terça-feira, 6 de novembro de 2012

Entre corações que (não) tenho tatuados


Inspirada em uma entrevista que leu da Mallu Magalhães, a Mel resolveu listar dez lembranças queridas que lhe viessem a mente. Analu viu, e como eu estava procurando alguma coisa pra postar, sugeriu que fizéssemos igual. Me apaixonei pela delícia das memórias da Mel, tão doces como ela, e na hora fui invadida por um turbilhão de momentos. Resolvi escrever sem parar pra pensar, porque sei que se estabelecer qualquer critério esse post não sai nunca.

Os dois últimos horários da segunda

Minha sétima série foi uma festa. A melhor turma, a melhor escola, os melhores amigos. A turma era ótima do meu ponto de vista, já que para o resto da escola era o horror. Nós não calávamos a boca, não parávamos de rir, não nos segurávamos nas cadeiras. E aí calhou de nosso professor de Matemática ser um jovem recém formado, que tinha em conhecimento o que lhe faltava em didática e domínio de classe. Colocamos ele no bolso. Na segunda-feira, os dois últimos horários eram dele e o combinado era que o primeiro seria de matéria e, se a gente se comportasse, poderíamos fazer as tarefas na parte externa da escola. É claro que ninguém fazia tarefa alguma e todo esse tempo era dedicado a rir, fazer troça da cara dos outros, inventar brincadeiras, etc. Devo a esse ano tudo que não sei de Matemática, e depois dele, aquele professor desistiu da carreira acadêmica.

O dia mais quente de todos

No primeiro colegial, minha escola inventou que o fórum do Ciência e Cidadania, uma espécie de feira cultural e de ciências, no Mercado Municipal. O problema é que o dia escolhido pra isso foi exatamente o dia mais quente que eu lembro de ter vivido, e foi um caos. As barraquinhas ficavam no sol e eu não sabia o que era pior: ficar queimando a cabeça ou suando embaixo daquelas tendas insuportavelmente abafadas. Esperta como sou, peguei o turno da noite, e depois de ter ajudado o meu grupo a montar a barraca, tinha a tarde livre com meus amigos para vadiar no centro da cidade. Eu poderia ir pra casa dormir, mas preferi ficar andando pra cima e pra baixo embaixo daquele solão de meu Deus, e de recompensa ganhei um dos dias mais divertidos de todos. Não lembro muito bem o que fizemos além de ir na casa de uma amiga ver vídeos de festas antigas e de um episódio nas Lojas Americanas que envolveu um amigo escondido embaixo de uma gôndola, puxando nossos pés. 

A primeira (e única) vez que matei aula (na escola, rs)

Foi ano passado, porque eu e minhas amigas decidimos que a gente não podia sair da escola sem nunca ter matado aula na cara dura. O último horário era Filosofia, então deixamos a sala junto com o professor da aula anterior, muito donas de nós mesmas, atravessamos a escola e ficamos sentadas na área do cursinho, onde é permitido sair da aula. No entanto, o fiscal de pátio sacou que a gente não era dali e pediu que voltássemos e fôssemos assinar a ocorrência com o nosso monitor. Assentimos, e muito marotas nos escondemos num lugar baixo, naquele pátio externo maluco da escola, e lá ficamos até o sinal bater. Eu teria aproveitado bem mais se não estivesse me contorcendo de cólica e quase querendo me entregar pra buscar um remédio na secretaria. Mas a adrenalina do momento foi divertida.

O hotel em Porto Seguro

Meus avós tem o costume de, vez ou outra, tirar férias só com os netos. Eu tinha nove anos quando fomos pra Porto Seguro, a última viagem antes do nascimento da Mariana, que só em 2009 foi viajar conosco. Enquanto meu avô terminava de fazer o check-in no hotel, eu, minha avó e meu primo Pedro fomos ver o quarto e que alegria, depois de uma viagem longa cheia de escalas malucas, encontrar um quarto lindo cheio de camas de casal dessas macias de hotel. Não deu outra, nos olhamos e começamos a pular, os três, igual nos filmes.

A irmã que eu nunca tive

Embora hoje eu não ligue pro fato de ser filha única, quando eu era mais nova isso me matava. Meu sonho era ter uma irmã de idade próxima a minha a qual pudesse ser também minha melhor amiga. Eu queria tanto que chegava a ter sonhos bizarramente reais com isso, em que eu via nitidamente minha mãe me contando que estava grávida, e por vezes eu cismava que ela estava grávida mesmo, tendo como base alguma evidência idiota, e a decepção que sempre se seguia a essas ilusões era terrível.

Os cheiros

Já gostei de um cara, talvez o primeiro que eu tenha gostado pra valer, que era absurdamente cheiroso. Ele era cheiroso sempre, mas no dia que nos conhecemos ele cheirava extraordinariamente bem - um misto de banho recém-tomado com um perfume leve por cima -, e eu, que tenho uma memória olfativa muito apurada, tenho esse cheiro guardado até hoje. Anos atrás sonhei com ele, um desses meus sonhos tão reais que chegam a ser assustadores, e juro por Deus que acordei sentindo o cheiro dele no quarto inteiro. Foi deveras perturbador e não guardo lembrança de ter tido outro sonho tão sensorial quanto esse.

Amazona (só que não)

Quando eu tinha 10 anos, fui passar as férias na fazenda de uma amiga minha. O passatempo favorito da família toda era andar a cavalo, e eu, a medrosa, a desastrada, a bobinha, a molenga, tive que aprender a montar. Depois que você pega o jeito é tão fácil quanto andar de bicicleta, mas demorei alguns dias para me sentir segura o suficiente pra galopar. Quer dizer, um dia simplesmente o pai da minha amiga resolveu que era hora, deu uma bela palmada na traseira do meu cavalo, e lá fui eu. Eu nunca havia sentido tanto medo e prazer, juntos, naquela intensidade, antes. A sensação de correr com um cavalo pela primeira vez é essa: o medo que você sente é proporcional à excitação gerada pela adrenalina e o vento no rosto. Aliás, galopar é sempre assim, com o medo um pouquinho menor a cada nova corrida. Foi assim que aprendi a cavalgar, e quando tinha mais paciência pra ir a fazenda, não deixava de perder uma tarde explorando os arredores com meus amigos equinos. Se algum dia milionária for, meu passatempo fresco será criar cavalos.

Como é o começo de Giz mesmo?

Essa lembrança já foi relatada aqui de forma exaustiva, mas ela é linda demais pra ficar de fora. Andar pela Avenida Paulista num anoitecer de domingo cantando Legião Urbana ao lado das mafiosas foi um daqueles momentos que a gente sente que a nossa vida poderia sim ser um filme. Quem ouve falar disso acha brega, quem estava ao redor não entendeu nada, e isso que torna tudo mais especial ainda. Só a gente sabe como foi, nosso infinito particular e alegria egoísta mais querida. 

Como é que se diz eu te amo?

Toda uma vida fantasiando a respeito de como vai ser o primeiro "eu te amo" que a gente vai ouvir - e que não é vindo dos pais nem dos amigos queridos - e na hora que aconteceu comigo eu me senti tingida por 50 tons de cores variadas - indo do verde azia súbita ao azul falta-oxigênio-no-meu-cérebro -, quis vomitar, chorar, rir, sair correndo ou me ver engolida por um buraco no chão. Foi muito de repente, o que fez de tudo mais assustador ainda, e não, eu não lembro o que disse de volta, só sei que não foi um eu te amo também.

"Tem pessoas que a gente não esquece nem se esquecer: o primeiro namorado, uma estrela da TV. Personagens do meu livro de memórias que um dia rasguei do meu cartaz. Entre todas as novelas e romances, de você me lembro mais"

7 comentários:

  1. Ai, que incrível, Anna! Quando li a da sétima série e a do matar aula quis conferir se estava no blog certo. Você é uma arruaceirinha genial escondida atrás desse anjo! Te amo ainda mais depois disso! HAHAHAHA.
    E nem me fale sobre o começo de giz que já me dói o peito.. <3 <3
    Amo postar junto com você, somos ótemas!
    Te amo!!

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  2. Primeiro: gosto tanto dessa música! Ela foi tema do meu terceiro ano rs. Aliás, meu terceiro ano rendeu muitas lembranças significativas, tipo eu ter ficado de recuperação final em química hahaha. Minha 8ª série também, eita sala insuportávelmente boa! E ai que saudade que bateu agora :').
    Eu também sou ligada em cheiros, eu lembro do cheiro que tinha o primeiro livro do Harry Potter que eu li, embora eu não saiba descrevê-lo. QUERIA TER CANTADO GIZ COM VOCÊS, MAS NÉ! Eu não consigo te imaginar matando aula. Sério, eu te imagino muito nerd de oclinhos quadrados, Anna! hahaha

    Vou tentar postar no blog minhas dez lembranças, mas vou logo avisando que a maioria delas é relacionadas a férias em praia rs

    <3!

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  3. Que lindo esse meme! (dá pra considerar como meme?)
    Eu vou participar porque sou intrometida mesmo.

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  4. Adorei tuas lembranças, mas tem uma delas aí que me dói POR DEMAIS, porque eu não faço parte dela. :(((
    Mas escreve aí: ainda vou fazer parte de muitas lembranças tuas e da máfia. AGUARDEMOS. hahaha
    Beijo. <3

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  5. Vou dar pitaco! Acho que seria legal repetir esse exercício daqui algum tempo. Certeza que surgirão novas lembranças queridas e é uma ideia ótima tê-las registradas em algum outro lugar além da memória!

    Vou tentar fazer isso também.

    Beijos

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  6. Suas memórias > todas as outras que eu já li! Estava cogitando escrever isso, mas precisava ler o teu antes e agora que li estou até com vergonha de escrever, porque é impossível que alguém tenha lembranças mais legais que as tuas! Ia comentar cada uma detalhadamente, mas não tô com paciência. Enfim, te amo.

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  7. Comecei a escrever o meu post, Anna! Mas estou dando um tempinho porque inventei de reler o seu e ler o das meninas e as lembranças de vocês está influenciando na minha escolha. Acho que vou escrevê-lo aos poucos, conforme as memórias vão me surgindo ao longo dos próximos dias.

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