Passamos anos sem nos ver. Reencontrei-o num posto de beira de estrada, ele comprava chicletes de menta, e eu, chocolate. Cumprimentamo-nos cordialmente, mas logo aquela civilidade disfarçada dera lugar, novamente, ao amor de adolescência. Sentei-me ao seu lado e, imediatamente, esqueci que essa demasiada demora no posto poderia fazer-me dirigir quando já fosse noite, mas isso não importava. Ele chamou a atendente, e disse: “Quero dois guaranás e um beijo dela”. Em seguida fechei os olhos, esquecendo além da estrada escura, o namorado que me aguardava
O relacionamento que começamos, novamente, fora catastrófico. Afastamos-nos. Em um intervalo de dois anos, tivemos muitos reencontros, que resultaram em grandes desastres emocionais, e uma imensa carga de remorso e mágoa. Voltava para Hélio sempre que terminava com ele, e ao lado do primeiro, tudo dava certo. Eu o amava muito, não com aquele louco sentimento que nutria por Marco, mas era algo suave, confortável e indolor. Hélio parecia compreender o que se passava entre mim e Marco e era bastante paciente nas minhas recaídas, parecia sempre ter certeza de que no fim eu sempre voltava. E era verdade.
Resolvemos tentar, eu e Marco, fazer dar certo uma última vez. Não me surpreendi quando, semanas depois, trocávamos desaforos com agressividade, muito distantes daquela ternura que nos unira desde o princípio. Até que um dia, sem aviso prévio, ele me ligou dizendo que iria sair do país, ia estudar e que não queria mais me ver. Nossa história era muito bonita, e mais tentativas frustradas de relacionamento acabariam por fazer ruir o alicerce que ainda nos unia. Tínhamos um bonito romance longe um do outro, e isso era mais que suficiente. Ele tinha outra pessoa, eu sabia, alguém que, como Hélio a mim, fazia a ele muito bem e ele não estava disposto a arriscar este outro amor.
Marco não havia chegado quando entrei no restaurante. Pedi ao garçom uma água com gás, e me permiti derramar algumas lágrimas antecipadamente, pois sei que meu orgulho não me permitiria fazê-lo na frente dele. Contemplei o anel em meu dedo anelar direito, dado por Hélio; eu o amava muito, não tinha dúvidas disso, e, quando aceitei seu pedido de casamento, não foi por não ter coragem de dizer-lhe não, ou uma tentativa desesperada de ser feliz. Disse aquele “sim” sussurrado, enquanto o ritmo da minha respiração acelerava terrivelmente, porque realmente queria mais do que tudo na vida, ser sua mulher, casar no campo, ir ao cinema todo domingo e ter um jardim de margaridas no quintal. Teríamos filhos que herdariam seus olhos amendoados e meus cachos, Hélio os levaria em jogos de futebol e eu os ensinaria a tocar piano; era esse o futuro que eu via - e ansiava - para nós.
Ele finalmente apareceu, disse que, éramos e não éramos perfeitos um para o outro. Só o seríamos para sempre enquanto estivéssemos longe um do outro. Beijou-me demorada e intensamente, e não posso dizer por quanto tempo ficamos os dois com as mãos muito juntas, o coração espremido, olhos fechados e testas encostadas. Ele levantou-se, deu-me um beijo na testa antes de finalmente sair por aquela porta, e então desaparecer.
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