Eu disse que não ia assistir Masterchef Junior. Tenho uma relação complicada com crianças, principalmente as crianças prodígio. A relação é mais ou menos assim: eu odeio todas. Essas crianças fofinhas e expressivas que fazem novela da Globo e dão entrevistas engraçadinhas no Faustão, sabe? Elas me lembram de questões muito mal resolvidas da minha própria infância, cheia de colegas de sala expressivos, barulhentos e nem tão fofinhos assim.
Mas é claro que no segundo episódio eu já estava apegadíssima. São crianças que acertam o ponto do creme inglês de primeira, crianças que gostam de coentro, ameixa e mel em pratos salgados. É claro que são prodígios, mas de outro tipo. É preciso ser um tipo bem peculiar de criança para se dedicar a aprender a fazer reduções em vez de brincar de polícia e ladrão na rua. Nada contra, eu lia livros de receita pra passar o tempo.
E a questão é justamente essa: Masterchef Junior me hipnotiza pela identificação. Sou a insegurança do Lorenzo diante das intromissões do pai, sou as coisas inapropriadas e bizarras que a Sofia diz em voz alta, querendo mandar em todo mundo. Sou o Matheus esquecendo os ovos e sou a Ivana inteira, ansiosa, insegura, overachiever, chorando por não conseguir achar a ponta do plástico filme.
Quando me dei conta disso comecei a pensar se isso significava que em todos esses anos não consegui crescer nadinha, mas aí me lembrei do Neil Gaiman. Em O Oceano No Fim do Caminho ele escreve que a grande verdade é que não existe um só adulto no mundo e eu acho que é verdade. A gente cresce e aprende a disfarçar e esconder tudo isso. O resultado são os monstros que acompanhamos avidamente no Masterchef dos adultos.
Nesse mesmo livro o Neil Gaiman escreveu que os monstros são assustados, por isso são monstros.
Mas é claro que no segundo episódio eu já estava apegadíssima. São crianças que acertam o ponto do creme inglês de primeira, crianças que gostam de coentro, ameixa e mel em pratos salgados. É claro que são prodígios, mas de outro tipo. É preciso ser um tipo bem peculiar de criança para se dedicar a aprender a fazer reduções em vez de brincar de polícia e ladrão na rua. Nada contra, eu lia livros de receita pra passar o tempo.
E a questão é justamente essa: Masterchef Junior me hipnotiza pela identificação. Sou a insegurança do Lorenzo diante das intromissões do pai, sou as coisas inapropriadas e bizarras que a Sofia diz em voz alta, querendo mandar em todo mundo. Sou o Matheus esquecendo os ovos e sou a Ivana inteira, ansiosa, insegura, overachiever, chorando por não conseguir achar a ponta do plástico filme.
Quando me dei conta disso comecei a pensar se isso significava que em todos esses anos não consegui crescer nadinha, mas aí me lembrei do Neil Gaiman. Em O Oceano No Fim do Caminho ele escreve que a grande verdade é que não existe um só adulto no mundo e eu acho que é verdade. A gente cresce e aprende a disfarçar e esconder tudo isso. O resultado são os monstros que acompanhamos avidamente no Masterchef dos adultos.
Nesse mesmo livro o Neil Gaiman escreveu que os monstros são assustados, por isso são monstros.
Ai, Oceano! <3
ResponderExcluir(tava sentindo saudade desses textos curtos e destruidores)
Miga, fico doidinha na frente da televisão assistindo esse treco (e sempre morro do coração na eliminação mesmo se for uma criança que eu não curtia). Essas criancinhas todas são realmente nosso espelho. Fico doida com a Ivana, aquele cisco desesperado de gente, porque CERTAMENTE SERIA EU. E Matheusinho ontem falando que nunca tinha ouvido falar no Alex Atala? Certamente seria eu também. HAHAH.
ResponderExcluirQuanto a "adultos", não vou nem entrar nesse mérito porque tenho certeza que eles não existem.
Te amo <3
Ai Anna! Como não se apegar aquele conjunto de mini gentes incríveis e cheias de amor pra dar? <33
ResponderExcluirPrimeiro dia já chorava um mar inteiro com cada palavrinha bem dita e cheias de sentimentos ditos uns para os outros. Todos são maravilhosos e nem por isso ficam naqueles mimimis de adultos, aquele saco.
Tem uma magia ali naquelas crianças e nas crianças em geral, nas que fomos e somos.
Torço muito pela Sophia porque cara, improvisou um jeito de defumar ontem. E tem aquele negócio com o broche da sorte e com a Laurinha.
Ivana desesperada sempre, pedindo por favor dê certo é muito eu com a vida, gente!
E MATHEUS! Meu coração inteiro é dele. Ele chorou com todas as eliminações, esquece ingredientes principais e vive num mundo em que desconhece Atala. Muito eu.
Além de tudo, é a cara do marido quando criança ~critérios ~. Sigo no instagram e vivo de tirar prints das suas fotos. :p
Vou sentir uma falta danada quando acabar, dos pequenos e dos jurados cheios de ternura, de carinho e jeito delicado de conversar.
Adultos, são-somos monstros mesmo. Cada dia mais assustadores.
:/
Adorando esses textos curtos de vocês, porque vocês ARRASAM independente do tamanho do texto, porque o talento de vocês é ENORME.
Li Oceano no Fim do Caminho há pouquíssimo tempo! Gostei de ler um texto com uma referência que eu pego, o que não acontece sempre!!! O/
ResponderExcluirDe toda forma não assisto Marterchef, mas tenho problema com qualquer criança tbm. E tbm acho que vida adulta não existe.
www.vivendovivi.blogspot.com.br
ai às vezes eu assisto o masterchefinho, mas fico com pena das crianças, elas choram um monte ficam nervosas... sei lá acho que são muito pequenas pra passar por esse tipo de pressão. MAS NÉ, A VIDA É ASSIM, MELHOR APRENDER DESDE JÁ se não depois vira eu protegidinha de competição a vida toda agora aqui desistente de tudo que tenho que dar um passo um pouco maior ou que tem muita gente querendo também hahahaha. vida adulta fail.
ResponderExcluirachei isso do Neil Gaiman muito lindo e muito verdade. No fundo, a gente tá aqui achando que tem tudo resolvido mas no fundo a gente é só um poço de ansiedade mesmo que nem quando a gente era criança.
dizem por aí que a sombra do monstro é sempre maior do que ele. acho que é isso. o medo é sempre maior do que o acontecimento. não gosto desse livro de neil, não consigo achar toda essa beleza, mas pelo visto concordamos em algo que nem percebi. muitos dos adultos que eu conheço são monstros - mas não sei se a sombra deles é maior do que o que de fato são...
ResponderExcluirAmiga, não to acompanhando o Masterchef Junior por motivos de cansaço extremo, mas devo dizer que o fim do mundo deve estar se aproximando, porque crianças estão por aí fazendo redução de alguma coisa, sabe?
ResponderExcluirMinha afilhada esses dias disse que "só faltou um manjericãozinho na comida", sabe???
Não to com estruturas pra isso no momento.
Depois me conta o vencedor, por favor.
<3
Cita Neil Gaiman e eu já fico automaticamente encantada, porque as coisas que esse homi escreve <3
ResponderExcluirE esses posts curtinhos tão bons quanto os textões <3
Também não curto criança prodígio, parece meio errado - e humilhante, shauhsua.