Nas novelas do Maneco predominam aqueles personagens felizes, ricos e bonitos, mas que estão sempre cheios de problemas, na maioria das vezes conflitos familiares que rendem reportagens no Fantástico sobre sua relevância na vida cotidiana do brasileiro. A verdade é que aquelas pessoas bonitas e felizes que correm de manhã cedo no calçadão do Leblon sofrem durante toda a novela, invariavelmente, sobretudo a heroína clássica do escritor de folhetins que a gente adora e acha foda, a Helena. Helena é a carregadora de pianos universal em todas as novelas, é cheia de problemas e ainda precisa cuidar do problemas dos outros, que sempre recorrem a ela quando não tem onde ficar, estão com uma doença incurável, precisam de dinheiro, ombro amigo, etc, etc, etc. O que faz a Helena diferente dos nem um pouco reles mortais manequísticos, e que a Helena tem um #jeitinho todo seu de sofrer, ela o faz com aquela classe que só uma Helena é capaz, sem descer do salto, sem perder o glamour, e sem deixar de ser Helena. Sofrer é para fracos, os que vivem a vida sem limites, Helenam.
E claro, cada Helena tem seu jeito próprio de Helenar, e são esses jeitos que eu listarei agora, depois de muito analisar no meu arquivo mental de Memória Manoel Carlos, com a ajuda no meu fiel escudeiro noveleiro, Matheus Fernandes, que me brinda diariamente com a encenação dramática de cada jeitinho Helena de Helenar.
Helena de Laços de Família: a Helena exuberante.
Eu não suporto a Vera Fischer, mas tenho que dizer que ela foi uma Helena e tanto. Era descontraída e divertida, não tinha medo de ser feliz, aguentava a chata da filha dela, a Camila (lembram como ela era intragável antes de ficar doente?), a nora insuportável, a Clara (acho que o Manoel Carlos tem algum problema com a Regiane Alves, porque ela só faz vaca nas novelas dele), era dona de uma clínica de estética, tinha que aguentar sua irmã pentelha, Íris (musa, musa, musa!), administrar a casa e atender aos galanteios do Edu, do Miguel e do Pedro. Quando se esgotava de tanto ser Helena, a Helena-Exuberante colocava seu robe de seda cor de champagne, pedia para Zilda lhe fazer um cházinho relaxante, e ia Helenar com seus botões pelo apartamento escuro, ao som de "Como Vai Você", que chegava a seu clímax assim que se iniciava o flashback de Helena com os beijos do bruto Pedro, e as lágrimas corriam com a lembrança do doce Miguel. Já quando as coisas estavam mais feias que de costume, o refúgio do Helena era a fazenda de seu pai no sul. Munida de calças de cintura alta, camisa de alfaiataria e botas glamourosas, Helena sentava-se no seu balanço de menina e deixava-se levar pelo calor das recordações que o lugar bucólico lhe trazia, isso claro até ser interrompida por Íris e suas trancinhas maléficas, galopando como se não houvesse amanhã em seu cavalo preto arredio, quando a trilha saía de um cover de Roberto Carlos a uma Débora Blando atrevida que cantava "cuide do seu nariz, você fala demais..."
Helena de Mulheres Apaixonadas: a Helena clássica.
Para mim, ninguém nunca vai bater a Helena interpretada pela Christiane Torloni. Sou fã dela até a última gota, apesar da risada chata, acho linda, elegante, classuda... Sua Helena foi uma batalhadora, precisava cuidar de sua irmã louca, da irmã que tinha câncer, do filho insuportável que sempre queria batata frita, era diretora de uma escola, tinha que controlar a briga das alunas lésbicas com a insuportável Paulinha, fazer social nas festas da Marcinha, apoiar as propostas de teatro do Rodrigo, levar a chorona da Salete para passear, convencer a Santana de frenquentar as reuniões do AA, seduzir o Zé Mayer, tirar a Estela bêbada dos vexames e fazer o social com o resto do núcleo bonito e rico no Nick Bar. Ufa! Para descarregar as energias, Helena trancava sorrateiramente sua sala, abria o armário secreto, e tirava de lá as fotos de seus tempos aureos em que era o brotinho do Zé Mayer e os dois saíam de caranga causando pelas ruas do Rio de Janeiro. O problema é que a tensão sobre a Helena-clássica era tão esmagadora que frequentemente ela precisava dar uma fugidinha para Petrópolis, para ficar andando pelo pátio gramado se lembrando dos beijos que trocara por ali com Zé Mayer, ou então na beira da lareira, enquanto Diana Krall suavamente cantava "I've Got You Under My Skin".
Helena de Viver a Vida: a Madre Helena de Calcutá.
Essa Helena não colou. Botava força na peruca da Taís Araújo, porque também gosto muito dela, mas não adianta. Ela não é Helena. Ela é chata. Chata. Politicamente correta ao extremo, ama dar lições de moral a respeito da vida, que já sofreu demais, e mimimi, trajetória de luta, blablabla, eu já sofri demais, eu sei o que é dificuldade, vocês pensam que foi fácil chegar aonde eu estou, mimimi, muizzztazzzzluzzztazzz... Mas venhamos e convenhamos, ela sofre. A irmã é uma Rihanna tupiniquim que deu um jeito de embuchar logo nos primeiros capítulos, ganhou de presente uma enteada que só sabe reclamar sendo que Leninha faz tudo para ajudá-la (não adianta, a Luciana é muito mais ótima que a Helena). Precisa dar consolo para a amiga viúva, sustentar o belo par de chifres que Zé Mayer lhe colocou com a ajuda da INTRAGÁVEL Dora (quero bater na Giovana Antonelli, vai ser fubá lá longe!) e ainda suportar o ciúme doentio dele. E ainda resistir aos galateios de Bruno, como se já não fosse suficiente. Quando sofre, Madre Helena de Calcutá conta com seu time de amigas super ótimas para consolá-la, mas na maioria das vezes prefere o colo de sua mãe fofa, dona Edith. Leninha corre pra Búzios e se põe a sentir a energia do mar e daquela atmosfera calma ao som de Shimbalaiê pra ver se anima. Se não anima, sobra pro Caetano Veloso acalentar as noites sozinha no sofá de casa.
Apesar das Helenas serem eternamente clássicas, sempre divas e referência de classe e mulheres sem limite que vivem a vida (nunca reuni tantos clichês novelísticos numa frase só), existem outras duas personagens que têm um jeito todo seu de sofrer. A gente nunca vai se esquecer delas. A gente adora elas. A gente acha elas fodas. Elas são inesquecíveis:
Nazaré Tedesco de Senhora do Destino: a safada-cachorra-sem-vergonha-vagabunda.
Nazaré, ou Naza, como era conhecida no bairro Peixoto, não sofria. Sofrer é para os fracos, sofrer é pra anta nordestina e seus filhos flageladinhos. Quem sofre é a Mara-Maracutaia atrás das grades procurando Lindalva. A Naza só faz uma pausa para mudar de estratégia e reunir forças, ficava mais loira, colocava um vestido de veludo, passava um batom vermelho e punha óculos escuros. Auto-estima é tudo. Ia pra frente do espelho, "gostosa, maravilhosa, raposa felpuda", esse era seu mantra repetido à exaustão. Agora, se a coisa ficava feia mesmo, o ataque de histeria tomava conta. Naza ria, ria, ria feito louca, e começava a chorar. Chorar copiosamente. Tirava sua tesoura reluzente da gaveta, e punha-se a depenar travesseiros e almofadas para que de repente, no meio de plumas de ganso, recuperasse suas energias e formasse mais um plano infalível de matar a pittbull fêmea, a insuportável, a Claudinha.
Íris, de Laços de Família: a indescritível.
Nada a declarar. Íris.
* Gente, não esqueci da Helena Regina Duarte! Só a excluí da lista, porque apesar de ter amado Por Amor, não tenho tão frescas assim as memórias de fatos e Helenices dela. Já a Helena de Páginas da Vida, pelo amor de Deus, né? Ela era mais chata que a Helena Taís Araújo, passou a novela inteira de pescoço torto fugindo do fantasma da Nanda, tenha dó, ô novelinha ruim que foi aquela!
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