segunda-feira, 3 de junho de 2013

Nunca quis dirigir

(Me senti contemplada nesse post da Analu e resolvi escrever uma resposta, ou só a minha versão da mesma problemática)

O título desse post não seria necessário se eu simplesmente dissesse que dei entrada no processo pra começar a tirar carteira de motorista em agosto do ano passado e até hoje não tenho ela em mãos. Ele se torna ainda mais redundante quando conto que mesmo passando na prova de primeira, comecei as aulas práticas em fevereiro e terminei as horas obrigatórias só semana passada. Eu basicamente redefino todo o parâmetro pra lerdeza que existe no mundo e não, nunca quis dirigir, mas segunda-feira passada, depois de duas horas fazendo baliza, resolvi que está na hora de colocar um fim nessa história.

A primeira vez que sentei do lado do motorista na vida foi num mini New Beetle no Parque da Mônica, num brinquedo chamado Cidade dos Carrinhos. Na minha época ele era um percurso circular pelo qual você ia dirigindo feliz da vida. Eles te davam uma carteira com pontos pra perder e tudo. Eu perdi a minha antes de conseguir dar meia volta. Pior ainda, perdi minha carteira de mentira antes mesmo de conseguir sair com o carro. Quando tentava fazer isso, arrancava pra frente e batia. Então eu dava ré e batia de novo, e nesse vai e vem patético eu fiquei até que alguma pessoa com bom senso achou melhor me tirar de lá.

Antes da minha primeira aula, imaginei que, uma vez no comando de um carro, eu seria representada por:

a) Sheldon Cooper


b) Annie Hall


Nem um nem outro, minha primeira semana me mostrou que sou uma motorista surpreendentemente equilibrada. Claro que estou desconsiderando dois pequenos incidentes:
  1. A primeira vez que um carro chegou perto de mim, logo na primeira aula. Fiz o que qualquer pessoa sensata faria: à moda dos tempos que eu era goleira de handbol na aula de educação física, gritei e me encolhi no banco como se um balaço errante fosse me atingir com tudo na cabeça. O instrutor achou melhor esperar mais um pouco antes de me levar pra cidade.
  2. A primeira vez que dirigi no centro da cidade: início da segunda semana de aula, meu aniversário, véspera de prova. Estava nervosa, deprimida e desconcentrada e passei a aula inteira errando tudo. Meu instrutor, cheio de tato, passou uma hora dizendo que eu tinha regredido no aprendizado e era como se eu tivesse esquecido tudo que aprendi na semana anterior. Como se não bastasse, ele achou de bom tom me levar pro centro às 8h da manhã e eu, com a cabeça em outro mundo como estava, só fui perceber já no olho do furacão. Eu pedi calmamente umas duas vezes pra parar o carro e trocar de lugar com ele, que ficava me dizendo que ali não tinha como parar. Então eu comecei a berrar. Cena de novela mesmo, eu urrando QUERO SAIR DAQUI, ME TIRA DAQUI, VOU PARAR NO MEIO DA RUA e ele do outro lado, ajudando horrores PASSA A MARCHA, OLHA O RETROVISOR, DÁ A SETA, PISA NA EMBREAGEM DIREITO. Cheguei na garagem cuspindo meu coração e mantive a vibe novelística: bati a porta do carro quando desci e a única coisa que disse pra ele antes de ir embora foi que eu estava indo pra casa ter um ataque do coração, porque dá pra citar Pulp Fiction até nas horas mais difíceis. Não tive um ataque do coração, mas chorei por horas quando cheguei em casa. Um dia feliz na vida das minhas inimigas.
Depois dessa gritaria no trânsito, discuti seriamente minha relação com o instrutor, disse que não gostava de ser pega de surpresa e não suportava que fossem condescendentes comigo. Ele pediu desculpas, passou a me avisar antes de ter qualquer ideia extraordinária e parou de falar comigo como se eu fosse uma garotinha retardada. O resto das aulas se desenvolveram na santa paz do Senhor, dirigi à noite, dirigi no centro, dirigi embaixo de chuva e já estava até conseguindo conversar potoca e passar marcha ao mesmo tempo. Até que chegou a hora de aprender baliza.

Ah, as balizas! Nobody said it was easy e eu me preparei pro pior, mas ainda assim com uma esperança inconfessa de que eu fosse me revelar uma exceção e pegar a manha nos primeiros dias. Ha. Ingênua. Tudo que peguei naquela primeira manhã foi uma senhora dor nos braços nunca antes sentida. E como boa pessoa perseverante que sou, sumi das aulas por quase um mês. 

Semana passada voltei, pronta para encarar as balizas de frente. Na segunda, foram quase duas horas inteiras só tirando e colocando o carro na vaga - era manhã, fazia frio, e poucas vezes eu suei tanto nessa vida. À medida que eu continuava a subir no meio-fio ou a deixar o carro morrer, meu instrutor recuperava o tom condescendente daquela primeira vez no centro. Falando comigo como se eu fosse uma bobinha que precisava de desenho pra entender. Você nunca vai conseguir se não controlar a embreagem. Se descontrolar desse jeito você vai continuar comendo meio-fio. Só uma arrancada dessas já te elimina da prova. Quantas vezes você já derrubou esse cone hoje? 

Se eu gostasse de histórias de superação, ia dizer que de certo modo o tom dele me fez bem, porque transformou a situação em um desafio onde cabia a mim superar minhas próprias limitações. Mas como minha vocação pra Monica Geller é bem maior, o que ele fez mesmo foi tornar a coisa pessoal e minha veia competitiva precisava ganhar aquilo pra calar a boca daquele homem. Simples assim. Passei quase dois minutos inteiros só encarando todos os cones, e mais um tempo olhando pros pedais e fui. Só balizas perfeitas até o fim da aula. 

Saí fazendo a dança da vitória e, pela primeira vez desde que dei início ao processo, quis tirar a carta logo. Não para dirigir pela cidade cantando e nem para não deixar mais de sair só porque meus pais não querem me buscar e não tenho carona, mas só para não ter que viver aquilo por muito mais tempo. Tal qual Scarlett O'Hara, fiz Deus de testemunha ao jurar pra mim mesma que iria morrer de fazer balizas nas aulas que ainda restavam e marcaria minha prova logo que surgisse uma vaga. E se não for pra passar de primeira, que eu erre qualquer outra coisa menos a maldita da baliza. Que eu fure um sinal vermelho, ignore uma parada obrigatória ou deixe o carro apagar no meio de uma ladeira, qualquer coisa. Se Scarlett não passa mais fome, eu não como mais meio-fio nessa vida e tenho dito.


Ou não me chamo Maria Joaquina. 

17 comentários:

  1. HAHAHAH, genial, Anna.
    Quero muito começar a auto escola para ter relatos como esse. Por enquanto meu instrutor é meu namorado e a baliza são marcadas com pedras, mas já é algo. Quero estar o mais preparada possível para a auto escola.
    E olha, to achando que tu vai passar de primeira. Só dizendo....
    Beijo! <3

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  2. GENIAL. Mas me deixou com mais medo.

    Não para dirigir pela cidade cantando e nem para não deixar mais de sair só porque meus pais não querem me buscar e não tenho carona, mas só para não ter que viver aquilo por muito mais tempo = EU.

    Boa sorte, amica! Vai dar certo!

    Te amo!

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  3. P.S: Farei resposta pra esses posts de vocês em breve.

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  4. Amiga, instrutores de auto escola, ô raça! Eu também já bati porta de carro e já cheguei em casa, me joguei na cama, e madura que sou, chorei de soluçar por 20 minutos pra poder lavar a alma. Depois levantei, tomei um banho, e fui trabalhar, tentando fazer pose de "to super feliz", até que minha chefe olhou pra minha cara, eu sentei no colo dela e chorei. HAHAHAHA
    Meu processo começou em FEVEREIRO de 2012, como você já sabe, e minha TERCEIRA prova está marcada para dia 11 de junho. E eu vou passar. Senão meu pai já disse que vai me dar uma bicicleta de presente e eu vou ser obrigada a ser feliz pedalando.
    Te amo.

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  5. Gente do céu, eu ri horrores dessa tua saga para tirar a carteira. Comigo foi parecido, tirando a parte novelística, é claro. Mas o trauma das balizas foi super parecido. Como carro de autoescola é uma desgraça e direção hidráulica não é conhecida nessa área, lembro que morri de dor nos braços quando fazia as balizas. Gente, isso não é de deus! E o pior, se você suou no frio, imagina eu como fiquei debaixo do calor infernal de Recife. Era triste! Eu saia da aula parecendo a garota da camiseta molhada! hahahahaha

    Mas até que no dia da prova, eu fiz uma bobeirinha simples na - pasme! - rampa! Enquanto a baliza foi até elogiada pelo carinha do Detran. \o/

    Boa sorte na tua prova!
    Beijo.

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  6. Haha, perdoe-me mas morri de rir com a história!
    Ano que vem pretendo aprender a dirigir e não acho que vou ser muito diferente de você não viu, sempre tive uma sensação ruim só de pensar em sentar no lugar do motorista, imagina ser a motorista? Meu Deus! kkkkkk

    Boa sorte nessa jornada! Beijos :*

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  7. É sempre bom superar desafios! Eu fico super feliz quando eu conquisto alguma coisa que muitos dizem que eu não iria conquistar!

    Blog atualizado
    jj-jovemjornalista.com

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  8. Anna Vitória,

    Boa sorte! Meu processo começou em 2010, passei na segunda tentativa e não, não tiro o carro da garagem por nada nesse mundo. Juro. Toda a coragem que eu tive para fazer aquele maldito instrutor calar a boca foi embora no instante em que tentei dirigir SOZINHA em São Paulo. Não nasci para isso. Não mesmo. Hoje digo que só irei dirigir quando não tiver mais escolha. E só assim hahaha

    Mas sério, boa sorte para você :)

    Beijos,

    Michas
    http://michasborges.blogspot.com

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  9. Anna, o melhor é que depois de tudo você dará risada das dificuldades.
    Meu processo tinha começado em janeiro de 2012, mas na véspera da minha prova prática (sim, na véspera) fui atropelada por um ônibus e, bem, só fiz a prova lá pro finzinho de Dezembro do mesmo ano por motivos óbvios de ter que reaprender a andar.

    Acho que quase todo mundo passa por um processo massante, vê só a Analu. Quando li o relato dela sobre o instrutor fiquei com pena porque reconheço que alguns deles são muito indelicados e esquecem que estão tentando ensinar ao invés de só mostrar.

    Você vai conseguir! \o/ No dia que peguei minha provisória, chorei. Hahahaah. Muita alegria! =)))

    Boa prova!! :*

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  10. Ri deveras, Anninha. Queria ser uma mosquinha para assistir suas aulas. Mas fica tranks, que a coisa é tensa para todos. Eu sempre saía da aula prática com dor de cabeça, e olha que meu instrutor era um doce. Mas tudo isso vai passar e cai compensar - pelo simples fato que você não terá que fazer nada disso de novo.

    Quando estiver na prova, na hora da baliza. Mentaliza seu instrutor e manda ver.

    Beijos.

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  11. Tô precisando fazer um post desses que é pra ver se assim arrumo coragem de voltar a dirigir. O pior é que eu era um ás na baliza, nunca errei UMA, desde primeira. Aí no dia da prova acontece o quê? Eu encosto no carro de trás. Saí tão chateada por ter reprovado que, juro, fiquei ouvindo música melancólica e olhando pra chuva (claro que estava chovendo) no Detran, com vontade de chorar. Duas aulas depois, fiz a prova de novo e...

    UM ANO E MEIO DEPOIS AINDA NAO DIRIJO NO MUNDO REAL, QUAL O MEU PROBLEMA?

    Também gostaria de saber, ok, beijos.

    (Chocada que a Larie foi atropelada por um ônibus! Como assim, gente?)

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  12. HAHAHAHAHAHAHAHAHA gente, adorei.
    Não sei como vim parar aqui nesse blog, mas super me identifiquei. Nunca fiz auto escola (ainda) mas com meu namorado é quase a mesma coisa, haha

    triste vida a das barbeiras!

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  13. Hahaha, me diverti lendo o teu relato porque me lembrei de quando eu fiz auto escola.
    Rodei só uma vez - note que considero isso uma conquista, mas toquei o terror na prova que rodei! Tenho pena até hoje do meu avaliador, saí do carro colocando o dedo na cara dele e xingando ele muito, bem maluca. Fiquei sinceramente com medo que me mandassem fazer o psico-técnico de novo, hahaha.
    Acho que vou fazer um post sobre no meu blog tb, o que você acha?

    Enfim, não sei quando vai ser sua prova, mas boa sorte! :)
    Tenho uma dica: não esqueça de levar um chiclé ou um halls, alguma coisa que você possa ficar mastigando. Pra mim funcionou muito bem, você concentra um pouco do seu nervosismo naquilo que você está mastigando e enfim...
    Ah, e leve música na hora de fazer a prova porque galerê fica querendo te desestabilizar contando histórias de gente que rodou um milhão de vezes, hahaha.

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  14. Meu Deus! Acabei de ler o post e fiquei com muito medo das minhas aulas práticas. Eu já tô enrolando séculos nas minhas teóricas e nunca consigo terminar. Eu também nunca quis dirigir, só tô tirando por causa do meu pai e minha mãe e também não vejo a hora disso terminar. Espero que eu passe e consiga fazer as temidas balizas!

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  15. A vida é bem mais belas quando tem esse tipo de texto seu pra eu ler. ai ai.
    A única vez que eu peguei no volante fiz até post na Máfia, e a intenção era ir pro blog, mas não sei se palavras são suficientes pra expressar o que foi aquela experiência. Ainda não entrei na auto-escola e estou postergando isso pra sempre porque quero ser bad ass como mami e dirigir horrores, mas a verdade é que eu pareço mocinha de chick lit no carro.
    Vai lá e mostra pra eles como se deixa um braço torneado fazendo baliza. E cala a boca desse instrutor por todas nós.
    Beijo! <3

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  16. Anna, dei muitas risadas com sua história! E pior que me encontro na mesma situação: não tenho muito interesse em dirigir, mas a pressão social está forte. Durante a graduação eu procrastinei o quanto pude, alegava falta de tempo pra fazer a autoescola e colou. Mas agora... oh céus! Vou ter que perder horas valiosas do meu dia assistindo aulas teóricas e fazendo baliza! Tenho a impressão que vou me lembrar de você quando estiver treinando, haha.
    Beijo!

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  17. Quando fiz essas aulas práticas, tive que aguentar um instrutor tão legal quanto o seu, Anna. Esses caras não têm o menor tato. Tinham que fazer um curso de pedagogia, isso sim, mesmo que esse método meio Simon Cowell dê certo por nos deixar com raiva. O instrutor me disse que, do jeito que eu estava indo, era difícil ser aprovada. Mas ele era um idiota mesmo, pelo jeito que falou com a namorada ao celular em uma das aulas. No fim, passei de primeira, e ele até me deu parabéns e tal. Tontão. O mais difícil foi depois, quando tentei dirigir com meu pais me dando aquela força. Passei séculos sem dirigir, até não aguentar mais andar de ônibus. Aí fiz mais umas aulas e finalmente aprendi de verdade, não sem deixar o carro morrer milhares de vezes no meio da rua, levar uma hora em um trajeto que deveria durar 15 minutos caso eu tivesse me lembrado de puxar o freio de mão, arrebentar o para-choque do carro num toco de árvore e amassar a lateral do carro. Mas, pelo menos desta vez, as coisas deram certo no final, e acho muito legal dirigir. Você é uma menina inteligente; muita gente com muito menos neurônios que você, ou praticamente nenhum, já conseguiu tirar carta. Se eles conseguiram, você também consegue.

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