Meu grande problema com ele, no início, foi com o excesso de
referências pop, muitas vezes gratuitas e fora de contexto, que acabam por encher o saco, servindo só pra mostrar como o filme é antenado e moderninho.
Não curti também o casal principal. O cara é muito nerd/cool esteriotipado,
meio banana, basicamente um Seth Cohen mas sem o charme e o encanto; a
menina é um híbrido de Summer Finn, Cristina e Holly Golightly, mas inspirando pouca (nenhuma) simpatia.
O negócio é que o filme é muito bem falado, e eu resolvi
reassistí-lo pra ver se o problema era comigo. Se for, meu problema é
muito sério, porque se da primeira vez eu só não tinha achado essa coca-cola
toda, dessa vez eu achei mesmo foi chato pra caramba. O cara que escreveu o
roteiro provavelmente gosta muito do Woody Allen, e depois de ter visto Annie
Hall um quinquilhão de vezes, pôs na cabeça que poderia fazer algo do tipo. A
idéia é legal, a execução não tanto. Os diálogos do filme são pouco
naturais e os personagens parecem excessivamente preocupados em dizer coisas ~marcantes & inusitadas ~ e isso é feito na base da tentativa e do erro. Algumas vezes funciona, mas na maioria delas o propósito da conversa meio que se perde. O legal dos diálogos e monólogos enormes do Woody Allen é que ele sempre
solta umas pérolas que fogem do lugar comum da conversa sobre
relacionamentos ou qualquer coisa que seja que ele esteja falando, e essa
quebra de expectativa é muito bem feita e usada sabiamente, por isso funciona.
“Você vê filme demais, você vai acabar me amando pra sempre. Vai me procurar em todas as garotas, todos os bares, todas as ruas. Aí um dia depois de muito tempo, num lugar qualquer, você vai me ver. Mas aí vai achar que foi uma ilusão, e eu vou embora.”
“… —A gente tá perdido, né?”
“A gente se perdeu no momento em que a gente se encontrou”
Frase de efeito desnecessária detected
Acho que o principal motivo de eu ter pegado birrinha do filme é a personagem da Érica Mader. Ela é chata pra caramba. Me lembrou bastante a Summer, de 500 Days Of Summer, uma criança traumatizada que cresceu "sentindo falta de algo" e que "não acredita no amor", que faz gato e sapato de um cara meio bobo que viu filmes demais e enxerga nela uma musa incompreendida, cheia de níveis, nuances e sutilezas e se deixa seduzir por essa fantasia até levar um pé na bunda e descobrir que a referida nunca foi de fato feliz com ele, ou, no caso de Tom e Summer, que nunca sentiu que ele era o cara certo. Em Apenas o Fim, a Érica Mader diz que vai embora, e o Gregório Duvivier (que no filme se chama Antônio, e ela permanece sem nome) diz que é bem capaz dele topar com ela pelo Rio de Janeiro de cabelo pintado e óculos escuros pensando que ninguém vai reconhecê-la; se eu for mais além no paralelo com 500 Days..., poderia jurar que um dia ele descobriria que ela se casou com um outro cara e ainda teria a petulância de dizer na cara dele que com o outro ela achou aquilo que a preenchia por completo, que ele nunca pode dar. Desculpa, mas não tenho paciência com quem disfarça egoísmo com bloqueio sentimental e trauma de infância.
Por fim, acho a proposta do filme louvável. O diretor Matheus Souza é estudante de cinema, e fez o filme da maneira mais simples e do-it-yourself possível, e essa iniciativa é demais e deveria servir de inspiração e exemplo pra todo mundo que tem boas ideias e vontade de realizá-las. Um bom filme não é feito de roteiros apocalípticos e produções apoteóticas, e ninguém se cansa de assistir filmes sobre amor e suas complicações. O cinema brasileiro tem crescido demais, e é bom que estejam aparecendo produções mais tranquilas, que fujam um pouco do nicho Nordeste-favela-cinebiografia.
concordo. vi esse filme há um bom tempo já e até curti - aquela coisa de momento e só - mas não dá pra absorver.
ResponderExcluirparece mesmo que o filme quer forçar a barra de ser moderninho e genial pro público jovem. só é legal e pronto. nada que vai marcar a história do cinema brasileiro, rs
acho bacana quando o filme não mostra ter muitas pretensões. ou consegue fingir bem isso, o que não é o caso. beijos
(PS - juro que quando eu discordar contigo eu vou falar! é que ainda não rolou, rs)
Isso sim que é resenha! Confesso que até fiquei meio tonta. Como não assisti ao filme, não posso opinar muito. Mas em uma coisa concordo: o cinema nacional tem crescido muito. Acho que os diretores finalmente descobriram o segredo da coisa. Começaram a de desprender do ideal americano e estão engatinhando na cultura brasileira.
ResponderExcluirBoa resenha, Annoca! Tinha vontade de ver esse filme antes de ler esse texto, hahahaha. Acho engraçado que no cinema o clima de faculdade é tão legal, descontraído, uhul não temos nada pra fazer além de fumar no intervalo das aulas (sempre da PUC). Parece até sessão da tarde. No mais, diálogo é problema de muito filme brasileiro e eu fiquei impressionada como esse ator parece um cara do DCE da UFSC (só que mil vezes mais bonito).
ResponderExcluirbeijos!
Já me peguei pensando no porquê tanta gente exige do cinema nacional padrões que não espera de outros países. Muitas vezes é difícil analisar corretamente um filme brasileiro. Pelo preconceito que anos de mediocridade deixaram e também porque é algo muito próximo. Mas acima de tudo está a síndrome da Copa do Mundo, esse costume que temos de esperar que tudo o que fazemos seja a obra-prima definitiva. Nossa seleção de futebol tem que ganhar todos os torneios que disputa, nossa música tem que embasbacar o Carnegie Hall dia sim outro também, nossos filmes têm que ser melhores que qualquer outro. Esse nosso complexo de superioridade talvez faça com que estabeleçamos um padrão elevado demais para a média do cinema nacional.
ResponderExcluirA foto ilustrou totalmente seu texto. É. Eu bem que ando gostando mais dos filmes brasileiros, mas é aquela história: nem tudo que sai daqui é bom. Assim como nem tudo que vme de lá. O lance é que evoluímos bastante, e isso é feliz.
ResponderExcluirBeijo, Anna.
Os únicos filmes do Woody Allen que eu vi foram "Meia Noite em Paris" e "Vicky Cristina Barcelona" e já foram o suficiente para que eu achasse o cara um gênio cinematográfico. Preciso ver mais obras dele, é genial!
ResponderExcluirQuanto a esses filmes que giram em torno de diálogos de casais, não tenho boas recordações... Vi um (tão ruim que nem lembro o nome) em que o casal ficava conversando por duas horas INTEIRAS e as conversas giravam em torno de todos os assuntos imagináveis, mas não acontecia nada de interessante, sabe? Aquele filme me irritou tanto (é o único que posso dizer que odeio e olha que eu nem sei o nome) que não consigo me ver dando chance para outro filme de conversa de casal. Fato.
Enfim, concordo que o cinema brasileiro está crescendo e tenho orgulho disso! Muito bom ver essa evolução!
Abraços!
"Desculpa, mas não tenho paciência com quem disfarça egoísmo com bloqueio sentimental e trauma de infância."
ResponderExcluirMe neither.
[texto ótimo!]