca como de quem assiste. Naquela quinta, todo mundo estava muito feliz por estar ali, e isso se fez sentir do começo ao fim do show.

Aliás, muito engraçado estar tão feliz num show com músicas tão deprimentes. Eu balancei os braços feliz da vida gritando que EU PUDE VER O SOL DESAPARECER DO SEU ROSTO, DOS SEUS OLHOS, DA SUA VIDA, dei pulinhos cantando NÃO-CHO-RA-NÃO-CHO-RA, e foi ao som de Se Algum Dia Eu Não Acordar que o Lucas pediu que a gente abraçasse os amigos que conhecemos graças ao róque e que estão aí até hoje. Imagina se um dia eu não acordar, quem vai puxar assunto com você? Quem vai mentir que você é legal? Imagina se um dia eu morrer, bem o tipo de papo saudável que todo amigo bate de vez em quando. Que fase. 

Como tinha que ser, Duas Lágrimas, a minha música, foi absolutamente tudo que eu esperava depois de tantas vezes ter dado replay nessa apresentação aqui, e eu, que tinha me lamentado tanto ao longo da semana por não estar conseguindo fazer uma imersão na banda, como sempre faço às vésperas de algum show, percebi que ainda lembrava de todas aquelas outras letras e bastava ser levada pelo calor das pessoas cantando pra lembrar de tudo. Eles mandaram um "OOOHHH MINAS GERAAAIS" em determinado momento, mas eu já sabia que vinha Stonehenge depois. 


Nunca esperei que um show acústico pudesse ser tão enérgico. No começo achei esse detalhe bem chato, pois a moeção™ sempre foi uma das coisas que mais curti no som da banda. Embora tenha sentido falta de ver o Lucas com sua guitarra branca maravilhosa, as pessoas pulavam e cantavam tanto que mal parecia que os plugs estavam desligados. A gente foi maré viva pra caramba, e quando o Lucas finalmente ficou de pé e abriu os braços, pra fechar o show com Sono Profundo (a última música do primeiro CD pra fechar o show que começou com a primeira música do primeiro CD), tudo que se sentia era a energia de uma banda que, independente do som que faça, o faz com muito respeito à música, muito amor e sempre se divertindo muito. Em troca, do nosso lado tinha a energia das pessoas que levaram muitos anos pra estar ali e, independente do sentido que aquelas músicas façam hoje, se é que ainda fazem algum, elas fizeram um dia, muito, e a gente estava ali pra celebrar e viver aquilo de novo. 

Às duas e meia da manhã, eu estava em casa, sem conseguir dormir. Sem maquiagem, sem sapato, e finalmente sem hora pra acordar, eu já não queria mais a cama com a qual passei o dia todo sonhando. Do contrário, com os fones de ouvido eu pulava pela sala ouvindo Logo Você (VOCÊ SENTE AO ME VER O QUE EU SINTO POR VOCÊ OU NÃO SENTE MAIS NAAADAAA??) e querendo que aquela euforia durasse pra sempre. Não sei se foi a adrenalina, o energético ou o que quer que seja que exista de tão especial no ato de se realizar um sonho - ainda que com uns anos de atraso. No fundo, a gente nunca fica velho demais pra isso. Que delícia ter 13 anos.

P.S.: Tavares, eu nunca te esqueci.
P.S.S.: Sem fotos do baile porque não encontrei as profissionais na internet (aô berlândia).

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Filmes que eu amava quando era jovem

Acho que desde que criei esse blog (!) venho postergando uma lista dos meus filmes teen favoritos. Já falei em outras oportunidades que esse provavelmente é meu sub-gênero favorito do cinema e um dos principais motivos para esse post nunca ter saído é que a lista seria gigantesca e eu sempre me torturaria lembrando daqueles que ficaram de fora. São sete anos de blog, vocês já aprenderam que objetividade não é comigo. No entanto, depois desse último post da Paloma e motivada por essa minha adolescência tardia, fiquei com um impulso irresistível de elencar não os Meus Filmes Adolescentes Favoritos de Todos os Tempos, mas pelo menos os que eu gostava quando era... pré-adolescente. 

Ou seja, Meus Filmes Adolescentes Favoritos dos Anos 2000, dessa era de ouro aí:

Capa icônica da Vanity Fair com a realeza teen do início dos anos 2000: praticamente todos os PSD's usados nos layouts da época vinham dessa capa e das fotos dentro da edição - inclusive vários meus
A minha adolescência, na verdade, foi a fase que eu mergulhei em filmes europeus obscuros e clássicos em preto-e-branco de 1936. Foi uma boa fase, juro, mas muito melhor foram meus 11, 12 e 13 anos, a fase de todos os sábados ir na locadora pegar os mesmos filmes e passar a tarde rindo com as amigas comendo leite condensado com Toddy, porque a gente tinha preguiça demais pra fazer brigadeiro. A gente sonhava com ensino médio, sapatos de salto, perder o BV e tinha sérias discussões sobre quem era melhor: Lindsay Lohan ou Hilary Duff? (team Lilo, SEMPRE). 

Querido leitor, bem-vindo a 2005.

      12. Garota Veneno 


Esse é um daqueles filmes que eu jamais veria de novo, porque tenho certeza de que ele, na verdade, é horrível. Sei lá, olhem esse gif. O trope de troca de corpos fez muito sucesso no início dos anos 2000, então temos lá a rainha do baile, Rachel McAdams pré-Regina George, que um dia acorda na pele do Rob Schneider, que faz papel de bandido. Barra. É um pastelão que me divertia horrores com seu sofisticado senso de humor, e que era até revolucionário pro seu tempo, já que a melhor amiga da protagonista, interpretada pela Anna Faris fazendo o que ela faz de melhor (papel de burra), se apaixona pela Rachel na pele do bandido e elas (eles?) tem um #momento ao som de You Get Me. Aliás, por onde anda a Michelle Branch? E o Rob Schneider?

      11. Tudo que uma Garota Quer  


Antes de qualquer coisa, vamos acender uma vela pela saúde e pela sanidade mental da Amanda Bynes. Amiga, volte para nós. 

Esse é outro filme que eu tenho um pouco de medo de reassistir e descobrir que ele não é tão bom quanto nas minhas lembranças, ainda que tenha Amanda Bynes e Colin Firth no elenco. No filme, ela descobre que o pai é um lorde, duque, sei lá, e vai atrás dele pra descobrir suas origens, criar laços, descobrir quem é de verdade, etc. Aquela história. Chegando lá, obviamente o pai está noivo de uma mulher nada a ver, que tem uma filha nada a ver, rola um choque cultural, ela causa muito nos eventos da realeza e tem uma cena maravilhosa em que Daphne participa de um desfile de moda da nobreza usando calça jeans e regata branca, e grita THANK YOU LONDON! antes de cair da passarela. Ok, talvez eu veja esse filme de novo hoje mesmo. 

      10. Quatro Amigas e um Jeans Viajante


Todo mundo já ouviu falar da história das quatro amigas que encontraram uma calça jeans que serve perfeitamente nas quatro, ainda que elas tivessem corpos bem diferentes. Elas usam a calça para se manter de certa forma unidas num verão que passam separadas, e falando assim você pensa que é só mais uma história sobre quatro garotas diferentes que são amigas mesmo assim e um jeans realmente sujo. No entanto, além de ser uma história realmente ótima sobre amizade e vários exemplos positivos de sororidade, de repente não mais que de repente, o filme fica muito intenso e mega emocional, e lá está você chorando horrores vendo Sessão da Tarde pela trigésima vez, porque como superar Tibby e Bailey? Obs.: Blake Lively antes do nose job, que momento. Quem diria que Bridget, a garota que jogava futebol, digievoluiria para Serena Van Der Woodsen?

      09. Aquamarine


Sinto que um filme que envolve duas amigas que encontram uma sereia refugiada na piscina de casa não precisa de muitas justificativas que deem conta de como ele é maravilhoso. São amigas, sereias e romances de verão, com Jojo e Emma Roberts tão jovens que deviam colocar papel higiênico dentro do sutiã, a receita perfeita pro sucesso. A sereia que elas encontram é uma maluca obcecada pela ideia de se apaixonar, e elas tem que colocar juízo na cabeça da moça ao mesmo tempo que aproveitam o último verão juntas na cidade antes de uma delas se mudar pra sempre. Não lembro muito do filme, mas esse é outro que sempre me faz chorar no final. 

      08. Lizzie McGuire - Um Sonho Popstar


Eu não tinha Disney Channel em casa nessa época, então não conhecia a série da Lizzie McGuire antes de assistir o filme. Aliás, só fui descobrir que Lizzie McGuire was a thing quando entrei no mundo dos blogs. Antes disso, achava que só era um filme obscuro da Hilary Duff que eu tinha achado na locadora. Não que seja muito mais que isso, a diferença é que em 2006 a blogosfera era composta pelo tipo de gente que encontrava filmes assim na locadora. Na história, a turma da Lizzie McGuire viaja pra Roma (eu fui pra Caldas Novas na minha formatura, bjs) e ela meio que topa fingir que é uma popstar italiana, já que as duas se parecem muito, a original está sumida, e o italiano gatinho da scooter tem shows a fazer. Tipo, normal, né? Essa é a mágica dos filmes adolescentes: zero plausibilidade no mundo real. E agora eu e você vamos ficar até semana que vem cantando HEY NOW! HEY NOW! THIS IS WHAT DREEEEAMS ARE MADE OF!

      08. No Pique de Nova York


Eu amo as gêmeas Olsen. Muito. Amo até hoje, mesmo elas tendo largado o cinema pra serem mendigas góticas fashionistas com casacos de pele de verdade - queria ser contratada pra segurar a cauda do vestido delas, sabe? Se não me engano esse foi o último filme que as duas estrelaram juntas depois de preencher os anos 90 com todos os filmes possíveis com confusões entre gêmeas. Nesse, duas irmãs com personalidades opostas tem que começar a se entender pra sobreviver em Nova York, vivendo incríveis confusões e sendo perseguidas pelo Eugene Levy. Eu choro de rir só de lembrar da Roxy fazendo o discurso na ONU e citando a Avril Lavigne, e outra referência importante é que o Simple Plan começou a fazer sucesso depois de aparecer nesse filme. #respect

Vocês eram a Ashley ou a Mary-Kate? Sempre fui Mary-Kate até os ossos. #talifã

      07. Menina Mimada


Vários filmes dessa lista fazem parte de um nicho que aprecio muito, que é o dos filmes-horríveis-que-são-maravilhosos, o que não é nenhum demérito. No entanto, por incrível que pareça, Menina Mimada é bom de verdade - tanto que é o único dessa lista que eu assisti pela primeira vez com mais de 15 anos. Na história, Emma Roberts é uma patricinha mimada (cê jura) que recebe o castigo de ter que ir estudar em um colégio interno na Inglaterra. Chegando lá, seu plano é aprontar horrores pra ser expulsa o mais rápido possível e voltar pra casa, mas no meio do caminho ela descobre amizades maravilhosas e um gatinho com sotaque que dirige conversível - e apronta horrores com a ajuda deles. Os bonding moments com as migas do internato são os melhores e amo a mensagem que ele passa sobre a importância de se ter migas e estar do lado delas pra todas as ciladas. Além disso: Emma Roberts, amo tanto que nem sei. Quer ser minha miga?

      06. Sexta-Feira Muito Louca


Eu avisei que roteiros sobre troca de corpos estavam em alta nessa época, e esse filme é o melhor exemplar da espécie. Mãe e filha que vivem às turras amanhecem numa fatídica sexta-feira em corpos trocados, e o que a gente ganha com isso é uma Lindsay Lohan em um de seus melhores momentos, uma Jamie-Lee Curtis fantástica, gostosas gargalhadas e um drama familiar que inevitavelmente me faz chorar. Além disso, é um filme da Disney e sua cota de cantoria obrigatória vem por meio da bandinha emo e gótica da personagem da Lindsay, e as duas melhores músicas dela vem desse filme: Take Me Away e Ultimate. Trivia: na época meu blog se chamava Princess Anna, e meu primeiro layout personalizado tinha uma foto da Lindsay Lohan e um midi-player que começava a tocar Take Me Away automaticamente. Me amem. 

      05. O Diário da Princesa


A Anne Hathaway é uma das minhas pessoas favoritas do mundo, e nossa história começou aqui. Com Mia Thermopolis se descobrindo princesa da Genóvia aos 16 anos e tendo que aprender sobre etiqueta, chefes de Estado e peras enquanto sobrevive ao colegial, é sabotada pelas inimigas, administra seus amigos à sua nova vida e ainda por cima se apaixona por Michael Moskovitz (CRUSH ETERNA). Nunca cheguei a terminar a série de livros e confesso que tenho medo de lê-los e descobrir que eles não são tão bacanas como eu me lembro. Prefiro deixar quieto e guardar comigo a lembrança gostosa da época de abraçar esses livros, acreditar que essa é a melhor história do universo. Foi o primeiro DVD que ganhei, exaustivamente assistido, e num "curta" que gravamos pra um trabalho de escola eu reencenei o momento que Mia joga sorvete na Lana. Juro. #momentos

      04. A Nova Cinderela


Eu nunca superei A Nova Cinderela, tampouco pretendo. O filme é uma adaptação moderna de Cinderela, onde ela e o ~príncipe~ são amigos virtuais e se conhecem apenas pelo nickname, num mundo sem redes sociais onde era possível trocar mensagens com uma pessoa da escola sem saber quem ela é. Os dois se encontram num baile à fantasia, lógico, e vivem um super #momento, ele sem saber quem é ela, ela sem poder dizer quem é, vocês conhecem a história. A trilha desse filme toca até hoje aqui em casa e ele passou com folga na prova dos quinze e dos vinte. Os anos vão e ele continua maravilhoso - o Chad Michael Murray (CRUSH ETERNA) também. 

      03. Meninas Malvadas


Eu falo tanto de Meninas Malvadas por aqui, as pessoas falam tanto de Meninas Malvadas em todos os lugares, que sinto que estarei sendo redundante em qualquer coisa que disser sobre ele. Vocês já sabem. Meninas Malvadas provavelmente é o que Curtindo a Vida Adoidado foi pros adolescentes dos anos 80, ao captar aquele espírito de uma geração, principalmente para as meninas. O filme fala sobre conflitos entre garotas, picuinhas e humaniza de forma honesta e bem-humorada nossas amigas & rivais da escola. É um filme necessário e ainda por cima MUITO engraçado, com a melhor dublagem em português da história, o sucesso do Dubsmash é uma prova viva disso. Se os anos 2000 fosse uma garota de 15 anos e resolvesse tatuar alguma coisa escondida dos pais, tatuaria SO FETCH na lombar.

      02. Legalmente Loira


Esse filme é o único da lista que não é necessariamente adolescente, mas está aqui porque Elle Woods foi um dos meus primeiros role models da juventude. Muitas pessoas pensam que Legalmente Loira é um filme fútil sobre uma patricinha que vai pra Harvard atrás do namorado, mas na verdade ele é um filme realmente genial sobre uma mulher que decide mostrar que é mais do que as pessoas pensam dela e que, se ela quiser, ela pode, sim, ir estudar Direito em Harvard e ser sensacional fazendo isso. Eu repetia pra quem quisesse ouvir que quando eu crescesse eu também ia estudar Direito em Harvard e chegar lá com minha caneta de pompom sem me importar com o que os outros dissessem porque, com 11 anos, minha vida era basicamente assim - com a diferença de que não era Harvard, mas o ensino fundamental.

Desde então a Reese Witherspoon é uma das minhas pessoas favoritas de Hollywood, por ser assumidamente feminista, por seus ótimos filmes e por seu trabalho como produtora. Reese fundou a Pacific Standard com o intuito de produzir filmes com personagens femininas que pudessem servir de modelos, heroínas ou que simplesmente tivessem boas histórias. Ela fez isso pensando na filha de 13 anos e foi a empresa dela que viabilizou Garota Exemplar e Wild.

      01. Crossroads


Também conhecido como o filme-da-britney-spears, Crossroads conta a história de um trio de amigas de infância que acabam seguindo rumos diferentes, mas que se unem novamente no dia da formatura do ensino médio pra desenterrar uma caixa de lembranças, tesouro que elas tinham escondido anos antes. No dia seguinte, cada uma com seu motivo, as três embarcam juntas numa road-trip com cara de cilada pra Los Angeles e o resultado não podia ser mais maravilhoso. Elas cantam I Love Rock'n'Roll no karaokê pra arranjar dinheiro pra gasolina, fogem com o carro cantando If It Makes You Happy e tem um dos melhores bonding moments da história do cinema ao compartilhar umas com as outras seus medos e angústias dos últimos anos. E sim, esse também sempre me faz chorar. De soluçar. De verdade, é um dos melhores filmes sobre amizade que eu já assisti.

Outra coisa ótima é que as três cresceram e acharam seu lugar no mundo, Britney encontrou 2007 no meio do caminho mas continua sendo a única Princesa do Pop possível, atual rainha de Las Vegas. Zoe Saldaña virou musa da ficção científica e Taryn Manning renasceu das cinzas pra ser a Pennsatucky, uma das melhores personagens de Orange Is The New Black. 

domingo, 12 de abril de 2015

A gente tem que se amar

Você já ouviu falar da regra do lápis? Ela diz que um dos principais sinais de envelhecimento é você conseguir sustentar um lápis embaixo dos peitos. Tipo, o lápis não cai porque seu peito é mole e segura ele ali? E isso é algo ruim? Porque ele não cairia se seu peito fosse empinadinho, tal qual o das mulheres xovens? Sei lá? Também tive dificuldades para processar a informação, talvez porque a relação entre velhice, peitos e lápis não faça lá muito sentido. Não faz o menor sentido, na verdade, mas as pessoas aparentemente repetem isso por aí e a gente acredita. 

Uma amiga contou que um dia fez o teste chorando, rezando pro lápis cair. Mas, nas palavras dela, dava pra segurar um estojo inteiro ali embaixo, de boinha. O que isso significa? Que ela é velha, ainda que não tenha nem 25 anos (e desde quando velha virou ofensa?)? Que ela tem os peitos de velha? Que ela tem os peitos caídos? Que ela tem os peitos errados e tem que tirar tudo e colocar de novo - ou, melhor ainda, um novo? Ou só que, mais uma vez, a Sociedade, esse sujeito oculto na terceira pessoa do plural ou singular, mais uma vez triunfou em perpetuar um ideal que não existe, só pra fazer a gente se sentir mal e inadequada dentro dos nossos corpos?


Esse drama dos peitos fez parte de um longo papo que tivemos ontem sobre corpos, neuras, tristezas, mágoas e expectativas equivocadas desse mundinho de merda em que vivemos. É incrível como todo e qualquer desconforto que a gente sente com relação a nós mesmas sempre tem em sua origem algo que alguém falou pra gente, que foi lá e apontou o dedo e disse que não era bem assim, que a gente tá errada, que assim é feio, que assado é deselegante, que não tá certo, nem bonito, nem bacana ser assim, do jeitinho que a gente é. Quem nunca, né? Ou, no caso das mulheres: quem sempre?

Além de vivermos numa sociedade que nos impõe um padrão de beleza inatingível (já discuti um pouco sobre a origem disso em outro post), as pessoas ao nosso redor acham de bom tom comentar sobre nosso corpo, nosso cabelo, nossa vida. E sabe que eu nem acho que façam isso por maldade, ao menos não a maioria. Fazem isso porque é tão natural falar do corpo dos outros, uma coisa tão corriqueira, que a gente faz sem pensar que isso pode chegar do outro lado com um peso negativo. 

E não adianta, bate errado mesmo e a gente só se dá conta da dimensão do desastre quando se vê tendo um lero consigo mesma pensando que vai ter que fechar a boca e começar a correr pra manter esse peso, ainda que você tenha emagrecido porque a rotina estava maluca demais e você não conseguia fazer refeições em horários de gente normal e estivesse dormindo pouco. Ainda que aquela calça larguinha e o short que escorregou do quadril pros tornozelos não fosse magreza, mas cansaço e abatimento. Tudo porque veio alguém e disse: Nossa, mas essa enxugada que você deu te fez bem, hein? Tá muito linda, parabéns e você, que esteve perfeitamente bem até então, começa a pensar que poxa, será que só agora que eu estou bem e bonita de verdade?


Não sou contra operar os peitos, seja pra aumentar ou diminuir. Não sou contra malhar, perder uns quilos e se sentir linda por isso. Não sou contra suar horrores pra acabar com a barriga, muito menos contra usar maquiagem pra esconder olheira, contornar o rosto, esconder as espinhas. Sou contra a gente TER QUE fazer esse monte de coisas porque alguém disse que do jeito que estava não estava bom. Igual falam pra essa minha amiga que ela tem que operar os peitos, porque eles são feios. Igual falaram pra mim que eu tinha que fazer um esforço pra manter esse peso, ou que eu daria uma valorizada (WHAT) se aumentasse em uns dois números o tamanho do meu sutiã ou se não usasse mais saias rodadas, já que tenho o quadril largo. É esse imperativo que me mata, porque ele vem de todos e de ninguém, seguindo uma ordem pra atingir um objetivo impossível de ser alcançado.

E o que eu quero, alguém parou pra perguntar? E minhas contas, alguém se ofereceu pra pagar? Pois é. 

Como desistir do mundo e pedir pra sair não é uma opção, acho que o melhor que a gente pode fazer é dar um jeito de gostar de quem a gente é. Sei que o imperativo da autoestima também é uma forma de opressão (afinal, a gente recebe estímulos de todos os lados dizendo que somos erradas e inadequadas, tudo pra fazer com que a gente se sinta um lixo, e nem esse direito temos mais, já que acima de tudo a gente tem que se amar???), mas eu acho que é um esforço que vale a pena. Não estou falando pra ninguém acordar amanhã querendo casar com o próprio reflexo, mas sempre dá pra começar com um pouquinho de carinho e gentileza, pois vamos ter que viver dentro de nós mesmas pelo resto da vida. Nosso corpo é a nossa casa e merece nosso amor hoje mesmo. Precisa dele e a gente também. A gente tem que se amar pra poder resistir.

VEJAM ESSE VÍDEO PELO AMOR DE DEUS

Falando assim até parece que é fácil pra mim, que eu adoro cada centímetro do meu corpo ou que nunca quis desistir de sair porque não me sentia bem em nenhuma roupa. Parece que nunca chorei num provador de loja porque, francamente, aquelas luzes não valorizam ninguém ou que não existiu aquela vez que eu quase desisti de viajar com amigos porque estava com vergonha de usar biquíni.

Já passei por tudo isso e não estou totalmente livre - ninguém está, mesmo. No entanto, os dias bons são mais frequentes que os ruins, e ontem, quando minhas amigas estavam se dissolvendo diante de mim ao expor suas inseguranças mais profundas, eu estava num dia ótimo e quis teletransportar todas pra esse estado de graça. Por isso, vou deixar algumas dicas que contribuíram pra minha desconstrução e me ajudaram nessa jornada rumo ao amor-próprio:

1) Parei de me pesar: Foi a primeira coisa que fiz, com uns 13 ou 14 anos: não deixei que um número determinasse como eu deveria me sentir ou o valor que eu tinha que dar pra mim mesma. O importante é estar se sentindo bem dentro de si.


2) Exemplos positivos: Se boa parte da construção desse ideal equivocado de beleza vem de imagens externas, em revistas, filmes e passarelas, o efeito contrário também existe. A partir do momento que a gente se cerca de imagens positivas, reais, que mostrem beleza em pessoas parecidas com a gente, mais a gente começa a processar aquilo como bonito e inspirador. Eu lia Capricho e me sentia frustrada porque não me parecia com aquelas modelos, então abandonar a revista foi super importante na desconstrução de um padrão que me fazia muito mal. Mandei o link da Normal Breast Gallery pr'aquela minha amiga do início do post, com uma coletânea de imagens não-sexualizadas de seios femininos, cada um com uma história super emocionante. O mesmo vale pros ensaios incríveis que o Pedrinho Fonseca faz em seu projeto A Olho Nu. Se você só tem blogueiras fitness e pessoas que vivem do corpo no seu Instagram, é essa imagem que vai ficar grudada na sua cabeça e é ela que vai te dizer que você não é suficiente. Jogue tudo isso fora e se cerque moças bonitas que se pareçam com você, seja você uma garota magrela, ou que tem o quadril largo, ou que tem o peito pequeno, cabelo crespo, musa do bracinho gordo, sardentinha, sei lá! Todos os corpos podem são lindos, basta a gente olhar do ângulo certo. Aprendi isso com a Polly e jamais me esqueci.


3) Pessoas positivas: A vida é muito curta pra gente perder nosso tempo, nosso amor-próprio e nossa sanidade mental por conta de gente negativa. Sei que a maioria delas não o faz por maldade, mas você precisa mesmo estar naquele grupo do Whatsapp das amigas da academia que só discutem suco verde e dieta da lua? Vale a pena continuar ficando com um cara que acha que pode palpitar a respeito do seu corpo? Sério mesmo que você vai assistir Esquadrão da Moda pra sempre se identificar com as participantes e se sentir um lixo com os comentários dos apresentadores?

Sei que a gente não pode simplesmente anular algumas pessoas da nossa vida, então comece a associar os comentários da sua mãe sobre o tamanho da sua bunda a gifs de pug. A cada comentário um novo gif, ou R$0,50 centavos num cofrinho que você pode quebrar pra fazer hidratação no cabelo, comprar um livro novo ou então viajar pra Austrália. Se dessa limpa não sobrar ninguém, sei lá, me manda um e-mail, comece a assistir My Mad Fat Diary, ou Parks and Recreation e lembre-se dessa frase da Amy Poehler:

"Be easy on yourself. Have fun. Only hang around people that are positive and make you feel good. Anybody who doesn't make you feel good, kick them to the curb. And the earlier you start in your life the better. The minute anybody makes you feel weird and non-included or not supported, you know, either beat it or tell them to beat it"

4) Seja uma pessoa positiva: A gente reproduz bobagens do mundo sem nem perceber - afinal, também estamos inseridas nessa cultura e é difícil sair incólume. O título desse post não é A Gente Tem Que Se Amar por acaso. Quis usar o significado reflexivo do se amar porque não é uma via de mão única. A gente tem que amar a si e aos outros também. No sentido dos mandamentos divinos, se você preferir, ou só mesmo no sentido de se educar pra ter o mesmo carinho e gentileza com os outros, principalmente com as outras. Você pode começar pensando duas vezes antes de julgar uma garota pela aparência ou até mesmo antes de comentar em voz alta sobre o corpo dela, seja na frente, pelas costas, ou até mesmo da mocinha famosa no tapete vermelho. A gente não tem nada a ver com isso, ok? É uma desconstrução, difícil como qualquer outra, mas vale muito enquanto exercício.

E elogiar também é importante, viu? Não tenha receio ou vergonha de dizer pra uma pessoa que ela está bonita, que gostou daquela blusa, que o cabelo está lindo, que ela está com um brilho diferente. Sério. Faz bem pros dois lados espalhar amor por aí!


5) Dance sozinha: Amiga, se tudo falhar, coloque sua melhor lingerie, de preferência um conjunto combinandinho (pode ser liso, pretinho básico com pretinho básico, calcinha bege e sutiã bege, sei lá - combinações são poderosas de todos os jeitos), ligue Crazy In Love bem alto no som e dance sozinha se sentindo a Beyoncé de sua própria vida - então se agarre a esse sentimento e leve pra vida. Eu juro que funciona.


E mesmo quando tudo falhar, nunca deixe que um lápis - ou um estojo inteiro - preso embaixo dos seus peitos defina quem você é.

Alguns links para saber mais: 

segunda-feira, 6 de abril de 2015

De repente 15

Ou: Manifesto a favor da adolescência tardia

No dia do meu aniversário de 21 anos, eu fiz um piercing no nariz. 

Eu sei que vocês são descolados e transgressores e furam piercings com uma naturalidade de quem pinta as unhas de azul calcinha, mas eu nunca fui do tipo que paga pra alguém furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro. Essa definição de piercing foi meu pai que deu, e ele repete isso diante de qualquer coisa que acontece comigo desde que fiz o piercing. Qualquer coisa mesmo.

Se o nariz coça, tava na cara né, foi pagar pra alguém furar um buraco no seu nariz e enfiar uma argola dentro, só podia dar nisso. Se estou com dor de cabeça, só posso estar de brincadeira, o que mais eu queria? Fui pagar pra furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro, agora tô com dor de cabeça mesmo, única consequência possível. Se quebro minha costela caindo da escada, era só uma questão de tempo, fui pagar (ainda não sei se o problema maior foi o piercing ou a ideia de que isso é algo que se paga pra fazer) pra furar um buraco (é muito importante a ênfase na palavra buraco e um tom de absoluto horror ao dizê-la: lê-se BURAaAaAcOoOo) no nariz e enfiar uma argola dentro, o próximo passo é perder o equilíbrio motor e da vida. 

Daí vocês já conseguem entender por que eu demorei tanto tempo pra fazer o piercing.

Foram exatamente sete anos, visto que tenho essa vontade desde os 14. Eu queria um piercing no nariz, um piercing monroe, igual ao da Amy Winehouse, e um piercing no lábio, igual o da Marimoon. Tudo que um pai pode desejar na vida é que sua menininha queira ser igual Amy Winehouse ou Marimoon, né? Eu não facilitava a vida de Patriarca Rocha, preciso admitir.

Patriarca em chamas 
Antes de ter coragem de pedir pra furar o nariz, tentei algo mais simples, uma argolinha na cartilagem da orelha, dessas que todo mundo tem. Ele nunca disse que não, mas nunca disse sim, e me enrolou por tanto tempo, com argumentos tão absurdos ("como você vai fazer quando tiver um casamento pra ir? não dá pra ir num casamento com um negócio desses na orelha" "mas pai eu nunca vou em casamento" "mas se um dia tiver que ir, como cê vai fazer???"), que fui vencida pelo cansaço e me contentei com um segundo furo na orelha. 

Foi um desastre. Aliás, o desastre do segundo furo foi a melhor coisa que aconteceu na vida do meu pai, porque depois de enfrentar uma inflamação dessas que não podia nem dormir do lado do furo senão acordava com a orelha dilacerada e o travesseiro cheio de sangue, eu nunca mais cogitei a ideia do piercing. Qualquer piercing. O segundo furo se fechou pra sempre e com ele a minha vontade de pagar alguém pra furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro.

O problema foi que eu podia até ter desistido, mas nunca tinha esquecido a coisa do piercing. Consegui superar o monroe e o do lábio, mas o do nariz me fazia sofrer. Sempre que via alguém com uma argolinha no nariz sentia vontade de chorar, abraçar a pessoa, ser amiga dela, pedir pra ela trocar de corpo comigo, etc. Era uma coisa tão bonita e eu queria tanto. Tanto tanto tanto! Mas assim, TANTO! Mesmo com quase 21 anos, eu queria aquele piercing com a obstinação adolescente de quem se dispõe a passar duas semanas na porta de um estádio pra ver um show de perto.

Aí que quando eu faço aniversário eu costumo ficar pensativa. Pensativa é um jeito bacana de dizer que eu fico dias sem dormir, pensando que estou jogando minha vida no lixo, que vou morrer amanhã e nunca fiz naaaaaada, my life is oooooooveeeeeer, nevermooooooooore. Peixes, com ascendente e sol em peixes, amores. Muitas emoções. Essa pilha errada de achar que estou perdendo partes da minha vida e deixando de viver experiências específicas da idade é uma onda que sempre bate muito forte e muito errada no meu inferno astral, e esse ano não foi diferente. O que mudou foi que pela primeira vez eu resolvi fazer alguma coisa com relação a isso.

Todo mundo de olho fechado e bracinho pra cima gritando CH-CH-CH-CH-CHANGES

Eu simplesmente pensei: por que não? Sabe, às vezes pensar por que não? é tudo que a gente precisa pra fazer a vida andar. Depois de uma pesquisa sobre o melhor lugar para fazer isso, catei um amigo que seria um bom apoio moral - mas que chutaria minha bunda se eu ameaçasse desistir - e, no dia do meu aniversário, matei aula e fui lá pagar oitenta realidades pra um moço com uns cinco furos na cara furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro. E pronto! Não doeu, não inflamou, não teve nariz dilacerado, nem travesseiro cheio de sangue. Minha mãe adorou, minha avó achou a rebeldia incrível e meu avô não viu nada diferente até agora. E meu pai, bem, ele vai superar. 

Dito assim parece pouco e talvez seja, mas essa experiência me enfiou num vórtice de adolescência tardia do qual está sendo difícil sair. Parei de ficar pensando que ain, não tenho mais idade pra essas coisas (ler com a voz da Princesa Caroço) pra perceber que a grande vantagem de voltar pros 15 anos com 21 é que você pode continuar gostando e querendo as mesmas coisas, com a diferença que agora NÃO TEM NINGUÉM PRA TE IMPEDIR. #thuglife


Semana passada, por exemplo, eu fiz uma mecha rosa no cabelo. Acho cabelo colorido uma coisa incrível desde sempre e passo horas no Pinterest vendo gente descolada de cabelo colorido por aí, mas sempre pensava: ain, não tenho mais idade pra isso, ain, não sou blogueira teen de modas, nem vou pro carnaval no Rio, ain ain ainnnn. Até o dia que cruzei com um tonalizante rosa quando menos estava esperando, e aí me fiz a pergunta mágica POR QUE NÃO? e no dia seguinte lá estava eu sem a menor ideia do que estava fazendo, pintando o banheiro, minhas orelhas, minha testa e eventualmente um fiapo de cabelo de cor-de-rosa. Gritei de felicidade quando sequei o cabelo e amei o resultado. De vez em quando é muito fácil ser feliz. 


Já na semana que vem vou ver um show da Fresno. Vocês acreditam nisso? Fiquei paralisada quando vi o evento no Facebook e em dois minutos decidi que ia de qualquer jeito, mesmo se não tivesse companhia. Fiquei até com vergonha de sair buscando, confesso que esperava ouvir um ain miga vamo superar né, mas assim que confirmei presença uma amiga já veio gritando falar comigo que queria muito ir, e no dia seguinte consegui, sem muito esforço, convencer outra amiga. Eu era muito fã da banda, mais fã ainda do Lucas e do Tavares, nos meus tempos de ema e gótica, lá em 2000-e-pedindo-quebre-as-correntes-no-rádio, e nunca tive a chance de ver um show dos caras. Daí eles vem pra minha cidade com um show cuja proposta é justamente celebrar o começo da banda e tocar os primeiros discos. Logo agora que eu tenho um piercing no nariz e uma mecha rosa no cabelo! Ainda bem que algumas oportunidades só vão embora definitivamente depois que a gente morre.

E eu não sei vocês, mas eu não tô pretendendo morrer se for pra correr o risco de ficar a eternidade vagando nesse mundão, só porque perdi a chance de pagar pra alguém furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro. Meus novos 15 anos têm sido maravilhosos e recomendo a todos, inclusive me disponho a servir de apoio moral se for preciso ou chutar a bunda quando ameaçarem de desistir de qualquer coisa tonta e inofensiva que vocês já quiseram muito com 15 anos.