Nunca amei Geografia, mas nunca cheguei a desgostar totalmente. Na verdade, nunca cheguei a desgostar cem por cento de alguma matéria. Isso, é claro, até a cartografia e suas mazelas se adentrarem na minha vida sem aviso prévio. Até umas três semanas atrás, nem estava achando assim tão chato o assunto que estava estudando em Geografia, porque essas coisas de solstícios e equinócios interferem bastante na nossa vida, apesar de hoje a gente não ter mais referência alguma de estação. Até que um dia me surge meu professor me contanto sobre projeções de Mercator, Peters e entra em escalas e cores altimétricas e batimétricas e eu, de repente não mais que de repente, sou pega de assalto por um sono fora dos limites. Não só eu, mas toda a sala.
No primeiro dia, pensei que seria mais fácil me livrar daquilo, tirei meu HP da mochila e me pus a ler, toda feliz. Chegando em casa daria uma lida na apostila, e tudo ficaria bem. Não demorou muito pro professor chegar em mim e dizer que se eu não guardasse aquele livro, ele seria obrigado a confiscá-lo. Agradeci a oportunidade, e olhei ao meu redor: noventa e cinco por cento da sala dormia. Não gosto e nem consigo dormir em aulas, primeiro porque eu sou neurótica, e segundo porque acho uma falta de respeito com o professor, por pior que ele seja. Mas o geoprocessamento não me deixava alternativas, na verdade, meu próprio corpo me sabotou, e eu percebi isso quando acordei num pulo, sem entender o que estava acontecendo. O professor ainda falava pra ninguém, com sua cantada voz de locutor de rádio.
E desde então, venho entendendo melhor sobre narcolepsia. Esse é o efeito das aulas sobre mim. Um sono sem limites, uma falta de controle sobre minhas pálpebras. De dez em dez minutos me desperto num pulo, mas mal tenho tempo de me ajeitar na carteira, os olhos já vão fechando de novo, aquele sono bom, irresistível. Consigo até sonhar. A situação estava tão incontrolável, que nessas micro-semanas de feriados, depois de três dias de aula, os três com Geografia, pedi pelo amor de Deus para que minha mãe me deixasse matar uma delas, que era no primeiro horário. E vendo meu pai reclamar tanto de sua insônia, fico pensando se não lucraria bastante se resolvesse filmar as aulas e anunciá-las como a Fórmula Milagrosa Anti-Insônia, by "Bom dia, Meu Nome É PH, ltda".
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