quinta-feira, 15 de setembro de 2011

I will go crazy if I don't go crazy tonight

Ou, Aquele com o pití da madrugada

Apesar de não ter sido uma criança birrenta, tenho essa veia chiliquenta interior sempre reprimida pela ameaça das palmadas de mamãe. Quando criança, fiz birra duas vezes: uma no supermercado - quem nunca? - porque queria um kit de banho do Pokémon e, diante da negativa de meus pais, abri o maior berreiro da história do Carrefour; a outra foi porque eu estava brincando de Barbie na cozinha, e tinha usado todo o espaço para montar a casa dela. Assim que terminei e ia finalmente começar a brincar, minha mãe me mandou guardar tudo para que ela pudesse arrumar o jantar, e eu levantei e comecei a sapatear no chão, de raiva. Nas duas situações, levei boas palmadas. Acho que minha geração foi a última a levar ~palmadas educativas~ sem que isso virasse caso de matéria no Fantástico e, sinceramente, não sei qual minha opinião a respeito do assunto, já que a ideia abstrata me parece errada, mas eu sempre apanhei e não cresci traumatizada, agressiva, ou achando que violência é a solução. Estou perdendo o foco, isso é assunto para das redações chatas da escola e não para este post. 

Voltando às birras, graças aos episódios supracitados, aprendi a não ser histérica. Na frente dos outros. Vez ou outra tenho meus chiliques, que costumam ser uma sapateada rápida no quarto fechado ou algo assim. Um dia, numa crise de TPM fortíssima, me lembro de ter jogado o controle da televisão longe, porque a pilha não funcionava mais, mas logo me recompus, envergonhada de mim mesma e morrendo de medo de ser flagrada no ato e levar uns tapas aos 16 anos de idade. Por isso acho que, desde o episódio da casa da Barbie desmontada, essa semana dei meu primeiro chilique em público.

Não é novidade que ando cansada, estressada e sobrecarregada, mas essa semana tem sido especial. Comecei a revisar Geometria e, por mais que eu preste atenção nas aulas, resolva exercícios com o professor, anote tudo, leia e releia, e me esforce como condenada, não consigo aprender nada. Nessa disciplina, acho que fui alfabetizada em uma língua há muito morta, antes mesmo do esperanto pensar em nascer. Tenho passado tardes inteiras quebrando a cabeça para, ao fim do dia, ter conseguido resolver, mal e porcamente, uns dois exercícios e não há nada no mundo que frustre mais meu lado perfeccionista. Ultimamente, minha vontade é chegar em casa e tomar um chá de cicuta pra nunca mais acordar.

Terça-feira cheguei em casa especialmente esgotada e nervosa, e fui dormir antes das dez. Apaguei tão depressa e profundamente que foi mamãe que apagou a luz e retirou "Paula" de minhas mãos e pôs no criado ao meu lado. Dormia pesado quando, de repente, todos os cachorros da rua, do prédio e o Chico começaram a latir. Acordei de sobressalto, sem entender o que acontecia, assustada como a Deusa, de O Clone. Tentei esperar a sinfonia canina passar, mas nada. Ouvia Chico correndo pela casa e uivando em plenos pulmões, e resolvi que tinha que fazer algo antes que o porteiro interfonasse em casa ordenando que sacrificássemos nosso poodlezinho como se fosse um carneiro. Peguei o lorde o levei para o meu quarto. À princípio ele se calou, mas bastou que ouvisse um cachorro latindo, da rua, para que recomeçasse. Eu mandava que ele parasse e era ignorada, o indecente latia na minha cara. Lhe dava pequenos coques na cabeça e nada o comovia. Até que ele se desvencilhou de mim e saiu correndo, latindo feito um biruta. Aí eu surtei.

Saí do quarto colérica e comecei a gritar. Até agora não sei o que aconteceu, não me lembro de ter estado tão nervosa e fora de mim há muito tempo. Como uma esquizofrênica que ouve vozes, eu tapava meus ouvidos com as mãos, chorava, esperneava e gritava: "PARE DE LATIR, PELO AMOR DE DEUS, EU PRECISO DORMIR!!!!!". Mamãe finalmente acordou, e a visão que teve não deve ter sido bonita. Eu de pijama, com o coque de donut se desfazendo no topo da cabeça, esperneando na sala e Chico latindo na sacada. Só olhei pra ela, gritei: "ESSE CACHORRO NÃO CALA A BOCA" e fui correndo para o meu quarto, deitei na cama e posição fetal, e cobri minha cabeça com o edredom e o travesseiro, apesar do calor. Mamãe, sempre fofa, foi até o quarto, me beijou na testa e disse pra eu respirar fundo.

Nem sei como consegui dormir, acordei no outro dia parecendo um monstro, tamanhas as olheiras, o inchaço dos olhos, após tanto choro. Chico, ciente dos incidentes da madrugada, só chegou perto de mim depois que mamãe surgiu na cozinha. Nem ousou me pedir as bolachas de leite que comia e ele adorava. Mamãe me abraçou apertado e disse: "Que noite, hein?". Ela anda meio preocupada com meus nervos e tem me enchido de mimos, e isso é tão fofo que ando até mais calma. Quanto ao Chico, depois do café da manhã, ele se enroscou em mim e nós dois fizemos as pazes.

13 comentários:

  1. Esqueceu do dia que tu apanhou no vestiário?


    ass: Kim K.

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  2. Ai, Anna!
    Desejo melhoras viu? Tb tenho tido dessas, afinal acho q esse ano tem sido difícil pra tds nós, cada uma com as suas razões!
    A melhor coisa é respirar fundo mesmo, já que não dá pra eliminar algumas atividades da nossa vida!!!
    Beijosss

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  3. Nossa, Anna...
    Que relato lindo! Super sincero e bem escrito.
    Por favor, não pare nunca de fazer isso que você faz, mas respire fundo também. Sua mãe tem razão.

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  4. Anna, todas temos direito a nossos momentos de chilique! Eu fiz birra em público uma vez na vida: Eu tinha 2 anos e foi no shopping, porque queria alguma coisa, óbvio. Reza a lenda que meu pai me pegou do chão, me trancou no braço dele, e nunca mais eu ameacei fazer isso na vida. Isso é, quando eu era pequena e tinha juízo. Sabe, eu também levei algumas chineladas de mamãe nessa vida. Eu, assim como você, não cresci traumatizada, e nem achando que a violência é a solução. Mas quando penso no assunto, me vem logo na cabeça o fato de que papai nunca levantou a mão pra mim, mas bastava ele levantar o olho pra eu saber que tinha feito merda. E tinha muito mais efeito. Quando eu fazia alguma besteira e papai ficava bravo, eu ficava com vergonha. Quando era com mamãe, eu ficava era com medo. E eu acho que a base da educação tem que ser o respeito, e não o medo, por isso não concordo com as palmadas. MAS, eu não sou mãe. Eu ainda não tenho meus filhos, e só Deus sabe como deve ser perder a paciência com uma criança te deixando maluca. Deve dar uma vontade intempestiva de virar a mão na bunda mesmo. Eu nunca tive vontade fazer isso, quando olho pra Anna Beatriz, por exemplo, penso que nunca vou ser capaz de bater em alguém tão pequeno. Mas ser prima é bem diferente né. Agora, que eu vou ficar com uma culpa danada se lascar a mão nos meus futuros rebentos, a vou. Afinal, pra mim, vai ser uma constatação de que eu fracassei. Porque se eu precisar enfiar a mão na criança pra mostrar que eu é que mando, é porque perdi totalmente a moral, HAHAHA. Ok, o post nem era sobre isso, mas eu desabafei. Agora vamos lá. Guria, se tem algo que me tira TOTALMENTE do sério é cachorro latindo de madrugada. Eu fico LOUCA, e nem tenho jeito de fazer calar, porque a Kimmy não late. Tipo. Nunca. E quando ela resolve dar umas 3 latidinhas, no meio da tarde, a cada mês, eu fico INSANA da vida. Eu ODEIO latidos, ODEIO. Eu logo grito com ela e agarro pra ver se ela se manca. Só que tem uns cachorros da casa do lado do meu prédio que tem dia que resolvem latir tipo as 3h da manhã. E aí eu fico IRADA. Socando travesseiro, implorando pra me deixarem dormir. A cena é ridícula.
    Mas acho que a maior birra que dei foi quando meus pais falaram que eu ia mudar pra Curitiba. Eu fiz greve de fome, parei de falar com eles, me fechei no quarto, apaguei a luz, joguei travesseiro e roupa de cama no chão, chutei o armário.. Veja quanta inteligência. Dormi sem roupa de cama, meu pé ficou roxo, e no outro dia eu quase desmaiei. OU SEJA. Não vale à pena. HAHAHA
    DESCULPA novamente o comentário absurdo!
    Beijos!!!

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  5. Será que sobrou espaço depois do comentário da Ana? hahaha
    Então, todo mundo precisa de uns chiliques de vez em quando.
    Eu tenho tido vários contidos. às vezes meu namorado é o único presente e olha coitado dele. Só pode ser amor pra ele me aguentar porque nossa senhora. Mas às vezes é necessário, então relax. :)
    Beijo!

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  6. Será que sobrou espaço depois do comentário da Ana? hahaha [2]
    Annoca, não se preocupe. É super normal surtar quando se está sob pressão como você está nesse ano. Eu mesma, quando fazia cursinho, tive vários momentos essa-sou-mesmo-eu? Chorava por besteira e tive algumas crises histéricas que hoje me fazem rir, mas quem foram pretty hard na época. Uma vez, não sei se te contei, meu pai inventou de 'brincar' que não tinha pago o boleto da minha inscrição no vestibular da estadual daqui. Olha, eu nem ligava muito pra UPE, mas PRA QUÊ ele foi falar isso?
    Eu comecei a chorar e a gritar descontroladamente coisas difusas como "EU ESTUDO TODO DIA QUE NEM UMA CONDENADA E O SENHOR NEM PRA PAGAR MINHA INSCRIÇÃO". Tive que tomar uns copos d'água quando cheguei em casa, por que não foi fácil. (é, meu pai resolveu fazer isso no carro, rs)
    Esse foi apenas um dos ataques, enfim. É muito fácil ficar irritada quando estamos estressadas, então não se cobre muito. Você merece e tem direito a ter ataques histéricos de vez enquanto viu?

    Um beijo, linda! E saudade de você! Vou ver se algum dia desses te ligo pra matar a saudade das nossas fofocas!

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  7. Primeiro eu preciso rir kkkkkkkkk
    E agora vou falar sério né, porque rir da desgraça alheia é muito feio. Mas então, esses chiliques que surgem "do nada" costumam ser os piores, eu acho. Já tive alguns assim, e em público foram poucos, mas já aconteceram e morro de vergonha até hoje. kkkk

    Espero que essa sua fase tensa passe logo. xD
    E quanto à geometria, ela é um saco mesmo. Ela e seus derivados na matemática.

    Beijo!

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  8. Eu acho que isso é meio stress de vestibulanda também,mas cachorro latindo de madrugada é realmente caso de morte,na sua casa então ...
    Eu nunca dou xiliques público mas arraso no meu quarto pra não explodir,se não eu já estaria internada em uma REHAB rsrs
    Beijos

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  9. Anna, sei bem como é essa situação.
    Já estive muito surtada com vestibular, mas com o tempo e com todos os queridos que não saem do meu lado, aprendi a relaxar.

    Veja pelo lado bom: você não se dá bem com geometria. Eu não funciono com física, nenhuma matéria. Há casos piores, sempre! haha.

    E fique tranquila, xingue mentalmente que, como diria o Calvin, o mundo seria bem pior se não tivéssemos os palavrões.

    Um beijão e boa sorte :)

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  10. Ninguém disse que seria fácil. :/
    Na verdade, você deve ter ouvido muito o contrário: que esse último ano de colegial + vestibular seria bem complicado e puxado. Ainda mais por você querer uma faculdade pública, o que torna as coisas ainda mais penosas e os sacrifícios, maiores. Nós, espectadores do blog, vemos pelas suas palavras (e pelas entrelinhas) que você se esforça de verdade - acho que já até te dei os parabéns por isso, por estudar muito mais até do que eu estudava. Mas, aguente firme, que em meses essa correria terá fim. Deus ajudará e você entrará logo no seu curso. Algumas pessoas até te dirão que na faculdade é uma rotina tão pesada quanto - se não pior -, mas não é bem verdade. As exigências universitárias são muito diferentes para fazer tal comparação.
    E, olha, por alguma razão nem todo o seu relato de crise deixou uma má impressão. Nós entendemos sua posição e sua atitude foi perfeitamente compreensível. Vestibulandos têm assegurado o direito de de vez quando descarregar toda essa tensão inevitável. É muito bom também que você pode contar com o apoio da sua mãe (like mother, like daughter), todo amparo é fundamental nessas horas.
    É uma fase de muita tensão sim, mas você sobreviverá e - mais pra frente - rirá de tudo isso. E, já sabe, se precisar de ajuda, estarei bem aqui.
    Se cuida.
    Beijo

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  11. Sou sua nova leitora!
    Estava procurando um blog assim para acompanhar há tempos, enfim encontrei e adorei!

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  12. Oi Anninha.
    Esta situação é tãããão conhecida....... e sim, eu já surtei várias vezes. Não foi só cachorro (latindo sem parar!!!! Ininterruptamente!!!): foi o bar com o barulho da sinuca, os meninos com música alta de madrugada, na rua... e eu já fui na rua de pijama...!!!!
    Isso é horroroso. E eu levanto cedíssimo, então fico no maior desespero porque preciso muito dormir!!! rs...
    Agora eu durmo com o ventilador ligado, pra abafar o barulho da rua, acredita? Ah, e de vez em quando com o negocinho do aeroporto no ouvido (deu branco, esqueci o nome).
    E tem música também, mas cuidado pra não se enforcar com o fio do Ipod. rsrsrs
    beijos

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  13. Esses pitis são necessários de vez em quando, principalmente nesse terrível ano de vestibular em que todas as matérias que nos atormentaram durante o ensino médio resolvem reaparecer para nos torturar mais uma vez!
    Espero porém que os mimos de sua mãe sejam suficientes para te acalmar, fora isso assista muitos filmes e abuse do chocolate e de noites bem dormidas, não há nada melhor!
    Beijos!

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